Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
segunda-feira, 26 de outubro de 2015
MINAS BARROCA E TEMPLOS HINDUS
Na terra brasileira floresceu nos séculos dezessete
e dezoito a arte Barroca, poderosa em sua expressão, na qual, a partir dos elementos decorativos, do
movimento de formas e do simbolismo mágico das figuras, o passado de descobertas
e buscas é retomado.
O Barroco, que o historiador Carmo Azevedo denomina
“a arte do mar e dos grandes aventureiros”, passa por uma transformação no
Brasil, na região de Minas Gerais, em uma arte da terra, da busca de ouro e
pedras preciosas. A mão que esculpiu e moldou a forma manteve o artesão próximo
de sua própria origem. Os modelos vêm de além-mar e encontram eco na região
montanhosa de Minas Gerais, nos entalhes naturais, nos arabescos das montanhas,
na sinuosidade dos rios, nas encostas de pedra, seguindo os padrões desenhados
no coração da terra pelos veios do ouro.
As minas de ouro construíram as cidades de Minas
Gerais. Foram construídas igrejas nas quais as mãos dos artesãos e artistas que
vieram da Europa e da Ásia se misturaram àquelas dos nativos, mulatos e índios.
Elas expressaram a integração de culturas e o sincretismo religioso. Na Igreja de Nossa Senhora do Ó em Sabará, de
inspiração oriental, dragões domesticados voam no espaço sobre pagodes
chineses. Síntese oriente-ocidente alcançada por meio da arte, mãos brasileiras
se juntando a povos e raças distantes, numa mesma energia.
A arte Islâmica do norte da Índia e os templos
protestantes mostram uma feição comum, que é a ausência da figura humana. Em
contraste, os templos do sul da Índia e as igrejas católicas barrocas mostram
um grande número de figuras humanas, animais e plantas. O espaço é quase
congestionado e a madeira entalhada canta e vibra com a riqueza de detalhes.
Sentimos essa riqueza de detalhes nas faces internas
e externas dos templos Hindus, principalmente no sul. Ali, deuses dançam e
tocam música, adornados com braceletes e colares mostrando que dança, música e
artes em geral são caminhos para alcançar a união com o Divino. Também nos
tempos áureos do barroco as artes se fundiam tentando transmitir um conjunto de
riqueza mundana e a religiosidade daquela época. Artistas e manifestações
públicas de teatro, música e dança eram estimulados. As procissões eram na
realidade coreografias seguidas pelos fiéis, tornando toda a cidade um palco,
adornado com flores, toalhas de mesa decoradas penduradas nas janelas,
oferecendo no todo um espetáculo majestoso e espetacular.
Na Índia, também, nos tempos antigos, a integração
das artes foi alcançada dentro dos templos e festivais. A dança, a música, a
poesia e o canto, eram parte de um ambiente criado por arquitetos, artistas
plásticos e artesãos. Havia uma integração dos vários ramos da arte para
promover a união com o Supremo Criador do Universo.
O artista mais famoso do período colonial em Minas,
Antonio Francisco Lisboa, conhecido como o Aleijadinho, transmite em suas
esculturas o movimento da dança e há estudos sobre sua obra, comparando os
profetas de Congonhas do Campo com a coreografia de um balé.
Germain Bazin descreve nos profetas influências das
vestimentas da igreja oriental. Notamos
que essas vestes, principalmente no que concerne a coberturas da cabeça,
parecem com as roupas dos deuses do panteão hindu, os turbantes nas cabeças de
Budas e também as torres elaboradas e refinadas dos templos e stupas. ( Terceira
parte do estudo comparativo apresentado no Seminário de Goa, 1983)
*Fotos de Marília Andrés e da internet
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segunda-feira, 19 de outubro de 2015
EXPANSÃO DO ORIENTE, FUSÃO DE CULTURAS
Goa teve o papel de unificar duas civilizações.
Navios vinham da China, trazendo coisas fantásticas do extremo oriente;
porcelanas chinesas de diferentes tipos, caixas, arcas de madeira, telas
elaboradas. Esse comércio aumentou a síntese e a construção de templos promoveu
a integração no campo artístico.
Aludindo a isso, o historiador português
Carlos de Azevedo comenta: “Quase todos os retábulos nas igrejas indianas são
colocados diante de um fundo decorativo de entalhes ricamente trabalhados, onde
a noção do uso do espaço é puramente oriental, o que aumenta o interesse e a
originalidade de toda essa arte indo-portuguesa.”
Símbolos hindus foram substituídos por símbolos
cristãos, mas as decorações, os arabescos “preenchimento do vazio” mantiveram
características orientais.
As manifestações e símbolos artísticos,
transcendendo as palavras, capturaram em linha direta a integração de
diferentes povos, desvendando sua origem comum, que é a origem do ser humano na
Terra.
As ideologias separam os homens porque são conceitos
mentais. A mente resiste à invasão de suas verdades pessoais. Mas a verdade é
única, indivisível, e brilha sobre tudo como o sol do meio dia, iluminando a
Terra como um todo.
Interessa-me, no presente estudo, a documentação da
influência indiana na arte portuguesa que, por seu turno, veio ecoar no Brasil
alguns anos mais tarde, através do Barroco.
Buscamos nossas origens, nossos pontos de contato
com a Índia, como se pudéssemos retomar por meio dos dados históricos e das
manifestações artísticas, religiosas e culturais, o caminho das Índias, gerador
da energia das grandes descobertas, da intensificação do comércio e do
florescimento das artes. (Segunda parte do estudo comparativo apresentado no
Seminário em Goa, 1983)
*Fotos da internet
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segunda-feira, 12 de outubro de 2015
INFLUENCIAS CULTURAIS INDO-PORTUGUESAS NO BRASIL
O texto abaixo foi
apresentado em 1983 num seminário Indo-Português em Goa, Índia. Naquele
seminário eu fui a única representante do Brasil.
“Este trabalho é uma
tentativa de uma síntese oriente-ocidente por meio de um estudo comparativo
entre a colonização portuguesa no Brasil e na Índia. Os portugueses, no tempo
das descobertas, anexaram à coroa portuguesa parte do território indiano e o
domínio português em Goa, Damão e Diu, na costa oeste da Índia, durou até 1961,
quando a Índia anexou de volta a seu território as terras ocupadas pelos
portugueses.
Brasil
e Índia, frutos dos trópicos
Introduzindo esse
estudo comparativo dos paralelos e contrastes entre culturas ocidentais e
orientais que focaliza o caso especifico do Brasil e da Índia, criado pela
expansão do império Português, citamos as palavras de Fernando L. Gomes,
escritas na base do monumento em sua homenagem em Pangim, Goa: “ Se dependesse
de mim a fusão de todas as raças, todas as castas, todos os privilégios, numa
única família, compacta e unida, eu sacrificaria tudo para alcançar isso. Esse
dia seria para meu coração um dia de ventura real.”
Sentindo as semelhanças
que existem entre povos e os contrastes derivados de diferentes culturas,
observando como essas culturas se comunicam, começamos a compreender que os
seres humanos pertencem realmente a uma única família. Há ocasiões que promovem
as semelhanças entre países que às vezes estão muito distantes, como a Índia e
o Brasil. Esses países parecem ser irmãos. Quando estávamos no vale do
Jequitinhonha em Minas Gerais, pudemos sentir uma ligação que relacionava essas
culturas, na dança, na música, nos duelos cantados, no artesanato, na organização
familiar e nas festividades populares. Por quê tal semelhança?
Isso eu deixo aos
pesquisadores, antropólogos e historiadores. Como artista, tudo o que faço é
perceber as afinidades que ligam os povos. Há calor humano, afetividade,
comunicação e religiosidade no povo simples, ligado à terra e as tradições e
usando suas mãos em seu trabalho, mais frequentemente do que as máquinas.
Há espontaneidade e
alegria nas boas vindas ao visitante que chega, a mesma sinceridade que pude
testemunhar no sul da Índia, onde estive muitas vezes nos últimos anos e, de
modo especial, em Goa, ex-colônia portuguesa, uma terra irmã do Brasil, não
somente em seus aspectos geográficos mas também em suas manifestações culturais
e humanas.
Essas duas regiões da
Terra se assemelham sob o sol dos trópicos, misturando-se sob a mesma
intensidade de luz e de cor. No Vale do Jequitinhonha o verão aquece cidades e
vilas, diminuindo o ritmo do sertanejo. Na Índia, também, o sol escaldante do
verão brilha sobre os campos e aldeias, trazendo o mesmo comportamento aos seus
habitantes.
Todo o nordeste
brasileiro e o sudoeste da Índia têm os mesmos traços de vegetação. Na Índia,
como no nordeste brasileiro, os coqueiros são a riqueza da região. Famílias
pobres fazem suas choupanas de folhas de coqueiros, usam os cocos para muitas
finalidades, bebem a água de coco. Houve uma troca de sementes por meio dos
portugueses. Os conquistadores espalharam por terras distantes muitas flores e
frutos.
O caju foi do Brasil
para a Índia, a manga veio da Índia para o Brasil. Diferentes continentes se
comunicaram entre si por meio de sementes, flores e frutos que desabrochavam em
diferentes regiões do globo terrestre, promovendo a integração que cresceu da
terra.
Mas foi nos mares que
as culturas oriental e ocidental foram capazes de se encontrar. As várias
colônias sob o domínio português se conectaram por meio das caravelas que
cruzavam os oceanos e mares, colocando em contato diferentes culturas e
civilizações.
Foi o espírito
aventureiro e a paciência para suportar longos meses no mar, foi a busca de
riquezas e a necessidade de expandir o credo cristão e assegurá-lo com o poder
terreno, que intensificaram no passado a síntese do oriente e do ocidente.
*Fotos da internet
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segunda-feira, 5 de outubro de 2015
GTO E O ENCONTRO COM O ORIENTE
GTO, Geraldo Teles de Oliveira, tornou-se figura
conhecida e admirada no mundo das artes. Nascido em Divinópolis, Minas Gerais,
ele se projetou além das fronteiras do Brasil, como artista cujo potencial
criador ultrapassou os limites impostos pelo eixo Rio-São Paulo, criando
diretamente de Minas para o mundo. Sua arte é atemporal e alcança o
inconsciente coletivo de forma segura e firme.
GTO realizava seus trabalhos a partir de sonhos.
Percorrendo a exposição de GTO na Cemig, no espaço reservado à Arte Popular,
vou sentindo, passo a passo, a integração de culturas que a arte
espontaneamente promove.
Meus passos na Índia me conduziram a reflexões sobre
essa unidade formal que se projeta no tempo e nos faz visualizar obras afins em
artistas que descobrem o seu caminho próprio em países distantes. Percorrendo
os museus de Delhi, senti a semelhança dos nossos artistas do vale do
Jequitinhonha com a cerâmica indiana, e, agora revejo a Índia na obra de GTO.
Na Índia, artistas anônimos cavaram na pedra bruta
esculturas de animais e seres humanos. Não havia a preocupação de vender ou
expor em Galerias. Mas sob o impulso mágico da criação artística, ali deixaram
um documentário belíssimo do poder criativo do homem. Percorrendo a Índia,
encontramos nessas esculturas pertencentes a civilizações remotas, uma grande
afinidade com esse artista mineiro.
GTO foi um grande visionário e em seus
sonhos captou a mensagem das antigas civilizações, desde a pedra do sol dos
maias no México, até os templos de Kajuraho na Índia. Os
roteiros da arte são os roteiros da vida, porque arte e vida não se separam. Os
trabalhos de GTO vão nos revelando uma unidade formal existente nos caminhos
percorridos por artistas que viveram neste planeta, afastados no espaço, mas
unidos no tempo com a grandeza de suas criações espontâneas brotadas
diretamente da intuição.
O gesto do artista se irmana no tempo num grande
abraço de confraternização. GTO considerava a escultura como um legado divino e
uma missão. Seus entalhes em madeira atravessaram fronteiras e aproximaram
povos.
*Fotos da internet
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quinta-feira, 24 de setembro de 2015
MARIA HELENA ANDRÉS – DESENHO – PINTURA – ESCULTURA
A Escola Guignard foi
construída junto à serra do Curral e tem uma bela vista
para a cidade. Lá embaixo, as luzes de BH vão nos mostrando os caminhos do
passado. Recordo a escola no parque municipal, no porão do Palácio das Artes,
ainda em construção. Para chegar até a sala de aula, tínhamos de passar por
tábuas e pedras.
Hoje a escola está
reconhecida oficialmente, tornou-se uma universidade. Fui convidada para ali
mostrar meus desenhos e esculturas. Houve uma seleção de meus quadros. Para a
curadoria da exposição participaram Marília Andrés, Cláudia Renault, Eymard
Brandão e Ana Cristina Brandão, diretora da escola. Foram até o meu atelier no
Retiro das Pedras e ali mesmo escolheram as obras a serem expostas. A
disposição dos quadros conduz o espectador a uma viagem no tempo, desde a
década de 50, sempre o desenho acenando mudanças. Ele registra os caminhos da
vida, desde os trabalhos em carvão, sinalizando as viagens feitas pelos
veleiros, até a passagem dramática pela fase de guerra denunciando a violência.
O desenho continua seu percurso, abre espaço para novas direções.
Foi através do desenho,
tridimensionado no computador, que iniciei meu caminho na escultura. O caminho
do desenho foi longo e demorado e ainda continua abrindo espaço para o futuro.
Transcrevo abaixo o
texto de Carlos Wolney e Ana Cristina Brandão:
“Nas comemorações dos
70 anos da Escola Guignard – UEMG, apresentamos essa importante exposição da
artista Maria Helena Andrés, que foi professora e diretora da escola nos anos
60. A exposição é um recorte de sua ampla e consolidada produção.
A gestualidade firme da
artista imprime movimentos fluidos e leves que revelam em uma composição de
equilíbrio, o domínio da forma e do espaço e transmite uma consciência espacial
constante em suas imagens.
Maria Helena Andrés, em
suas viagens pelo mundo, com um olhar sensível e firme, em especial para a
Índia, encontrou motivação nas impactantes paisagens, que a levaram a uma nova
tomada de consciência.
A observação e sutil
percepção dos signos, símbolos, cores, cheiros e formas do peculiar universo
indiano, com certeza, marcaram significativamente o processo de criação da
artista, verificado nas pinturas, desenhos e esculturas.
A visível delicadeza e
força intelectual de Maria Helena nos leva para o universo pessoal da artista,
repleto de sabedoria, registrada em suas publicações.
Maria Helena exerce
liberdade e disciplina, apreendidas nas aulas do Mestre Guignard.
Admirável vê-la, hoje
na Escola Guignard, com uma vitalidade que estimula artistas e futuros artistas
no prazer do fazer e no sabor de saber.”
Ana Cristina Brandão e
Carlos Wolney Soares (setembro de 2015)
*Fotos de Maurício
Andrés e Walmir Goes
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quarta-feira, 23 de setembro de 2015
quarta-feira, 16 de setembro de 2015
LYGIA CLARK E O TRABALHO COM O CORPO
Fui colega de Lygia Clark no Colégio Sacré Coeur de
Marie em Belo Horizonte. Sentávamos juntas, na mesma carteira dupla, e
desenhávamos o tempo todo, em qualquer papel que aparecesse. Sempre acompanhei,
com muita admiração, a sua trajetória na arte. Quando nos encontrávamos, nas
encruzilhadas de caminhos diferentes, sempre aproveitávamos a oportunidade para
uma troca de experiências.
O texto abaixo foi selecionado da primeira edição do
meu livro “Os caminhos da Arte.”
“Se observarmos o itinerário de Lygia Clark, podemos
sentir a sua trajetória acelerada através de vários espaços partindo da tela
bidimensional, até alcançar a realidade do ser humano a fim de transformá-lo.
Lygia não se deteve nas aquisições do passado. Sua inquietação constante a
conduziu da realidade visível para a invisível, da arte feita para a arte
vivenciada, não verbal. Despojando-se desde o início dos elementos sensíveis da
cor e matéria, Lygia penetrou na organicidade de onde vieram as primeiras
esculturas, os bichos, permitindo a participação do espectador e o despertar da
criatividade. Suas experiências com o corpo marcaram o rompimento definitivo
com as artes plásticas. Seu trabalho, naqueles oito anos de permanência em
Paris, supõe a desmistificação de conceitos e o desbloqueio dos fantasmas do
corpo.
“No meu curso, nos diz Lygia, eu peço depoimentos,
vivências e eles começam a se desenvolver também no sentido da palavra, da
linguagem. O trabalho com o corpo traz os fantasmas, a palavra é usada para
exprimir estes fantasmas e os jovens começam a se expressar como nunca
conseguiram em qualquer outro curso da Sorbonne. Cria-se uma comunicação tão
viva e intensa que eles acabam se tornando amigos, encontram-se fora do curso,
trocam vivências e codificações de comportamento”.
Segundo suas próprias palavras: “Se você analisar
tudo o que fiz até agora, vai notar que o que pretendo é o aprofundamento deste
trabalho, só que num nível mais coletivo ainda, menos pessoal, menos
individual, e menos artístico. Cada vez menos obra de arte. No momento estudo
antropologia e a cultura dos índios.”
Tendo se libertado do objeto como obra de arte,
Lygia deu continuidade às suas pesquisas buscando a visão arcaica do mundo e
das pessoas. O trabalho com o corpo, a liberação das fantasias levaram-na à
conscientização de uma unidade entre as pessoas a que ela denominou “corpo
coletivo.”
A retrospectiva de Lygia Clark no MOMA, em Nova
York, denominada “O Abandono da Arte” reuniu seu trabalho desde as pinturas
figurativas e os desenhos de 1940, passando pelas abstrações geométricas de
1950 até os revolucionários “objetos sensoriais” de 1960,uma proposição que ela
denominou “terapêutica”.
O trabalho de Lygia é experimental e visa à
liberação do ser. Desbloqueia, conscientiza, facilita a troca no relacionamento
humano e amplia a vivência do ser, tão necessária ao mundo em que vivemos.
*Fotos de Maurício Andrés
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quarta-feira, 9 de setembro de 2015
A ARTE DE MARY VIEIRA
Foi guiada por um sentimento espiritual de busca da
perfeição que Mary Vieira, artista brasileira, nossa colega na Escola Guignard,
embarcou para a Suíça, há décadas atrás. Mary era movida por uma necessidade interior de desenvolver sua
capacidade criadora dentro da escultura concreta, que exige do artista a adesão
completa à forma pura. A pureza na arte concreta é imprescindível. Talvez seja
ela a ponte que liga a arte à ciência, à matemática e à física, penetrando
também no plano onde elas se encontram com o espiritualismo inato do ser
humano.
O caminho seguido por Mary foi o de buscar sempre a
perfeição dentro da arte. Hoje seu nome é conhecido internacionalmente e suas
esculturas integram jardins, praças e museus da Europa e das Américas. Pioneira
do cinevisualismo plástico internacional, Mary Vieira realizou seus primeiros
“Multivolumes”, estruturas concretas multicomponíveis à participação direta do
espectador, quando ainda estudante da Escola Guignard, em 1947, em Sabará,
Poços de Caldas, Lambari e na Bahia. Em 1948 ela construiu a primeira estrutura
cinética monumental animada eletricamente: “Formas Rotatórias Espirálicas à
Perfuração Virtual”, que foi executada em Araxá para o conjunto da Exposição
Nacional das Classes Produtoras brasileiras.
Mary revela em suas esculturas uma possibilidade
dinâmica do espaço-tempo. Seus polivolumes permitem ao espectador participar
também do momento de criação e sentir-se de certa forma co-autor da obra de arte.
Aí o sentimento lúdico funde-se com o sentimento estético e permite a criação
de novas formas no espaço, sustentadas por uma estrutura básica. Encarregada de
realizar uma escultura para o Instituto de Anatomia Patológica da Universidade
de Basiléia, Mary dedicou 4 anos a esse monumental trabalho, realizado em aço
inoxidável e denominado “Função de Forças Opostas”. Ali os elementos
horizontais e verticais se conjugam e se movem, oferecendo várias formas de
composição aos alunos que transitam no imenso salão. Os elementos, os
polivolumes se movem nas mãos dos estudantes. A arte, para Mary, é o canal por
onde flui espontaneamente o sentimento espiritual ao encontro do eterno. A sala
de meditação do Instituto de Medicina Social de Bürgerspital do Cantão de Basiléia
contém uma grande tapeçaria de Mary, baseada também na forma vertical e
horizontal, símbolo da vida e da morte. Referindo-se a esse grande trabalho em
tapeçaria tecida em lã crua, os críticos suíços comentam: “É a redescoberta da
cruz, como forma primordial na sua gênese rítmico-estrutural.
Duas linhas se põem em marcha, ao longo da parede, para encontrar a sua própria
horizontal e a sua própria vertical. Uma cruz surge no centro como evento
metacromático de cor verde. Uma linha se dissolve no curso do próprio caminho,
no limite do espaço ambiental. Os dois elementos fundamentais deste mistério, a
vertical e a horizontal, se isolam ao lado, preparados para construir-se dia a
dia, em uma nova crucificação ininterrupta.”
*Fotos da internet
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quinta-feira, 3 de setembro de 2015
CONSIDERAÇÕES SOBRE UMA ESCOLA DE ARTE
Esta é uma homenagem a Rubens
Gerchman por sua visão holística da arte.
(depoimento obtido em 1976 no
Rio)
“Nossa visão egocêntrica
deverá evoluir para uma consciência total, comunitária”. Lembrando estas
palavras proféticas de Vasarely, podemos trazê-las para o ensino da arte. Uma
escola de arte, para ser realmente renovadora, tem de ser participante dessa
consciência total. Não são os currículos nem a burocracia que a fazem crescer,
mas antes de tudo o entusiasmo e a força criadora de seus líderes. A
criatividade, impulsionando uma organização, torna-se uma força geradora em
pleno movimento. Podemos sentir a presença desta energia renovadora na Escola
de Artes Visuais do Rio de Janeiro, orientada por um grupo de professores,
tendo à frente o conhecido artista Rubens Gerchman. Trazendo a criatividade
para a vida, ele a põe a serviço do bem comum. De acordo com seu próprio
depoimento: “Quando concebi a nova escola de artes visuais, pensei em sua
estrutura como uma ampla rede comunicante, onde a informação pode fluir
constantemente, modificando e reorientando as diversas áreas de conhecimento”.
Dentro deste esquema flexível, aberto ao novo, a Escola de Artes Visuais
elabora um trabalho de síntese que se estende para outros campos de atividades
artísticas, visando despertar o aluno para uma visão global da arte e da
vida.
Procurei entrar em contato
com a escola de modo geral, admirando o seu sentido dinâmico e renovador.
Tive a oportunidade de
assistir a uma aula da Oficina do Corpo, dirigida por Hélio Eichbauer.
Percebe-se a preocupação do professor de conduzir seus alunos para a consciência
da unidade.
“Sua atuação como cenógrafo
em treze anos de intensa atividade profissional e sobretudo sua flexibilidade
como artista pesquisador, seu interesse por música, dança, teatro e pintura
(artes plásticas) possibilitaram a realização de uma proposta aglutinadora
dessas diversas manifestações de arte. Lembro-me de Jackson Pollock pintando
com o corpo, gestos sobre telas estendidas no chão (action painting), dos
calígrafos japoneses, das manifestações do body-art nos anos 70, tentativas de
recuperação do equilíbrio mente-corpo, e observo a transformação desta
informação em experiência vivida nos trabalhos de criação coletiva dos alunos
de Hélio Eichbauer”. Assim se expressou Rubens Gerchman sobre seu colega da
Oficina do Corpo, por ocasião da exposição comemorativa de seus treze anos de
produção em cenografia. Hélio Eichbauer leva o aluno à consciência do corpo,
dentro de uma pesquisa coletiva. Dentro desta visão total, a arte poderá se
estender para a vida e se realizar na própria vida.
Em minhas visitas à Escola de
Artes Visuais, o que mais me chamou a atenção desde o início foi a
possibilidade do aluno obter conhecimento através da própria vivência
transmutada ao nível consciente. Dentro desse caminho de abertura da percepção
encontrei, no curso de transformação de materiais a cargo da professora Celeida
Tostes, uma verdadeira abordagem de alquimia. Tendo-se aperfeiçoado em
arte-educação na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, Celeida conduz seus alunos
a uma relação sensorial com os quatro elementos da natureza: fogo, terra,
água e ar, anexados a elementos e substâncias químicas. A apreensão direta do
conhecimento é percebida através dos cinco sentidos, buscando a síntese corpo e
mente. Suas aulas não conduzem apenas à observação visual das formas, mas
ultrapassam o mundo do conhecido, para mergulhar no desconhecido. Trazendo a
mensagem do inconsciente para o consciente, o aluno estará apto a encontrar seu
próprio ritmo destruindo, criando e transformando a matéria dentro deste ritmo.
Há uma busca das origens nessa descoberta interior que permite, através da
transmutação dos elementos da natureza, também a compreensão do relacionamento
homem-universo.
*Fotos da internet
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terça-feira, 1 de setembro de 2015
domingo, 23 de agosto de 2015
DO CARRO DE BOI AO COMPUTADOR
Residindo longe do eixo Rio – São Paulo onde
aconteciam os eventos, eu me expressava nos anos 50, dentro do construtivismo
de maneira própria. Ia todos os fins de semana para a fazenda do meu sogro em
Entre Rios de Minas. Ali desenhava cenas da vida rural, buscando a
simplificação da figura como uma necessidade interior de disciplina e
concentração. Suprimir detalhes, valorizar a cor chapada pura, sem nuances, era
para mim também uma busca espiritual da essência da forma, síntese espontânea,
intuitiva, conquistada com o exercício constante e ininterrupto do desenho. Os
pequenos desenhos da década de 50 foram guardados em pastas diferentes, de
acordo com o destino que poderiam ter mais tarde, na pintura, na escultura ou
na arte aplicada. Desenhos daquela época estão sendo tridimensionados com o
auxílio do computador pela arquiteta Elena Andrés Valle e depois transformados
em esculturas de ferro, sob a orientação do arquiteto Alen Roscoe. Esta série
de desenhos que denomino de pré- concretista, foi um caminho do figurativo ao
abstrato e está possibilitando, no presente, uma caminhada em direção a outros
espaços.
*Fotos de Euler Andrés e Maria Helena Andrés
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