Na conferência Burke
identifica três crises que mudaram a relação das pessoas com o conhecimento. A
primeira, em meados do século XVII na Europa, foi provocada pelo surgimento dos
livros impressos e a segunda, no século XIX, foi gerada pela proliferação de
livros no ocidente. Ele aponta, ainda, uma terceira crise que ainda está
acontecendo em escala global, provocada pela revolução digital, e pela
internet, dizendo que ainda é muito cedo para prever as suas consequências de
longo prazo. Durante essas crises Burke aponta uma ansiedade pela informação,
pois as pessoas se tornaram conscientes e ansiosas, ao perceber que havia
coisas demais para aprender (to much to know).
Segundo o autor,
todas as três crises produziram “explosões” de conhecimento, tanto no sentido
de uma rápida expansão quanto no sentido de uma rápida fragmentação do saber, dificultando
a possibilidade de alguém se tornar um polímata, juntando os fragmentos,
novamente, através da conexão entre campos distintos. A pergunta que Burke faz
e que julgo instigante é se a era digital produzirá polímatas.
Também o cientista Joe Davis, professor do MIT (Instituto de Tecnologia
de Massachusetts) e de Harvard (Departamento de Genética) defende o retorno a
uma visão unificada do conhecimento, vigente na Antiguidade e no
Renascimento, propondo o fim da barreira entre arte e ciência, defendendo o
conceito do artista híbrido, que une arte e ciência, como Leonardo da Vinci.
Também Marcus Vitruvius Pollio (c. 80 a.C.-15 a.C.), que inspirou o famoso desenho do "Homem Vitruviano", de Leonardo da Vinci (1452-1519), é citado por Davis, como um polímata. Vitrúvio parece acreditar que a unidade do conhecimento é intrínseca: tudo já existe como uma espécie de todo sincronizado, e é apenas a maneira pela qual interligamos as coisas que as torna inovadoras[1].
Leonardo da Vinci. Homem
Vitruviano, lápis e tinta s/ papel, 1490.
O Circuito Polímatas é um conjunto de mostras realizadas em vários locais do
campus da UFMG, em parceria com o Departamento
de Ação Cultural da UFMG, entre maio e setembro de 2019, integrando a
programação do II Colóquio Internacional
Escrita, Som, Imagem, organizado pelo Grupo Intermídia da Escola de Belas
Artes, Faculdade de Letras, Escola Música e Departamento de Comunicação da UFMG.
Idealizado e com a curadoria
compartilhada entre Marília Andrés Ribeiro, Pedro Veneroso, Tânia Araújo e
Maria do Carmo de Freitas Veneroso, o Circuito
Polímatas reuniu quarenta e seis artistas que exibiram obras explorando os
diálogos e cruzamentos entre diferentes mídias, linguagens e disciplinas,
diluindo as fronteiras entre a arte, a ciência e a tecnologia e contribuindo
para uma compreensão da arte a partir da sua interseção com diversas áreas do
conhecimento e o artista como polímata.
Vários eixos temáticos ou
possibilidades de leitura se cruzam no Circuito
Polímatas, seja através do conceito, da técnica, das linguagens, ou da
maneira como as obras abordam a intermidialidade, a transmidialidade e a
transdisciplinaridade. As relações entre palavras e imagens estão presentes em
muitos trabalhos, podendo ser vistas também como um eixo que perpassa vários
outros.
No Circuito, entre outros eixos, alguns artistas abordaram as relações
entre arte, ciência e tecnologia, abrangendo tecnologias atuais e obsoletas e a
técnica como o tema ou como o meio para um fim e a História da Arte como uma
história dos meios e das linguagens, seguindo o pensamento de Arthur Danto. Mostraremos
a seguir algumas dessas obras expostas no Circuito
Polímatas.” (Maria do Carmo Freitas Veneroso)
Eduardo Kac. Gênesis, instalação transgênica (bioarte), 1999, remontada em 2019, durante o Circuito Polímatas na Galeria da Escola de Belas Artes da UFMG.
Pierre Fonseca. “Máquinas de Conexão:
dispositivo 1”, paisagem sonora orgânica da série Máquinas de conexão,
2019.
Henrique
Roscoe, Joana Boechat. DUO LUMIA,
piano e arte computacional generativa, 2019.
Fred Paulino. Grande Ficha, instalação (gambiologia), 2019.
Fred Paulino. Grande Ficha, instalação (gambiologia), 2019 (det.).
Pedro Moreira. Preces Pr’Um Conteúdo Temporário, três velas, QR codes, 32 sites acessados através desses códigos.
*Fotos de Sara Sem Nome
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