Esta é uma homenagem a Rubens
Gerchman por sua visão holística da arte.
(depoimento obtido em 1976 no
Rio)
“Nossa visão egocêntrica
deverá evoluir para uma consciência total, comunitária”. Lembrando estas
palavras proféticas de Vasarely, podemos trazê-las para o ensino da arte. Uma
escola de arte, para ser realmente renovadora, tem de ser participante dessa
consciência total. Não são os currículos nem a burocracia que a fazem crescer,
mas antes de tudo o entusiasmo e a força criadora de seus líderes. A
criatividade, impulsionando uma organização, torna-se uma força geradora em
pleno movimento. Podemos sentir a presença desta energia renovadora na Escola
de Artes Visuais do Rio de Janeiro, orientada por um grupo de professores,
tendo à frente o conhecido artista Rubens Gerchman. Trazendo a criatividade
para a vida, ele a põe a serviço do bem comum. De acordo com seu próprio
depoimento: “Quando concebi a nova escola de artes visuais, pensei em sua
estrutura como uma ampla rede comunicante, onde a informação pode fluir
constantemente, modificando e reorientando as diversas áreas de conhecimento”.
Dentro deste esquema flexível, aberto ao novo, a Escola de Artes Visuais
elabora um trabalho de síntese que se estende para outros campos de atividades
artísticas, visando despertar o aluno para uma visão global da arte e da
vida.
Procurei entrar em contato
com a escola de modo geral, admirando o seu sentido dinâmico e renovador.
Tive a oportunidade de
assistir a uma aula da Oficina do Corpo, dirigida por Hélio Eichbauer.
Percebe-se a preocupação do professor de conduzir seus alunos para a consciência
da unidade.
“Sua atuação como cenógrafo
em treze anos de intensa atividade profissional e sobretudo sua flexibilidade
como artista pesquisador, seu interesse por música, dança, teatro e pintura
(artes plásticas) possibilitaram a realização de uma proposta aglutinadora
dessas diversas manifestações de arte. Lembro-me de Jackson Pollock pintando
com o corpo, gestos sobre telas estendidas no chão (action painting), dos
calígrafos japoneses, das manifestações do body-art nos anos 70, tentativas de
recuperação do equilíbrio mente-corpo, e observo a transformação desta
informação em experiência vivida nos trabalhos de criação coletiva dos alunos
de Hélio Eichbauer”. Assim se expressou Rubens Gerchman sobre seu colega da
Oficina do Corpo, por ocasião da exposição comemorativa de seus treze anos de
produção em cenografia. Hélio Eichbauer leva o aluno à consciência do corpo,
dentro de uma pesquisa coletiva. Dentro desta visão total, a arte poderá se
estender para a vida e se realizar na própria vida.
Em minhas visitas à Escola de
Artes Visuais, o que mais me chamou a atenção desde o início foi a
possibilidade do aluno obter conhecimento através da própria vivência
transmutada ao nível consciente. Dentro desse caminho de abertura da percepção
encontrei, no curso de transformação de materiais a cargo da professora Celeida
Tostes, uma verdadeira abordagem de alquimia. Tendo-se aperfeiçoado em
arte-educação na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, Celeida conduz seus alunos
a uma relação sensorial com os quatro elementos da natureza: fogo, terra,
água e ar, anexados a elementos e substâncias químicas. A apreensão direta do
conhecimento é percebida através dos cinco sentidos, buscando a síntese corpo e
mente. Suas aulas não conduzem apenas à observação visual das formas, mas
ultrapassam o mundo do conhecido, para mergulhar no desconhecido. Trazendo a
mensagem do inconsciente para o consciente, o aluno estará apto a encontrar seu
próprio ritmo destruindo, criando e transformando a matéria dentro deste ritmo.
Há uma busca das origens nessa descoberta interior que permite, através da
transmutação dos elementos da natureza, também a compreensão do relacionamento
homem-universo.
*Fotos da internet
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