Eu estava no Chile, na embaixada do Brasil, quando inaugurei a primeira exposição de desenhos sobre papel veludo. Estava inaugurando a Galeria da Embaixada. A exposição teve como curador o poeta Tiago de Melo, adido cultural do Brasil naquele país e organizador da exposição e de todos os eventos culturais.Tiago era muito conhecido no Chile, tinha contato com todos os artistas.
Juíta Salles de Alencar, a embaixatriz, esposa do
embaixador Fernando Alencar, com sua espontaneidade e simpatia, acolhia a todos
na embaixada. Fiquei conhecendo vários artistas, trocamos idéias e quadros.
Tiago de Melo me fez chegar até Pablo Neruda, o
grande poeta chileno, conhecido internacionalmente. Neruda tinha uma casa de
campo à beira mar, na “Isla Negra” em Valparaíso e foi ali que nos conhecemos. A
casa era decorada com obras de arte e
atualmente tornou-se o Museu Pablo Neruda.
Um imenso cavalo de madeira chamava a atenção do visitante.
Uma atmosfera mágica ia nos mostrando um passado sujeito a mudanças, inclusive
provocadas por terremotos.
Durante o almoço, num restaurante de frente para a
praia, serviram frutos do mar. Neruda sentou ao meu lado, numa varanda que dava
para o Pacífico.
Tudo muito bem organizado, restaurante de luxo,
gente muito alegre e comunicativa. Acontece que eu não gostava de mariscos e
aquele era o prato principal. Procurei disfarçar, comi um pouco para não ser
mal educada. Neruda percebeu e cochichou no meu ouvido.
- “A senhora não gosta, me passa o seu prato,
ninguém vai perceber nada”.
Segui os conselhos do poeta e trocamos de prato. Ninguém
viu, estavam em outras conversas. Durante o almoço falamos muito sobre arte e política
no Brasil. Era 1963 e havia no Brasil uma grande efervescência política.
Naquela viagem tive a oportunidade de conhecer
Neruda, um poeta latino- americano cujas palavras atravessaram os Andes e se
projetaram no planeta. Ali, sentada à beira mar, as palavras de Neruda me
abriram novos caminhos e sua atitude, cordial e simpática, me permitiu conhecer
este outro aspecto de Neruda, a solidariedade.
A solidariedade é uma forma de perceber o outro, e
nesse caso, foi uma cumplicidade que envolveu duas pessoas com paladares
diferentes.
Segue poema de Pablo Neruda:
“SONETO XVII
Amo-te como a planta que não floriu e tem
dentro de si, escondida, a luz das flores,
e, graças ao teu amor, vive obscuro em meu corpo
o denso aroma que subiu da terra.
Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,
amo-te diretamente sem problemas nem orgulho:
amo-te assim porque não sei amar de outra maneira,
a não ser deste modo em que nem eu sou nem tu és,
tão perto que a tua mão no meu peito é minha,
tão perto que os teus olhos se fecham com meu sono.”
*FOTOS DA INTERNET
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PÁGINA.
Gosto muito quando uma experiência tão subjetiva e pessoal, como a sua, é evocada com sensibilidade
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