quinta-feira, 24 de setembro de 2015


MARIA HELENA ANDRÉS – DESENHO – PINTURA – ESCULTURA

A Escola Guignard foi construída junto à serra do Curral e tem uma bela vista para a cidade. Lá embaixo, as luzes de BH vão nos mostrando os caminhos do passado. Recordo a escola no parque municipal, no porão do Palácio das Artes, ainda em construção. Para chegar até a sala de aula, tínhamos de passar por tábuas e pedras.

Hoje a escola está reconhecida oficialmente, tornou-se uma universidade. Fui convidada para ali mostrar meus desenhos e esculturas. Houve uma seleção de meus quadros. Para a curadoria da exposição participaram Marília Andrés, Cláudia Renault, Eymard Brandão e Ana Cristina Brandão, diretora da escola. Foram até o meu atelier no Retiro das Pedras e ali mesmo escolheram as obras a serem expostas. A disposição dos quadros conduz o espectador a uma viagem no tempo, desde a década de 50, sempre o desenho acenando mudanças. Ele registra os caminhos da vida, desde os trabalhos em carvão, sinalizando as viagens feitas pelos veleiros, até a passagem dramática pela fase de guerra denunciando a violência. O desenho continua seu percurso, abre espaço para novas direções.

Foi através do desenho, tridimensionado no computador, que iniciei meu caminho na escultura. O caminho do desenho foi longo e demorado e ainda continua abrindo espaço para o futuro.

Transcrevo abaixo o texto de Carlos Wolney e Ana Cristina Brandão:

“Nas comemorações dos 70 anos da Escola Guignard – UEMG, apresentamos essa importante exposição da artista Maria Helena Andrés, que foi professora e diretora da escola nos anos 60. A exposição é um recorte de sua ampla e consolidada produção.
A gestualidade firme da artista imprime movimentos fluidos e leves que revelam em uma composição de equilíbrio, o domínio da forma e do espaço e transmite uma consciência espacial constante em suas imagens.

Maria Helena Andrés, em suas viagens pelo mundo, com um olhar sensível e firme, em especial para a Índia, encontrou motivação nas impactantes paisagens, que a levaram a uma nova tomada de consciência.
A observação e sutil percepção dos signos, símbolos, cores, cheiros e formas do peculiar universo indiano, com certeza, marcaram significativamente o processo de criação da artista, verificado nas pinturas, desenhos e esculturas.

A visível delicadeza e força intelectual de Maria Helena nos leva para o universo pessoal da artista, repleto de sabedoria, registrada em suas publicações.
Maria Helena exerce liberdade e disciplina, apreendidas nas aulas do Mestre Guignard.
Admirável vê-la, hoje na Escola Guignard, com uma vitalidade que estimula artistas e futuros artistas no prazer do fazer e no sabor de saber.”
Ana Cristina Brandão e Carlos Wolney Soares (setembro de 2015)

*Fotos de Maurício Andrés e Walmir Goes

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quarta-feira, 23 de setembro de 2015

quarta-feira, 16 de setembro de 2015


LYGIA CLARK E O TRABALHO COM O CORPO

Fui colega de Lygia Clark no Colégio Sacré Coeur de Marie em Belo Horizonte. Sentávamos juntas, na mesma carteira dupla, e desenhávamos o tempo todo, em qualquer papel que aparecesse. Sempre acompanhei, com muita admiração, a sua trajetória na arte. Quando nos encontrávamos, nas encruzilhadas de caminhos diferentes, sempre aproveitávamos a oportunidade para uma troca de experiências.
O texto abaixo foi selecionado da primeira edição do meu livro “Os caminhos da Arte.”

“Se observarmos o itinerário de Lygia Clark, podemos sentir a sua trajetória acelerada através de vários espaços partindo da tela bidimensional, até alcançar a realidade do ser humano a fim de transformá-lo. Lygia não se deteve nas aquisições do passado. Sua inquietação constante a conduziu da realidade visível para a invisível, da arte feita para a arte vivenciada, não verbal. Despojando-se desde o início dos elementos sensíveis da cor e matéria, Lygia penetrou na organicidade de onde vieram as primeiras esculturas, os bichos, permitindo a participação do espectador e o despertar da criatividade. Suas experiências com o corpo marcaram o rompimento definitivo com as artes plásticas. Seu trabalho, naqueles oito anos de permanência em Paris, supõe a desmistificação de conceitos e o desbloqueio dos fantasmas do corpo.

“No meu curso, nos diz Lygia, eu peço depoimentos, vivências e eles começam a se desenvolver também no sentido da palavra, da linguagem. O trabalho com o corpo traz os fantasmas, a palavra é usada para exprimir estes fantasmas e os jovens começam a se expressar como nunca conseguiram em qualquer outro curso da Sorbonne. Cria-se uma comunicação tão viva e intensa que eles acabam se tornando amigos, encontram-se fora do curso, trocam vivências e codificações de comportamento”.

Segundo suas próprias palavras: “Se você analisar tudo o que fiz até agora, vai notar que o que pretendo é o aprofundamento deste trabalho, só que num nível mais coletivo ainda, menos pessoal, menos individual, e menos artístico. Cada vez menos obra de arte. No momento estudo antropologia e a cultura dos índios.”

Tendo se libertado do objeto como obra de arte, Lygia deu continuidade às suas pesquisas buscando a visão arcaica do mundo e das pessoas. O trabalho com o corpo, a liberação das fantasias levaram-na à conscientização de uma unidade entre as pessoas a que ela denominou “corpo coletivo.”

A retrospectiva de Lygia Clark no MOMA, em Nova York, denominada “O Abandono da Arte” reuniu seu trabalho desde as pinturas figurativas e os desenhos de 1940, passando pelas abstrações geométricas de 1950 até os revolucionários “objetos sensoriais” de 1960,uma proposição que ela denominou “terapêutica”.

O trabalho de Lygia é experimental e visa à liberação do ser. Desbloqueia, conscientiza, facilita a troca no relacionamento humano e amplia a vivência do ser, tão necessária ao mundo em que vivemos.

*Fotos de Maurício Andrés

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quarta-feira, 9 de setembro de 2015


A ARTE DE MARY VIEIRA


Foi guiada por um sentimento espiritual de busca da perfeição que Mary Vieira, artista brasileira, nossa colega na Escola Guignard, embarcou para a Suíça, há décadas atrás. Mary era movida por uma  necessidade interior de desenvolver sua capacidade criadora dentro da escultura concreta, que exige do artista a adesão completa à forma pura. A pureza na arte concreta é imprescindível. Talvez seja ela a ponte que liga a arte à ciência, à matemática e à física, penetrando também no plano onde elas se encontram com o espiritualismo inato do ser humano.
O caminho seguido por Mary foi o de buscar sempre a perfeição dentro da arte. Hoje seu nome é conhecido internacionalmente e suas esculturas integram jardins, praças e museus da Europa e das Américas. Pioneira do cinevisualismo plástico internacional, Mary Vieira realizou seus primeiros “Multivolumes”, estruturas concretas multicomponíveis à participação direta do espectador, quando ainda estudante da Escola Guignard, em 1947, em Sabará, Poços de Caldas, Lambari e na Bahia. Em 1948 ela construiu a primeira estrutura cinética monumental animada eletricamente: “Formas Rotatórias Espirálicas à Perfuração Virtual”, que foi executada em Araxá para o conjunto da Exposição Nacional das Classes Produtoras brasileiras.
Mary revela em suas esculturas uma possibilidade dinâmica do espaço-tempo. Seus polivolumes permitem ao espectador participar também do momento de criação e sentir-se de certa forma co-autor da obra de arte. Aí o sentimento lúdico funde-se com o sentimento estético e permite a criação de novas formas no espaço, sustentadas por uma estrutura básica. Encarregada de realizar uma escultura para o Instituto de Anatomia Patológica da Universidade de Basiléia, Mary dedicou 4 anos a esse monumental trabalho, realizado em aço inoxidável e denominado “Função de Forças Opostas”. Ali os elementos horizontais e verticais se conjugam e se movem, oferecendo várias formas de composição aos alunos que transitam no imenso salão. Os elementos, os polivolumes se movem nas mãos dos estudantes. A arte, para Mary, é o canal por onde flui espontaneamente o sentimento espiritual ao encontro do eterno. A sala de meditação do Instituto de Medicina Social de Bürgerspital do Cantão de Basiléia contém uma grande tapeçaria de Mary, baseada também na forma vertical e horizontal, símbolo da vida e da morte. Referindo-se a esse grande trabalho em tapeçaria tecida em lã crua, os críticos suíços comentam: “É a redescoberta da cruz, como forma primordial na sua gênese rítmico-estrutural. Duas linhas se põem em marcha, ao longo da parede, para encontrar a sua própria horizontal e a sua própria vertical. Uma cruz surge no centro como evento metacromático de cor verde. Uma linha se dissolve no curso do próprio caminho, no limite do espaço ambiental. Os dois elementos fundamentais deste mistério, a vertical e a horizontal, se isolam ao lado, preparados para construir-se dia a dia, em uma nova crucificação ininterrupta.”

*Fotos da internet


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quinta-feira, 3 de setembro de 2015


CONSIDERAÇÕES SOBRE UMA ESCOLA DE ARTE

Esta é uma homenagem a Rubens Gerchman por sua visão holística da arte.
(depoimento obtido em 1976 no Rio)

“Nossa visão egocêntrica deverá evoluir para uma consciência total, comunitária”. Lembrando estas palavras proféticas de Vasarely, podemos trazê-las para o ensino da arte. Uma escola de arte, para ser realmente renovadora, tem de ser participante dessa consciência total. Não são os currículos nem a burocracia que a fazem crescer, mas antes de tudo o entusiasmo e a força criadora de seus líderes. A criatividade, impulsionando uma organização, torna-se uma força geradora em pleno movimento. Podemos sentir a presença desta energia renovadora na Escola de Artes Visuais do Rio de Janeiro, orientada por um grupo de professores, tendo à frente o conhecido artista Rubens Gerchman. Trazendo a criatividade para a vida, ele a põe a serviço do bem comum. De acordo com seu próprio depoimento: “Quando concebi a nova escola de artes visuais, pensei em sua estrutura como uma ampla rede comunicante, onde a informação pode fluir constantemente, modificando e reorientando as diversas áreas de conhecimento”. Dentro deste esquema flexível, aberto ao novo, a Escola de Artes Visuais elabora um trabalho de síntese que se estende para outros campos de atividades artísticas, visando despertar o aluno para uma visão global da arte e da vida. 
Procurei entrar em contato com a escola de modo geral, admirando o seu sentido dinâmico e renovador. 

Tive a oportunidade de assistir a uma aula da Oficina do Corpo, dirigida por Hélio Eichbauer. Percebe-se a preocupação do professor de conduzir seus alunos para a consciência da unidade.

“Sua atuação como cenógrafo em treze anos de intensa atividade profissional e sobretudo sua flexibilidade como artista pesquisador, seu interesse por música, dança, teatro e pintura (artes plásticas) possibilitaram a realização de uma proposta aglutinadora dessas diversas manifestações de arte. Lembro-me de Jackson Pollock pintando com o corpo, gestos sobre telas estendidas no chão (action painting), dos calígrafos japoneses, das manifestações do body-art nos anos 70, tentativas de recuperação do equilíbrio mente-corpo, e observo a transformação desta informação em experiência vivida nos trabalhos de criação coletiva dos alunos de Hélio Eichbauer”. Assim se expressou Rubens Gerchman sobre seu colega da Oficina do Corpo, por ocasião da exposição comemorativa de seus treze anos de produção em cenografia. Hélio Eichbauer leva o aluno à consciência do corpo, dentro de uma pesquisa coletiva. Dentro desta visão total, a arte poderá se estender para a vida e se realizar na própria vida.

Em minhas visitas à Escola de Artes Visuais, o que mais me chamou a atenção desde o início foi a possibilidade do aluno obter conhecimento através da própria vivência transmutada ao nível consciente. Dentro desse caminho de abertura da percepção encontrei, no curso de transformação de materiais a cargo da professora Celeida Tostes, uma verdadeira abordagem de alquimia. Tendo-se aperfeiçoado em arte-educação na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, Celeida conduz seus alunos a uma relação sensorial com os quatro elementos da natureza: fogo, terra, água e ar, anexados a elementos e substâncias químicas. A apreensão direta do conhecimento é percebida através dos cinco sentidos, buscando a síntese corpo e mente. Suas aulas não conduzem apenas à observação visual das formas, mas ultrapassam o mundo do conhecido, para mergulhar no desconhecido. Trazendo a mensagem do inconsciente para o consciente, o aluno estará apto a encontrar seu próprio ritmo destruindo, criando e transformando a matéria dentro deste ritmo. Há uma busca das origens nessa descoberta interior que permite, através da transmutação dos elementos da natureza, também a compreensão do relacionamento homem-universo.

*Fotos da internet

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terça-feira, 1 de setembro de 2015