sábado, 24 de julho de 2021

FESTIVAL MUTIRÃO CULTURAL DE ENTRE RIOS DE MINAS

 

Toda a cidade se movimenta em torno da arte. É o despertar daquilo que temos de melhor dentro de nós. A linguagem poética, às vezes adormecida dentro de nós, desperta. As novas mídias aproximam os povos. O grande sertão e as cidades. As imagens vão chegando e, com elas, o conhecimento. O primeiro Mutirão Cultural foi promovido na gestão do Euler e do Saulo, há uma década atrás. Agora ele acontece sob a regência do jovem Secretário de Cultura, Felipe Resende, sobrinho do Saulo, com uma ótima programação on line. Os frutos de uma terra, banhada por dois rios e distante do litoral, estão sendo distribuídos para o planeta. Com oficinas diversas, caminhadas fotográficas, repique de sinos, contação de histórias, capoeira, cultura culinária, rodas de conversa sobre a diversidade e a representatividade , serestas e shows musicais, Entre Rios mais uma vez mostrou seus talentos. A importância do Mutirão está sendo reconhecida pelas cidades do entorno. Que outros Mutirões sigam o exemplo desta cidade e desçam as montanhas de Minas.

Transcrevo abaixo o texto de divulgação do Festival Mutirão Cultural de Entre Rios de Minas retirado da internet:



“Começou neste domingo (11), o Festival Mutirão Cultural de Entre Rios de Minas. A quinta edição do evento, que se reorganizou em 2020 por conta da pandemia, se mantém pelo espaço virtual, e terá como tema a diversidade. Serão motivos de rodas de conversa, lives e oficinas a atenção às questões de gênero, sexualidade e raça. A organização do evento é da Secretaria de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo da cidade.

Mesmo com substituição dos palcos, das salas de oficinas, dos espaços públicos e turísticos para as mídias sociais, a proposta de interação será reforçada pela promoção do “Concurso de Passinho” e a “Caminhada Fotográfica”. Bom para quem está fora da cidade, afinal de contas, pela internet, as atividades - e as suas pautas, tão importantes para o país como um todo - podem alcançar ainda mais pessoas!

A cidade fica a cerca de 70km de São João del-Rei e tem aproximadamente 15 mil habitantes. As atividades presenciais pontuais acontecerão seguindo os protocolos e sem aglomeração como intervenções teatrais pela cidade “Serenata Partidas” do Teatro da Pedra e roda de Capoeira com projeto Pingo de Ouro.”




*FOTOS DA INTERNET

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domingo, 18 de julho de 2021

O TEATRO NOSSO DE CADA DIA

 

Luciano Luppi me enviou o texto abaixo, a partir de uma live promovida pelo IMHA:

“O poeta é um fingidor.
Finge tão complemente,
que chega a fingir que é dor,
a dor que deveras sente. (Fernando Pessoa)


Partindo da essência dessa estrofe de “Autopsicografia” de Fernando Pessoa, Luciano iniciou a live “O teatro nosso de cada dia”. Visitou a sua trajetória dentro do teatro, há mais de cinquenta anos atrás, quando começou, ainda adolescente, a fazer teatro e conviver com pessoas mais velhas e engajadas, politicamente e artisticamente, contra a ditadura militar.



 Aos dezoito anos foi convidado a levar algumas técnicas de teatro para funcionários de uma empresa, não com intuito de transformá-los em atores e atrizes, mas a desenvolverem a comunicação verbal e corporal, o trabalho em equipe e aprimorar os seus papéis profissionais e afetivos. Foi um fracasso. A falta de habilidade em lidar com aquele tipo de público mostrou a fragilidade do profissional para atuar numa área com características tão diferentes da sua. Em função disso procurou aprender com profissionais de outras áreas as ferramentas necessárias para se adaptar ao mundo corporativo. Envolveu-se com profissionais de RH, biodança, Programação Neuro Linguística, Bioenergética, grupos holísticos, e outros. A partir dai passou a desenvolver um trabalho de “Técnicas Teatrais Aplicadas ao Desenvolvimento Profissional e Pessoal”. Ministrou treinamentos na Telemig, Colégio Nacional de Uberlândia, Fiemg, Feiras de RH, ABTD e muitas outras empresas e instituições. Participou com uma oficina no I Congresso Pan Americano de Jogos de Empresa e Criatividade. 


A partir dessa experiência os convites se ampliaram de tal forma que, temporariamente, deixou de lado o fazer teatral. Aplicou suas técnicas em um congresso em Cuba, junto com sua companheira Ivana Andrés, no Projeto Gente Grande, na Telecomunicações da Rondônia, na FEAD, e em grupos fechados. Com o Grupo “Voz e Poesia” atuou na Amana-Key, em São Paulo, durante nove anos. Escreveu um livro intitulado “Você é Feliz com Suas Máscaras?”.



Luciano enumerou algumas ideias estereotipadas sobre a interpretação dos atores e atrizes nas obras artísticas, para tecer semelhanças entre a atuação das pessoas no seu dia a dia, com seus papeis sociais, profissionais e afetivos. A primeira era sobre a necessidade do talento. Sem desconsiderar a existência de pessoas talentosas, o mais importante, no palco como na vida, é desenvolver as capacidades através da persistência, dedicação e vontade. Como se diz em teatro: “noventa por cento de transpiração e dez por cento de inspiração”. Isso significaria que podemos melhorar o nosso desempenho nos papeis que assumimos na nossa vida através de experimentação, vontade, dedicação e persistência. A segunda questão refere-se a ideia de incorporar o personagem, no sentido de identificação total. Luciano pondera que, apesar do nível de verossimilhança, o ator não deve, necessariamente, se identificar com crenças e valores dos personagens.



Dito isso, discorreu sobre as pequenas diferenças que assumimos, no teatro nosso de cada dia, quando nos mostramos diferentes em circunstâncias e em grupos diversos. Não somos, exatamente, a mesma pessoa em todos os ambientes. Mostramos, mais ou menos, características distintas conforme mudamos de interlocutores. Somos, levemente, diferentes no ambiente familiar, no meio dos colegas de trabalho, na torcida organizada, na igreja ou outro lugar. Mas podemos, e devemos, manter a essência do nosso ser em todos os lugares e momentos. Este é um quesito que diferencia a atuação artística da vida real.
  A terceira questão diz respeito à via única, como se só conseguimos nos expressar a partir de uma emoção. Os atores e atrizes, em muitos casos, precisam desenvolver a capacidade de se emocionar no momento e na medida certos, e por isso tem que promover em seu corpo alterações respiratórias, rítmicas e posturais para produzir as emoções que o personagem e a cena necessitam. Levando em consideração que uma emoção produz mudanças corporais e as alterações físicas também produzem emoções e sentimentos, podemos mudar os nossos sentimentos através de mudanças corporais e ambientais. Sabemos como, num processo de nos libertar de determinados sentimentos, uma mudança de rotina, um corte de cabelo, exercícios respiratórios profundos, uma mudança na postura física, podem ser excelentes auxiliares para transformação de sentimentos. Em última análise significa que podemos dar alguns passos em direção ao desenvolvimento de nossa performance na vida, utilizando alguns recursos que os artistas de  teatro usam para compor e interpretar personagens.” (Depoimento de Luciano Luppi)

*FOTOS DE ARQUIVO

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segunda-feira, 12 de julho de 2021

ALEIJADINHO

 

Há alguns anos atrás, estando em Brasília, visitamos na  Galeria da Caixa Econômica Federal,  a mostra “O Aleijadinho”, que representa o apogeu do barroco Brasileiro. Penetramos num ambiente escuro e, na penumbra apenas iluminada por pequenas lâmpadas, reconhecemos o recolhimento das igrejas barrocas de Minas Gerais.

Altares recobertos de ouro e pátina revelam a nossa história, povoada de lutas e conquistas em busca das riquezas minerais de Minas.



Ali está expresso uma pequena amostra do que foi o nosso passado de escavações e buscas em torno do ouro.

O “Ciclo do ouro” como foi denominada esta fase da exploração de nossas riquezas, nos deixou como legado a obra de grandes artistas, arquitetos, pintores, escultores, poetas.

A ênfase desta mostra está na obra do Aleijadinho, comparada por Germain Basin com outro gênio da pintura e escultura, que foi Miguel Ângelo.





Abaixo transcrevo um texto que faz esta comparação.

Germain  Basin, curador chefe  do Museu do Louvre, compara Aleijadinho a Miguel Ângelo, dizendo que são artistas da mesma estirpe,porém extemporâneos (viveram em épocas distintas), sendo enquadrados na categoria de gênios da humanidade.

O Aleijadinho ultrapassou as fronteiras de Minas para um reconhecimento internacional.

O barroco teve início em São Paulo, mas foi nas Alterosas de Minas Gerais que pudemos descortinar um Novo Mundo, criado por um gênio.

Estas palavras, do catálogo da mostra, nos introduzem às obras do Aleijadinho.

Esta trajetória de glória nos é mostrada na citação abaixo :

“Este mundo novo criado por um gênio, ungido pela glória de Nossa Senhora, para que criasse uma verdadeira Cidade Divina aqui na terra, entre os mortais, demonstrando que todo o desenvolvimento obtido até então na trajetória da Arte Barroca Brasileira seria superado pela beleza, perfeição e graça da obra do Mestre Aleijadinho, cravada, não só na pedra, mas de modo indelével nos templos de Sabará, São João Del Rey, Tiradentes, Congonhas do Campo, Mariana e Ouro Preto, mostrando ao Brasil e ao Mundo a presença divina entre nós.”

Com estas palavras introdutórias iniciamos nossa visita ao Barroco Brasileiro, tendo como carro chefe o Barroco Mineiro, com seus santos de devoção, seus altares e os santos de andor, conduzidos pelos devotos. Debaixo da penumbra da exposição recordamos toda a beleza da arte de Minas Gerais e fomos levados à lembrança dos Inconfidentes.




A exposição do Aleijadinho, considerado o apogeu da arte Barroca no Brasil, vai nos mostrando também um pouco de Minas Gerais, terra do minério, das riquezas naturais e também da luta pela liberdade.

A Basílica de Nossa Senhora da Piedade em Caeté, onde tenho dois painéis em azulejo, possui na sua nave central uma impressionante imagem de Pietá de autoria do Aleijadinho. 


*FOTOS DA INTERNET

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sábado, 3 de julho de 2021

ABSTRACIONISMO E ORIENTALISMO I

 

Transcrevo abaixo trecho do meu livro “Os caminhos da Arte”, que aborda a Vanguarda Russa, precursora do Movimento Construtivo Brasileiro, numa síntese com a antiga sabedoria do mundo, incluindo os Upanishads:

No panorama histórico da arte moderna, o Abstracionismo não foi apenas uma tendência a mais, foi uma revolução dentro da arte. Quebrou-se todo um condicionamento que de certo modo acompanhou a evolução da arte desde a Idade da Pedra até os tempos modernos: o de perceber e reproduzir imagens do mundo real. Reivindicou-se a libertação da forma do seu conteúdo realista.

Na Rússia pré-revolucionária, Nathalie Gontcharova



e Michel Larionov

apresentaram as primeiras telas rayonistas, nas quais a cor buscava a mesma independência do som. A libertação da cor e da forma de qualquer significado real, a ideia de que têm vida própria, marcou o início de uma série de caminhos na arte moderna. Dentro dessa mística, a vanguarda russa, entre 1910 e 1920, teve um papel fundamental. Poetas e pintores aliaram-se em torno das novas ideias. A liberdade pleiteada pelos artistas significava, antes de tudo, um desligamento de pressões externas, dos cânones e padrões tradicionais.

Maiakovski, na poesia, Malevitch, Kandinsky,



Tatlin,

El Lissitzki,

Naum Gabo

e Pevsner,

nas artes visuais, tornar-se-iam os líderes do novo movimento, gerador de várias correntes estéticas não figurativas.

Malevitch


procurava no suprematismo a essência do sentimento humano. Sua pintura, inteiramente despojada de elementos orgânicos, libertou-se do objeto, buscando na sensibilidade em seu estado mais puro o encontro com o Supremo. Malevitch propunha uma arte desinteressada, inteiramente subjetiva. Gabo e Pevsner, em seu Manifesto Realista , protestavam em favor de uma arte independente. A busca de uma nova realidade, o sentimento de ausência do objeto, o encontro com a essência das coisas motivaram o grupo de vanguarda em torno do Construtivismo e também de uma nova visão da realidade.

Se para Pevsner e Gabo o ideal era a formação de uma nova sociedade, para Malevitch a verdadeira realidade da vida e da arte encontrava-se nessa busca do Supremo por meio da ausência de cores, da pureza e da sobriedade de formas. Sua arte buscava o vazio e a não objetividade. Branco sobre Branco,



seu último quadro, enfatizava a absorção da forma na totalidade do Ser, que é impessoal e sem forma. O caminho proposto por Malevitch mostra-nos o fim da manifestação fenomenal e a entrada em outro plano, onde qualquer manifestação exterior significa descer ao mundo da multiplicidade. O branco é a fusão de todas as cores, sem fragmentações. Em Malevitch, a espiritualidade da Arte Abstrata encontra seu ponto máximo. Formas e cores desaparecem para dar lugar à claridade e à pureza suprema que é o  Branco sobre Branco.

A busca espiritual desses pintores russos nos remete às fontes orientais da filosofia perene das  Upanishads.

O conceito fundamental do Hinduísmo é que, por detrás da multiplicidade de formas do mundo imanente, existe uma Causa Primeira, imutável, inimaginável, sem atributos. Esta é  Brahman  e Atman  (correspondendo respectivamente à abordagem objetiva e subjetiva).

O Ser impessoal ou o Supremo, ao qual Malevitch se refere, corresponde a  Brahman, o Criador do universo, aquele que está presente neste nosso mundo, com sua multiplicidade de formas, e ao mesmo tempo o transcende.

Atman, da mesma natureza de Brahman, é a sua abordagem subjetiva, ou a Centelha Divina inerente a cada um de nós. (trecho de “Os Caminhos da Arte”, 3 Edição, Editora C/Arte, 2015)

*FOTOS DA INTERNET

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