O texto abaixo foi
apresentado em 1983 num seminário Indo-Português em Goa, Índia. Naquele
seminário eu fui a única representante do Brasil.
“Este trabalho é uma
tentativa de uma síntese oriente-ocidente por meio de um estudo comparativo
entre a colonização portuguesa no Brasil e na Índia. Os portugueses, no tempo
das descobertas, anexaram à coroa portuguesa parte do território indiano e o
domínio português em Goa, Damão e Diu, na costa oeste da Índia, durou até 1961,
quando a Índia anexou de volta a seu território as terras ocupadas pelos
portugueses.
Brasil
e Índia, frutos dos trópicos
Introduzindo esse
estudo comparativo dos paralelos e contrastes entre culturas ocidentais e
orientais que focaliza o caso especifico do Brasil e da Índia, criado pela
expansão do império Português, citamos as palavras de Fernando L. Gomes,
escritas na base do monumento em sua homenagem em Pangim, Goa: “ Se dependesse
de mim a fusão de todas as raças, todas as castas, todos os privilégios, numa
única família, compacta e unida, eu sacrificaria tudo para alcançar isso. Esse
dia seria para meu coração um dia de ventura real.”
Sentindo as semelhanças
que existem entre povos e os contrastes derivados de diferentes culturas,
observando como essas culturas se comunicam, começamos a compreender que os
seres humanos pertencem realmente a uma única família. Há ocasiões que promovem
as semelhanças entre países que às vezes estão muito distantes, como a Índia e
o Brasil. Esses países parecem ser irmãos. Quando estávamos no vale do
Jequitinhonha em Minas Gerais, pudemos sentir uma ligação que relacionava essas
culturas, na dança, na música, nos duelos cantados, no artesanato, na organização
familiar e nas festividades populares. Por quê tal semelhança?
Isso eu deixo aos
pesquisadores, antropólogos e historiadores. Como artista, tudo o que faço é
perceber as afinidades que ligam os povos. Há calor humano, afetividade,
comunicação e religiosidade no povo simples, ligado à terra e as tradições e
usando suas mãos em seu trabalho, mais frequentemente do que as máquinas.
Há espontaneidade e
alegria nas boas vindas ao visitante que chega, a mesma sinceridade que pude
testemunhar no sul da Índia, onde estive muitas vezes nos últimos anos e, de
modo especial, em Goa, ex-colônia portuguesa, uma terra irmã do Brasil, não
somente em seus aspectos geográficos mas também em suas manifestações culturais
e humanas.
Essas duas regiões da
Terra se assemelham sob o sol dos trópicos, misturando-se sob a mesma
intensidade de luz e de cor. No Vale do Jequitinhonha o verão aquece cidades e
vilas, diminuindo o ritmo do sertanejo. Na Índia, também, o sol escaldante do
verão brilha sobre os campos e aldeias, trazendo o mesmo comportamento aos seus
habitantes.
Todo o nordeste
brasileiro e o sudoeste da Índia têm os mesmos traços de vegetação. Na Índia,
como no nordeste brasileiro, os coqueiros são a riqueza da região. Famílias
pobres fazem suas choupanas de folhas de coqueiros, usam os cocos para muitas
finalidades, bebem a água de coco. Houve uma troca de sementes por meio dos
portugueses. Os conquistadores espalharam por terras distantes muitas flores e
frutos.
O caju foi do Brasil
para a Índia, a manga veio da Índia para o Brasil. Diferentes continentes se
comunicaram entre si por meio de sementes, flores e frutos que desabrochavam em
diferentes regiões do globo terrestre, promovendo a integração que cresceu da
terra.
Mas foi nos mares que
as culturas oriental e ocidental foram capazes de se encontrar. As várias
colônias sob o domínio português se conectaram por meio das caravelas que
cruzavam os oceanos e mares, colocando em contato diferentes culturas e
civilizações.
Foi o espírito
aventureiro e a paciência para suportar longos meses no mar, foi a busca de
riquezas e a necessidade de expandir o credo cristão e assegurá-lo com o poder
terreno, que intensificaram no passado a síntese do oriente e do ocidente.
*Fotos da internet
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