domingo, 22 de novembro de 2020

PABLO NERUDA

 Eu estava no Chile, na embaixada do Brasil, quando inaugurei a primeira exposição de desenhos sobre papel veludo. Estava inaugurando a Galeria da Embaixada. A exposição teve como curador o poeta Tiago de Melo, adido cultural do Brasil naquele país e organizador da exposição e de todos os eventos culturais.Tiago era muito conhecido no Chile, tinha contato com todos os artistas.

Juíta Salles de Alencar, a embaixatriz, esposa do embaixador Fernando Alencar, com sua espontaneidade e simpatia, acolhia a todos na embaixada. Fiquei conhecendo vários artistas, trocamos idéias e quadros.

Tiago de Melo me fez chegar até Pablo Neruda, o grande poeta chileno, conhecido internacionalmente. Neruda tinha uma casa de campo à beira mar, na “Isla Negra” em Valparaíso e foi ali que nos conhecemos. A casa era decorada  com obras de arte e atualmente tornou-se o Museu Pablo Neruda.

Um imenso cavalo de madeira chamava a atenção do visitante. Uma atmosfera mágica ia nos mostrando um passado sujeito a mudanças, inclusive provocadas por terremotos.

Durante o almoço, num restaurante de frente para a praia, serviram frutos do mar. Neruda sentou ao meu lado, numa varanda que dava para o Pacífico.

Tudo muito bem organizado, restaurante de luxo, gente muito alegre e comunicativa. Acontece que eu não gostava de mariscos e aquele era o prato principal. Procurei disfarçar, comi um pouco para não ser mal educada. Neruda percebeu e cochichou no meu ouvido.

- “A senhora não gosta, me passa o seu prato, ninguém vai perceber nada”.

Segui os conselhos do poeta e trocamos de prato. Ninguém viu, estavam em outras conversas. Durante o almoço falamos muito sobre arte e política no Brasil. Era 1963 e havia no Brasil uma grande efervescência política.

Naquela viagem tive a oportunidade de conhecer Neruda, um poeta latino- americano cujas palavras atravessaram os Andes e se projetaram no planeta. Ali, sentada à beira mar, as palavras de Neruda me abriram novos caminhos e sua atitude, cordial e simpática, me permitiu conhecer este outro aspecto de Neruda, a solidariedade.

A solidariedade é uma forma de perceber o outro, e nesse caso, foi uma cumplicidade que envolveu duas pessoas com paladares diferentes.

Segue poema de Pablo Neruda:

SONETO XVII

 

Amo-te como a planta que não floriu e tem

dentro de si, escondida, a luz das flores,

e, graças ao teu amor, vive obscuro em meu corpo

o denso aroma que subiu da terra.

Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,

amo-te diretamente sem problemas nem orgulho:

amo-te assim porque não sei amar de outra maneira,

a não ser deste modo em que nem eu sou nem tu és,

tão perto que a tua mão no meu peito é minha,

tão perto que os teus olhos se fecham com meu sono.”

 

*FOTOS DA INTERNET

 

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Um comentário:

  1. Gosto muito quando uma experiência tão subjetiva e pessoal, como a sua, é evocada com sensibilidade

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