sexta-feira, 27 de abril de 2012


OÁSIS TERRA


Maurício Andrés me enviou de Brasília textos sobre a água que virão enriquecer este blog. Há muitos anos ele se dedica à defesa das águas do planeta. Abaixo transcrevo o seu depoimento:

“Um oásis  é um lugar em que há água e vida no deserto e no qual as caravanas param para descansar e se reabastecer antes de prosseguir viagem.
Na escala do sistema solar, a Terra é um lugar com solo fértil, vegetação, vida animal e água. É um pequeno ponto no deserto dos espaços siderais interplanetários. Na escala cósmica, a Terra é um oásis.
De onde vêm as águas que existem no oásis Terra?
Alguns astrônomos supõem que as águas se originaram no cinturão de Kuiper, um conjunto de cometas existente para além da órbita de Netuno; outros especulam que ela  resultou do choque de corpos celestes gelados provenientes do cinturão de asteróides situado entre as órbitas de Marte e de Júpiter.  Tal como em outros processos de concepção, o espermatozóide cósmico (um cometa ou asteróide) penetra no óvulo (a Terra) e a fecunda com a água portadora das condições de gerar a vida. Além dessas hipóteses, existe aquela de que a água tenha se formado a partir de elementos que existiam na própria Terra desde sua origem.
Como a superfície do planeta é em sua maior parte coberta por água, ela parece ser muita. Entretanto, na realidade seu volume é pequeno,  comparado com o volume total da Terra, pois a hidrosfera ocupa uma estreita faixa na superfície do planeta. A título de comparação, se a Terra fosse do tamanho de uma bola de futebol, a água nela existente teria o volume de uma bola de pingue-pongue. Diferentemente de Vênus, onde ela é gasosa, e de Marte, onde está em estado sólido, na Terra a água é encontrada em estado sólido, líquido e gasoso. Sendo muito sensível a variações de temperatura, a água é o elemento por meio do qual a natureza  responde  diretamente às mudanças no ciclo do carbono que provoca as mudanças climáticas. Com o efeito estufa ela derrete, evapora. Intensificam-se e tornam-se mais freqüentes eventos críticos tais como os que ocorreram no Brasil em 2010: estiagens na Amazônia e cheias no nordeste, nas regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul. Tais eventos trazem consigo prejuízos econômicos e sociais.
Do volume total no planeta, 97,6% da água  é salgada e apenas 2,4% é água doce. Várias regiões já sofrem de estresse hídrico, em todos os continentes. Apesar do Brasil dispor de 12% de toda a água doce do mundo, aqui também a relação entre demanda e disponibilidade mostra problemas em áreas e bacias críticas, especialmente no semi-árido nordestino, nas vizinhanças de regiões metropolitanas e em áreas densamente povoadas e industrializadas ou onde exista grande demanda de água para a irrigação na agricultura, como no Rio Grande do Sul.

Hidroconsciência e hidroalienação

Na cultura brasileira, a consciência sobre a água ainda é pouco desenvolvida e existe a ilusão de que ela constitui um recurso infindável. A água é usada como depósito de lixo e resíduos. Lixões localizados à beira de rios os levam para longe nas enchentes. O rio percebido como depósito de lixo está presente na fala de uma mãe, no interior de Minas, ao deseducar a criança: “Meu filho, não jogue o lixo no quintal, porque aí não é o rio!” A cultura brasileira urbana dá as costas para a água, sendo usual encaixotar os córregos urbanos e construir sobre eles vias de trânsito, retirando-os das vistas da população. Até mesmo o Ipiranga celebrado no Hino Nacional, em cujas margens plácidas D. Pedro I bradou o grito da independência brasileira, encontra-se coberto por uma via pavimentada.
No Brasil, há grande hidroalienação, pois a população urbana cada vez conhece menos sobre o ciclo integral da água, de onde ela vem, quando chega na torneira, e para onde vai depois de escoar pelo ralo. O cidadão urbano pobre vivencia fragmentos isolados do ciclo da água, do caminhão-pipa para o balde, e no trajeto do esgoto que escorre a céu aberto nas favelas; o cidadão de classe média vivencia o percurso da água da torneira ao ralo ou quando se vê preso num engarrafamento de trânsito em vias urbanas alagadas.
Resulta dessa hidroalienação e da falta de investimentos que dela deriva, que a principal fonte de poluição de águas é o despejo de esgoto in natura nos rios.

Maurício Andrés é autor de Ecologizar e de Tesouros da Índia WWW.ecologizar.com.br

*Fotos da internet








terça-feira, 10 de abril de 2012

ARTE COMO IDÉIA CRIADORA

Todo ser humano possui um artista interior. Tudo na vida tem um sentido eterno, que ultrapassa o domínio da matéria.
Cada um de nós guarda dentro do seu subconsciente as noções de Beleza, Verdade e Bondade. Esse mundo das idéias é muito mais real e verdadeiro que o outro, modelado pela matéria. Mas é invisível para os que não procuram e sentem apenas o seu aspecto exterior, sem atingir sua realidade mais profunda.
A arte, brotando desse universo interior, procura em linguagem específica a comunicação com os homens. Ela revela ao que a contempla algo do que tem escondido em si mesmo no mistério de seu ser interno.
Jacques Maritain diz que o mais insignificante transeunte não tem, no céu de sua alma, menos estrelas que um artista. O sentimento de Beleza é atributo do homem, pertence a todos. Mas, muitas vezes, é velado aos olhos da maioria. Cabe ao artista despertar esse sentimento em seus semelhantes, tornando-o visível e consciente na obra de arte.
 A fonte de onde provém toda manifestação artística é a profundidade mesma da alma do artista. Antes de qualquer representação material, ela já existe, como sentimento informe, puro, ainda não delineado, mas que se traduz por uma imperiosa e inadiável exigência da alma, uma ânsia sem fim em busca de expressão. Arte é, pois, antes de tudo, transbordamento de vida interior. É uma vocação, um chamado.
A idéia criadora é uma iluminação intuitiva e repentina. É uma decisiva emoção que a principio se delineia, depois se aclara mais, e tende a vir à luz.  Movido por ela, o artista descobre o que sempre o inquietava e que se achava adormecido em sua alma.
A criação artística divide-se em dois momentos distintos: a concepção da obra de arte, que é a idéia criadora propriamente dita, e a sua realização. Estabelece-se então um dialogo entre o artista e a obra criada.
A idéia criadora pode surgir inesperadamente, ou durante o curso de uma longa pesquisa. Mas, de uma ou de outra maneira, constitui sempre uma surpresa para o artista; e é, justamente, nesse caráter de surpresa, que se encontra toda a alegria da criação.
A arte não é apenas talento. É talento ou potencial somado à vocação, a um desejo imperioso de progresso. Esse progresso só poderá ser feito através do trabalho.
Ser artista não significa calcular friamente. Não significa reunir tratados de teoria e tratados de matemática para, da ciência, passar à arte, mas, sim, deixar que a experiência transborde, depois de amadurecida, deixar que a sua própria vida, mais profunda, o seu universo desconhecido, aflorem à luz do mundo como que por encanto. Essa linguagem criativa nasce de raízes profundas, de experiências passadas e sofridas, e não se submete a qualquer ordem vinda de fora, seja de escola, religião ou doutrina política.
Diz Lucio Costa que “Toda arte plástica verdadeira terá sempre de ser, antes de tudo, arte pela arte, pois o que a haverá de distinguir das outras manifestações culturais é o impulso desinteressado e invencível no sentido de uma determinada forma plástica de expressão”.

*Fotos de arquivo

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