domingo, 13 de setembro de 2020

ALVORADA VERMELHA

O quadro “Alvorada Vermelha” deu início à minha fase de guerra.

Pintado logo pós a minha viagem aos Estados Unidos, simboliza o clima de guerra que se espalhou pela América do Norte ao Sul.

Viajei no auge da guerra fria, quando a ameaça da bomba atômica assustava os americanos.

Naquela viagem assisti a um treino de guerra em Nova York.

O impacto de uma guerra atômica é terrível, a gente sente a morte de perto.

Hoje, com o corona vírus, a morte continua a amedrontar.

Os artistas de modo geral são pessoas mais sensíveis a essas vibrações que se espalham pelo mundo. Naquela ocasião era a guerra fria, a bomba atômica.

Eu cheguei aos Estados Unidos com a minha fase de barcos, desenhos líricos , em papel veludo. Ali fiz quatro exposições, com muito sucesso. Tive contato com grupos ligados  à “Action painting” e fiz um curso em Nova York na escola Art Student League, com o professor Theodorus  Stamus. Ali conheci artistas ligados ao zen budismo e pude perceber a espontaneidade do “Aqui e Agora” na arte, bem como a importância da arte como forma de meditação.

Voltando ao Brasil, retomei a pintura, e o “Alvorada Vermelha” marcou o início de uma nova fase, uma denúncia à violência a à guerra.

Nos Estados Unidos, a guerra fria, no Brasil a violência, a tortura e a morte nas prisões da ditadura, demonstrado por mim nas telas de guerra.

Por isso mesmo o quadro é um símbolo daquele clima da época.

Foi pintado no Brasil na época em que chegaram as tintas acrílicas.

“Alvorada Vermelha” é um ponto de mutação. Não somente na sua temática explosiva, como em sua técnica.

Substituir o óleo pelo acrílico estava na época sendo introduzido nos Estados Unidos. A tinta acrílica possibilita maior leveza, uma semelhança com a  aquarela.

O quadro foi pintado em 1968, sob um clima de grande tensão no planeta.

Eu me lembro de pintar na ocasião, com pedaços de esponja rasgados e pedaços de isopor também rasgados. Era necessário um contato direto da minha mão com a tela. O pincel me parecia criar distância.

No momento da criação usamos de recursos criados na hora.

Voltando ao “Alvorada Vermelha”, ele significou uma mudança no meu processo.  As cores vermelho preto teriam que falar por elas mesmas, sem recursos literários.

E foi assim que o “Alvorada vermelha” foi pintado. Ele já participou de uma Sala Especial na Bienal de São Paulo, denominada  “Arte abstrata efeito Bienal”organizada por Cassimiro Xavier, crítico de arte.

Hoje este quadro está em Lisboa, na casa de Antônio Eugênio de Salles Coelho e  Renata Guerra. Este quadro atualmente, tem servido como inspiração para várias releituras.

Que a sua denúncia à guerra e à opressão seja compreendida por todos, é o que eu desejo no momento. Que esteja em boas mãos.

Fotos de Ivana Andrés e de arquivo

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