segunda-feira, 12 de outubro de 2015

INFLUENCIAS CULTURAIS INDO-PORTUGUESAS NO BRASIL

O texto abaixo foi apresentado em 1983 num seminário Indo-Português em Goa, Índia. Naquele seminário eu fui a única representante do Brasil.
“Este trabalho é uma tentativa de uma síntese oriente-ocidente por meio de um estudo comparativo entre a colonização portuguesa no Brasil e na Índia. Os portugueses, no tempo das descobertas, anexaram à coroa portuguesa parte do território indiano e o domínio português em Goa, Damão e Diu, na costa oeste da Índia, durou até 1961, quando a Índia anexou de volta a seu território as terras ocupadas pelos portugueses.
Brasil e Índia, frutos dos trópicos
Introduzindo esse estudo comparativo dos paralelos e contrastes entre culturas ocidentais e orientais que focaliza o caso especifico do Brasil e da Índia, criado pela expansão do império Português, citamos as palavras de Fernando L. Gomes, escritas na base do monumento em sua homenagem em Pangim, Goa: “ Se dependesse de mim a fusão de todas as raças, todas as castas, todos os privilégios, numa única família, compacta e unida, eu sacrificaria tudo para alcançar isso. Esse dia seria para meu coração um dia de ventura real.”
Sentindo as semelhanças que existem entre povos e os contrastes derivados de diferentes culturas, observando como essas culturas se comunicam, começamos a compreender que os seres humanos pertencem realmente a uma única família. Há ocasiões que promovem as semelhanças entre países que às vezes estão muito distantes, como a Índia e o Brasil. Esses países parecem ser irmãos. Quando estávamos no vale do Jequitinhonha em Minas Gerais, pudemos sentir uma ligação que relacionava essas culturas, na dança, na música, nos duelos cantados, no artesanato, na organização familiar e nas festividades populares. Por quê tal semelhança?
Isso eu deixo aos pesquisadores, antropólogos e historiadores. Como artista, tudo o que faço é perceber as afinidades que ligam os povos. Há calor humano, afetividade, comunicação e religiosidade no povo simples, ligado à terra e as tradições e usando suas mãos em seu trabalho, mais frequentemente do que as máquinas.
Há espontaneidade e alegria nas boas vindas ao visitante que chega, a mesma sinceridade que pude testemunhar no sul da Índia, onde estive muitas vezes nos últimos anos e, de modo especial, em Goa, ex-colônia portuguesa, uma terra irmã do Brasil, não somente em seus aspectos geográficos mas também em suas manifestações culturais e humanas.
Essas duas regiões da Terra se assemelham sob o sol dos trópicos, misturando-se sob a mesma intensidade de luz e de cor. No Vale do Jequitinhonha o verão aquece cidades e vilas, diminuindo o ritmo do sertanejo. Na Índia, também, o sol escaldante do verão brilha sobre os campos e aldeias, trazendo o mesmo comportamento aos seus habitantes.
Todo o nordeste brasileiro e o sudoeste da Índia têm os mesmos traços de vegetação. Na Índia, como no nordeste brasileiro, os coqueiros são a riqueza da região. Famílias pobres fazem suas choupanas de folhas de coqueiros, usam os cocos para muitas finalidades, bebem a água de coco. Houve uma troca de sementes por meio dos portugueses. Os conquistadores espalharam por terras distantes muitas flores e frutos.
O caju foi do Brasil para a Índia, a manga veio da Índia para o Brasil. Diferentes continentes se comunicaram entre si por meio de sementes, flores e frutos que desabrochavam em diferentes regiões do globo terrestre, promovendo a integração que cresceu da terra.
Mas foi nos mares que as culturas oriental e ocidental foram capazes de se encontrar. As várias colônias sob o domínio português se conectaram por meio das caravelas que cruzavam os oceanos e mares, colocando em contato diferentes culturas e civilizações.
Foi o espírito aventureiro e a paciência para suportar longos meses no mar, foi a busca de riquezas e a necessidade de expandir o credo cristão e assegurá-lo com o poder terreno, que intensificaram no passado a síntese do oriente e do ocidente.

*Fotos da internet

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