terça-feira, 3 de novembro de 2015

ARTESANATO FAMILIAR E MÚSICA INDIANA


Na Índia, como a máquina ainda não tomou a liderança nas atividades domésticas e a televisão ainda é um privilégio para poucas famílias, atividades artísticas e manuais são uma forma de unir as famílias. Eles sentam-se no chão, com tesouras espalhadas, papéis, arames, tecidos, e trabalham juntos.
A feitura de bonecas é tarefa da dona de casa, envolvendo avós e avôs. Há um festival de bonecas a cada ano, que muda de acordo com o calendário Hindu. O Festival Dasara, como é chamado, dura dez dias e começa na lua de outubro. Em Mysore há uma cerimônia da boneca feita a mão em frente à deusa de 16 mãos Shakti (em Chamundi hills, sul da Índia). Os hindus a veneram como exterminadora do orgulho. Artistas e artesãos se ajoelham com suas bonecas e humildemente imploram pela destruição do ego.
No vale do Jequitinhonha, no interior de Minas Gerais, o artesanato é um modo de sobrevivência para um grande número de famílias. As famílias vivem juntas, como na índia. Há uma fileira de casas formando um pequeno quarteirão e em cada casa um forno de cerâmica. O barro é moldado por mãos femininas. Ele é batido numa mesa de forma primitiva e levado ao forno para cozinhar. Lidando com terra, água e fogo, as artesãs chegam próximas da essência do ser humano, algumas vezes por meio dos mesmos símbolos e arquétipos que inspiraram artesãos em outras partes do mundo. Há uma liberdade para criar figuras de quatro ou cinco cabeças nos grandes vasos de cerâmica utilitária e também há, como na Índia, descrições de cenas de casamentos e procissões, hábitos dos homens do interior, suas práticas de trabalho, seus sonhos.


A cultura milenar da Índia data da era dos Vedas, e os livros sagrados eram cantados durante sacrifícios ao ar livre. Os livros eram as composições dos rishis, transmitidas oralmente de geração a geração.
Há uma grande afinidade entre a música religiosa indiana e o canto gregoriano, música de forma circular e repetitiva. Em seu aspecto mais popular, a música indiana lembra os desafios cantados por violeiros nordestinos ou as cantigas do folclore brasileiro de origem africana.
Na música indiana, como nos desafios brasileiros, há sempre uma parte estrutural formando uma moldura para a improvisação criada no impulso do momento.
Na Índia, esses desafios e improvisações são feitos com instrumentos de percussão tais como tablas, uma de metal e outra de madeira. No Brasil, a percussão é feita com tambores, atabaques, cabaças, agogôs. Há um ritual completo para criar a tabla, do mesmo modo como no Brasil há um ritual e mesmo um batismo dos instrumentos com água sagrada da igreja mais próxima, na construção de um tambor sagrado.
Há também uma troca espontânea com outros países por meio da música brasileira e sentimos que os músicos em geral são, no presente, os melhores difusores de nossa cultura na Índia, especialmente em Goa, ex-colônia de Portugal.(Quarta parte do estudo comparativo apresentado no Seminário de Goa, 1983)

*Fotos de Maurício Andrés e da internet

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