segunda-feira, 15 de dezembro de 2014


PISEAGRAMA, UMA IDEIA CIRCULANTE

Roberto Andrés, meu neto, nasceu no dia 12 de dezembro, aniversário de Belo Horizonte. Hoje ele é um dos grandes defensores do direito do cidadão de ocupar o espaço público.
Belo Horizonte, cidade cuidadosamente planejada no início do século XX, cresceu de forma desordenada. Seu traçado perdeu-se há muito tempo com a verticalização de vários bairros e o sufoco do asfalto.
Belo Horizonte já foi denominada cidade jardim, me lembro do cheiro de “damas da noite” quando percorríamos as ruas da cidade. Lembro-me também do tempo em que eu atravessava a avenida Afonso Pena, toda arborizada com árvores copadas, refrescantes. Brincávamos no Parque Municipal, fazíamos pic nic ali, à sombra das árvores. Roberto me fez reviver esses tempos, com o aniversário de sua filha Rosamaria. Levaram os “comes e bebes” para as crianças, e ali no gramado do parque, foi comemorado o aniversário da minha bisneta.
A revista Piseagrama, organizada por Roberto Andrés e sua esposa Fernanda Regaldo, nasceu desta necessidade transgressora de ocupar o espaço público, pisar na grama, fazer pic nic, alegrar as crianças com pipocas e balões, longe do sufoco das salas de festa enfeitadas com desenhos de Mickey Mouse.
Ali no parque, elas puderam participar diretamente do encontro com a natureza à sombra de árvores centenárias. Antigamente havia até um zoológico no Parque Municipal e meus filhos  eram levadas para visitar os macacos e oferecer para eles bananas e outras frutas.
No momento, Roberto procura reviver aspectos humanos do passado, esquecidos por completo nos tempos modernos.
Piseagrama ganhou novas direções, ampliou seu campo para um espaço maior: camisetas com mensagens ecológicas e sociais foram criadas para uso das crianças, e bolsas coloridas andam pela cidade, entram em supermercados, levando e trazendo mercadorias, objetos e coisas do consumo. As pessoas levam e trazem mensagens escritas nas bolsas e , mesmo sem que o percebam, vão levando e trazendo o pensamento ecológico e social de Roberto e Fernanda. A ideia de colocar mensagens nas camisetas e bolsas, é uma forma discreta e genial de fazer propaganda, divulgar pensamentos. Silenciosamente, sem grandes manifestações, essas mensagens ambulantes vão abrindo a consciência das pessoas: “Nadar e pescar no Arrudas”
“Ônibus sem catacras”, “Uma praça por bairro”, “Carros fora do centro”, “Parques abertos 24h”, etc.
“Piseagrama”aparentemente transgride, mas sobretudo está construindo e reeducando os governantes e a população de um modo geral.
No momento, os mesmos dizeres, impressos em cartões coloridos, formam um painel que está exposto no Itaú Cultural, em São Paulo.
“Piseagrama” atravessou as fronteiras de Minas, desceu as montanhas e continua a sua divulgação em outros estados do Brasil.

*Fotos da internet

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segunda-feira, 1 de dezembro de 2014


TAGORE EM “TESOUROS DA ÍNDIA”

Rabindranat Tagore foi um dos poetas que inspiraram a minha geração. Recebi de Maurício Andrés o texto abaixo sobre este grande poeta indiano, extraído de seu livro “Tesouros da Índia”.

“Rabindranath Tagore descreve a India como uma anfitriã generosa. “A missão da Índia foi como a da anfitriã que tem que prover acomodações apropriadas para numerosos hóspedes, cujos hábitos e necessidades são diferentes uns dos outros. Isso causa complexidades infinitas, cuja solução depende não meramente de tato, mas de simpatia e de um verdadeiro entendimento da unidade do homem."
Para abrigar esses hóspedes tão diversos em seu território, a civilização indiana desenvolveu o espírito de tolerância e não-violência, que também aplica ao mundo animal e vegetal. Foi esse estilo de vida não predatórioda natureza que permitiu a sobrevivência milenar daquela civilização.
Continuando a refletir sobre a Índia, Tagore conclui: “Temos que reconhecer que a história da Índia não pertence a uma raça em particular, mas a um processo de criação para o qual várias raças do mundo contribuíram – os drávidas e os arianos, os antigos gregos, os persas, os maometanos do oeste e aqueles da Ásia Central. E por fim, foi a vez dos ingleses nessa história, trazendo-lhe o tributo de suas vidas; não temos o poder nem o direito de excluir esse povo da construção do destino da Índia."
Por sua diversidade cultural e política e sua formação histórica, a Índia é uma nação multinacional, que mantém unidade na diversidade e que foi celeiro e campo fértil para idéias e propostas globalistas, mundialistas e voltadas para o federalismo mundial. Nesse sentido, indianizar é mundializar. Rabindranath Tagore expressa essa convicção:
“Ao encontrar a solução para nosso problema, teremos ajudado a resolver também o problema do mundo. O que a Índia já foi, o mundo todo é agora. O mundo todo se está tornando um único país por meio das facilidades científicas. Está chegando o momento em que precisamos também encontrar uma base de unidade que não seja política. Se a Índia puder oferecer ao mundo sua solução, ela será uma contribuição para a humanidade. Há somente uma história - a história do homem. Todas as histórias nacionais são meros capítulos da história maior. E estamos  felizes, na Índia, por sofrer por tão grande causa.”
Controverso e polêmico, o sistema das castas visava a aprimorar as vocações individuais para as atividades intelectuais, comerciais, guerreiras e manuais; foi dessa divisão de aptidões que se originaram respectivamenteas grandes castas (brahmin, vaishya, kshatriyas, shudra).
Comenta Tagore:“O que os observadores ocidentais não conseguem discernir é que, em seu sistema de castas, a Índia seriamente aceitou sua responsabilidade de resolver o problema de raças de maneira a evitar toda fricção, e ainda assim oferecendo a cada raça liberdade dentro de suas fronteiras. Admitamos que a Índia não obteve nisso um sucesso absoluto. Mas também deve ser lembrado que o ocidente, situado mais favoravelmente quanto à homogeneidade de raças, nunca deu atenção a esse problema; sempre que confrontado com ele, tentou torná-lo mais fácil, ignorando-o."
A capacidade da sociedade indiana de suprir suas necessidades em um espaço limitado foi percebida por seu grande poeta RabindranathTagore. Ele afirmou que a civilização indiana daria sua contribuição fundamental para a sobrevivência da espécie, ainda que com o próprio sacrifício. Essa contribuição, característica de uma sociedade de visão mundialista ocorre de maneira pouco ostensiva e é cada vez mais necessária.
Tanto o Brasil quanto a Índia são pródigos em riquezas naturais. A convivência pacífica com os países vizinhos lhes proporcionou uma organização de poder voltada para ajustamentos internos. O poeta Radinbranath Tagore assim descreve a situação indiana:
“Há outros povos no mundo que precisam superar obstáculos em suas redondezas, ou a ameaça de seus vizinhos poderosos. Eles organizaram seu poder até que estivessem razoavelmente livres da tirania da Natureza e dos vizinhos humanos, mantendo em mãos um excedente para empregar contra outros. Na Índia, sendo internas as dificuldades, nossa história foi de ajustamento social contínuo e não a história do poder organizado para defesa e agressão.” (Referências a TAGORE, Rabindranath. Nationalism. Delhi: Macmillan, 1976, no livro Tesouros da India.)

Abaixo, o poema de Tagore:

Cântico da Esperança
Não peça eu nunca
para me ver livre de perigos,
mas coragem para afrontá-los.

Não queira eu
que se apaguem as minhas dores,
mas que saiba dominá-las
no meu coração.

Não procure eu amigos
no campo da batalha da vida,
mas ter forças dentro de mim.

Não deseje eu ansiosamente
ser salvo,
mas ter esperança
para conquistar pacientemente
a minha liberdade.

Não seja eu tão cobarde, Senhor,
que deseje a tua misericórdia
no meu triunfo,
mas apertar a tua mão
no meu fracasso!

Rabindranath Tagore, em "O Coração da Primavera" (Tradução de Manuel Simões)

*Fotos da internet e de arquivo

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