Maurício Andrés me enviou de Brasília textos sobre a água que virão
enriquecer este blog. Há muitos anos ele se dedica à defesa das águas do
planeta. Abaixo transcrevo o seu depoimento:
“Um oásis é um lugar em que há
água e vida no deserto e no qual as caravanas param para descansar e se
reabastecer antes de prosseguir viagem.
Na escala do sistema solar, a Terra é um lugar com solo fértil,
vegetação, vida animal e água. É um pequeno ponto no deserto dos espaços
siderais interplanetários. Na escala cósmica, a Terra é um oásis.
De onde vêm as águas que existem no oásis Terra?
Alguns astrônomos supõem que as águas se originaram no cinturão de
Kuiper, um
conjunto de cometas existente para além
da órbita de Netuno; outros especulam que ela
resultou do choque de corpos celestes gelados provenientes do cinturão
de asteróides situado entre as órbitas de Marte e de Júpiter. Tal como em outros processos de concepção, o
espermatozóide cósmico (um cometa ou asteróide) penetra no óvulo (a Terra) e a fecunda
com a água portadora das condições de gerar a vida. Além dessas hipóteses,
existe aquela de que a água tenha se formado a partir de elementos que existiam
na própria Terra desde sua origem.
Como a superfície do planeta é em sua maior parte coberta por água, ela
parece ser muita. Entretanto, na realidade seu volume é pequeno, comparado com o volume total da Terra, pois a
hidrosfera ocupa uma estreita faixa na superfície do planeta. A título de
comparação, se a Terra fosse do tamanho de uma bola de futebol, a água nela
existente teria o volume de uma bola de pingue-pongue. Diferentemente de Vênus,
onde ela é gasosa, e de Marte, onde está em estado sólido, na Terra a água é
encontrada em estado sólido, líquido e gasoso. Sendo muito sensível a variações
de temperatura, a água é o elemento por meio do qual a natureza responde
diretamente às mudanças no ciclo do carbono que provoca as mudanças
climáticas. Com o efeito estufa ela derrete, evapora. Intensificam-se e
tornam-se mais freqüentes eventos críticos tais como os que ocorreram no Brasil
em 2010: estiagens na Amazônia e cheias no nordeste, nas regiões metropolitanas
de São Paulo e do Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul. Tais eventos trazem
consigo prejuízos econômicos e sociais.
Do volume total no planeta, 97,6% da água
é salgada e apenas 2,4% é água doce. Várias regiões já sofrem de
estresse hídrico, em todos os continentes. Apesar do Brasil dispor de 12% de
toda a água doce do mundo, aqui também a relação entre demanda e
disponibilidade mostra problemas em áreas e bacias críticas, especialmente no
semi-árido nordestino, nas vizinhanças de regiões metropolitanas e em áreas
densamente povoadas e industrializadas ou onde exista grande demanda de água
para a irrigação na agricultura, como no Rio Grande do Sul.
Hidroconsciência e
hidroalienação
Na cultura brasileira, a consciência sobre a água ainda é pouco
desenvolvida e existe a ilusão de que ela constitui um recurso infindável. A
água é usada como depósito de lixo e resíduos. Lixões localizados à beira de
rios os levam para longe nas enchentes. O rio percebido como depósito de lixo
está presente na fala de uma mãe, no interior de Minas, ao deseducar a criança:
“Meu filho, não jogue o lixo no quintal, porque aí não é o rio!” A cultura
brasileira urbana dá as costas para a água, sendo usual encaixotar os córregos
urbanos e construir sobre eles vias de trânsito, retirando-os das vistas da
população. Até mesmo o Ipiranga celebrado no Hino Nacional, em cujas margens
plácidas D. Pedro I bradou o grito da independência brasileira, encontra-se
coberto por uma via pavimentada.
No Brasil, há grande hidroalienação, pois a população urbana cada vez
conhece menos sobre o ciclo integral da água, de onde ela vem, quando chega na
torneira, e para onde vai depois de escoar pelo ralo. O cidadão urbano pobre
vivencia fragmentos isolados do ciclo da água, do caminhão-pipa para o balde, e
no trajeto do esgoto que escorre a céu aberto nas favelas; o cidadão de classe
média vivencia o percurso da água da torneira ao ralo ou quando se vê preso num
engarrafamento de trânsito em vias urbanas alagadas.
Resulta dessa hidroalienação e da falta de investimentos que dela deriva,
que a principal fonte de poluição de águas é o despejo de esgoto in natura nos rios.
Maurício Andrés é autor de Ecologizar e de Tesouros da Índia WWW.ecologizar.com.br
*Fotos da internet
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