terça-feira, 10 de outubro de 2017

EMOÇÃO E TÉCNICA II

O ensino das artes plásticas é individual, seguindo as possibilidades de cada artista em particular. O aluno, quando realmente tem talento, sempre acha os seus meios de expressão, e, às vezes, surpreende o mestre com suas descobertas.

         Apenas orientado no momento preciso, ele poderá progredir de um modo mais autêntico do que recebendo, cegamente, as ordens exteriores.

         A vivência artística se enriquece muito mais com a própria experiência e as próprias descobertas, do que com a preocupação exagerada de consultar os tratados de técnica e de matemática, à procura da maneira exata e correta de se fazer pintura.

         A pintura é fruto de trabalho, de sofrimento e de abnegação. Neste clima de pesquisa, a emoção não surge desordenada e inconsciente, como na criança.

         Ela é corrigida e aperfeiçoada pela técnica, e ordenada pela experiência do artista, no sentido de um progresso sereno e ininterrupto.

         A experiência, naturalmente, controla a emoção e o artista já amadurecido conseguirá a fusão da disciplina com a liberdade, que é o clima essencial para a criação ao mesmo tempo espontânea e consciente.
         Ele deve saber ser fiel a si próprio, respondendo ao seu impulso interior com a máxima sinceridade, sem deixar que nisto intervenha nenhum interesse externo.
         Suas emoções não podem ser antecipadamente programadas num itinerário. Delineia-se este com o tempo, olhando para trás, depois de trilhado o caminho. Nunca premeditado intelectualmente. A evolução normal de um artista não significa uma ruptura com o passado, mas sua continuidade. Às vezes, mais tarde, uma das fases anteriores é revivida, para se enriquecer de soluções novas. Fiel ao impulso nascido espontaneamente, dentro de sua alma, o artista se volta com entusiasmo para o trabalho, renovando técnicas, renovando formas, porém fazendo viver dentro delas o seu espírito, o seu modo pessoal de sentir as coisas. (Trecho do meu livro “Vivência e Arte”, editora Agir, 1967)

Atualmente, 50 anos depois da publicação deste texto, estou fazendo uma releitura da minha fase construtivista. Meus desenhos de via sacra da década de 50, com a utilização do computador, se transformaram em esculturas.

*Fotos de arquivo

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