sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Agradecimentos em Diamantina

 

Trechos da fala de Maria Helena durante a inauguração do painel em 3-10 2023:

Eu agradeço de coração a todos vocês.

Agradeço a Nossa Senhora Aparecida.

A minha família me ajudou muito.

Agradeço ao pessoal do Paraná, que realizou tão bem esta ampliação do quadro feito no 

Retiro das Pedras, em tamanho pequeno.








Agradeço essa iniciativa extraordinária de realizar esse trabalho aqui na Serra dos Cristais.

O nome cristal dá uma ideia de energia da terra e estamos aqui para esperar a energia dos céus.

O painel é para todos.

Muito obrigado a todos vocês.

Painel sobre Chica da Silva

 

Um dia, um senhor apareceu lá na minha casa em Belo Horizonte, afim de me convidar para realizar um painel. Seria para o Hotel Del Rey em Belo Horizonte. Teria que citar a cidade de Diamantina, onde viveu a Chica da Silva e onde meu pai tinha estudado por um tempo.

 Comecei a desenhar os primeiros croquis do painel, mas sempre acompanhando um pouco a história. Ele me forneceu informação sobre a história da Chica da Silva e eu comecei a imaginar aquela escrava, dominando a cidade de Diamantina, vindo de longe pessoas para conhecê-la. Ela era muito importante, era uma escrava inteligente. 

Para ter mais informações, recorri ao Romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles, retirando alguns trechos sobre a Chica da Silva. Alguns textos estão escritos no painel. 

"Que andor se atavia naquela varanda?

É a Chica da Silva

É a Chica que manda "

Comecei a imaginar a vida da Chica da Silva da minha forma, pensando que ela era como uma pessoa muito bonita e muito poderosa também para mandar na cidade. Casada com um homem muito importante. Pensar na cidade de Diamantina, de onde os portugueses levaram muitos brilhantes.

Recentemente eu estive lá e pude ver a varanda onde Chica da Silva ficava. Muito interessante lembrar disso tudo.

Maria Helena  e sua irmã Maria Regina diante da casa de Chica da Silva- 2023 Foto Maurício Andrés.
 

Voltemos à época em que eu recebi o convite.

Mandei fazer três telas, uma central de tamanho maior, mas todas muito altas. Era difícil colocar as telas no meu ateliê, tive que colocá-las no chão. Naquela época eu era muito mais jovem, deitava no chão para pintar, suspendia a tela, e a movimentava para pintar de todos os lados. Eu tinha que fazer um esforço físico para acompanhar o esforço mental. Foram feitos os três painéis e depois de prontos foram colocados no Hotel Del Rey, na praça Afonso Arinos.

 Para o pagamento de parte do painel, o dono do Hotel propôs uma permuta.

 

"Mas permuta, como? Se eu moro em Belo Horizonte, por que vou querer uma permuta de hotel na minha própria cidade?"

 

"Não tem importância", me respondeu ele. "Nós temos um ótimo restaurante no hotel. Você pode convidar pessoas para almoçar ou jantar, que nós teremos o maior prazer de pagar parte desse painel com jantares."

 

Eu achei muito interessante. Eu tenho uma família grande, os filhos eram jovens e muito interessados em pratos apetitosos. Íamos ao Hotel Del Rey para comer uma fatia do painel. Foi maravilhoso pensar isso. Eu já fiz muitas permutas, gosto muito disso e trocava com prazer a permuta de um hotel por alguma coisa que fosse interessante. Neste caso foram os jantares. Levava a família inteira e eles adoravam. 

 

Dessa forma foi feito o painel. 

Deixo agora a palavra para o Maurício discorrer sobre os lugares onde esteve o painel da Chica da Silva:

“Esse painel foi encomendado para o Hotel Del Rey  e posteriormente esteve no Hotel Dayrell em Belo Horizonte. Em sua antologia biográfica, o livro Guerreira de Bronze, A.L.P. Gouthier,  descendente de Chica da Silva, e proprietária  do  painel, descreve essa trajetória. O painel de Francisca - a escrava que queria ver o mar e para quem foi construído um barco e um lago em Diamantina - foi levado para um apartamento em Ipanema de frente para o mar. O painel atualmente se encontra em Lisboa, Portugal, para onde foi chamado e onde faleceu o contratador de diamantes João Fernandes, que a amava. O belo painel de Maria Helena Andrés sobre Chica da Silva simboliza esse reencontro."  

 

 Fotografias do tríptico: Daniel Morcillo-Soares

Um poema de Cecília Meirelles está pintado sobre a obra.

 Chica da Silva

 Isso foi lá para os

Lados do Tijuco,

Onde os diamantes

Transbordavam do Cascalho

 Que ardor se atavia

Naquela varanda.

É a Chica da Silva,

É a Chica que manda.

 Cara cor da noite,

Olhos cor de estrela,

Vem gente de longe

Para conhecê-la.

 Escravas, mordomos

Seguem como um rio,

A dona do dono

Do Serro do Frio.

 E em tanque de assombro

Veleja o navio,

Da dona do dono

Da Serra do Frio.

 Aonde o leva, a brisa

Sobre a vela panda?

A Chica da Silva,

A Chica que manda.

 Poema © Cecília Meireles.

 








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quinta-feira, 12 de outubro de 2023

A inauguração do retábulo a Nossa Senhora Aparecida em Diamantina

 













 

No dia seguinte, subimos o morro mais uma vez, para assistir as festividades do primeiro dia da Novena a Nossa Senhora Aparecida.

Foi numa tarde chuvosa que a Santa subiu o altar.

Para a Inauguração do retábulo a Nossa Senhora Aparecida, Dom Darci idealizou uma performance antes da cerimônia litúrgica. Trouxe um pescador com sua rede, simbolizando aqueles que encontraram a imagem no rio Paraíba do Sul, em São Paulo. A rede de pesca, antes vazia, se encheu de peixes, após a descoberta da Santa. Foi o primeiro milagre de Nossa Senhora Aparecida.

Dom Darci relatou os 5 milagres, apontando cada um no painel de azulejos.

Um cortejo de crianças vestidas de anjo antecedeu a imagem da Santa, esculpida em terracota.

Dom Darci explicou aos fiéis que Nossa Senhora Aparecida é a mesma Nossa Senhora da Conceição, venerada em Portugal e na Europa.

Nesta performance, o manto de Nossa Senhora Aparecida foi trazido separado da imagem, bem como a coroa.

A imagem foi vestida com o manto e eu fui escolhida para coroar a Santa. Antes, Dom Darci informou ao público sobre o meu currículo, exposições, premiações e trabalhos realizados na Índia. Senti que naquele momento ele fazia alusão às minhas reflexões sobre a integração Oriente-Ocidente através da arte e da cultura.

Em seguida, já com a túnica e a coroa, Nossa Senhora Aparecida foi colocada no centro da Mandala do painel de azulejos.

Naquele momento, sentimos que uma luz brilhante circundava a Mandala.

Ao ver aquela luz, me lembrei da frase:

“Constrói o teu edifício bem alto e ele falará por ti.”

Primeira visita ao painel de azulejos em Diamantina

 





Diamantina se preparou para  a Solene Celebração Eucarística de abertura da Festa de Nossa Senhora Aparecida, bem como para a inauguração do Retábulo e dos painéis da Igreja de Nossa Senhora Aparecida, cuja concepção artística foi de minha autoria.

Fiquei emocionada ao ver o painel de azulejos e a minha obra ampliada e repintada pelas mãos cuidadosas de Carla, jovem artista residente no Paraná. Não a conheci pessoalmente, mas lhe envio os meus agradecimentos e os meus parabéns! O trabalho ficou magistral!

 

A minha primeira visita à igrejinha do alto da Serra dos Cristais ocorreu às vésperas da inauguração, numa tarde muito linda.

Logo de entrada, o painel se descortinou e o Artur acompanhou meus passos com sua flauta mágica, música de Mozart se estendendo pelas montanhas. Tudo foi muito lindo e me provocou lágrimas de emoção.

Ali, diante do altar da santa, eu agradeci as bênçãos recebidas e os milagres que me deram energia para realizar, aos 101 anos de idade, aquela obra monumental.

Fico muito grata pela atuação permanente de minha família, ajudando na realização deste projeto.

Dom Darci, arcebispo de Diamantina, sugeriu algumas mudanças que considerei fundamentais, solucionando o problema de uma porta que existia na parede e que desequilibrava a composição. Ele interferiu magistralmente, criando duas paredes laterais onde foram colocados os anjos e as flores que eu desenhara. Flores do cerrado e anjos pequeninos foram “salpicados” nos azulejos, que ocupam o primeiro plano, onde também está Jesus Crucificado. De acordo com a liturgia, a cruz deve vir sempre à frente!

Aos poucos fui percorrendo o espaço vazio, ladeada por duas filhas e ouvindo o filho tocar a sua flauta. Muito linda a experiência.

Artista de cinema em Diamantina





 Pediram-me para registrar a viagem a Diamantina. Em geral eu escrevo direto, ao vivo, em cadernos de anotações. Mas desta vez não foi possível.

Tive de virar artista de cinema!

Elas têm que posar para as lentes do fotógrafo:

“Olhe para aqui...

Olhe para ali...”

Os cineastas vêem tudo por meio das lentes de suas câmeras. Em Diamantina sobem e descem montanhas filmando as pessoas.

O fotógrafo ou o cineasta são pessoas que aprenderam a arte de ver, de olhar, pesquisar as pessoas e as paisagens dentro das lentes de sua câmera.

Fiquei ali, subindo e descendo ladeiras para sair no filme.

A iniciativa foi muito boa. Vamos ver o resultado.

Bernardo, dono da pousada “Pouso da Chica”, onde estamos hospedadas, é um amigo de juventude do Maurício, e ambos se dedicam atualmente, nas horas vagas, à arte cinematográfica. 

Diamantina me surgiu no momento com sua beleza de mais de 300 anos, toda pintada de branco, para esperar a “Vesperata”, festa tradicional da cidade.