sábado, 19 de dezembro de 2020


 

EULER DE SALLES COELHO E O SILÊNCIO DA MEDITAÇÃO

 Vejo as fotos da Matriz da Boa Viagem completamente restaurada, uma imagem do que ela foi no passado para todos nós e vou revivendo também o meu passado naquela igreja.

As memórias me trazem de volta a figura profundamente religiosa do meu pai, Euler de Salles Coelho, assíduo frequentador da Boa Viagem e adorador do Santíssimo Sacramento. Papai tinha dia e hora para sua meditação junto ao Santíssimo Sacramento, ali ficava em oração, pedindo pelos filhos e por todo o Brasil.

Eu, algumas vezes, o acompanhava e aquele ambiente de paz e silêncio me fazia muito bem.

Todas as formas de meditação nos conduzem para o encontro com o terreno, com aquilo que não se perde no tempo.

Papai havia deixado a política, sua busca interior procurou refúgio naquela meditação silenciosa que fazia todas as semanas na igreja da Boa Viagem.

Hoje vejo a igreja, resplandecente nas fotos divulgadas pela internet e fico pensando no meu pai e na sua profunda ligação com a Igreja Católica.

Esta inclinação para os aspectos transcendentais da existência, ele conseguiu transmitir para todos nós, e o seu exemplo foi marcante sem exigir que nenhum o seguisse.

Agora, a beleza da igreja que ele frequentava nos traz de volta a figura do pai e momentos de paz e recolhimento.

Papai também se envolvia em outros aspectos mais participativos da religião católica, frequentava a Irmandade do Carmo e desfilava nas procissões vestido com o hábito marrom dos Carmelitas.

Um episódio interessante ocorreu quando ele desfilava pelas ruas, acompanhando a procissão.

De repente uma moça rompeu a procissão para pedir a benção ao padre.

Olhou para cima e exclamou admirada: “É o Dr Euler!”

A moça era a empregada da nossa casa.

*FOTOS DE ARQUIVO E DA INTERNET

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domingo, 6 de dezembro de 2020







 

A ÁGUA FALA, UMA ENTREVISTA II

 Dando continuidade à entrevista concedida por Maurício Andrés para a Revista Planetapontocom, transcrevo o texto abaixo:

“Para saber mais sobre o processo de criação do livro A água fala, entrevistamos o escritor Maurício Andrés, um dos autores do livro. Leia abaixo:

Revistapontocom – Quais fatores motivaram a criação do livro A água fala? 

Maurício Andrés – para as próximas gerações será cada vez mais vital ter não apenas conhecimento especializado, mas uma consciência holística e integral sobre a água. Motivados por isso escrevemos o livro A água fala na primeira pessoa do singular, como se a narrativa fosse feita pela própria água.

Revistapontocom – Qual o público-alvo do livro?

Maurício Andrés – a obra é dirigida aos jovens, numa linguagem sintética e poética, permeada por ilustrações da artista Maria Helena Andrés.

Revistapontocom – Quando começou o projeto?

Maurício Andrés – o projeto de criação do título começou há mais de dez anos, enquanto trabalhei profissional e institucionalmente com o tema da água e senti necessidade de transmitir esse conhecimento numa linguagem comunicativa para promover a hidroconsciencia e dissolver a hidroalienação.

Revistapontocom – Quais os pilares da narrativa?

Maurício Andrés – as cinco partes do livro tratam de vários aspectos da água: seu movimento no cosmos e no ambiente; sua importância como substância em que se origina a vida; sua importância nas culturas e nas artes; seus múltiplos usos e os conflitos entre usuários quando ela escasseia; e os modos de gerir e compartilhar a água para que ela esteja disponível a todos os que dela necessitam. Além disso, o livro apresenta um glossário com palavras importantes no universo da água e perguntas voltadas para uma leitura dirigida, além de exercícios para atividades escolares.

Revistapontocom – Quais as principais fontes de pesquisa para o desenvolvimento do livro?

Maurício Andrés – a minha vivência e experiência durante mais de uma década numa instituição que cuida das águas, hoje chamada de Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, me colocou em contato com especialistas de várias formações disciplinares e acadêmicas altamente qualificados e com publicações, eventos e estudos técnicos e científicos que  foram fontes valiosas para ampliar meu aprendizado sobre esse tema fascinante. Complementei esses conhecimentos com pesquisas no campo da agenda cultural das águas e sua presença na história das civilizações humanas.

Revistapontocom – Como os autores se dividiram para construção do roteiro?

Maurício Andrés – O roteiro foi concebido por mim, que elaborei o texto base. Em seguida, Aparecida adaptou esse texto base para uma linguagem poética e sintética a fim de facilitar sua comunicação com o público jovem e com os leitores, em geral. Por fim, Maria Helena criou as cerca de cem ilustrações correspondentes a cada segmento do texto.

Revistapontocom – Qual mensagem o livro quer passar e por quê?

Maurício Andrés – o livro quer passar para os jovens uma mensagem sobre a importância de conhecer bem a água, elemento vital e essencial que precisará ser cada vez mais bem gerenciado e cuidado, para que não falte a todos aqueles que dela precisam em suas vidas.

Sobre os autores
Maria Helena Andrés é artista plástica, arte-educadora e escritora. Foi uma das primeiras alunas do pintor e artista plástico francês Alberto da Veiga Guignard. Premiada em vários salões e bienais, expôs na França, Itália, no Chile, nos Estados Unidos e tem obras em museus no Brasil, na Espanha e nos Estados Unidos. Fez inúmeras viagens de estudos à Índia. Escreveu vários livros (Vivência e Arte; Encontros com mestres no Oriente; Oriente-Ocidente – integração de culturas; Os Caminhos da Arte) e ilustrou outros tantos (escritos por Pierre Weil, Marco Antonio Coelho, Aparecida Andrés). Publica artigos e textos sobre artes, sua vida de artista e suas memórias e viagens nos blogs
http://mariahelenaandres.blogspot.com/ 
http://memoriaseviagensmha.blogspot.com/

Aparecida Andrés é graduada e mestre em Filosofia, cursou o mestrado em Ciência Política e é médica. Foi professora de Filosofia, pró-reitora de Extensão na UFMG e Consultora Legislativa na Câmara dos Deputados. Escreveu o livro infanto-juvenil Pepedro nos caminhos da Índia, que narra as viagens de um menino brasileiro àquele país. Tem vários artigos e textos acadêmicos e literários publicados.

Maurício Andrés é arquiteto, fotógrafo e escritor. Escreveu vários livros sobre Ecologia e sobre a Índia.  Foi gestor ambiental em Belo Horizonte e no Estado de Minas Gerais. Em Brasília foi diretor do Ministério do Meio Ambiente e conselheiro no Conselho Nacional de Meio Ambiente e no Conselho Nacional de Recursos Hídricos, assessor na Agência Nacional de Águas e palestrante no Programa de Pós -Graduação em Rede Nacional em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos- ProfÁgua. Participa de ONGs pela paz e pelo federalismo mundial. Publica no blog http://ecologizar.blogspot.com/ 

Ficha técnica:
Edição: Instituto Maria Helena Andrés
 Produção Editorial: Maurício Andrés
Revisão: Aparecida Andrés
Layout e capa: João Diniz
Primeira edição publicada em português, inglês e francês e italiano em 2020

Copyright Instituto Maria Helena Andrés – toda a receita desse livro é destinada ao Instituto Maria Helena Andrés, para atividades no campo da arte e do desenvolvimento humano.

Link para o livro A água falaem português:

Link para o livro Water Speaks. em inglês

Tradução de Jane Roberta Lube.

Link para o livro L’eau parle em francês

Tradução de Anne-Sophie de Pontbriand Vieira.

Link para o livro L’acqua parla em italiano:

Tradução de Giorgio De Antoni – revisão de Alberto Sica.”

*Fotos de arquivo

*Ilustrações de Maria Helena Andrés

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domingo, 29 de novembro de 2020


 

"A ÁGUA FALA", UMA ENTREVISTA I

Recebi de Maurício Andrés o texto abaixo que se refere a uma entrevista para a revista “Planetapontocom”.

Agradecemos à Silvana Gontijo a gentileza de nos ceder a entrevista para ser publicada neste blog.

 

“Para as próximas gerações será cada vez mais vital ter não apenas conhecimento especializado, mas sim uma consciência holística e integral sobre a água. Resultado de uma autoria coletiva composta por Maria Helena, Aparecida e Maurício Andrés, o livro A água fala traz a água como primeira pessoa do singular, como se a narrativa fosse contada por ela.

Dividido em cinco partes, o título descreve uma viagem pelo ciclo completo da água no ambiente, seu movimento, sua presença nos corpos vivos, na cultura e as questões relacionadas com o seu uso. A obra, permeada por ilustrações da artista Maria Helena Andrés, uma das autoras, é dirigida aos jovens numa linguagem sintética e poética. 

Na primeira parte, o leitor é convidado a se aproximar da água e a conhecer suas viagens pelo universo e pela Terra. Em primeira pessoa, ela descreve como circula no meio ambiente e mostra os diversos estados que assume diante do calor e do frio e das mudanças de temperatura que a tornam vapor, líquida ou sólida. Além disso, mostra que pode ser doce, salobra ou salgada e como é um sinal que indica a existência de vida.

Já na segunda parte, o leitor é convidado a acompanhar a água em seu movimento, vivenciando as formas que ela assume e os diversos lugares que ocupa nos céus, na terra, no subsolo como granizo, chuva, flocos de neve. Ao longo da narrativa, a água então descreve seu ciclo, com a precipitação, a evaporação, a infiltração no solo, mostrando como surge em nascentes e provoca a erosão dos solos, as enchentes, as inundações e as secas.

A terceira parte descreve o caminho da água nos corpos vivos de seres humanos, animais e plantas e ressalta seu papel e importância para a vida. Ela está na seiva que transporta sais minerais nas plantas que a transpiram para o ambiente, nos líquidos dos corpos vivos, como as lágrimas, o suor, o sangue, a urina, no líquido em que os bebês vivem no útero das mães, na limpeza dos corpos nos banhos, entre outras tantas possibilidades.

Por ser tema frequente na cultura, nas religiões e nas artes, a quarta parte do livro aponta a água como ela é cantada, falada e mostrada nas diversas manifestações culturais e artísticas, seja na música, na poesia, na dança, no urbanismo e no paisagismo. Em muitas tradições espirituais ela é sagrada e está presente em rituais, como o batismo cristão, e nas narrativas bíblicas, como a do dilúvio. Em outras tradições, há deuses e deusas ligados à água e rituais como a dança da chuva dos índios. Muitas palavras em diferentes idiomas se referem a ela e muitos lugares e cidades têm nomes relacionados com as águas.

O livro realça ainda alguns dos múltiplos usos da água na quinta e última parte: para o abastecimento humano e para matar a sedes dos animais, para a agricultura na irrigação, para a geração de energia, para o transporte, para a pesca, a recreação, o lazer e o turismo. Dessa forma, a obra ressalta a necessidade dos indivíduos pelos recursos hídricos para manter a saúde e o bem-estar.

Além disso, o livro denuncia os desperdícios que acontecem acerca do consumo da água, enfatizando os problemas e a insegurança decorrentes de sua escassez ou excesso, com as secas e as inundações. Paralelamente, mostra a importância de se construírem obras tais como açudes, canais, aquedutos, estações de tratamento de água e de esgotos e de conservar os solos e promover sua proteção como uma riqueza de grande valor. A importância de se desenvolver a cooperação em torno da água também está presente, incluindo a necessidade do diálogo e da crítica direcionada a rivalidades, conflitos e violência entre aqueles que dela precisam e que a disputam.

Com versões em quatro idiomas (português, inglês, francês e italiano), o livro já está disponível em formato eletrônico e a tradução para a versão em espanhol se encontra em fase de revisão. “ (Revista Planetapontocom)

FOTOS  DE ARQUIVO

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domingo, 22 de novembro de 2020


 

PABLO NERUDA

 Eu estava no Chile, na embaixada do Brasil, quando inaugurei a primeira exposição de desenhos sobre papel veludo. Estava inaugurando a Galeria da Embaixada. A exposição teve como curador o poeta Tiago de Melo, adido cultural do Brasil naquele país e organizador da exposição e de todos os eventos culturais.Tiago era muito conhecido no Chile, tinha contato com todos os artistas.

Juíta Salles de Alencar, a embaixatriz, esposa do embaixador Fernando Alencar, com sua espontaneidade e simpatia, acolhia a todos na embaixada. Fiquei conhecendo vários artistas, trocamos idéias e quadros.

Tiago de Melo me fez chegar até Pablo Neruda, o grande poeta chileno, conhecido internacionalmente. Neruda tinha uma casa de campo à beira mar, na “Isla Negra” em Valparaíso e foi ali que nos conhecemos. A casa era decorada  com obras de arte e atualmente tornou-se o Museu Pablo Neruda.

Um imenso cavalo de madeira chamava a atenção do visitante. Uma atmosfera mágica ia nos mostrando um passado sujeito a mudanças, inclusive provocadas por terremotos.

Durante o almoço, num restaurante de frente para a praia, serviram frutos do mar. Neruda sentou ao meu lado, numa varanda que dava para o Pacífico.

Tudo muito bem organizado, restaurante de luxo, gente muito alegre e comunicativa. Acontece que eu não gostava de mariscos e aquele era o prato principal. Procurei disfarçar, comi um pouco para não ser mal educada. Neruda percebeu e cochichou no meu ouvido.

- “A senhora não gosta, me passa o seu prato, ninguém vai perceber nada”.

Segui os conselhos do poeta e trocamos de prato. Ninguém viu, estavam em outras conversas. Durante o almoço falamos muito sobre arte e política no Brasil. Era 1963 e havia no Brasil uma grande efervescência política.

Naquela viagem tive a oportunidade de conhecer Neruda, um poeta latino- americano cujas palavras atravessaram os Andes e se projetaram no planeta. Ali, sentada à beira mar, as palavras de Neruda me abriram novos caminhos e sua atitude, cordial e simpática, me permitiu conhecer este outro aspecto de Neruda, a solidariedade.

A solidariedade é uma forma de perceber o outro, e nesse caso, foi uma cumplicidade que envolveu duas pessoas com paladares diferentes.

Segue poema de Pablo Neruda:

SONETO XVII

 

Amo-te como a planta que não floriu e tem

dentro de si, escondida, a luz das flores,

e, graças ao teu amor, vive obscuro em meu corpo

o denso aroma que subiu da terra.

Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,

amo-te diretamente sem problemas nem orgulho:

amo-te assim porque não sei amar de outra maneira,

a não ser deste modo em que nem eu sou nem tu és,

tão perto que a tua mão no meu peito é minha,

tão perto que os teus olhos se fecham com meu sono.”

 

*FOTOS DA INTERNET

 

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sábado, 14 de novembro de 2020


 

REDES SOCIAIS

Costumo receber nas redes sociais artigos maravilhosos, poemas de Mário de Andrade, pensamentos de Heráclito, Sri Aurobindo, Trigueirinho.

Todos eles existiram neste planeta e agora viajam para outras dimensões.

Gosto de ouvir as Cantigas de Santa Maria de Don Afonso X que, de acordo com pesquisas, é nosso ancestral.

Quanta coisa a gente recebe pela internet e elas nos elevam do plano denso, para outro superior, cheio de luz.

Posso escutar no Youtube a música de Alexandre Andrés, a flauta do Artur. E ver os dedos de Regina no teclado, acompanhando Artur na vida, inspirado no nosso momento atual.

Também na internet, Ivana e Luciano interpretam poemas e postam vídeos.

Os meus blogs, há mais de 10 anos viajam pelo mundo levando um pouco do Brasil para países distantes.

E quantos outros acontecimentos, como o aniversário de Gilberto Gil e as andanças de Caetano Veloso pelo mundo com seus filhos, tudo isso e inúmeros outros eventos e “lives”, podemos acompanhar pela internet. Não é preciso de muito esforço, apenas um “clic” no lugar certo, e podemos acompanhar a “live” da Orquestra 415 ou escutar a filarmônica de Belo Horizonte atuando ao vivo. Lembro-me da emoção ao assistir a “Marselhesa” cantada por uma artista afro-descendente, proclamando a união dos povos do mundo.

Tudo isto é lindo, produzido por pessoas escolhidas pelos guias espirituais que nos ajudam nesta travessia da vida.

Viver plenamente é estar aberto para o que nos circunda, saber separar o joio do trigo.

E olha, não estacione no joio. Ele pode nos conduzir à parte negativa que existe dentro de nós.

O que fazer?

Passar adiante, porque se está escuro, também existe a possibilidade de apreciar o canto da vida.

Nos programas culturais, as redes nos conduzem às pessoas mais distantes, podemos assistir aulas projetadas por João Diniz entrevistando Maurício em Brasília e Marília em Belo Horizonte e ter a oportunidade de aprender alguma coisa sobre os anos 60 em BH.

Daqui do Retiro das Pedras, sentada em frente à tela do computador, os personagens da família vão surgindo, conversamos, trocamos idéias. O aniversário de minha irmã Maria Regina foi comemorado on line,com pessoas de diversos países, irmãos e sobrinhos.

Gosto de enumerar os aspectos positivos da internet, tem muita gente que se recusa a aceitar as novas mídias.

Hoje, assisti uma live sobre a Covid 19, de Carlos Starling, médico e infectologista. Aprendi muito. Ele nos lembra que a vacina é um bem universal e deve ser compartilhada por cientistas de vários países.

Ontem, passei a tarde escutando a música de Keith Jarret, “The Koel Concert”, que é considerado um divisor de águas na história do Jazz.

Uma das maiores influências que ele recebeu nesse período, segundo Artur Andrés, foi o contato que ele teve com a música de Gurdjieff de Hartman, compositor e mestre espiritualista russo.

Gurdjieff, com suas pesquisas no oriente, influenciou vários músicos, inclusive Artur Andrés que já publicou uma série de músicas do mestre russo.

Neste blog, não posso me estender em detalhes de cada obra, mas apenas aponto o quanto as mídias podem nos ajudar nesta quarentena que estamos vivendo.

Depende de nós escolhermos o que nos faz bem.

*FOTOS DE ARQUIVO

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domingo, 8 de novembro de 2020




 

VOLTA ÀS AULAS NA ESCOLA GUIGNARD

 A Escola Guignard significou muito para mim, desde o seu início, em 1944. Guignard nos fez ver um ensino de arte inovador, onde o despertar do novo prevalecia sobre a cópia dos métodos antigos.

No momento, é bom recordar o que ele nos trouxe e o que podemos fazer para dar continuidade à escolha que fizemos. Seguir Guignard não é copiar seu estilo, mas compreender que a arte, sob todos os seus aspectos, é o que vai nos sustentar na caminhada pela vida.

Somos todos viajantes neste mundo, levando conosco a bandeira da criação. Aprendemos muito sobre arte e vida nesta Escola de arte.

- “Por que escolhemos estudar e seguir o caminho das artes?”

O caminho das artes é um caminho muito rico, porque nos faz mais felizes. O importante é começar a perceber que ele nos permite crescer como seres humanos. Arte é trabalho e este trabalho é vida.

Nesses dias de quarentena, quando nos sentimos confinados dentro de casa, percebemos com mais clareza o quanto podemos transpor obstáculos, nos dedicando a um trabalho escolhido por nós, como vocação insubstituível. Nossa vida pode se tornar uma arte na poética do cotidiano.

Guignard nos levava à contemplação da natureza, em suas caminhadas pelo parque municipal. Ele nos incentivava à observação das texturas dos troncos de árvores, das diferentes tonalidades de verde, dos céus de Minas com um azul metálico, dos muros velhos. Era necessário observar para depois desenhar ou pintar. O parque, naquela ocasião,  foi motivo de muito aprendizado. Aprendi com Guignard a valorizar o cotidiano, desenhando objetos de uso diário, que também, silenciosamente, nos ensinam. Ele nos ensinava a observar e desenhar, desenhar muito, com lápis duro, 6H, para depois rabiscar rapidamente, em linha contínua os objetos, pessoas e paisagens. Essa linha contínua me acompanha até os dias de hoje e já me permitiu transformá-la em esculturas de aço ou simplesmente desenhos em bico de pena. Desenhar é fundamental, é dali que partimos para maiores dimensões.

Agora, no século XXI e, as vésperas do ano 2021, procurei me informar sobre as atividades da Escola e me chamou  à atenção o interesse dos alunos sobre o sorteio de dois livros e um DVD sobre o ensino de arte no Brasil: Augusto Rodrigues e Helena Antipoff,  grandes arte educadores.

Vivemos a época das lives, dos zoons, dos encontros virtuais. O encontro com as novas mídias é anunciado nos salões e nas plataformas virtuais da Escola. Vale lembrar a atuação da professora Sonia Laboriau, coordenadora do Grupo de estudos e produção de arte GEA, o projeto de professores  pesquisadores  da Escola e a exposição virtual Entre o isolamento e o contato, coordenada por Celina Lage, que resultou num livro de artista on line.

Gostaria, no momento, de aprender com vocês, jovens professores alinhados às novas mídias. Sou muito interessada no aprender e acho que esse interesse constitui um estímulo para o viver.

Deixo o meu incentivo para vocês, alunos e professores da Escola para continuar nessa direção, com muita alegria e sucesso na caminhada pela vida.

Um abraço para todos e um agradecimento especial para a Lorena D’Arc, diretora da Escola, pelo seu convite.

Maria Helena Andrés

PARA ASSISTIR À AULA INAUGURAL:

 https://youtu.be/8yGutNWWrrU

 

*Fotos da internet

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segunda-feira, 2 de novembro de 2020


 

FREDERICO MORAIS

 Estou frente à TV, assistindo no Canal Curta, os Domingos de Criação de Frederico Morais, um sucesso conquistado por um mineiro no Rio de Janeiro. Vejo na tela o quanto ele conquistou o Rio, numa época ainda sombria, em plena ditadura militar. Vejo a alegria e a descontração dos cariocas, pessoas idosas, jovens, crianças, todas participando de um momento único nos jardins do Museu de Arte Moderna.

Havia uma energia coletiva com aquela possibilidade de criar juntos, esquecer os problemas cotidianos e mergulhar no mundo mágico da criação. Frederico distribuía rolos de papel e rolos de pano, tintas, pincéis, abrindo a todos a possibilidade de criar sem medo de errar. No documentário estão artistas e poetas famosos, como Cildo Meireles e Silviano Santiago.

Em torno de Frederico, vejo os repórteres tomando nota, fazendo perguntas. A reportagem nos conduziu até a casa dele, no bairro Santa Teresa, e à sua enorme biblioteca, onde ele pode falar um pouco sobre sua vida.

- “Perdi meu pai cedo e comecei a trabalhar na adolescência.”

Lembro de Frederico em Belo Horizonte, quando ele, ainda com seus 17 anos, trabalhava no Banco Vera Cruz, na rua dos Caetés. Eu tinha pintado um biombo para o Banco, na minha fase construtiva e Frederico gostava muito de arte. Quando eu chegava no Banco, para movimentar o meu dinheiro, ele corria para me atender. Foi uma amizade que começou na década de 1950, quando eu participava das bienais e me dedicava à minha família e à minha arte.

Anos mais tarde ele me chamou para chupar jabuticabas no seu sítio, no bairro Santa Lúcia e ali encontrei com sua esposa Wilma Martins, grande artista, hoje nacionalmente reconhecida. Wilma foi minha aluna na Guignard, e por seu merecido talento, ganhou naquela época o primeiro lugar no Salão da Prefeitura de Belo Horizonte. Eu era parte do júri. Depois nos perdemos de vista.

Frederico foi morar no Rio, conquistou o público carioca. Em um dos depoimentos ele diz: “Devo ter feito a cabeça de muita gente”.

Frederico se tornou um artista conceitual e dedicou também aos áudios-visuais, uma forma de fazer arte que antecipou os videos. Uma de suas propostas conceituais foi realizada no evento Do corpo à terra e teve a participação do meu filho, Maurício, como fotógrafo. A amizade dele com os Andrés se estendeu também à minha filha Marília, que defendeu uma tese sobre as Neovanguardas de Belo Horizonte nos anos 1960, cuja participação de Frederico Morais foi muito importante.

E foi neste documentário sobre este grande critico, curador e artista que eu pude também participar à distância dos famosos “Domingos de Criação”.

Parabéns, Frederico Morais, você conquistou um espaço na arte brasileira que nunca será esquecido.

*FOTOS DE IVANA ANDRÉS

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domingo, 18 de outubro de 2020


 

MEMÓRIAS DE PRÊMIOS

Antigamente, os artistas faziam suas carreiras participando de Salões e Bienais. Enviavam seus trabalhos que teriam de se submeter a um júri nacional ou internacional, como nas primeiras Bienais de São Paulo.

No momento, recordo a minha participação no Rio de Janeiro, no Salão Nacional de Belas Artes, quando comecei a minha carreira, aos 18 anos. Revejo a minha alegria e surpresa ao me ver incluída entre os artistas de Rio e São Paulo e também de outros estados do Brasil.

Sempre havia uma surpresa, uma alegria e a confirmação de que  eu estava andando para a frente.

Na minha fase figurativa, eu fazia retratos, solicitando às pessoas da família ou às empregadas da casa para servirem de modelo. O tema de retratos foi uma constante.

Às vezes o meu nome saía nos jornais do Rio.

- “Tem caráter, fala, a Portuguesa de Maria Helena”.

Guardei esta frase na memória, porque me senti prestigiada com a crítica e a Menção Honrosa que ela me deu. Ficou só na memória, porque o quadro foi doado a quem posou para mim, a lavadeira de minha casa... Em geral, os retratos não ficam com a gente.

Assim, fui percorrendo o caminho da arte, tentando sempre participar dos Salões de Minas e do Rio.

Teria de afrontar um júri que poderia tranquilamente me recusar, mas foi com esta disposição de transpor obstáculos que mantive aceso o meu caminho. Uma conquista, um recuo, um passo à frente, e a volta para casa, já projetando ganhar mais espaço no difícil universo das artes.

E eu fui vivendo a minha vida de dona de casa, mãe de seis filhos e a vida profissional. O importante era não parar .

Hoje vou relatar dois fatos de prêmios de viagem.

O primeiro foi no Salão Nacional de Arte Moderna do Rio.

Eu estava na minha fase construtiva, mergulhada na rigidez dos quadrados coloridos e nas linhas paralelas. Os quadros saíam do meu ateliê da Rua Santa Rita Durão, situado num barracão de fundo.

Dali eu podia pintar e ao mesmo tempo, pela janela, ver as crianças brincando entre as árvores do meu fundo de quintal. Ali, consegui realizar a minha série concretista que começou a ser vista no Salão de Arte Moderna do Rio e nas Bienais de São Paulo.

Mario Pedrosa me visitava em Belo Horizonte, dava força para eu seguir adiante. Sempre vinha ao meu ateliê acompanhado de Franz Weissmann, meu amigo e colega.

Um dia, depois de enviar duas telas para o Rio, onde estiveram expostas no Salão, recebi um telefonema de Weissmann.

- “Maria Helena, você é forte candidata ao prêmio de à viagem à Europa, mas querem saber se você está em condições de viajar. É uma candidata muito forte “.

Naquele momento eu não hesitei e agradeci:

- “Pode dizer à Comissão Julgadora que não posso viajar e me afastar por dois anos de minha família”.

Foi assim que eu desisti do Prêmio de Viagem à Europa, tão ambicionado por todos!

Na década de 1960 eu estava como professora da Escola Guignard, atuando na área do ensino de arte e ao mesmo tempo participando de Salões.

Naquela ocasião, recebi um convite para visitar os Estados Unidos, num programa de Leaders and Specialists. Eu teria de me ausentar do país por quatro meses. Pretendia recusar novamente a oportunidade de viajar, mas o meu marido Luiz me deu a maior força.

- “Você recebeu um convite, não vai recusá-lo.  Esta viagem é importante para a sua carreira, pode deixar que eu cuido das crianças”.

E foi assim que eu saí do Brasil por alguns meses, deixando uma família para trás, muito bem cuidada por meu marido e a sua família.

Foi difícil decidir, mas acabou sendo uma lição de vida muito importante para todos nós.

Meus quadros sofreram mudanças. Houve uma transformação gradativa das Cidades Iluminadas, construtivas, para uma pintura mais livre, gestual, que deu início à fase de Barcos referente à minha primeira viagem para fora do Brasil.

*FOTOS DE ARQUIVO

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