sábado, 3 de julho de 2021

ABSTRACIONISMO E ORIENTALISMO I

 

Transcrevo abaixo trecho do meu livro “Os caminhos da Arte”, que aborda a Vanguarda Russa, precursora do Movimento Construtivo Brasileiro, numa síntese com a antiga sabedoria do mundo, incluindo os Upanishads:

No panorama histórico da arte moderna, o Abstracionismo não foi apenas uma tendência a mais, foi uma revolução dentro da arte. Quebrou-se todo um condicionamento que de certo modo acompanhou a evolução da arte desde a Idade da Pedra até os tempos modernos: o de perceber e reproduzir imagens do mundo real. Reivindicou-se a libertação da forma do seu conteúdo realista.

Na Rússia pré-revolucionária, Nathalie Gontcharova



e Michel Larionov

apresentaram as primeiras telas rayonistas, nas quais a cor buscava a mesma independência do som. A libertação da cor e da forma de qualquer significado real, a ideia de que têm vida própria, marcou o início de uma série de caminhos na arte moderna. Dentro dessa mística, a vanguarda russa, entre 1910 e 1920, teve um papel fundamental. Poetas e pintores aliaram-se em torno das novas ideias. A liberdade pleiteada pelos artistas significava, antes de tudo, um desligamento de pressões externas, dos cânones e padrões tradicionais.

Maiakovski, na poesia, Malevitch, Kandinsky,



Tatlin,

El Lissitzki,

Naum Gabo

e Pevsner,

nas artes visuais, tornar-se-iam os líderes do novo movimento, gerador de várias correntes estéticas não figurativas.

Malevitch


procurava no suprematismo a essência do sentimento humano. Sua pintura, inteiramente despojada de elementos orgânicos, libertou-se do objeto, buscando na sensibilidade em seu estado mais puro o encontro com o Supremo. Malevitch propunha uma arte desinteressada, inteiramente subjetiva. Gabo e Pevsner, em seu Manifesto Realista , protestavam em favor de uma arte independente. A busca de uma nova realidade, o sentimento de ausência do objeto, o encontro com a essência das coisas motivaram o grupo de vanguarda em torno do Construtivismo e também de uma nova visão da realidade.

Se para Pevsner e Gabo o ideal era a formação de uma nova sociedade, para Malevitch a verdadeira realidade da vida e da arte encontrava-se nessa busca do Supremo por meio da ausência de cores, da pureza e da sobriedade de formas. Sua arte buscava o vazio e a não objetividade. Branco sobre Branco,



seu último quadro, enfatizava a absorção da forma na totalidade do Ser, que é impessoal e sem forma. O caminho proposto por Malevitch mostra-nos o fim da manifestação fenomenal e a entrada em outro plano, onde qualquer manifestação exterior significa descer ao mundo da multiplicidade. O branco é a fusão de todas as cores, sem fragmentações. Em Malevitch, a espiritualidade da Arte Abstrata encontra seu ponto máximo. Formas e cores desaparecem para dar lugar à claridade e à pureza suprema que é o  Branco sobre Branco.

A busca espiritual desses pintores russos nos remete às fontes orientais da filosofia perene das  Upanishads.

O conceito fundamental do Hinduísmo é que, por detrás da multiplicidade de formas do mundo imanente, existe uma Causa Primeira, imutável, inimaginável, sem atributos. Esta é  Brahman  e Atman  (correspondendo respectivamente à abordagem objetiva e subjetiva).

O Ser impessoal ou o Supremo, ao qual Malevitch se refere, corresponde a  Brahman, o Criador do universo, aquele que está presente neste nosso mundo, com sua multiplicidade de formas, e ao mesmo tempo o transcende.

Atman, da mesma natureza de Brahman, é a sua abordagem subjetiva, ou a Centelha Divina inerente a cada um de nós. (trecho de “Os Caminhos da Arte”, 3 Edição, Editora C/Arte, 2015)

*FOTOS DA INTERNET

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