domingo, 27 de setembro de 2020


 

LEMBRANÇAS DA ESCOLA GUIGNARD

Eu era vice diretora da Escola Guignard, Pierre Santos era o diretor.

A Escola, situada no Parque Municipal de Belo Horizonte, sob o Palácio das Artes em construção, não vivia momentos de prosperidade econômica. Quando chovia, as salas se alagavam.

Passamos, naquela época, por momentos difíceis mas sempre com a chama do entusiasmo nos conduzindo. Entusiasmo, significa “Deus dentro” e, realmente, éramos conduzidos por energias superiores.

Um dia, Pierre convocou os professores para anunciar que a Escola acabaria por falta completa de recursos. Entregou-me a diretoria com a finalidade de resolver o problema. Levei o maior susto, mas não perdi o entusiasmo.

Convoquei novamente os professores para uma tomada de consciência.

- “Vamos em frente!”

Foi quando eu me lembrei dos ex-alunos de Guignard. Fui à casa de cada um deles para pedir ajuda. Expliquei o que estava acontecendo.

- “Vocês vão nos ajudar a manter a Escola de pé!”

- “Quem estaria disposto a dar aulas gratuitas, sem receber nada?”

A turma foi de uma solidariedade muito rápida, imediata.

- “Estamos prontos para colaborar”.

Sara Ávila, Solange Botelho, Ione Fonseca, Wilde Lacerda, Lizete Meimberg, entre outros se prontificaram a dar aulas gratuitas para salvar a Escola.

Foi assim que os artistas ganharam a solidariedade de seus colegas e professores de arte.

Em seguida, reunindo a equipe de professores, fomos aos políticos para oficializar a Escola. Recorremos ao Dr. José Guimarães Alves, diretor da Imprensa Oficial, que imediatamente nos prometeu ajuda. Ele nos sugeriu anexar a escola à Imprensa Oficial e, por algum tempo, Dr. Guimarães foi o nosso diretor.

Esses acontecimentos foram fundamentais para o ressurgimento de uma Escola, que era considerada, desde a sua fundação, como a melhor Escola de Arte do Brasil, tendo à frente um dos maiores pintores brasileiros.

Alberto da Veiga Guignard!

*Fotos da internet

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domingo, 13 de setembro de 2020


 

ALVORADA VERMELHA

O quadro “Alvorada Vermelha” deu início à minha fase de guerra.

Pintado logo pós a minha viagem aos Estados Unidos, simboliza o clima de guerra que se espalhou pela América do Norte ao Sul.

Viajei no auge da guerra fria, quando a ameaça da bomba atômica assustava os americanos.

Naquela viagem assisti a um treino de guerra em Nova York.

O impacto de uma guerra atômica é terrível, a gente sente a morte de perto.

Hoje, com o corona vírus, a morte continua a amedrontar.

Os artistas de modo geral são pessoas mais sensíveis a essas vibrações que se espalham pelo mundo. Naquela ocasião era a guerra fria, a bomba atômica.

Eu cheguei aos Estados Unidos com a minha fase de barcos, desenhos líricos , em papel veludo. Ali fiz quatro exposições, com muito sucesso. Tive contato com grupos ligados  à “Action painting” e fiz um curso em Nova York na escola Art Student League, com o professor Theodorus  Stamus. Ali conheci artistas ligados ao zen budismo e pude perceber a espontaneidade do “Aqui e Agora” na arte, bem como a importância da arte como forma de meditação.

Voltando ao Brasil, retomei a pintura, e o “Alvorada Vermelha” marcou o início de uma nova fase, uma denúncia à violência a à guerra.

Nos Estados Unidos, a guerra fria, no Brasil a violência, a tortura e a morte nas prisões da ditadura, demonstrado por mim nas telas de guerra.

Por isso mesmo o quadro é um símbolo daquele clima da época.

Foi pintado no Brasil na época em que chegaram as tintas acrílicas.

“Alvorada Vermelha” é um ponto de mutação. Não somente na sua temática explosiva, como em sua técnica.

Substituir o óleo pelo acrílico estava na época sendo introduzido nos Estados Unidos. A tinta acrílica possibilita maior leveza, uma semelhança com a  aquarela.

O quadro foi pintado em 1968, sob um clima de grande tensão no planeta.

Eu me lembro de pintar na ocasião, com pedaços de esponja rasgados e pedaços de isopor também rasgados. Era necessário um contato direto da minha mão com a tela. O pincel me parecia criar distância.

No momento da criação usamos de recursos criados na hora.

Voltando ao “Alvorada Vermelha”, ele significou uma mudança no meu processo.  As cores vermelho preto teriam que falar por elas mesmas, sem recursos literários.

E foi assim que o “Alvorada vermelha” foi pintado. Ele já participou de uma Sala Especial na Bienal de São Paulo, denominada  “Arte abstrata efeito Bienal”organizada por Cassimiro Xavier, crítico de arte.

Hoje este quadro está em Lisboa, na casa de Antônio Eugênio de Salles Coelho e  Renata Guerra. Este quadro atualmente, tem servido como inspiração para várias releituras.

Que a sua denúncia à guerra e à opressão seja compreendida por todos, é o que eu desejo no momento. Que esteja em boas mãos.

Fotos de Ivana Andrés e de arquivo

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domingo, 6 de setembro de 2020


 

SOL DO MEIO DIA

 Dizem que os idosos

Devem tomar um pouco

Do sol do meio dia

Além de receber os raios

Solares

Colocar as palmas das mãos

Em direção ao sol

Saí de casa

A rua estava vazia

Todos no almoço

Ou vendo TV

Andei de um lado para

Outro repetindo o mantra

Que recebi na índia

Com a Gurumai

HAM SAH

Repetir HAM SAH

É repetir um som

Que ultrapassa as fronteiras

Do conhecido.

Preste atenção ao som

E verá que ele está em tudo:

Nas batidas do coração

Na respiração

Repetimos HAM SAH

Ininterruptamente.

Ele só termina com a morte

HAM SAH é vida.

Em frente à minha casa

Tudo é silêncio.

Os pássaros estão quietos

Mas o vento desfolha

As flores das árvores

O chão já está coberto de flores amarelas

Mas minha respiração repete

HAM SAH


*FOTOS DE MARÍLIA ANDRÉS

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