segunda-feira, 23 de outubro de 2017

EMOÇÃO E TÉCNICA III

O desenvolvimento da arte é feito através do trabalho, não de palavras.

Seu destino é dirigido por força desconhecida e impossível de ser dominada. Obedecendo unicamente à lei dessa necessidade interior, o artista procurará aprofundar esta verdade nova que surge. Um trabalho contínuo e ininterrupto há de gerar sempre uma ideia também logicamente contínua, sem grandes saltos. 

Uma fase nasce de outra como uma cascata, ligando-se à fase inicial por mudanças transitórias que determinam o início de uma transformação. Às vezes, é a necessidade de um material novo, ou da ausência de cor. É a necessidade de papel branco e da linha apenas como veículo de expressão.

         Um dia a cor voltará a ser explorada e sentida, e neste dia o desenho já não será mais necessário. As fases de um artista são espontâneas, não vêm de encomenda. Independem de leis externas e nunca poderão ser medidas, calculadas. Sua duração é a própria duração de um clima interior. 

A paisagem do artista é uma paisagem imaginária, sem relação com a paisagem real vista por todos. A mesma paisagem poderá inspirar tanto uma cidade, quanto uma esquadra no mar, dependendo da ocasião em que foi vista. Uma forma, uma linha, servirão apenas de pretexto para se achar aquela forma e aquela linha que sempre se desejou obter.

         Um mesmo grupo de nuvens poderá sugerir anjos, animais, demônios, ou simplesmente formas abstratas, dependendo da fase que o artista atravessa no momento. Naturalmente, quando esgotada uma fase, nascerá outra por uma natural e espontânea necessidade de renovação.

         O caminho da arte é longo, tem suas surpresas, seus imprevistos, revelando a cada passo a alvorada de uma nova ideia. (Trecho do meu livro “Vivência e Arte”, editora Agir, 1967)

*Fotos de arquivo

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