terça-feira, 19 de dezembro de 2017



PIETÁ NAS MONTANHAS

Caminho pelas montanhas
Vendo esculturas
De pedra
Modeladas
Pelo tempo
Por ventos
Bravios
De antigamente.
As pedras nos
Falam de
Cenas bíblicas.
Vejo os três reis
Magos
Caminhando
Por atalhos
Em busca
Daquela estrela.
 Vejo imensa Pietá
Bem no alto
Da montanha.
Os pés
De Cristo
Estão ali
Nascem flores
Ao redor.
Quanto tempo
Foi preciso
Para esculpir
Esta cena?
Paro  para
Fotografar
E registrar
O que ainda
Não foi visto.

Jesus morre
A cada dia
Nas montanhas
De
Minas Gerais.

Fotos de Ivana Andrés e Maria Helena Andrés


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segunda-feira, 11 de dezembro de 2017


JK E A CULTURA

Como artista plástica e aluna de Guignard, acompanhei de perto a carreira de sucesso de Juscelino, o seu potencial de energia criadora e organizadora. Hoje, posso avaliar o quanto ele conseguiu antecipar o seu tempo em seu governo e realizar as características do ser humano do século XXI, onde o coração se une à razão, afim de humanizá-la.

No século XXI, ética e estética caminham juntas.

 Como prefeito de Belo Horizonte, Juscelino promoveu uma verdadeira revolução nas artes. Portinari, Niemeyer e Burle Marx receberam a incumbência de realizar o conjunto da Pampulha.

 Na mesma ocasião Alberto da Veiga Guignard chegava a Belo Horizonte, também convidado por JK, a fim de modernizar o ensino da arte em Minas. A Escola Guignard foi criada livre dos preceitos tradicionais. Os alunos acompanhavam a equipe de artistas que viera do Rio e tinham a oportunidade de ver de perto Portinari pintando a igrejinha da Pampulha. Ali estavam reunidos os pioneiros de uma nova mentalidade.

A instalação do modernismo em Minas trouxe em seu contexto uma síntese das artes, promovendo uma forte mudança na sociedade. JK foi o incentivador dessa renovação. Trouxe o maestro Bosmans para reger a sinfônica, João Cheschiatti para promover o teatro, incentivou uma grande exposição de arte moderna no edifício Mariana, rompendo com o academismo artístico do mineiro. Esse primeiro rompimento com o passado tradicional foi acompanhado de fortes contestações nas avenidas da cidade e alguns quadros modernistas foram mutilados. No entanto, os jovens abraçaram a ideia de mudança.

As ideias renovadoras de JK, sua intuição e amor às artes, aglutinavam os artistas ao seu redor. Grandes artistas também o acompanharam a Brasília, contribuindo com sua arte para a instalação do modernismo também no Brasil central.
Realizar 50 anos em 5 era uma das fortes propostas do seu governo, cujas metas fizeram o Brasil crescer porque foram realizadas com amor e entusiasmo.
Juscelino enxergava o futuro com antevisão, pensando nas gerações futuras. Visitando o local onde seria construída a nova capital do país, pronunciou um discurso afirmando a sua fé no futuro do Brasil.

“Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada, com uma fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino”. Essas palavras cheias de otimismo conduziam a construção de Brasília. O sonho de Dom Bosco se concretizou sob sua ação.

Juscelino acreditava que a marcha para o oeste era a grande meta a realizar. Essa marcha foi realizada democraticamente, descendo ao povo, dançando e cantando com eles, estimulando a sua cultura e incentivando sua arte.
Hoje, sob luzes e cores, as formas da catedral idealizada por Niemeyer oferecem um espetáculo de beleza e arte, numa prece a Deus pelo destino do país.
Brasília se projetou no mundo inteiro como a consagração do modernismo no Brasil, elevando a fé e o otimismo dos seus criadores.

O Memorial JK guarda a memória de um mineiro que teve a coragem de alargar as fronteiras de nosso país, trazendo a civilização para o centro-oeste.

Todo o itinerário do presidente ali está, nas fotos, nos objetos de uso familiar, na grande biblioteca com 3000 livros, nos vídeos contando sua vida. Extraordinariamente bem cuidado, o memorial é um templo de beleza e amor.

*Fotos da internet

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terça-feira, 5 de dezembro de 2017


A CONSTRUÇÃO DA COR II

A exposição “A construção da cor”, foi contemplada pelo jornal Estado de Minas, com duas matérias jornalísticas. Transcrevo abaixo alguns trechos dessas matérias.

“Aos 95 anos, Maria Helena Andrés está entre os artistas plásticos mais importantes de Minas Gerais. Ex-aluna de Guignard, ela chama a atenção, com seu talento diversificado. Pintora aclamada,  cria colagens, esculturas e desenhos.

Até 18 de dezembro, trabalhos da artista ficarão expostos na Carminha Macedo Galeria de Arte. São colagens, que ressurgiram na obra de Maria Helena, depois de marcar presença na fase que ela chama de “astronautas” nos anos 1960.

A pintora conta que as colagens são fruto da necessidade de substituir tintas por papel. O processo de criação remete às “pinturas construtivistas” da década de 1950. Se naquela época cada cor era pintada separadamente sobre a tela, agora cada uma delas, recortada, é colada na folha. Maria Helena costuma dizer que a pintura deixa de existir, dando lugar à cor construída sobre o papel.” (Artes Visuais, Estado de Minas, 26/11/ 2017)

“Arte para mim é uma forma de contato com o momento que a gente está vivendo, mas traz também a memória do passado e vamos promovendo um caminho que não é planejado. O caminho vai surgindo e  vou tomando consciência do que está ocorrendo através de qual fase eu estava naquele momento. Por exemplo, esta fase de colagens eu já fiz na época do movimento construtivista na década de 50.

Produzir e trabalhar aos 95 anos é diferente, agora temos de escutar o corpo, é ele quem fala “neste momento você pode pintar em pé”, então eu levanto. Antes eu pintava em pé, não tinha nenhuma cadeira no atelier. Eu desenvolvi uma técnica com vassoura de esponja, passava a tinta nela e pintava a tela com gestos amplos. Pintei o painel do aeroporto de Confins  subindo em escada. Naquela época conseguia fazer isso, hoje não posso mais. Tenho de me acomodar de acordo com a época que estou vivendo. Eu fazia quase que uma dança no entorno do quadro, porque o gestual exige muito movimento e se não fizer assim, não sai bom...

Muda a técnica e muda tudo. Cheguei a uma conclusão: “Ou paro, ou mudo”. Resolvi não parar e mudar. Decidi voltar às minhas origens construtivistas, porque posso fazer assentada, então decidi fazer colagem...” (Isabel Teixeira da Costa, jornal Estado de Minas, 3/12/2017)

*Fotos de Maria Tereza Correia e Beto Novaes

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segunda-feira, 27 de novembro de 2017


A CONSTRUÇÃO DA COR

Ao ler a página de Wagner Nardy, que , juntamente com minha filha, Marília Andrés, realizou  a curadoria da minha exposição,  pude ver, com muita clareza, a dinâmica da minha trajetória. Esta mostra representa uma volta às origens, quando participei do movimento construtivista brasileiro. Naquela época os meus quadros construtivos conservavam lembranças do figurativo. Hoje as minhas colagens são composições onde as linhas e cores são construídas diretamente.

Transcrevo abaixo o texto de Wagner Nardy:

“A exposição A Construção da Cor de Maria Helena Andrés celebra os 95 anos desta grande artista.

Apresentando uma série inédita de trabalhos em colagem e duas fotografias, a exposição revisita a produção da década de 50 da artista, momento este em que seu trabalho estava fortemente ligado à essência Construtivista.

Ocorre- me citar MALEVITCH, quando o mesmo, em seu manifesto Construtivista defende: “a forma intuitiva deve sair do nada. Essas formas não serão repetições ou representações de coisas vivas da realidade natural: serão, porém, a coisa viva em si mesma. A natureza é um quadro vivo que se pode admirar. Porém  todo milagre está na criação artística em si mesma. E Criar significa, viver, produzir eternamente coisas sempre novas”.

Andrés nos mostra claramente a aptidão pelas palavras do mestre ao nos apresentar, a esta altura, com maestria sublime, através de formas simples e diretas a construção da cor.

As composições de Maria Helena são donas de um ritmo único, singular e inauguram um tempo próprio que guarda profunda relação com as vivências orientais da artista e as questões ligadas ao conhecimento e domínio da mente.

Porém, o que mais nos chama atenção é como a artista cria uma comoção sublime em torno da contemplação de seus trabalhos.

O sublime na arte de Maria Helena Andrés parece-me surgir como um embate simbólico e fatal entre as forças concretas da natureza e a concretude da razão que nos habita.

Desse confronto a poética da obra de Maria Helena transcende o tempo e o espaço irrompendo em música, dança e cor.

Segundo KANT, o Sublime é mesmo e fundamentalmente isto: “ a mera habilidade de pensar, a qual demonstra uma faculdade da mente que ultrapassa qualquer medida de sensação.”

Os trabalhos de Maria Helena aos quais agora temos o privilégio de experimentar causam este silêncio, prodígio da consciência – essa janela repentina abrindo-se para uma paisagem iluminada pelo sol em meio à noite do não ser.

Tal qual o celebre escritor Vladimir Nabokov respondeu ao ser indagado se algo na vida o surpreendia.
É como me sinto.
Wagner Nardy, curador da exposição

Fotos de Artur Andrés e de arquivo


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segunda-feira, 13 de novembro de 2017


ALEXANDRE ANDRES E RAFAEL MARTINI NO JAPÃO

Alexandre Andrés e Rafael Martini se apresentaram no Japão em setembro de 2017.

O povo japonês aprecia muitas coisas, e uma delas é a música brasileira. Eles são um dos maiores consumidores da música brasileira e mais recentemente, da música mineira fora do Brasil.

É um povo que valoriza a arte em geral, até hoje compram CDs para terem contato, não só com a música, mas também com os detalhes e informações contidas no encarte. Alexandre esteve na Tower Records, em Tokyo, loja de CDs de oito andares.Não se vê mais isto em qualquer lugar do mundo, pois os CDs estão em extinção, assim como os LPs (Vinil). Hoje as pessoas só escutam música na internet, mas o povo japonês continua valorizando todo o processo musical, desde a gravação até os últimos detalhes de uma produção musical.

Depois de 5 anos vendendo o seu trabalho no Japão, com a ajuda do produtor japonês Yoshihiro Narita e de ter recebido prêmio com o seu CD “Macaxeira Fields”, Alexandre foi convidado para uma tournée pelo Japão, junto ao seu parceiro, compositor e pianista Rafael Martini.Entre os dias 18 e 29 de setembro, os dois se apresentaram no Festival Onpaku, numa praça de Kyoto, para 10.000 pessoas, num templo budista na cidade de Okagama e por último em um teatro lotado em Tokyo. Nesses 10 dias os jovens artistas tiveram o seu trabalho valorizado como nunca. Os japoneses os trataram com muito respeito e admiração, muitos CDs vendidos e muitos autógrafos dados...

De volta ao Brasil, ficou a admiração e a saudade de um povo que valoriza a arte como poucos e a esperança de retornar ao Japão para reencontrar os amigos.

No dia 16 de novembro, às 20:30, na Fundação de Educação Artística, Alexandre e Rafael lançarão o seu CD ‘Haru’ (Haru significa primavera em japonês), que teve o seu lançamento internacional feito no Japão, agora em Belo Horizonte.

*Fotos de arquivo e da internet


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terça-feira, 7 de novembro de 2017


PINTURA MODERNA II

Vivemos no século da máquina, da indústria, as descobertas científicas tentando dominar as forças do espírito, pela própria força da matéria. Esta preponderância da matéria sobre o espírito marcou pela violência quase toda a arte do nosso tempo.

O século em que se inventaram os campos de concentração, que deu origem a duas guerras implacáveis, em que se descobriu a força destruidora da energia atômica, que usou do progresso material contra todos os direitos da pessoa humana, não mereceu outra ilustração a não ser a Guernica de Picasso.

Mas o homem, que testemunha e sofre a sua própria mecanização, não tem a humildade necessária para reconhecer a verdade da pintura que retrata o seu século.

Estes 90 anos de pintura moderna foram 90 anos de experiência, de independência e liberdade.

Esta sede de criar, de experimentar, de destruir tudo o que ficou para trás, é uma marca do desassossego e da inquietação da civilização moderna, cheia de idéias contraditórias.

Neste clima de liberdade, os verdadeiros artistas tiveram ocasião de se manifestar e dar sua valiosa contribuição à arte. (Trecho do meu livro “Vivência e Arte”, editora Agir, 1966)

*Fotos da internet

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segunda-feira, 30 de outubro de 2017


PINTURA MODERNA I

A França desde o século XIX tornou-se o principal centro das artes. Seria justo portanto lembrar que a maioria dos movimentos artísticos teve início em Paris e ali se desenvolveu.

         Contra a arte decadente e imitativa da academia, começaram a germinar em França as primeiras idéias revolucionárias. Daí surgiu o movimento moderno de renovação. A arte passou, novamente, a ser vivida pelos artistas como fonte de criação pura, e não imitação da natureza. Como pesquisa, e não submissão. Como experiência pessoal, e não cópia servil. Não falo aqui, especialmente, da arte abstrata, mas da abstração na obra de arte, qualidade essencial, indispensável, para haver criação autêntica.

         O artista pode partir do modelo, mas depois transforma linhas, muda cores e cai na abstração. O que a arte moderna fez foi, justamente, recapitular estas verdades, esquecidas pelo academismo. A revolução moderna foi um despertar do sono e do espírito de acomodação, dominante até o princípio do século XIX, para redescobrir valores e concepções eternas da verdadeira arte.

         Como nos diz Flávio de Aquino, "inventar foi o grande feito do nosso século, em todos os terrenos do conhecimento humano."  Inventar, também, foi a maior realidade da arte contemporânea, acompanhando o progresso científico do século XX.

         Com a inquietação dos artistas modernos, ávidos de liberdade, mundos desconhecidos foram revelados e a arte passou a ser a expressão de sentimentos puros, transfigurados pela personalidade dos autores.

         Segundo Pe. Collet, "a arte é a impressão digital duma civilização. Transmite, de certo modo, aos séculos seguintes, o testemunho vivo do melhor e do pior da época, e antecipa também o futuro, pois o artista, mesmo inconscientemente, recebeu o dom da profecia."

         Não são as telas de Chagall, cheias de um surrealismo lírico, como que uma visão antecipada dos acontecimentos mais recentes, que movimentaram o mundo, como sejam a conquista dos espaços interplanetários? (Trecho do meu livro “Vivência e Arte”, editora Agir, 1966)

Fotos da internet

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segunda-feira, 23 de outubro de 2017


EMOÇÃO E TÉCNICA III

O desenvolvimento da arte é feito através do trabalho, não de palavras.

Seu destino é dirigido por força desconhecida e impossível de ser dominada. Obedecendo unicamente à lei dessa necessidade interior, o artista procurará aprofundar esta verdade nova que surge. Um trabalho contínuo e ininterrupto há de gerar sempre uma ideia também logicamente contínua, sem grandes saltos. 

Uma fase nasce de outra como uma cascata, ligando-se à fase inicial por mudanças transitórias que determinam o início de uma transformação. Às vezes, é a necessidade de um material novo, ou da ausência de cor. É a necessidade de papel branco e da linha apenas como veículo de expressão.

         Um dia a cor voltará a ser explorada e sentida, e neste dia o desenho já não será mais necessário. As fases de um artista são espontâneas, não vêm de encomenda. Independem de leis externas e nunca poderão ser medidas, calculadas. Sua duração é a própria duração de um clima interior. 

A paisagem do artista é uma paisagem imaginária, sem relação com a paisagem real vista por todos. A mesma paisagem poderá inspirar tanto uma cidade, quanto uma esquadra no mar, dependendo da ocasião em que foi vista. Uma forma, uma linha, servirão apenas de pretexto para se achar aquela forma e aquela linha que sempre se desejou obter.

         Um mesmo grupo de nuvens poderá sugerir anjos, animais, demônios, ou simplesmente formas abstratas, dependendo da fase que o artista atravessa no momento. Naturalmente, quando esgotada uma fase, nascerá outra por uma natural e espontânea necessidade de renovação.

         O caminho da arte é longo, tem suas surpresas, seus imprevistos, revelando a cada passo a alvorada de uma nova ideia. (Trecho do meu livro “Vivência e Arte”, editora Agir, 1967)

*Fotos de arquivo

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segunda-feira, 16 de outubro de 2017


INFLUÊNCIAS ORIENTAIS NAS IGREJAS FRANCISCANAS DO BRASIL

 Marília chegou da Bahia onde participou de um Congresso de historiadores da arte do Comitê Brasileiro de História da Arte. 

O historiador pesquisa, descobre coisas que foram vividas pelos homens de antigamente, fatos ainda não mencionados na história convencional.

Ela me diz: “Fizemos uma visita ao convento dos franciscanos em Paraguaçu, no Recôncavo Baiano. Você iria gostar de ver esse mosteiro, que tem uma história bonita de intercâmbio entre o Brasil e a Índia, e hoje está abandonado”

A Bahia era a porta de entrada dos antigos navegantes portugueses. Aqui chegavam as caravelas trazendo especiarias da China e da Índia, em troca de produtos brasileiros.
A Bahia foi a primeira região brasileira a inaugurar a síntese Oriente/Ocidente. Eu já pesquisei esse assunto um dia, quando participei em 1983 de um Congresso em Goa.

O Brasil na Carreira da Índia, do historiador Luiz Roberto Lapa, foi o livro que me permitiu conhecer essa história esquecida de intercâmbio comercial entre o Brasil e a Índia, fruto das relações inter-continentais entre os países tropicais.

Agora, os novos historiadores, movidos pelo interesse em descobrir, documentar e preservar o presente, estão dentro desse mosteiro abandonado, repensando a importância de conhecer essa história e preservar esse patrimônio arquitetônico.

Marilia nos diz: “Nessa visita, tive a oportunidade de sentir o impacto e a beleza de uma Igreja franciscana, situada em Paraguaçu, na beira de um grande rio, apresentando uma arquitetura e uma decoração de forte influência oriental. Me lembrou os templos indianos, construídos em formas piramidais, que se situam próximo aos rios.

Esse sentimento inicial foi enriquecido pela leitura do texto de Paulo Ormindo de Azevedo sobre as relações inter-coloniais e as influências orientais nos conventos franciscanos do nordeste. Nesse texto o historiador discute as relações artísticas e arquitetônicas entre o Brasil e a Índia durante o período colonial. Enfatiza a importância dos ornamentos de pedra construídos nos cruzeiros situados nos átrios das Igrejas franciscanas e das chinesices e esculturas que também ornamentam o interior dessas igrejas. Mostra ainda que essa influência não se dá apenas na decoração dos templos, mas aparece também nos partidos arquitetônicos de forma piramidal que se encontram nos templos hinduístas da região de Kerala e nas igrejas indo-portuguesas de Goa.

A história dessa Igreja como também a história de outras igrejas brasileiras, abandonadas e esquecidas ao longo do tempo, precisa ser relembrada, reescrita, restaurada e preservada pelos órgãos públicos ligados ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional”.(Depoimento dado pela historiadora Marília Andrés Ribeiro)

*Fotos de Marília Andrés Ribeiro e Almerinda da Silva Lopes

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