Estou frente à TV, assistindo no Canal Curta, os Domingos de Criação de Frederico Morais, um sucesso conquistado por um mineiro no Rio de Janeiro. Vejo na tela o quanto ele conquistou o Rio, numa época ainda sombria, em plena ditadura militar. Vejo a alegria e a descontração dos cariocas, pessoas idosas, jovens, crianças, todas participando de um momento único nos jardins do Museu de Arte Moderna.
Havia uma energia coletiva com aquela possibilidade
de criar juntos, esquecer os problemas cotidianos e mergulhar no mundo mágico
da criação. Frederico distribuía rolos de papel e rolos de pano, tintas,
pincéis, abrindo a todos a possibilidade de criar sem medo de errar. No
documentário estão artistas e poetas famosos, como Cildo Meireles e Silviano
Santiago.
Em torno de Frederico, vejo os repórteres tomando nota,
fazendo perguntas. A reportagem nos conduziu até a casa dele, no bairro Santa
Teresa, e à sua enorme biblioteca, onde ele pode falar um pouco sobre sua vida.
- “Perdi meu pai cedo e comecei a trabalhar na
adolescência.”
Lembro de Frederico em Belo Horizonte, quando ele,
ainda com seus 17 anos, trabalhava no Banco Vera Cruz, na rua dos Caetés. Eu
tinha pintado um biombo para o Banco, na minha fase construtiva e Frederico gostava
muito de arte. Quando eu chegava no Banco, para movimentar o meu dinheiro, ele
corria para me atender. Foi uma amizade que começou na década de 1950, quando
eu participava das bienais e me dedicava à minha família e à minha arte.
Anos mais tarde ele me chamou para chupar
jabuticabas no seu sítio, no bairro Santa Lúcia e ali encontrei com sua esposa
Wilma Martins, grande artista, hoje nacionalmente reconhecida. Wilma foi minha
aluna na Guignard, e por seu merecido talento, ganhou naquela época o primeiro
lugar no Salão da Prefeitura de Belo Horizonte. Eu era parte do júri. Depois
nos perdemos de vista.
Frederico foi morar no Rio, conquistou o público
carioca. Em um dos depoimentos ele diz: “Devo ter feito a cabeça de muita
gente”.
Frederico se tornou um artista conceitual e dedicou
também aos áudios-visuais, uma forma de fazer arte que antecipou os videos. Uma
de suas propostas conceituais foi realizada no evento Do corpo à terra e teve a participação do meu filho, Maurício, como
fotógrafo. A amizade dele com os Andrés se estendeu também à minha filha
Marília, que defendeu uma tese sobre as Neovanguardas de Belo Horizonte nos
anos 1960, cuja participação de Frederico Morais foi muito importante.
E foi neste documentário sobre este grande critico,
curador e artista que eu pude também participar à distância dos famosos
“Domingos de Criação”.
Parabéns, Frederico Morais,
você conquistou um espaço na arte brasileira que nunca será esquecido.
*FOTOS DE IVANA ANDRÉS
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