quarta-feira, 30 de janeiro de 2013


MEU ENCONTRO COM BENÉ FONTELES


Há muitos anos atrás, recebi um pedido vindo de Brasília, não sei se do Pierre Weil ou do Maurício, para hospedar um artista em minha casa no Retiro das Pedras. Esse artista é hoje o famoso Bené Fonteles, que naquele momento precisava visitar Belo Horizonte. Bené esteve em minha casa alguns dias, nem me lembro se foram semanas, mas, sua intensa criatividade ficou para sempre em minha memória. Bené, naquela época, além de escrever poemas, também recitava esses poemas para grupos pequenos, como nos antigos saraus.
Certo dia, voltando de Belo Horizonte onde estivera para acompanhar minha mãe, encontrei minha casa no Retiro toda iluminada e festiva. A sala estava cheia de amigos do Bené e ele, no centro da roda declamava suas poesias. Para mim foi surpresa e ao mesmo tempo admiração ver minha casa transformada em palco de teatro.
Hoje, vejo Bené em Brasília, na noite de Folia de Reis, acendendo a fogueira, carregando o estandarte, cantando e dançando. Continua a mesma pessoa, cheia de vida e grande ternura para com o ser humano. Bené é um artista de muitas facetas e tanto produziu obras nas tradicionais telas como todos nós pintores, como também transgrediu as normas e hoje realiza trabalhos no campo ampliado da arte contemporânea. Usa materiais diversos, peças de ferro, de carro de boi, corais sobre tecelagem indígena, couro de ovelhas, conchas, ferramentas, vasos, cerâmicas, esculturas de Buda e dos Orixás, coletados ao longo do tempo e organizados em forma de memória.
Bené ampliou seu campo para instalações e no centro dos objetos coletados declamava seus versos. No Museu de Arte de São Paulo, em cima de um tablado, todo vestido de branco, Bené declamava seus versos, como no tempo em que nos encontramos na minha casa, no alto das montanhas do Retiro das Pedras.
Reencontrar Bené em Brasília, cercado de amigos, foi um grande prazer e me foi possível constatar o fato de que o artista é e sempre será uma voz que clama muitas vezes no deserto, mas que sempre está abrindo caminho para o novo, o não dito, o ainda não experimentado. Ele transgride a sociedade sem agredi-la, pode se cercar de admiradores ou ser rejeitado, mas está sempre aberto para novas aventuras.
Abrir caminho para as gerações futuras mostra que a poesia, o teatro, a música, os tambores indígenas e os cocares coloridos são aspectos múltiplos da grande arte que se manifesta na vida, nos grupos folclóricos e nas rodas infantis. Tudo isto é vida e a vida para Bené merece ser vivida.

 *Fotos de Mila Petrielo e Maurício Andrés

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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013


ARTE ABSTRATA, COSMOS E ECOLOGIA


Recebi de Maurício um texto sobre a afinidade da arte abstrata com a realidade mostrada pela ciência contemporânea que reproduzo abaixo:
“Neste século XXI a humanidade se defronta com temas de grande abrangência nunca antes enfrentados. As mudanças climáticas trazem eventos extremos de secas, enchentes, furacões intensos e frequentes, com repercussões vitais para a segurança alimentar e a qualidade de vida. Há uma acelerada transformação do planeta que exige uma percepção sensível, conhecimento e capacidade de adaptação.
As tecnologias espaciais e de comunicação global permitem visualizar a Terra com a visão dos astronautas, que escaparam da biosfera e passeiam no cosmos. Com o apoio de telescópios potentes, tais como o Hubble, é possível estudar e conhecer as dimensões do universo e das galáxias.  O macro mundo dos astrônomos apresenta imagens abstratas. É outra dimensão da realidade, cósmica, dinâmica, com suas linhas curvas, espirais das galáxias, cores, as explosões do cosmos. Da mesma forma, na escala do micro mundo, os microscópios visualizam dimensões mínimas da realidade, que também apresentam formas abstratas. A física quântica mostra um universo distinto, não concreto, não sólido – fluido, abstrato, porém muito real. Trata-se de uma dimensão essencial da realidade, invisível a olho nu, perceptível por meio de instrumentos, tais como telescópios e microscópios, que permitem penetrar no âmago da matéria e escapar do mundo das aparências sensorialmente percebidas.
A arte abstrata está em sintonia com essa percepção contemporânea da ciência e transcende o realismo figurativo ou o mecanicismo concreto. Há várias formas de arte abstrata. O abstracionismo informal difere do realismo socialista, que focaliza a realidade visível a olho nu, a matéria percebida pelos sentidos e valoriza o aspecto social, a figura humana e o seu contexto. Também se diferencia da arte concreta, que valoriza a  geometria, a construção mental da realidade. O concretismo corresponde a uma etapa da civilização que valorizou as máquinas, a engenharia, um mundo que se urbaniza e industrializa rapidamente. Já o abstracionismo informal valoriza as configurações cósmicas e atmosféricas do macro universo e as configurações encontradas no micro mundo das células, átomos, bactérias.
O artista abstrato tem o grande mérito e a capacidade de buscar a essência da realidade e visualizar aspectos do micro e do macro universo, para além das aparências, difíceis de serem compreendidos pelo cidadão mediano, que percebe com seus sentidos a realidade imediata, mas que é pouco sensível a outras dimensões.
O abstracionismo lida com realidades presentes nas escalas micro e macro do universo.
O abstracionismo informal tem um significado especial nesse momento em que o universo é explorado e melhor conhecido, e a dimensão cósmica da realidade se torna mais próxima e visível. As paisagens aéreas das nuvens no céu, com suas formas fluidas e dinâmicas também são uma dimensão da realidade cada vez mais merecedora de atenção e de observação pelos cientistas, no mundo atual que se encontra às voltas com as mudanças climáticas. As variações de cores nos céus e a dinâmica das nuvens estão presentes nas paisagens atmosféricas dos céus de Minas, e também inspiram artistas abstratos.” (Maurício Andrés)
 
Fotos: Maurício Andrés, telescópio Hubble e Wikipedia

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