sexta-feira, 30 de março de 2012

NEMER E ANNIE, UM CASAL DE ARTISTAS

A exposição “DUO” do casal de artistas José Alberto Nemer e Annie Rottenstein, que estará aberta ao público até o dia 15 de abril, oferece ao visitante momentos de reflexão. Este casal de artistas, ele nascido em Minas e ela na França, se completa também dentro da arte, na magia de uma mostra que nos fala direto ao coração.
“Nestas aquarelas eu busco entender a natureza”, nos disse ele em seu depoimento. Citando Albert Einstein: “O que eu vejo na Natureza é uma magnífica estrutura que só compreendemos com muita imperfeição, mas que pode satisfazer uma pessoa com sentimento de humildade”

Em seguida, Nemer continua:
“Agradeço ao céu daquela noite
Em que a lua conversava com a nuvem
O sólido e o etéreo
O construído e o aleatório
O concreto e o fluido
A geometria e a abstração
A luz e a sombra
A opacidade e a transparência.
Eu não teria feito uma pintura à altura
Ainda assim, foi uma lição de sincronicidade
Uma confirmação de que
Nestas aquarelas
Busco entender a natureza”

Realmente a fluidez e a transparência das aquarelas, realizadas corajosamente nos grandes espaços sem perder a sensibilidade, nos permite contemplar os céus na obra do artista. Suas palavras completam o que sentimos diante desses painéis.

Em Annie, a “Criação do mundo” nos faz refletir sobre a unidade existente nos diversos povos do planeta: da antiga sabedoria da Índia até os nossos índios brasileiros mergulhados nas florestas, existe uma unidade que só é permitida perceber por aqueles que buscam além da mecanicidade repetitiva dos grandes centros. As mãos de Annie tecem formas e tiram esculturas do cipó para reconstruí-los no silêncio das invenções. Sua exposição deve ser vista de forma silenciosa fora do tumulto das inaugurações. No seu depoimento sobre a criação do mundo, extraído dos Upanishads, Annie revela uma profunda busca espiritual.

 “O nascimento do mundo”
“Desde sempre o Uno reinando sobre o Caos Primordial, abismo repleto do Todo em fusão, rodopiando como cachoeira circular em suspensão. Seu caudal de materiais vaporosos e incandescentes revolve forças latentes, elementos em simbiose, à espera da expansão.
Chegado o tempo de distinguir as infinitas gotas da Criação, O Uno dirige seu sopro numa longa expiração. No meio do abismo, uma condensação de vapor se eleva e forma um lago. O sopro penetra sua superfície. O espelho d’água tremula com essa união. O Invisível se torna então visível ao fazer emergir da água o Primeiro Dragão, espírito ardente dotado de luz própria, de visão, do Todo. Olha faminto ao seu redor. Busca com olhar fugaz e vê na água seu próprio reflexo. Inesperado encontro com seu par? Crava seus olhos nos olhos do “outro” tomado pelo desejo de conhece-lo. Atraído, mergulha no escuro da água. Engolindo a si mesmo, se fecunda. Eis o ouroboros com seu poder de dar à luz. Voraz, acasala-se sem cessar. Prenhe de sua própria essência, elementar e plena, multiplica-se. Forma após forma nascem todas as formas, frutos da vontade do Uno, são impregnadas do dom divino: conter o germe que acorda a vida, procriar e conhecer a morte.
Assim a diversidade se propaga e povoa todos os cantos de um mundo que nasce junto, momento a momento.
A cada união, uma transformação. A cada transformação, um elo de continuidade. Com a continuidade, o tempo. Com o tempo o começo e o fim. E o eterno retorno.”
(Extraído dos Upanishads, Vedas).
*Fotos de Rafael Motta
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quinta-feira, 22 de março de 2012

JOANA & MARITO E AS SINAPSES DA DANÇA

       Joana Ribeiro e Marito Olsson-Forsberg se encontraram em 2005 em Paris. Ela, mineira, nascida na Bélgica e ele na Suécia, foram se esbarrar no Departamento de Dança, da Universidade de Paris-8, na França, onde desenvolviam, respectivamente, pesquisas sobre o coreógrafo Klauss Vianna (1928-1992) e o tango argentino. Da sala de aula para as salas de ensaio foi um pulo, e o primeiro trabalho criado foi o duo de dança Sinapse, apresentado no 3º Festival de Inverno de Entre Rios de Minas, em 2009.
         Sinapse surgiu do desejo de levar a dança contemporânea para as ruas, viabilizando sua apresentação para um público eclético. Com base na manipulação de objetos, na mímica e nas danças populares, representa os três tempos de uma relação amorosa: o encontro, a maturidade e a transcendência. A trilha sonora é composta por músicas de Rossini, Naná Vasconcelos, Machito e Fá do Tuiuti. Mais do que uma representação típica da cultura brasileira, Sinapse procura retratar um tipo ingênuo e uma mulher cosmopolita, arquétipos reconhecidos tanto no Brasil, quanto no estrangeiro, facilitando a recepção desta dança, em países como Suécia, França e Cuba.
         O segundo projeto que Joana & Marito vem desenvolvendo desde 2005 é o Cabaré Satie – uma montagem para o público infanto-juvenil inspirada nas peças do compositor Erik Satie (1866-1925). O clima remete aos cabarés parisienses, como o Chat Noir (Gato Negro) em que Satie costumava tocar piano. Através de esquetes, armadas como quadros-mecânicos de uma caixinha musical, o espetáculo compõe um delicado recital dançante, sempre com a participação de um pianista convidado. Cabaré Satie já foi apresentado em Paris, na Suécia e no Rio de Janeiro.
         O projeto que desenvolvem no momento é CANGAS, um jogo coreográfico inspirado nas cangas que colorem as praias cariocas. É um trabalho que utiliza 60 cangas com diversas estampas através de procedimentos de performance. Três ações básicas servem de mote para a dança: a imagem estampada, a canga como objeto de vestir e a relação do tecido com o ar. Dispostas no chão, como cartas de um baralho, num dispositivo similar àquele utilizado pelos vendedores ambulantes nas praias cariocas, as cangas formam um grande tapete, como um mosaico de estímulos para a dança a ser criada. O projeto CANGAS já foi levado para a UNIRIO, onde Joana leciona no curso de teatro; e na Suécia, onde foi encenado pelos bailarinos da cooperativa Rörelsen (http://www.rorelsen.com/), fundada por Marito. Ah, a palavra sueca rörelsen significa “movimento” em português.
         Casados desde 2008, Joana & Marito lecionam dança e análise do movimento na Escola e Faculdade Angel Vianna e na Escola de Teatro da UNIRIO (RJ/Brasil), na Universidade de Paris-8 (França) e em Malmö (Suécia), além de atuarem no teatro como preparadores corporais. Buscam, nesse sentido, desenvolver suas trajetórias em três vertentes: a criação artística, o ensino e a pesquisa, buscando produzir novas sinapses (conexão entre dois neurônios que propaga impulsos nervosos) em dança.

*Fotos de Marito Olsson-Forsberg, Markus Kinnunen e Imre Szbrik

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quarta-feira, 21 de março de 2012

sábado, 10 de março de 2012

IMHA, ARTE ESTENDIDA À VIDA

Há 7 anos atrás foi inaugurado o IMHA (Instituto Maria Helena Andrés) na cidade de Entre Rios de Minas, situada no Campo das Vertentes, nome significativo para a dinamização artística que se desenvolveu por toda a região. Ali se realizaram Festivais de Inverno, sob a direção de Luciano Luppi e Ivana Andrés, trazendo para Entre Rios tudo o que de melhor acontecia em Belo Horizonte, não só professores de artes plásticas, como de música, teatro, capoeira, dança, maracatu, etc. A cidade se movimentou e aceitou as informações artísticas com receptividade extraordinária. Arte estendida à vida se espalhou pela comunidade. Foi criado um Ponto de Cultura, com o projeto Música para Todos, bem como A ECOPAZ, uma ONG ligada à Ecologia. Foram feitas pesquisas sobre a história da região e incentivos ao artesanato e à Arte na Educação.
“Entre Rios mudou”, nos disse o Tuca, talentoso músico da região. “Podemos situar um “antes” e um “depois” da criação do Instituto”.
Agora estamos comemorando a gestão da Teresa Andrés, nossa jovem presidente. Lembro-me do Euler, pai de Teresa, que deu o primeiro toque há 7 anos atrás, acompanhado do vice presidente Saulo Resende.. O início foi cheio de esperança no futuro. Veio Antônio Eugênio de BH, que nos trouxe a sua experiência de administrador de empresas, e, agora a jovem Teresa, com seu entusiasmo, vai contando para nós o que fez neste ano para a comunidade. Durante o ano de 2011, vários projetos aconteceram na cidade de Entre Rios, entre eles o projeto “Resgate com Arte” coordenado por Maria Aldina Resende e o projeto realizado em Jeceaba sob a coordenação de Sarahy Fernandes. Em Entre Rios o Ponto de Cultura ofereceu o primeiro curso de Design Multimídia.

Durante o evento pudemos admirar desenhos de crianças pendurados como bandeirolas nos cordões e o artesanato do cotidiano das donas de casa com desenhos da minha fase figurativa de boizinhos.

No palco improvisado do bar Vila Lobo, foram projetados 3 vídeos dos alunos do Ponto de Cultura, curta metragens resgatando 3 pessoas que foram importantes para a comunidade da música entreriana: Tião, Divino e Osmar, 3 jovens idosos que foram relatando suas lutas para dar continuidade aos seus sonhos. Um dos vídeos nos levou à oficina do Tião e à sua história de amor pela música e pelo violão. Cenário pobre, despojado, mas cheio de dedicação à arte. O outro vídeo percorre o universo de  Divino, sanfoneiro, cantando música sertaneja. O último vídeo conta a história de Osmar , seresteiro que fez da própria família um grupo de cantores, desde os filhos até os netos. Os vídeos poderão, no futuro, ser mostrados em Festivais de Tiradentes e São João Del Rey. Os diversos grupos me prestaram homenagem como incentivadora das artes. Fui chamada a falar e ressaltei o fato de que o Instituto foi bem conduzido desde o início nas suas diversas gestões e agora, entregue ao “poder jovem”, continuará apontando para o futuro com a chama do entusiasmo.  Entusiasmo significa “Deus dentro” e tenho certeza Ele guiará também nossos passos no futuro

No palco do Bar Vila Lobo, os músicos da região demonstraram que o Campo das Vertentes é fértil em musicalidade. Surpreendeu-nos o show que ali foi improvisado, todos sob a orientação do Tuca. Surpreendeu-nos uma família inteira de músicos, desde as crianças até os idosos cantando canções autorais. A alegria que eles conseguiram distribuir foi incontestável. Existe uma força interior que une as pessoas através da arte: cantores, pesquisadores, seresteiros, pagodeiros, todos movidos por uma só energia. Parabéns Teresa e a todos que contribuíram para este evento, vocês nos trouxeram momentos de grande alegria, evidente nos olhos das crianças e no sorriso dos idosos. Todos formamos um círculo harmonioso que vai se propagando e continuará com a chama do entusiasmo, levando a arte para todos os recantos desta região privilegiada de Minas Gerais.

*Fotos de Alejandro Restrepo e Janaína Ribeiro

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quinta-feira, 1 de março de 2012

GUIGNARD O MESTRE IV

A influência de Guignard sobre seus alunos não pode ser medida pela melhor maneira de copiar o mestre em suas telas, mas na maneira de segui-lo em seu entusiasmo pela arte, seu amor pela natureza e pelas crianças, seu lirismo perante a vida, seu desprendimento pelo dinheiro, seu estímulo à pesquisa e à iniciativa individual. Juntamente com o aprendizado técnico, Guignard procurava formar no aluno toda uma filosofia de vida.
Sua disciplina não se fundamentava em conceitos teóricos, mas na experiência. Guignard era curioso, gostava de observar cenas de rua e registrá-las em pequenos croquis. Escondia-se atrás das árvores para não ser visto. Um dia, encontrei-o numa avenida central de Belo Horizonte, captando as cenas dolorosas de um enterro. Tentava passar despercebido, mas as crianças, sentadas no meio-fio repetiam em coro:
- Ei, Guignard!
Guignard tentava impedir a imprudência das crianças, mas elas continuavam a importunar o mestre, gritando mais alto ainda:
- Olha o Guignard desenhando!
Os pequenos croquis que fazia nas ruas, serviam de motivação para futuros quadros. Recomendava registrar os acontecimentos do cotidiano, captar o momento presente em sua intensidade emocional, para depois recriá-los no papel ou na tela:
- "Façam croquis do natural, estejam atentos ao movimento das ruas, aos mercados, às feiras, às festas de S. João, aos casamentos, aos enterros... O croquis é necessário, ele é a base de tudo!"
Guignard detestava o academismo gerador de formas estereotipadas. O importante era o nascimento do novo. O que realmente pertencia à essência do aluno. Disciplina e liberdade se conjugavam para a formação dos alunos, não somente no nível estético, mas também no plano do desenvolvimento humano.

Guignard sempre foi conhecido por seu desprendimento e generosidade. Conta-se que em uma ocasião admirava um de seus quadros, a imagem de um Cristo, numa Galeria do Rio de Janeiro. A jovem atendente, não o reconhecendo, comentou com ele sobre o grande artista, autor daquela obra. Guignard se identificou e lhe disse que estava admirando a moldura que haviam colocado no quadro. No final da conversa ela lhe perguntou a quem havia vendido aquele quadro. Ele então lhe contou que havia dado o quadro de presente para uma estudante de Ouro Preto.

Foram alunos de Guignard, em Minas Gerais, entre outros, os seguintes artistas plásticos: Aparecida Carvalho Barbosa, Bax, Chanina Sznbejn, Heitor Coutinho, Amilcar de Castro, Holmes Neves, Laetitia Renault, Álvaro Apocalypse, Jarbas Juarez, Wilde Lacerda, Aneto, Vilma Rabelo, Ione Fonseca, Santa, Sara Ávila, Leda Gontijo, Haroldo Matos, Wilma Martins, Maria Helena Andrés, Lizete Meinberg, Eduardo de Paula, Ruth Michel Perrela, Yara Tupinambá, Solange Botelho, Jeferson Lodi, Amarylles Coelho Teixeira, Marília Giannetti Torres, Mário Silésio, Estevão José de Souza, Mary Vieira, Gavino Mudado Filho, Nina Xavier, Melo Alvarenga, Augusto Degois, Washington Filho e Célia Laborne Tavares.

Postagens antigas sobre Guignard:
“Inauguração do acervo de Guignard” – 28/04/2009
“Nossa Senhora e o Anjo, tema de Guignard” – 02/11/2009
“Escola Guignard, alunos professores” – 02/12/2010

*Fotos da internet
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