Ao ler a página de Wagner Nardy, que , juntamente
com minha filha, Marília Andrés, realizou
a curadoria da minha exposição,
pude ver, com muita clareza, a dinâmica da minha trajetória. Esta mostra
representa uma volta às origens, quando participei do movimento construtivista
brasileiro. Naquela época os meus quadros construtivos conservavam lembranças
do figurativo. Hoje as minhas colagens são composições onde as linhas e cores
são construídas diretamente.
Transcrevo abaixo o texto de Wagner Nardy:
“A exposição A Construção da Cor de Maria Helena
Andrés celebra os 95 anos desta grande artista.
Apresentando uma série inédita de trabalhos em
colagem e duas fotografias, a exposição revisita a produção da década de 50 da
artista, momento este em que seu trabalho estava fortemente ligado à essência
Construtivista.
Ocorre- me citar MALEVITCH, quando o mesmo, em seu
manifesto Construtivista defende: “a forma intuitiva deve sair do nada. Essas
formas não serão repetições ou representações de coisas vivas da realidade
natural: serão, porém, a coisa viva em si mesma. A natureza é um quadro vivo
que se pode admirar. Porém todo milagre
está na criação artística em si mesma. E Criar significa, viver, produzir
eternamente coisas sempre novas”.
Andrés nos mostra claramente a aptidão pelas
palavras do mestre ao nos apresentar, a esta altura, com maestria sublime, através
de formas simples e diretas a construção da cor.
As composições de Maria Helena são donas de um ritmo
único, singular e inauguram um tempo próprio que guarda profunda relação com as
vivências orientais da artista e as questões ligadas ao conhecimento e domínio
da mente.
Porém, o que mais nos chama atenção é como a artista
cria uma comoção sublime em torno da contemplação de seus trabalhos.
O sublime na arte de Maria Helena Andrés parece-me surgir
como um embate simbólico e fatal entre as forças concretas da natureza e a
concretude da razão que nos habita.
Desse confronto a poética da obra de Maria Helena transcende
o tempo e o espaço irrompendo em música, dança e cor.
Segundo KANT, o Sublime é mesmo e fundamentalmente
isto: “ a mera habilidade de pensar, a qual demonstra uma faculdade da mente
que ultrapassa qualquer medida de sensação.”
Os trabalhos de Maria Helena aos quais agora temos o
privilégio de experimentar causam este silêncio, prodígio da consciência – essa
janela repentina abrindo-se para uma paisagem iluminada pelo sol em meio à
noite do não ser.
Tal qual o celebre escritor Vladimir Nabokov
respondeu ao ser indagado se algo na vida o surpreendia.
É como me sinto.
Fotos de Artur Andrés e de arquivo
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