Na Índia, como a máquina ainda não tomou a liderança
nas atividades domésticas e a televisão ainda é um privilégio para poucas
famílias, atividades artísticas e manuais são uma forma de unir as famílias.
Eles sentam-se no chão, com tesouras espalhadas, papéis, arames, tecidos, e
trabalham juntos.
A feitura de bonecas é tarefa da dona de casa,
envolvendo avós e avôs. Há um festival de bonecas a cada ano, que muda de
acordo com o calendário Hindu. O Festival Dasara, como é chamado, dura dez dias
e começa na lua de outubro. Em Mysore há uma cerimônia da boneca feita a mão em
frente à deusa de 16 mãos Shakti (em Chamundi hills, sul da Índia). Os hindus a
veneram como exterminadora do orgulho. Artistas e artesãos se ajoelham com suas
bonecas e humildemente imploram pela destruição do ego.
No vale do Jequitinhonha, no interior de Minas
Gerais, o artesanato é um modo de sobrevivência para um grande número de
famílias. As famílias vivem juntas, como na índia. Há uma fileira de casas
formando um pequeno quarteirão e em cada casa um forno de cerâmica. O barro é
moldado por mãos femininas. Ele é batido numa mesa de forma primitiva e levado
ao forno para cozinhar. Lidando com terra, água e fogo, as artesãs chegam
próximas da essência do ser humano, algumas vezes por meio dos mesmos símbolos
e arquétipos que inspiraram artesãos em outras partes do mundo. Há uma
liberdade para criar figuras de quatro ou cinco cabeças nos grandes vasos de cerâmica
utilitária e também há, como na Índia, descrições de cenas de casamentos e
procissões, hábitos dos homens do interior, suas práticas de trabalho, seus
sonhos.
A cultura milenar da Índia data da era dos Vedas, e
os livros sagrados eram cantados durante sacrifícios ao ar livre. Os livros
eram as composições dos rishis, transmitidas oralmente de geração a geração.
Há uma grande afinidade entre a música religiosa
indiana e o canto gregoriano, música de forma circular e repetitiva. Em seu
aspecto mais popular, a música indiana lembra os desafios cantados por
violeiros nordestinos ou as cantigas do folclore brasileiro de origem africana.
Na música indiana, como nos desafios brasileiros, há
sempre uma parte estrutural formando uma moldura para a improvisação criada no
impulso do momento.
Na Índia, esses desafios e improvisações são feitos
com instrumentos de percussão tais como tablas, uma de metal e outra de
madeira. No Brasil, a percussão é feita com tambores, atabaques, cabaças,
agogôs. Há um ritual completo para criar a tabla, do mesmo modo como no Brasil
há um ritual e mesmo um batismo dos instrumentos com água sagrada da igreja
mais próxima, na construção de um tambor sagrado.
Há também uma troca espontânea com outros países por
meio da música brasileira e sentimos que os músicos em geral são, no presente,
os melhores difusores de nossa cultura na Índia, especialmente em Goa,
ex-colônia de Portugal.(Quarta parte do estudo comparativo apresentado no Seminário de Goa, 1983)
*Fotos de Maurício Andrés e da internet
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