quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

APRENDIZAGEM PARA A SAÚDE

Convidamos Maurício Andrés http://www.ecologizar.com.br/ para apresentar seu trabalho de aprendizagem para a saúde, que se adapta perfeitamente a este blog:

“Em muitos países,  a pirâmide demográfica está atualmente se modificando e há uma crescente população idosa que demanda serviços de saúde com custos cada vez maiores.
A carga sobre a população economicamente ativa, para sustentar  os custos dos sistemas de  saúde, de previdência social  e de aposentadorias tende a crescer, e a  provocar o colapso dos orçamentos públicos.
Crianças e jovens de hoje que tenham acesso a práticas de educação para a saúde física e mental adequadas nos campos da alimentação, da respiração, da higiene e das posturas corporais, daqui há 50 anos serão adultos e idosos  que poderão onerar de modo menos pesado os serviços públicos de saúde, pois terão incorporado hábitos saudáveis ao longo de sua história de vida.
Atualmente, muitas práticas de reeducação se disseminam: a reeducação alimentar, para que a dieta deixe de ser apenas um hábito herdado e reproduzido de geração em geração para se tornar um hábito cotidiano consciente de seus impactos; a reeducação postural global (RPG), que relembra o indivíduo da importância de postar-se corporalmente de modo harmonioso, que não cause ou agrave deformações que danificam a coluna e outras partes do sistema ósseo; a respiração consciente, que também trata esse hábito vital como uma questão cultural, passível de ser aprendida e exercida de modo consciente.
Interessante observar que, nesses três casos, o ioga milenar atuou, demonstrando que havia na antiga civilização védica indiana a consciência sobre a importância desses cuidados com o corpo, que repercutem também na mente e nas emoções.  Assim, por exemplo, a respiração consciente pode levar à harmonização física e a um estado de consciência relaxado, sem tensões e estresses.
Além desses, outros cuidados de reeducação são importantes, como por exemplo a educação para a saúde bucal, que preserva a dentição e evita focos de infecções.
Todas essas práticas levam a uma melhor manutenção da saúde física, com resultados benéficos ao indivíduo quando se torna adulto ou idoso, momento em que se manifestam muitos dos problemas de manutenção corporal, muitas dores e o organismo dá sinais de que está para vencer o seu prazo de validade.
A educação para a saúde física dos alunos em escolas desde a creche e a educação infantil, pode ser uma iniciativa valiosa, juntamente com a educação para a saúde mental e emocional, de modo a manter a integridade e a harmonia corporal, com saúde,  beleza e simetria. Nas escolas, práticas esportivas e artísticas tais como a música e a  dança - que atua sobre o corpo, a respiração e os movimentos - são meios para se difundir a consciência do corpo e para se atuar preventivamente no sentido da manutenção da integridade  e da harmonia corporal. A educação escolar precisa colocar ênfase em motivações, no controle emocional, na disciplina, nas capacidades de interação social, no intangível, no imensurável, no imaterial e não apenas naquilo que pode ser medido por meio de testes objetivos e padronizados.

Tal aprendizado pode fazer-se , ainda e principalmente, por meio da comunicação, por meio da cultura, na família e na socialização de crianças. Na atual sociedade midiática, a imprensa é um dos meios de comunicação pelos quais se aprende. Do mesmo modo como o merchandising inserido sutil ou ostensivamente nas novelas, em filmes e no entretenimento é feito com fins comerciais, ele pode  incluir mensagens que transmitam conhecimentos de educação para a saúde e induzam exercícios e práticas saudáveis para o corpo. Nesse processo, é crucial a consciência de artistas, novelistas, formadores de opinião, que influenciam modos de vida e valores.
Ações preventivas de incorporação de tais conhecimentos em todas as formas de transmissão cultural e educacional são a base para construir sistemas de saúde e de previdência sustentáveis, num mundo cuja idade média tem-se alongado, com maior proporção de idosos na população.”

*Fotos de Luiz Cruz, Julio Margarida e da internet

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domingo, 25 de dezembro de 2011

WILSON FIGUEIREDO, O POETA

Revivendo o movimento moderno que se instalou em Minas na década de 40 com a criação da Escola de Belas Artes dirigida por Guignard, vejo a turma de jovens poetas e escritores se reunindo em baixo das árvores do parque.
Vinham da faculdade de Filosofia situada ali perto, no Instituto de Educação para assistir palestras e debates que aconteciam na Escola, sob o prestígio de Guignard. Todo um potencial de idéias novas se formava em torno do mestre. Ali no parque Municipal de BH, uma síntese das artes acontecia.
Wilson Figueiredo era um dos integrantes da turma que se reunia no parque, juntamente com Otto Lara Resende, Hélio Peregrino, Edmur Fonseca, Paulo Mendes Campos, Sábato Magaldi, etc. Wilson Figueiredo, o Figueiró, criou junto com Edmur Fonseca a revista Edifício, uma revista de vanguarda. Ali seus livros de poesia, “Mecânica do Azul” e “Poemas Narrativos”, foram editados.
Seguíamos o nosso caminho nas artes plásticas, sob o incentivo daqueles que também escreviam poemas e crônicas.
Figueiró, que naquela época tinha apenas 20 anos, fez parte do grupo de jovens que recebeu em 1944, Mário de Andrade na provinciana Belo Horizonte. O consagrado poeta paulista gostou do jovem e escreveu para ele cartas encorajando-o a continuar a linha poética.
 Wilson Figueiredo guardou suas poesias que só foram publicadas na época, mas merecem ser conhecidas. Algumas vezes costumo cobrar do meu cunhado, W. Figueiredo, casado com minha irmã Lourdes:
“Wilson, por que você não publica seus versos, você é um poeta.”
 Lembro-me de ter lido algumas vezes o livro “Mecânica do Azul” e aqui transcrevo alguns trechos:
 “Só hoje me lembro da bola de gude
Mas com alguns anos de vida
Entre esse tempo e onde
Eu desejaria estar
 Ah! Se eu pudesse ver a bola
Com a trajetória libertada
Da geometria e da física
E ignorar que feliz no jogo
É o infeliz nos amores.”
 ..............................................
 “Meu primeiro velocípede
Começa a dar voltas
Em torno do meu silêncio
Com a campainha gritando
Estrelas”
 .............................................
 “Havia no quarto da pensão
Cavalos ao luar pregados no teto
Numa geografia que me viajava
Os cavalos puxavam a virgem
Na paisagem de gesso
Sempre intocada
Por sobre o sonho e as águas.”
 ..................................................
 O tempo é a minha ferrugem
Que espraia
Atropela o silêncio
Gasta a chave, a mala
Os cartões imorais do dormitório
Os pregos na parede
E mesmo alguns retratos.”
 Naquela época eu lia “Cartas a um jovem poeta” de Rainer Maria Rilke e sob o seu incentivo continuei minha vida de artista.
 Cada vez mais venho compreendendo a integração das artes e o quanto de benefício que elas nos proporcionam.
 Mais tarde, já casado, Wilson transferiu residência para o Rio de Janeiro, que naquela época era considerada a corte brasileira, lugar onde os intelectuais e artistas poderiam se projetar com mais facilidade. Ali ele se tornou um jornalista da linha de frente, destruindo idéias arraigadas e incentivando a construção do novo. Assim foi no Jornal do Brasil e está sendo no F.S.B Comunicações, onde ele se torna, aos 87 anos “um mentor dos novos da empresa”.
 Nelson Rodrigues destacava em Wilson a veia poética, que se desdobrou ao longo de toda a sua carreira. “Não se faz jornalismo sem poesia”, dizia Nelson Rodrigues.
 Mário de Andrade, ao ler os versos do jovem Wilson de 20 anos, comentou: “Como eu sorria feliz lendo os versos dele”.
Em carta dirigida ao Wilson, Mário de Andrade continua: “Você tem a poesia dentro de si e tem o que dizer.” E continua: “Você é um poeta e sua poesia não é original por ser uma fragancia de mocidade só, é sua.”
 Esta poética, Wilson trouxe da juventude até os dias de hoje. Escreve textos e dedicatórias deixando vir à tona a sua alma de poeta. Transcrevo aqui a dedicatória que recebi no livro “E a vida continua” recém lançado no Rio de Janeiro.
 “À Helena
A irmã que conversa com o silêncio e acena às nuvens que passam rentes à sua casa, nosso agradecimento por sua assinatura artística numa página deste livro que nos reúne como prêmio da vida.
 Lourdes e Wilson.”
 Este prêmio da vida a que eles se referem são seus 4 filhos Pedro, Vanessa, Rodrigo e Andréia que serviram de modelo para um quadro de minha autoria.
*Fotos de Pepe Schettino, André Macera e do acervo FSB
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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

sábado, 3 de dezembro de 2011

JOSEPH BEUYS

Continuando a minha pesquisa sobre Joseph Beuys, vou relatar um pouco de sua vida, a partir da transcrição de uma entrevista dada a Franz Hak em 1979.
“Em 1941, Beuys com 20 anos, toma conhecimento da obra de Rudolf Steiner, tendo freqüentado os grupos de antropósofos em Dusseldorf. Por essa altura retém a idéia da "unidade na multiplicidade", dos quatro níveis do homem: corpo físico, corpo etérico, corpo astral e o "Eu". A relação que estabelece com a natureza vai marcar a influência da antroposofia de Steiner.
A guerra representou, certamente, na sua vida um elemento central.
No Inverno de 1943, como telegrafista num bombardeiro de combate, teve um acidente. O avião depois de atingido pelos canhões antiaéreos de uma base russa, despenha-se na Crimeia durante uma tempestade de neve. Beuys é o único sobrevivente. Está gravemente ferido. Uma fratura craniana, costelas, pernas e braços partidos.
Quando está à beira de morrer, um grupo de tártaros nômades, que transitavam por esse lugar, acolhem-no. Cobrem-no primeiro de gordura e aconchegam-no depois com panos de flanela. E, num ambiente mágico, os "chamanes" da pequena tribo de nômades curam-no milagrosamente. Beuys vivencia essa presença "chamânica" como algo de exemplar e significativo para a sua vida e obra. Daí a importância constante da gordura e do feltro, materiais com os quais os "chamanes" o envolveram para o curarem das queimaduras e traumatismos sofridos com o acidente. Daí a constante atitude de profundo respeito pela natureza e pela espiritualidade cósmica.
A relação com a tribo nômade quase o leva a optar por ficar para sempre nesse grupo de tártaros. Porém, para Beuys, a ligação à natureza não é chamânica. É uma espiritualização do futuro, como na antroposofia que subjaz à sua formação. A pesquisa espiritual de Beuys não procura no passado. Integra o passado espiritual num projeto de futuro. Uma espiritualidade consciente e não atávica; não adquirida, mas construída... Ultrapassar o irracional e o racional, através de uma procura em que o "oculto" se torna "manifesto".
A artisticidade de Beuys é o quotidiano, acessível a toda a gente, processo contínuo, obra aberta para todos os imaginários que na participação, no debate e na ação solidária vão criando mudança de vida.”

*Fotos da internet

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terça-feira, 22 de novembro de 2011

ARTE E EDUCAÇÃO E O PENSAMENTO DE JOSEPH BEUYS


No despertar do século XXI, a proposta da arte como desenvolvimento humano torna-se prioritária. Refletindo o acelerado das manifestações artísticas que se desenvolveram no tumultuado século XX, podemos fazer uma reflexão de como esse processo planetário surgiu e também como se encadeou em seqüência até o século XXI.
Jean Cassou, o famoso crítico de arte europeu, previu uma mudança total nos valores estéticos a partir da segunda metade do século XX. Menos estética, mais ética, foi o lema da xxx Bienal de Veneza.
 Inconscientemente, impulsionados por uma necessidade planetária de evolução e abertura de consciência, a energia da criatividade foi conduzindo artistas e professores de arte a dedicar sua atenção ao despertar do mundo interno da criança e do adulto, através de todas as formas de expressão artística – dança, musica, artes plásticas etc: “Arte não se ensina, desperta-se, orienta-se”. Cada instante criador corresponde à intensidade de um momento de vida. Ele é o esquecimento do passado com todo o acumulo de conhecimentos e o despertar do presente em plenitude e riqueza? O ato de criação é um ato de presença. Criar é viver no presente. Neste aqui e agora, estão contidas nossas vivencias individuais, enriquecidas das vivencias do mundo a que pertencemos. Esse mundo está conosco, não podemos nos separar dele. O momento criador, quando vivido intensamente, é um retorno à Unidade Inicial. É, portanto, um momento de intensa alegria. Por meio da intuição, as idéias se harmonizam. A intuição é a claridade que vem de dentro de nós mesmos e não buscada fora, em ensinamentos. Desperta num momento inesperado, quando se transcende o pensamento lógico.
O pensamento divide, separa, organiza. Ele é necessário para a organização final das idéias que surgem espontaneamente. O pensamento está ligado ao passado e por isso não pode iluminar os caminhos do futuro.
Criar não é repetir o que se fez, mas acrescentar algo novo, transmutar condicionamentos enraizados, propor idéias. A presença do mestre incentiva a criação.
 O mestre autêntico não é aquele que julga segundo suas inclinações e preferências, mas é aquele que, de maneira desinteressada, compreende e conduz o aluno. Ele não traz valores fixos a decretar: desperta valores novos ao contato de sua presença, de seu estímulo.
Segundo essa orientação artística, o aluno não visa apenas ao recebimento de um simples diploma ao final de um currículo, e sim à vivência de uma formação estética que não termina no período de aprendizagem, mas que se prolonga por toda a vida.
Joseph Beuys, cuja obra foi exposta na Galeria do Instituto Tomie Otake em São Paulo, foi um dos fundadores do movimento dos verdes e revolucionou o ensino de artes, com suas idéias de extensão da arte à vida.  
Beuys nos legou o conteúdo fundamental da sua mensagem artística:
-"Cada homem é um artista - a estética é o ser humano";
- "Deve haver uma relação entre o criador e o que usufrui -viver é criar com
e para a humanidade".
-"Conceito ampliado de arte -arte é a vida".
-"Deus e o mundo são arte -arte é ciência e ciência é arte".
-"O uno é o múltiplo e o múltiplo é o uno."
Nestes simples aforismos, explicita-se a sua filosofia de arte e de vida.
Por isso Beuys considera que "a criatividade não é monopólio das artes. (...) Quando eu digo que toda a gente é artista eu quero dizer que cada um pode concentrar a sua vida nessa perspectiva: pode cultivar a artisticidade tanto na pintura como na música, na técnica, na cura de doenças, na economia ou em qualquer outro domínio... A nossa idéia cultural é muitas vezes redutora. O dilema dos museus e das instituições culturais é que limitam o campo da arte, isolando-a numa torre de marfim . O nosso conceito de arte deve ser universal, terá que ter uma natureza interdisciplinar com um conceito novo de arte e ciência" (1979 - entrevista com Franz Hak).

*Fotos da internet

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A NATUREZA MORA AO LADO

O Jardim Canadá é um bairro pertencente a Nova Lima, embora diste dezesseis quilômetros da sede do seu município e apenas dez da borda sul de Belo Horizonte.
         O Canadá é fruto de um loteamento sem sucesso da década de 1950, que começou a ser ocupado informalmente nos anos 70.
         Hoje, tem cerca de sete mil habitantes, que dividem suas atividades entre mineração, indústrias várias, comércio e prestação de serviços nos condomínios vizinhos.
         Roberto Andrés e Fernanda Regaldo se propuseram a fazer um livro depoimento sobre a vida deste pequeno bairro. Saíram os dois fotografando e dialogando com o povo.
         O resultado foi um documentário que inclui fotos, depoimentos e vai nos mostrando a vida de um povo simples, uma vida muitas vezes semelhante à das cidades do interior de Minas, com suas festas populares e igrejas variadas, católicas e protestantes.
         Roberto e Fernanda se misturaram com o povo, como eu fiz na Índia e no Vale do Jequitinhonha.       Ali também eu levava um caderno de anotações e um de desenho, para registrar o “aqui e agora” do povo.  A arte, quando se estende para a vida, vai mostrando o novo que surge a cada instante.
         As crianças fazem seus próprios brinquedos e se divertem com espontaneidade e criatividade. 
         Acompanho as imagens e vou também refletindo sobre os textos. As ruas tem nomes da realeza inglesa - Rainha Elizabeth, Príncipe Charles, Princesa Margareth. O próprio nome do bairro nos remete ao Primeiro Mundo - Jardim Canadá - e as ruas continuam lembrando os países do norte - Rua Alaska, Rua Paris, Rua Hudson, Av. Mississipi e muitas outras, escolhidas pelos próprios moradores.
         O livro nos mostra a criatividade dos moradores do bairro, com um belo documentário de fotos.
         Continuo observando as imagens.
         O olho do fotógrafo é o olho do artista plástico, que seleciona o detalhe, e este pequeno detalhe tem vida própria, como a composição de um quadro.
         Cada detalhe é um quadro e, de surpresa em surpresa, vou folheando o livro. Saber escolher um detalhe da paisagem, enxergar formas e cores, agrupá-las de uma certa forma é o trabalho constante do paisagista. Aprendi com Guignard a visualizar detalhes com um pequeno orifício recortado na cartolina.
         O fotógrafo faz o mesmo com sua câmera: seleciona, corta, aumenta, diminui. As possibilidades das câmeras são imensas, o importante é educar o olhar para perceber o novo no cotidiano, descobrir a beleza de um muro azul combinando com um monte de areia branca, ou outro muro de tijolos enriquecendo a composição.
         Os jardineiros vão trazendo plantas para enfeitar os “Galpões de Eventos” que celebram casamentos, aniversários, formaturas, batizados, bodas, confraternizações e festas promocionais.
         As plantas enfeitam as festas e o povo vem de Belo Horizonte para participar dos eventos. Há também aqueles que vem do Rio e São Paulo de avião para assistir alguma cerimônia neste Jardim Canadá tão cheio de contrastes.
         O livro documenta a vida de um povo heterogêneo, vindo do nordeste e de outras regiões do Brasil, que veio morar nesta região próxima à cidade de Belo Horizonte, junto à Serra da Calçada.

*Fotos de Roberto Andrés e Fernanda Regaldo
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terça-feira, 8 de novembro de 2011

domingo, 30 de outubro de 2011

JACA, UM ANO DE ATIVIDADES

O Jaca completou 1 ano de atividades com grande sucesso em seu objetivo que foi o de “incitar e promover projetos artísticos que utilizem abordagens e tecnologias variadas para atuar especificamente frente à nossa realidade local, seja através de estímulos educacionais, provocações ou ativador de práticas colaborativas.”
Assim se expressou Francisca Caporali uma das fundadoras e diretora do JACA, graduada em comunicação social pela UFMG, Máster em Arte em Barcelona e Fine Arts, pelo Hunter College de New York. Em sua introdução ao catálogo, podemos visualizar uma síntese das propostas e também o resultado do empreendimento.
Francisca atuou durante um ano naquele galpão do Jardim Canadá onde recebia artistas de fora e organizava os trabalhos e as festas.
Em 2010, escreveu ela, o J.A.C.A. inaugurou suas atividades com o lançamento de um programa de residências artísticas, estabelecendo um espaço de produção e interlocução entre artistas brasileiros e internacionais. O projeto previa que, com o deslocamento ao local, as questões específicas do bairro fossem tratadas das mais diferentes maneiras, formas e meios, seja pelas vindas diárias dos artistas locais ou com a estadia dos artistas internacionais.
Acompanhei de perto algumas promoções inclusive uma mesa redonda onde se discutia sobre arquitetura.
Os artistas belo-horizontinos Paulo Nazareth, Pedro Motta, Roberto Andrés,  Fernanda Regaldo, Isabela Prado, Pedro Veneroso e Grupo Passo (Flávia Regaldo e Aruan Mattos) desenvolveram seus projetos durante 8 meses, enquanto os artistas internacionais, Zachary Fabri (EUA), Gabriel Zea e Camilo Martinez (Colômbia), Berglind Jóna (Islândia), Marco Ugolini (Itália), Geraldine Juarez e Magnus Eriksson (México e Suécia) e Sarawut Chutiwongpeti (Tailândia), residiram no Centro por 2 meses.
No decorrer desse primeiro ano de residências, os artistas desenvolveram um conjunto de obras e experimentações e foram responsáveis pela constituição de um ambiente de diálogo, permeado por ações, debates, encontros para acompanhamento crítico, mesas redondas e conversas informais que envolveram curadores, críticos de arte, artistas, estudantes e a comunidade local.
Fernanda Lopes, jornalista, crítica e pesquisadora, curadora do Centro Cultural de São Paulo explica em um texto dedicado ao 1º. Aniversário do JACA a grande mudança que vem acontecendo no campo das artes e a direção que os artistas estão oferecendo nesse emaranhado de possibilidades que estão surgindo.
Procurei fazer uma resenha de seu artigo: “Atenção: Percepção requer envolvimento.”
“As residências artísticas começaram a se estabelecer na Europa, Estados Unidos, Canadá e Japão, fortemente marcadas pelo apoio e incentivo ao desenvolvimento das artes. Um local onde artistas teriam condições, ideais para produzir seus trabalhos.
As residências podem ser consideradas como instrumentos fundamentais na formação do artista contemporâneo.” Estima-se que existam mais de 500 projetos espalhados por pelo menos 60 países. Inúmeras possibilidades se abrem nesse deslocamento que pode se dar quando o artista sai da sua cidade, do seu país, ou mesmo mais simplesmente do seu ateliê. A mudança de ponto de vista, a troca de idéias, o contato com outros artistas e outras realidades e o próprio fato de estar em trânsito são matérias primas para a realização de novos trabalhos.
Em meio a discussões e ações que caminham no sentido de repensar as formas e os espaços de atuação artística, além das relações da arte e do artista com o mundo, as residências artísticas também se configuram hoje como uma nova e significativa maneira de inserção no circuito artístico, para além das galerias e salões de arte.”(Fernanda Lopes)

A pesquisa sobre o Jardim Canadá resultou na publicação de um livro ilustrado com fotos que servirá de exemplo para outros artistas.
As atividades desenvolvidas pelo JA.CA foram importantes e impactantes para a cena artística de Belo Horizonte e estão em busca de patrocínio para o próximo ano de atividades.

*Fotos de Francisca Caporali e Elderth Theza

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sábado, 22 de outubro de 2011

GEORGE IVANOVICH GURDJIEFF

Dia 8 de outubro, com a sala lotada, foi apresentado um concerto de flauta e piano na Fundação de Educação Artística denominado “Viagem por lugares inacessíveis”. O concerto foi nos conduzindo para outra viagem para dentro de nós mesmos e nos fazia recordar também Gurdjieff, músico e viajante, que mais tarde se tornou um grande mestre.
Nascido na Armênia, então parte do Império Russo, Gurdjieff criou, no início do século 20, um sistema de ensinamentos que alia o treino intelectual a uma variedade de práticas, como meditação, música e dança. Influenciado pelas tradições orientais, como a dos sufis muçulmanos, ele chamava seu sistema de “trabalho sobre si”, enfatizando que o despertar espiritual se dá a partir de um esforço de perscrutar e transformar a si mesmo. “Uma frase emblemática de Gurdjieff é esta: ‘Não há injustiça no mundo’. “Tudo acontece exatamente como tem que acontecer. Se queremos mudar o curso de nossa vida, precisamos conhecer as forças que atuam sobre nós e, a partir dessa consciência, criar meios de nos libertarmos dessas forças”.
Gurdjieff dizia que a humanidade vive num estado de sono hipnótico, como se fôssemos todos sonâmbulos. Basta olhar para ver o quanto vivemos nesse estado de letargia, fazendo as coisas de forma automática, sem consciência. Quase todas as nossas ações são de natureza mecânica. Nossas ações e nossas relações também. Por exemplo, passamos a vida inteira preocupados com o que os outros acham de nós, com o que podem pensar a nosso respeito. E vamos agindo em função dessa identificação com a opinião do outro, buscando ganhar a sua aprovação. Agora, será que aquilo que o outro pensa de mim é tão importante assim? Aliás, será que ele realmente está pensando algo de mim? Na maioria das vezes a resposta é não. Mas eu não percebo isso. Assim como não percebo meu próprio corpo.
Ninguém se dá conta, mas estamos o tempo todo submetidos a milhares de tensões musculares inúteis, pura perda de energia. E essa tensão constante só existe por uma razão: achamos isso normal. É preciso rever esse desequilíbrio interno, tampar esses vazamentos de energia e atenção. E é aí que entra o que chamamos de “trabalho sobre si”. Se o ser humano quer, de fato, atingir todo o seu potencial, se quer sair desse estado vegetativo, despertar do sono que o escraviza, precisa buscar o conhecimento de si mesmo.
Gurdjieff era músico e compositor e deixou seguidores também músicos e compositores. Em Belo Horizonte, Artur Andrés Ribeiro juntamente com outros companheiros responsáveis  do Instituto Gurdjieff, buscam dar continuidade à obra de Gurdjieff não só através da prática de suas idéias, como também como intérpretes de suas músicas, tendo gravado juntamente com a pianista Regina Amaral: “Cantos e Ritmos do Oriente” (2000), “Música dos Sayyides e dos Dervishes” (2002) e “Hinos, preces e ritos” (2004), resultado de uma extensa pesquisa realizada a partir da obra musical de Gurdjieff e Hartman.
Artur Andrés Ribeiro foi graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais, com habilitação em flauta e em 2000 obteve o título de Doutor em Música por Defesa Direta de Tese. Com a pianista Regina Stela Amaral, sua esposa, forma, desde 1978, um duo de flauta e piano, tendo realizado inúmeros recitais, tanto no Brasil quanto no exterior.
Alexandre Andrés,filho do casal é músico e compositor e muitas vezes participa das apresentações.
Artur Andrés Ribeiro é membro fundador do UAKTI – Oficina Instrumental. O grupo UAKTI é nacional e internacionalmente reconhecido por meio de Cds, turnês de concertos, parcerias com grandes artistas e importantes premiações. Como compositor, Artur escreveu “Alnitak” e “Turning Point” (CD I Ching, 1994) e o “Segredo das Dezessete Nozes”, “Música para um Templo Grego Antigo” e “Trilogia para Krishna” (CD Trilobita, 1997).
Todas as composições são criadas em seu estúdio, na Fazenda da Barrinha em Entre Rios de Minas. Ali Artur, Regina e Alexandre, envolvidos pela energia da natureza, compõem suas músicas e, ao mesmo tempo, têm espaço para as “domingueiras” do Grupo Gurdjieff. Elas acontecem com a participação de todos, nos exercícios, no silêncio das meditações, na preparação das refeições e também nos círculos de auto- conhecimento. Tive a oportunidade de participar de alguns encontros do grupo e organizar uma experiência de arte coletiva. Num ateliê improvisado na varanda, 20 jovens pintaram em conjunto 2 grandes painéis.  
*Fotos de arquivo e da internet
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sábado, 15 de outubro de 2011

ENTREVISTA COM O PROFESSOR CLAUS CLUVER

Veio me procurar na minha residência no alto das montanhas, Mr. Claus Cluver, professor e pesquisador da intermidialidade na Universidade de Indiana, nos Estados Unidos. O Prof. Cluver deu aulas na Universidade Federal de Minas Gerais e pronunciou uma palestra sobre a imagem e as letras, focalizando as relações entre as diversas mídias.

Conversamos muito sobre arte durante o almoço e depois estendemos o assunto para o construtivismo brasileiro que, no momento, desperta o interesse de pesquisadores e historiadores.

Realmente, o construtivismo foi um grande movimento no cenário artístico do Brasil e hoje está levando o Brasil para outras terras. Em seu conjunto, o construtivismo obteve grande visibilidade com a exposição da Coleção Leirner nos EUA, parte dela adquirida pelo Museu de Houston, no Texas.

Mr. Claus indagou sobre a minha atuação no movimento, como participante do Grupo de Minas, considerado um grupo independente.

“Até então, a visibilidade dos artistas no exterior se limitava àqueles que se afastaram do Brasil e foram morar na Europa, entre eles Mary Vieira, Lygia Clark e Hélio Oiticica. Os que aqui ficaram não conseguiram a mesma projeção internacional”, me disse ele.

Mr. Claus está estudando, com grande interesse, a arte brasileira como um todo, entrevistando artistas e colhendo informações ao vivo. Para isto se dispôs a deixar, por algum tempo, o primeiro mundo e chegou até nós para colher depoimentos.

Eu, como sobrevivente do construtivismo, tenho ainda muita experiência a ser transmitida. Reuni minhas anotações e artigos para oferecer informações ao meu amigo pesquisador e fui mostrando a ele as minhas releituras que incluem uma versão nova do passado, recriação de uma época em que os quadros não eram valorizados pelo tamanho, mas pela qualidade. Voltei ao pequeno formato, já que o grande estava me dando problemas de saúde. Pintar em telas menores é mais adequado para minha idade e estou me sentindo como há 50 anos atrás, pintando pequenos retângulos coloridos.

Claus Cluver gostou das releituras, porque são criações e não repetições do passado. Conversamos muito e Mr Claus, sempre acompanhado de sua esposa Maria Aparecida, trouxe para minha casa uma vibração de muita alegria e intelectualidade. Foi uma tarde que me valeu por muitas palestras ou aulas, um privilégio poder ouvir de perto um professor estrangeiro interessado em nossa história. Segundo ele, o Brasil lidera a América do Sul, acompanhando e se atualizando de forma própria acerca dos movimentos mais sérios ocorridos no mundo. Claus Cluver mostra uma outra visão da arte brasileira, retirando o preconceito de que o Brasil é um país de artistas primitivos.

*Fotos de Marilia Andrés e André Melo Mendes

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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

PRÊMIO VERDE DAS AMÉRICAS 2011

 "Aconteceu em Brasília, no Museu Nacional da República, Esplanada dos Ministérios, nos dias 20, 21 e 22 de setembro de 2011, o XI Encontro Verde das Américas, o "Greenmeeting", reunindo lideranças nacionais e internacionais sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, tanto governamentais, quanto não governamentais. Entre outros acontecimentos houve a entrega do Prêmio Verde das Américas 2011 durante a abertura solene do Encontro realizada às 09:30 horas do dia 20/09.
 
O Prêmio Verde das Américas 2011 homenageia personalidades e instituições que têm, ao longo dos anos, contribuído para o desenvolvimento e a preservação ambiental do planeta. Em 2011 foram premiados Cosette Ramos ( Educação), Fabio Colombini (fotografia), Ney Matogrosso (ação ambiental) e Maurício Andrés (Recursos Hídricos).
 
Ao agradecer o prêmio, que dedicou a todos os que trabalham com a alfabetização ecológica, Maurício afirmou que vivemos um momento de crise da evolução cujos sinais principais são as mudanças climáticas e as perdas de biodiversidade e que as atividades humanas estão entre os principais fatores que causam as atuais transformações ambientais. Como tais atividades decorrem de pensamento e  emoções humanas é crucial que eles e a consciência humana também sejam transformados, por meio da ecoalfabetização e da ecologização das consciências.

Maurício Andrés - Arquiteto, foi Presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil- MG, Secretário de Meio Ambiente de Belo Horizonte (90-92); Presidente da Fundação Estadual de Meio Ambiente de Minas Gerais (95-98); Diretor Executivo do CONAMA, Brasília (2001-2002). Assessor e Secretário Geral substituto da Agência Nacional de Águas – ANA – 2002 a 2011. Autor de diversos  artigos e livros, entre eles “Ecologizar ” , 4ª edição- trilogia, Editora Universa, (2009) ; “Tesouros da Índia para a Civilização Sustentável”, Santa Rosa Bureau Cultural (2003); e “Ecologizando a cidade e o planeta” Editora C/Arte, 2008.   www.ecologizar.com.br " (depoimento de Maurício Andrés)
Fico lembrando daquele prêmio “São Tomas de Aquino”que Maurício recebeu quando era menino. Foi um dia inesquecível. Com uma trajetória que inclui arte, ecologia, fotografia e Meio Ambiente, ele recebeu muitos prêmios. Tirei da internet a relação de alguns:

1.    Primeiro prêmio no XII Salão Nacional de Arte de Belo Horizonte com projeto de Valorização de Pontos focais em Belo Horizonte, BH, 1981
2.    Coordenador geral da equipe 3834, classificada em 1o . lugar no Concurso BH-Centro, promovido pela Prefeitura de Belo Horizonte, 1989.
3.    Convidado pelo USIS para visita de estudos às cidades americanas de Washington, Seattle, Olympia, San Francisco, Denver, Boulder, Austin para estudos sobre gestão ambiental e municípios, setembro 1992
4.    Detentor da Medalha Chico Mendes para o meio ambiente, conferida pela Câmara Municipal de Belo Horizonte, 1994
5.    Detentor da Comenda do Girassol dada pelo Partido Verde-MG, em julho de 1995.
6.    Premio ao mérito, consórcio de Municípios da Bacia do Rio Paraopeba, B. Horizonte, 1997
7.    Homenagem do Conselho Municipal de Meio Ambiente de Belo Horizonte em 5.6.2000
8.    Diploma de honra ao livro Ecologizar, pelo alto valor meritório no Prêmio Ambiental Von Martius, São Paulo, 24.10.2000

Estamos todos muito felizes com esta trajetória que une ecologia e arte.
*Fotos de arquivo
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terça-feira, 20 de setembro de 2011

REFLEXOS DA ART RIO

Os antigos armazéns do cais do Porto no Rio de Janeiro, agora desativados, estão se tornando um grande espaço de arte. Ali o povo comparece em massa, revelando uma outra face do carioca, como participante ativo do mercado da arte.
A I Feira Internacional de Arte Contemporânea do Rio, muito noticiada pela mídia, suplantou a feira de São Paulo e colocou o Rio de Janeiro como um ponto de cultura da maior importância para o Brasil.
Num sinal do crescente interesse pela arte brasileira, a primeira edição da feira ArtRio levou ao píer Mauá, na zona portuária do Rio, 46 mil pessoas e gerou negócios de R$ 120 milhões durante os cinco dias do evento.
Encerrada no domingo, a feira contou com 83 galerias – quase metade do exterior. Nos estandes estavam à venda cerâmicas do espanhol Pablo Picasso, pinturas e esculturas do colombiano Fernando Botero, obras de modernistas brasileiros como Volpi e contemporâneos como Ernesto Neto.
“Nossa intenção é nos tornarmos a quinta maior feira de arte do mundo”, disse Elisangela Valadares, uma das idealizadoras da ArtRio.
Beatriz Lemos de Sá, nossa galerista de Belo Horizonte, participou ativamente do evento com o maior sucesso.
Em seu estande figuraram artistas representantes da arte de Minas e alguns de São Paulo e Rio que trabalham em sua galeria.
Ali estiveram presentes com esculturas, desenhos e pinturas os seguintes artistas: Amílcar de Castro (escultura e desenho), Maria Helena Andrés (esculturas e desenhos), Jayme Reis (objetos), Pedro David (fotografia), Célia Euvaldo (pinturas), Sérgio Sister (objetos), Fernando Cardoso (desenhos), Tunga (objetos) e Antônio Dias (pinturas).
Assim, entre mineiros, cariocas e paulistas o seu estande esteve movimentado nesses cinco dias.
Houve grande procura pelas esculturas que um dia deixam nossas montanhas para se harmonizarem com outras montanhas nos gramados de Itaipava, Araras e Teresópolis.

*Fotos de Beatriz Lemos de Sá, Carlos Andrade e Roberto Andrés

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domingo, 11 de setembro de 2011

MAPAS DE ARLINDO DAIBERT


André Melo Mendes desvenda, no seu livro sobre o artista Arlindo Daibert, duas expressões artísticas que tradicionalmente eram consideradas diferentes: o texto e a imagem.

Antigamente, a imagem, considerada ilustração do texto, tornava-se uma arte menor, subordinada à escrita. Havia um preconceito com o trabalho artesanal, feito com as mãos, em relação ao trabalho intelectual. Nesse momento, em que existe uma intermidialidade entre as artes e as mídias, esse preconceito antigo está sendo questionado e as artes caminham juntas, sem que exista superioridade de umas sobre as outras.

Trazer luz sobre essa idéia é o que André Mendes propõe em seu livro. Ali, ele destaca que Arlindo Daibert tem o seu lugar no cenário das artes plásticas como um grande artista, que se inspirou no livro “Grande Sertão Veredas” de Guimarães Rosa, outro grande artista da literatura brasileira. 

O livro de Rosa tem servido de inspiração para vários artistas que trabalham com as artes visuais, a exemplo de Poty, ou com a música, como Alexandre Campos e Bernardo Maranhão.

O nome Vereda já sugere o lugar onde a água pura brota da terra e vai crescendo na medida em que recebe novos afluentes. Visitei uma Vereda em Brasília e ali me informaram que aquela água chegaria ao Rio da Prata. As novas recriações sobre as Veredas são como novos afluentes de um mesmo rio que, percorrendo várias terras, se jogará um dia no mar.

Na minha vida de artista plástica e escritora sempre questionei a colocação da imagem como arte menor em relação à literatura. No livro “Pepedro nos Caminhos da Índia” fui colocada como co-autora da obra cujo texto foi escrito por Aparecida Andrés.

Para dar exemplo do passado, tenho em minha casa um exemplar belíssimo da “Divina Comédia” de Dante Alighieri, ilustrada por Gustavo Doré. Ali, as imagens falam por si, são compreendidas imediatamente, sem o auxilio de um tradutor. Essas imagens me acompanharam desde a infância e sempre continuaram causando impacto para mim e minha família.

André Mendes, escritor e pesquisador das imagens, ressignifica a obra tanto de Arlindo Daibert, quanto de Guimarães Rosa e aponta a possibilidade de novas releituras da obra desses autores.

De acordo com as palavras de André: “Esse trabalho de Daibert está longe do conceito tradicional de ilustração, entendida como explicação visual da narrativa e se aproxima muito mais da postura do tradutor ou mesmo do criador. Seus desenhos e xilogravuras podem ser entendidos como imagens que pensam sobre o romance de Rosa – entre outros assuntos. Basicamente, a diferença entre as imagens que argumentam e aquelas que pensam é que as primeiras não dão espaço para a subjetividade do leitor, enquanto as imagens complexas se propõem a pensar junto com ele”.
E o autor continua seu pensamento: “Rosa criou um mapa sobre o sertão, um mapa que não era igual ao território. Daibert criou, a partir desse mapa, um novo mapa. Ao criar esse novo mapa, ampliou o mapa de Rosa e do sertão”.

O livro de André Mendes “Mapas de Arlindo Daibert. Diálogos entre imagens e textos” deixa para o leitor a possibilidade de conhecer esses mapas e de perceber a integração entre a literatura e as artes visuais.

  • Fotos de Marília Andrés, Rafael Chimicatti e Nino Andrés

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