domingo, 18 de julho de 2021

O TEATRO NOSSO DE CADA DIA

 

Luciano Luppi me enviou o texto abaixo, a partir de uma live promovida pelo IMHA:

“O poeta é um fingidor.
Finge tão complemente,
que chega a fingir que é dor,
a dor que deveras sente. (Fernando Pessoa)


Partindo da essência dessa estrofe de “Autopsicografia” de Fernando Pessoa, Luciano iniciou a live “O teatro nosso de cada dia”. Visitou a sua trajetória dentro do teatro, há mais de cinquenta anos atrás, quando começou, ainda adolescente, a fazer teatro e conviver com pessoas mais velhas e engajadas, politicamente e artisticamente, contra a ditadura militar.



 Aos dezoito anos foi convidado a levar algumas técnicas de teatro para funcionários de uma empresa, não com intuito de transformá-los em atores e atrizes, mas a desenvolverem a comunicação verbal e corporal, o trabalho em equipe e aprimorar os seus papéis profissionais e afetivos. Foi um fracasso. A falta de habilidade em lidar com aquele tipo de público mostrou a fragilidade do profissional para atuar numa área com características tão diferentes da sua. Em função disso procurou aprender com profissionais de outras áreas as ferramentas necessárias para se adaptar ao mundo corporativo. Envolveu-se com profissionais de RH, biodança, Programação Neuro Linguística, Bioenergética, grupos holísticos, e outros. A partir dai passou a desenvolver um trabalho de “Técnicas Teatrais Aplicadas ao Desenvolvimento Profissional e Pessoal”. Ministrou treinamentos na Telemig, Colégio Nacional de Uberlândia, Fiemg, Feiras de RH, ABTD e muitas outras empresas e instituições. Participou com uma oficina no I Congresso Pan Americano de Jogos de Empresa e Criatividade. 


A partir dessa experiência os convites se ampliaram de tal forma que, temporariamente, deixou de lado o fazer teatral. Aplicou suas técnicas em um congresso em Cuba, junto com sua companheira Ivana Andrés, no Projeto Gente Grande, na Telecomunicações da Rondônia, na FEAD, e em grupos fechados. Com o Grupo “Voz e Poesia” atuou na Amana-Key, em São Paulo, durante nove anos. Escreveu um livro intitulado “Você é Feliz com Suas Máscaras?”.



Luciano enumerou algumas ideias estereotipadas sobre a interpretação dos atores e atrizes nas obras artísticas, para tecer semelhanças entre a atuação das pessoas no seu dia a dia, com seus papeis sociais, profissionais e afetivos. A primeira era sobre a necessidade do talento. Sem desconsiderar a existência de pessoas talentosas, o mais importante, no palco como na vida, é desenvolver as capacidades através da persistência, dedicação e vontade. Como se diz em teatro: “noventa por cento de transpiração e dez por cento de inspiração”. Isso significaria que podemos melhorar o nosso desempenho nos papeis que assumimos na nossa vida através de experimentação, vontade, dedicação e persistência. A segunda questão refere-se a ideia de incorporar o personagem, no sentido de identificação total. Luciano pondera que, apesar do nível de verossimilhança, o ator não deve, necessariamente, se identificar com crenças e valores dos personagens.



Dito isso, discorreu sobre as pequenas diferenças que assumimos, no teatro nosso de cada dia, quando nos mostramos diferentes em circunstâncias e em grupos diversos. Não somos, exatamente, a mesma pessoa em todos os ambientes. Mostramos, mais ou menos, características distintas conforme mudamos de interlocutores. Somos, levemente, diferentes no ambiente familiar, no meio dos colegas de trabalho, na torcida organizada, na igreja ou outro lugar. Mas podemos, e devemos, manter a essência do nosso ser em todos os lugares e momentos. Este é um quesito que diferencia a atuação artística da vida real.
  A terceira questão diz respeito à via única, como se só conseguimos nos expressar a partir de uma emoção. Os atores e atrizes, em muitos casos, precisam desenvolver a capacidade de se emocionar no momento e na medida certos, e por isso tem que promover em seu corpo alterações respiratórias, rítmicas e posturais para produzir as emoções que o personagem e a cena necessitam. Levando em consideração que uma emoção produz mudanças corporais e as alterações físicas também produzem emoções e sentimentos, podemos mudar os nossos sentimentos através de mudanças corporais e ambientais. Sabemos como, num processo de nos libertar de determinados sentimentos, uma mudança de rotina, um corte de cabelo, exercícios respiratórios profundos, uma mudança na postura física, podem ser excelentes auxiliares para transformação de sentimentos. Em última análise significa que podemos dar alguns passos em direção ao desenvolvimento de nossa performance na vida, utilizando alguns recursos que os artistas de  teatro usam para compor e interpretar personagens.” (Depoimento de Luciano Luppi)

*FOTOS DE ARQUIVO

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