terça-feira, 24 de novembro de 2015


A VOLTA AO MUNDO EM 80 MINIATURAS E ARTE SEM FRONTEIRAS

Ida Luppi é colecionadora de miniaturas e postais. Guarda dentro de armários envidraçados um verdadeiro exército de miniaturas que revelam o seu amor a esses pequenos símbolos. Sua coleção ficou famosa e as pessoas da família quando voltam das viagens sempre lhe trazem como lembrança uma pequena miniatura. Ida é mãe de Luciano Luppi, ator e diretor de teatro. Luciano escreve, atua, participa de eventos com sua esposa Ivana, artista plástica e cantora.

Agora o casal elaborou um pequeno palco onde as miniaturas de Ida Luppi puderam sair das vitrines para também participarem de eventos. Escolheram 80 miniaturas de diversos países, coladas no mapa de um globo terrestre para compor o espetáculo “A volta ao mundo em 80 miniaturas”. É um espetáculo que acontece em uma caixa escura decorada com cartões postais, que também pertenceram a Ida Luppi.  Apresentado para 1 ou 2 espectadores, integra a proposta das chamadas “Caixas lambe-lambe” encontradas há anos em festivais de bonecos em diversos países. O espetáculo revisita o clássico de Júlio Verne “A volta ao mundo em 80 dias”, estimulando não somente os sonhos de viagem para lugares diferentes, como também para a viagem em direção ao interior de nós mesmos, a “volta para casa”. São 80 miniaturas  provenientes de diversos países, coladas no mapa de um globo terrestre ou espalhadas no chão da caixa. O espetáculo tem a duração de 3 minutos e acontece com música e iluminação adequadas para a grande função de rodar o mundo. No início, mãos humanas sustentam o globo, num gesto de proteção. Durante a música, o globo gira, mostrando suas miniaturas, suas terras e seus mares. No final, um pequeno anjo sobe até sua estrela que brilha ao longe, num apelo comovente.  Há um impacto emocional neste teatrinho, que ressuscita no espectador imagens da infância e sonhos de viagem da juventude. A iluminação é de Luciano Luppi e a trilha sonora é de Evaldo Nogueira e Ivana Andrés com  poesia final de Luciano Luppi.

O espetáculo acaba de participar do Festival de Caixas de Teatro, que integrou o Festival Internacional de Teatro de Bonecos, no Centro Cultural Banco do Brasil, em Belo Horizonte.

O casal está sempre elaborando algo novo, inclusive ajudando pessoas deficientes a encontrar um caminho dentro da arte. Trabalham com Evaldo Nogueira, músico deficiente visual e o trio já percorreu festivais de música, saraus, empresas e teatros, sempre trazendo alegria para o público.

Arte sem fronteiras é uma das mais importantes iniciativas do grupo Voz e Poesia. É uma palestra-show,  focando o debate em estórias de superação. 

O espetáculo está ligado à causa da diversidade, em especial à da pessoa com deficiência, que é o caso de três dos cinco artistas do grupo: os reconhecidos músicos Evaldo Nogueira e Márcio Batista e a artista plástica Kátia Santana.

O espetáculo abre com uma palestra e vai sendo entremeado com canções e poesias, sendo aberto ao público para livre expressão de depoimentos. Ao mesmo tempo, Kátia Santana (cadeirante e portadora de paralisia cerebral) pinta um quadro ao vivo que, depois de pronto, é doado para a instituição.

*Fotos de arquivo


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terça-feira, 17 de novembro de 2015


II JORNADA DE ESTUDOS INDIANOS

A II Jornada de Estudos Indianos aconteceu em Belo Horizonte, na UFMG, com o intuito de congregar interessados nos diálogos científicos e culturais entre Brasil e Índia.
Aconteceu discretamente, sem grandes alardes da mídia, apresentando uma forma positiva de incentivar a nossa aproximação com aquele país asiático. A Índia continua sendo uma fonte inesgotável de conhecimentos e propostas para um mundo melhor.
Fui convidada a participar dessa Jornada com uma exposição de trabalhos sobre a Índia, realizados desde a década de 1970, e meu livro Oriente – Ocidente – integração de culturas foi apresentado numa mesa em forma de livro de artista. Ao mesmo tempo, um vídeo projetado na parede mostrava minhas andanças pela Índia. Foram 45 anos de trabalho visando essa aproximação que agora está acontecendo.
A curadoria da mostra coube à Marília Andrés Ribeiro e ao Paulo Baeta, a coordenação da Jornada coube ao Roberto Luís Monte-Mor, diretor do Centro de Estudos Indianos da UFMG. A exposição foi uma parceria do Instituto Maria Helena Andrés (IMHA) com o Centro de Estudos Indianos (CEI).
Assisti, no dia 11 de novembro, à palestra de meu filho Maurício Andrés Ribeiro. Ele apresentou uma visão panorâmica da evolução e o itinerário do ser humano sobre o planeta, desde a época dos primeiros habitantes até os dias de hoje. A proposta de aprofundar o conhecimento sobre a evolução da consciência nos revelou com extrema clareza uma visão positiva neste mundo conturbado por guerras e tragédias.
Para essa mesa redonda sobre a Evolução da Consciência Humana, vieram Deepti  Tewari Puri e Ariamani, duas representantes da Índia, radicadas em Auroville, no sul da Índia.  Ali existe, desde a década de 1960, uma comunidade que foi considerada pela Unesco como um exemplo para o futuro da humanidade.
Na década de 1970 ali estive conhecendo os vários departamentos, todos eles dedicados ao desenvolvimento da consciência, por meio dos recursos mais abrangentes de educação pela arte. Há uma preocupação constante em fazer a criança se desenvolver através do exercício de suas potencialidades.
Auroville é um exemplo que continua dando certo, regido pelas ideias de Sri Aurobindo, grande mestre indiano, que abriu uma perspectiva para o nosso futuro. Professores vindos da Europa e das Américas visitam aquela comunidade que se baseia na Yoga Integral, onde a arte e a espiritualidade estão sempre presentes, junto com a ciência, a ecologia e o esporte. A presença das duas representantes de Auroville foi muito importante para se compreender a dimensão do trabalho de internacionalização da UFMG, incentivando diálogos científicos e culturais dos brasileiros com os países do Oriente.
Acrescento aqui alguns textos sobre Sri Aurobindo recolhidos do meu livro Encontro com Mestres no Oriente.
“O Yoga Integral de Sri Aurobindo é a união de todos os caminhos: Bhakti (devoção), Karma (trabalho), Jnãna (sabedoria) e Raja (meditação).”
“Sri Aurobindo, em suas meditações, previu a queda dos mitos e a unidade planetária em níveis espirituais. O Supramental desceria sobre a humanidade do futuro, colocando os seres humanos diretamente ligados ao Cosmos. Uma educação baseada no despertar da criatividade e nas tendências naturais da criança possibilitaria maior receptividade para a descida dessa luz, que Aurobindo percebeu em seus momentos de meditação.”
*Fotos de Maurício Andrés e Marília Andrés
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segunda-feira, 9 de novembro de 2015


INFLUÊNCIAS E TROCAS

Observando os ornamentos florais dos oratórios em Minas Gerais e a ornamentação da capela do Taquaral, perto de Ouro Preto e Mariana, sentimos a proximidade com a Índia hindu e islâmica.

Os padrões portugueses, chegando ao Brasil em naus colonizadoras, trouxeram inspirações de além-mar freqüentemente assimiladas na Índia ou na China.

A historiadora Maria Luiza Galeffi, numa palestra dada em congresso do barroco em Ouro Preto, relata o seguinte fato: quando padrões de Portugal chegaram à Bahia para serem colocados como ornamentação nas colunas das igrejas barrocas, o mito hindu do pavão foi substituído pelo do pelicano, símbolo do Cristo, que deu a vida por seus filhos.

No início da colonização, os portugueses se estabeleceram por algum tempo na costa leste da Índia, no golfo de Bengala e mais tarde em São Tome de Mylapore, Madras, fundando ali um centro  de atividade têxtil. Característica da arte daquela região são os desenhos de pavões entrelaçados com guirlandas e arabescos, na mesma disposição dos arabescos que decoram as igrejas barrocas. São impressos em tecido, em cores brilhantes, da região de Madras estado de Tamil Nadul, sul da Índia.

Não seriam esses padrões que inspiraram a ornamentação barroca de Portugal, chegando posteriormente ao Brasil, onde a substituição dos mitos ocorreu? Essa pergunta eu deixo para os interessados em estudos de arte, história e pesquisas culturais. Sendo uma síntese, nossa pesquisa é somente uma pista para um trabalho mais aprofundado, para uma análise mais detalhada dos dados obtidos.

Outros estudos poderão ser feitos no futuro por historiadores, sociólogos, antropólogos e artistas, lembrando que o caminho das Índias não se fechou com os navegantes, mas pode ir muito além no futuro, por meio de trocas culturais com as ex-colônias portuguesas. (Quinta parte do estudo comparativo apresentado no Seminário de Goa, 1983)

*Fotos da internet

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terça-feira, 3 de novembro de 2015


ARTESANATO FAMILIAR E MÚSICA INDIANA


Na Índia, como a máquina ainda não tomou a liderança nas atividades domésticas e a televisão ainda é um privilégio para poucas famílias, atividades artísticas e manuais são uma forma de unir as famílias. Eles sentam-se no chão, com tesouras espalhadas, papéis, arames, tecidos, e trabalham juntos.
A feitura de bonecas é tarefa da dona de casa, envolvendo avós e avôs. Há um festival de bonecas a cada ano, que muda de acordo com o calendário Hindu. O Festival Dasara, como é chamado, dura dez dias e começa na lua de outubro. Em Mysore há uma cerimônia da boneca feita a mão em frente à deusa de 16 mãos Shakti (em Chamundi hills, sul da Índia). Os hindus a veneram como exterminadora do orgulho. Artistas e artesãos se ajoelham com suas bonecas e humildemente imploram pela destruição do ego.
No vale do Jequitinhonha, no interior de Minas Gerais, o artesanato é um modo de sobrevivência para um grande número de famílias. As famílias vivem juntas, como na índia. Há uma fileira de casas formando um pequeno quarteirão e em cada casa um forno de cerâmica. O barro é moldado por mãos femininas. Ele é batido numa mesa de forma primitiva e levado ao forno para cozinhar. Lidando com terra, água e fogo, as artesãs chegam próximas da essência do ser humano, algumas vezes por meio dos mesmos símbolos e arquétipos que inspiraram artesãos em outras partes do mundo. Há uma liberdade para criar figuras de quatro ou cinco cabeças nos grandes vasos de cerâmica utilitária e também há, como na Índia, descrições de cenas de casamentos e procissões, hábitos dos homens do interior, suas práticas de trabalho, seus sonhos.


A cultura milenar da Índia data da era dos Vedas, e os livros sagrados eram cantados durante sacrifícios ao ar livre. Os livros eram as composições dos rishis, transmitidas oralmente de geração a geração.
Há uma grande afinidade entre a música religiosa indiana e o canto gregoriano, música de forma circular e repetitiva. Em seu aspecto mais popular, a música indiana lembra os desafios cantados por violeiros nordestinos ou as cantigas do folclore brasileiro de origem africana.
Na música indiana, como nos desafios brasileiros, há sempre uma parte estrutural formando uma moldura para a improvisação criada no impulso do momento.
Na Índia, esses desafios e improvisações são feitos com instrumentos de percussão tais como tablas, uma de metal e outra de madeira. No Brasil, a percussão é feita com tambores, atabaques, cabaças, agogôs. Há um ritual completo para criar a tabla, do mesmo modo como no Brasil há um ritual e mesmo um batismo dos instrumentos com água sagrada da igreja mais próxima, na construção de um tambor sagrado.
Há também uma troca espontânea com outros países por meio da música brasileira e sentimos que os músicos em geral são, no presente, os melhores difusores de nossa cultura na Índia, especialmente em Goa, ex-colônia de Portugal.(Quarta parte do estudo comparativo apresentado no Seminário de Goa, 1983)

*Fotos de Maurício Andrés e da internet

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