Foi guiada por um sentimento espiritual de busca da
perfeição que Mary Vieira, artista brasileira, nossa colega na Escola Guignard,
embarcou para a Suíça, há décadas atrás. Mary era movida por uma necessidade interior de desenvolver sua
capacidade criadora dentro da escultura concreta, que exige do artista a adesão
completa à forma pura. A pureza na arte concreta é imprescindível. Talvez seja
ela a ponte que liga a arte à ciência, à matemática e à física, penetrando
também no plano onde elas se encontram com o espiritualismo inato do ser
humano.
O caminho seguido por Mary foi o de buscar sempre a
perfeição dentro da arte. Hoje seu nome é conhecido internacionalmente e suas
esculturas integram jardins, praças e museus da Europa e das Américas. Pioneira
do cinevisualismo plástico internacional, Mary Vieira realizou seus primeiros
“Multivolumes”, estruturas concretas multicomponíveis à participação direta do
espectador, quando ainda estudante da Escola Guignard, em 1947, em Sabará,
Poços de Caldas, Lambari e na Bahia. Em 1948 ela construiu a primeira estrutura
cinética monumental animada eletricamente: “Formas Rotatórias Espirálicas à
Perfuração Virtual”, que foi executada em Araxá para o conjunto da Exposição
Nacional das Classes Produtoras brasileiras.
Mary revela em suas esculturas uma possibilidade
dinâmica do espaço-tempo. Seus polivolumes permitem ao espectador participar
também do momento de criação e sentir-se de certa forma co-autor da obra de arte.
Aí o sentimento lúdico funde-se com o sentimento estético e permite a criação
de novas formas no espaço, sustentadas por uma estrutura básica. Encarregada de
realizar uma escultura para o Instituto de Anatomia Patológica da Universidade
de Basiléia, Mary dedicou 4 anos a esse monumental trabalho, realizado em aço
inoxidável e denominado “Função de Forças Opostas”. Ali os elementos
horizontais e verticais se conjugam e se movem, oferecendo várias formas de
composição aos alunos que transitam no imenso salão. Os elementos, os
polivolumes se movem nas mãos dos estudantes. A arte, para Mary, é o canal por
onde flui espontaneamente o sentimento espiritual ao encontro do eterno. A sala
de meditação do Instituto de Medicina Social de Bürgerspital do Cantão de Basiléia
contém uma grande tapeçaria de Mary, baseada também na forma vertical e
horizontal, símbolo da vida e da morte. Referindo-se a esse grande trabalho em
tapeçaria tecida em lã crua, os críticos suíços comentam: “É a redescoberta da
cruz, como forma primordial na sua gênese rítmico-estrutural.
Duas linhas se põem em marcha, ao longo da parede, para encontrar a sua própria
horizontal e a sua própria vertical. Uma cruz surge no centro como evento
metacromático de cor verde. Uma linha se dissolve no curso do próprio caminho,
no limite do espaço ambiental. Os dois elementos fundamentais deste mistério, a
vertical e a horizontal, se isolam ao lado, preparados para construir-se dia a
dia, em uma nova crucificação ininterrupta.”
*Fotos da internet
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