O quadro “Alvorada Vermelha” deu início à minha fase de guerra.
Pintado logo pós a minha viagem aos Estados Unidos,
simboliza o clima de guerra que se espalhou pela América do Norte ao Sul.
Viajei no auge da guerra fria, quando a ameaça da
bomba atômica assustava os americanos.
Naquela viagem assisti a um treino de guerra em Nova
York.
O impacto de uma guerra atômica é terrível, a gente
sente a morte de perto.
Hoje, com o corona vírus, a morte continua a
amedrontar.
Os artistas de modo geral são pessoas mais sensíveis
a essas vibrações que se espalham pelo mundo. Naquela ocasião era a guerra
fria, a bomba atômica.
Eu cheguei aos Estados Unidos com a minha fase de
barcos, desenhos líricos , em papel veludo. Ali fiz quatro exposições, com muito
sucesso. Tive contato com grupos ligados
à “Action painting” e fiz um curso em Nova York na escola Art Student
League, com o professor Theodorus
Stamus. Ali conheci artistas ligados ao zen budismo e pude perceber a
espontaneidade do “Aqui e Agora” na arte, bem como a importância da arte como
forma de meditação.
Voltando ao Brasil, retomei a pintura, e o “Alvorada
Vermelha” marcou o início de uma nova fase, uma denúncia à violência a à guerra.
Nos Estados Unidos, a guerra fria, no Brasil a
violência, a tortura e a morte nas prisões da ditadura, demonstrado por mim nas
telas de guerra.
Por isso mesmo o quadro é um símbolo daquele clima
da época.
Foi pintado no Brasil na época em que chegaram as
tintas acrílicas.
“Alvorada Vermelha” é um ponto de mutação. Não
somente na sua temática explosiva, como em sua técnica.
Substituir o óleo pelo acrílico estava na época
sendo introduzido nos Estados Unidos. A tinta acrílica possibilita maior
leveza, uma semelhança com a aquarela.
O quadro foi pintado em 1968, sob um clima de grande
tensão no planeta.
Eu me lembro de pintar na ocasião, com pedaços de esponja
rasgados e pedaços de isopor também rasgados. Era necessário um contato direto
da minha mão com a tela. O pincel me parecia criar distância.
No momento da criação usamos de recursos criados na
hora.
Voltando ao “Alvorada Vermelha”, ele significou uma
mudança no meu processo. As cores vermelho
preto teriam que falar por elas mesmas, sem recursos literários.
E foi assim que o “Alvorada vermelha” foi pintado. Ele
já participou de uma Sala Especial na Bienal de São Paulo, denominada “Arte abstrata efeito Bienal”organizada por
Cassimiro Xavier, crítico de arte.
Hoje este quadro está em Lisboa, na casa de Antônio
Eugênio de Salles Coelho e Renata
Guerra. Este quadro atualmente, tem servido como inspiração para várias
releituras.
Que a sua denúncia à guerra e à opressão seja
compreendida por todos, é o que eu desejo no momento. Que esteja em boas mãos.
Fotos de Ivana Andrés e de arquivo
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Adorei o texto e fiquei muito curioso pra ver o quadro. Você teria uma foto dele?
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