Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2015
PAINEL EM AZULEJO NA ERMIDA DE NOSSA SENHORA DA PIEDADE EM CAETÉ I
Quando
Frei Rosário me procurou em Belo Horizonte para realizar os painéis das capelas
da ermida de Nossa Senhora da Piedade, eu acabava de escrever um capítulo para
meu livro Os caminhos
da Arte relacionando os hinos védicos com o canto gregoriano. Meu
trabalho estava voltado para a integração do Oriente com o Ocidente através da
música religiosa.
Na capela do Sagrado Coração de
Jesus na Ermida de Nossa Senhora da Piedade em Caeté escolhi a forma circular
da mandala, com a figura de Cristo ao centro trazendo luz e sabedoria para o
mundo.
Mandala significa círculo em sânscrito. Universalmente a mandala é símbolo da integração e da harmonia. Significa também a concentração de energia, o universo, a procura da paz interior. A cor azul simboliza a sabedoria de Cristo transmitida através dos séculos. Escolhi a mandala pelo seu significado universal de integração e paz, usado no Oriente como forma de meditação.
O símbolo da mandala com o Cristo no centro foi usado no Ocidente numa pequena tela de Hieronymus Bosch, hoje pertencente ao Museu do Prado em Madrid. Ali o Cristo ilumina as pessoas para vencerem e superarem os sete pecados capitais.
O psicólogo Carl Jung usou a mandala como integração final do processo de individuação do ser humano.
A figura do Cristo ao centro nos faz relembrar o Cristo interno de cada um de nós e a centelha divina que a todos pertence. “O Reino dos Céus está dentro de vós” nos disse Jesus.
No Santuário da Serra da Piedade a lembrança do nosso Cristo interno está representada nessa pequena capela, onde os devotos acendem velas e, durante a época do Natal, armam presépios.
Tiramos fotos em frente ao painel, agradecendo nossa presença nesse santuário de paz e desejando a paz para todos os brasileiros e para todas as pessoas.
*Fotos de Maurício Andrés
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Em
relação aos dois painéis, Frei Rosário me trouxe indicações bíblicas que eu
deveria ler para me inspirar nos temas encomendados. Era importante ler textos
do Antigo e Novo Testamento, para uma informação histórica.
Mandala significa círculo em sânscrito. Universalmente a mandala é símbolo da integração e da harmonia. Significa também a concentração de energia, o universo, a procura da paz interior. A cor azul simboliza a sabedoria de Cristo transmitida através dos séculos. Escolhi a mandala pelo seu significado universal de integração e paz, usado no Oriente como forma de meditação.
O símbolo da mandala com o Cristo no centro foi usado no Ocidente numa pequena tela de Hieronymus Bosch, hoje pertencente ao Museu do Prado em Madrid. Ali o Cristo ilumina as pessoas para vencerem e superarem os sete pecados capitais.
O psicólogo Carl Jung usou a mandala como integração final do processo de individuação do ser humano.
A figura do Cristo ao centro nos faz relembrar o Cristo interno de cada um de nós e a centelha divina que a todos pertence. “O Reino dos Céus está dentro de vós” nos disse Jesus.
No Santuário da Serra da Piedade a lembrança do nosso Cristo interno está representada nessa pequena capela, onde os devotos acendem velas e, durante a época do Natal, armam presépios.
Tiramos fotos em frente ao painel, agradecendo nossa presença nesse santuário de paz e desejando a paz para todos os brasileiros e para todas as pessoas.
*Fotos de Maurício Andrés
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segunda-feira, 14 de dezembro de 2015
TAPEÇARIAS E MURAIS
“As luas, os mastros,
os mistérios,
As velas que pretendem
voar!
E, no entanto,
prendê-las à terra.
Amarrá-las ao concreto
e limitado da lã.
O desenho não nasceu
somente para ser tapete.
Houve que
surpreendê-lo, mostrando-lhe possibilidades ocultas.
E nisto, a busca
apaixonada da verdade de cada forma, de cada cor, de cada desejo.
Percorremos, meses a
fio, a larga estrada
Que nos levou da
ambição do que nos propusemos,
Ao que, realmente
conseguimos.
Dar ao desenho de Maria
Helena Andrés,
Outra fase,
Numa outra matéria.”
(Maria Ângela Almeida Magalhães)
Maria Ângela foi minha
parceira nas tapeçarias durante vários anos nas décadas de 60 e 70.
Transcrevo abaixo um
texto que escrevi em 1969, sobre tapeçarias e murais:
“Quando em agosto deste
ano realizei na Galeria do Copacabana Palace uma exposição de pinturas da fase
interplanetária, outra série de meus trabalhos já se elaborava no Rio, numa rua
de Botafogo, entregue a uma equipe de artesãs. Ao mesmo tempo em que eu pintava
e expunha a série de astronautas, outras mãos trabalhavam em meus tapetes.
Os 12 tapetes serão
expostos em Belo Horizonte em 6 de outubro, na Galeria Guignard. Há dois anos
projetei uma série de pequenos estudos sobre os barqueiros do São Francisco,
tendo como finalidade a execução de um mural. No entanto, não tendo podido
realizar o trabalho, guardei os estudos em meus arquivos, para algum tempo mais
tarde entregá-los ao Artesanato da Providência, dirigido por Maria Ângela
Magalhães e Gilda Carneiro. Seria a oportunidade de ver realizado o que eu
planejara para o mural, mas que não pudera executar.
Encontrei nesse artesanato
a possibilidade de dar sequência ao meu estilo de arte, contribuindo até para
maior enriquecimento com os recursos próprios da tapeçaria. Nuances e
transparências não precisavam ser suprimidas e poderiam ser sugeridas com lãs
de vários matizes e a mistura de materiais novos. Acompanhei o trabalho vindo
ao Rio todos os meses, mas deixando à orientadora de meus estudos, Maria
Ângela, a iniciativa de criar pontos e inventar recursos novos dentro do
metier. A pintura individualista, criada e executada por uma só pessoa, vem
sendo substituída nestes últimos tempos pelas equipes de arte com um
responsável e vários colaboradores. É necessário, no entanto, que essas equipes
sejam bem entrosadas, que haja a adequação perfeita das mãos que executam com
aquelas que criam o projeto. Dentro deste esquema a criatividade é distribuída
e reforçada para que se possa fazer alguma coisa de maior vulto, com a responsabilidade
dividida entre vários.
Meus cartões são
desenhados em pastel sobre papel veludo, permitindo desde o início imaginar o
efeito a ser conseguido no aveludado das lãs.
Orientadas por Maria
Ângela, as artesãs transformam o projeto em tapeçaria.
A tapeçaria e a pintura
mural têm raízes comuns. Ambas exigem certa monumentalidade, a captação de um
conjunto global, concentrado em determinado espaço. Portanto, quanto maior e
mais muralística, mais apta estará a tapeçaria para preencher a finalidade à
qual se destina, que não é simplesmente decorativa, mas visa a integração a
determinado conjunto arquitetônico. Daí a razão para considerar os projetos de
mural mais adequados para tapeçaria do que os estudos para um quadro. O mural
exige um pouco de reflexão, o exame detalhado de cada espaço, de cada forma. A
espontaneidade tem de ser corrigida e orientada pela inteligência. A monumentalidade
exigida pelo mural não é a simples ampliação de figuras ou cenas, mas a visão
global de determinada ideia, a síntese de um conjunto. A
tapeçaria pode ambicionar também a conquista desta monumentalidade. Isto porque
tapeçaria não é somente arte decorativa, mas deve expandir-se a campos mais
amplos.
Pretendo conduzir meus
tapetes ao mesmo destino do mural. Acho que é um caminho sério, os recursos são
grandes, possibilitando maior enriquecimento daquilo que imaginei um dia num
simples cartão colorido.
*Fotos de Maurício
Andrés e de arquivo
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terça-feira, 8 de dezembro de 2015
ANIVERSÁRIO DE JOAQUIM PEDRO E LUIZA
Esta carta foi escrita para um livro que minha neta
Alice organizou sobre seu irmão Joaquim Pedro, por ocasião do aniversário dele
e de sua filha Luiza.
“Joaquim Pedro
A sua chegada a este planeta foi um sucesso na
família. Você foi o primeiro neto e chegou a conhecer o seu avô Luiz, que o
punha no colo com o maior carinho.
Quando a vida levou seu avô para outras dimensões,
embarcamos para a Índia, onde seu pai trabalharia por um ano, na cidade de
Bangalore, sudoeste indiano.
Tive a oportunidade de viajar junto e conviver de
perto com você. Passeávamos juntos pelos parques e praças da cidade e eu pude
ver o meu neto, loirinho, fazer amizades com outros meninos, como uma única
família.
Aquela viagem trouxe para você um conhecimento do
mundo muito importante e deixou lembranças nas pessoas que tiveram a
oportunidade de conhecê-lo.
Joaquim, você fez sucesso no Hotel Harsha, em
Bangalore. Há alguns anos atrás, encontrei um dos garçons do hotel que já
trabalhava noutro lugar. “Onde está aquele menino loirinho que corria pelo
restaurante? Temos um retrato dele em casa. Quero mostrar para vocês.” Só sei
que, por causa daquele loirinho, fomos convidadas para um jantar em casa do
garçon.
Você também foi o personagem de um livro escrito por
sua mãe e ilustrado por mim. O livro “Pepedro nos caminhos da Índia” circula
por outros espaços, contando para as crianças brasileiras a história de um
garoto que saiu do Brasil para viajar pela Índia com a família.
A Índia continua a ser inspiração para todos nós.
Recentemente, quando viajamos juntos para rever os
lugares por onde passamos, você me ajudava a cantar mantras dentro da van que
nos conduzia por estradas poeirentas, palácios de marajás, passeios em cima de
elefantes. Você me acompanhou de perto e me ajudou a entrar no rio Ganges, para
colocar meu barquinho com flores.
Quando regressamos ao Brasil, você prolongou a
viagem por mais uns dias, para visitar Kachempure, a cidade onde o seu pai fez
um trabalho comparativo Brasil-Índia na década de 70. Visitou a escola da cidade
e presenteou as crianças com uma biblioteca de livros infantis.
Hoje, sua filha Luiza, continua a ser o sucesso na
família, uma criança linda, cercada de carinho.
Assim é a vida: filhos, netos e bisnetos nos contam
histórias e nos trazem alegria.
Um grande abraço,
Vó Helena”
*Fotos de Maurício Andrés
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terça-feira, 24 de novembro de 2015
A VOLTA AO MUNDO EM 80 MINIATURAS E ARTE SEM FRONTEIRAS
Ida Luppi é colecionadora de miniaturas e postais.
Guarda dentro de armários envidraçados um verdadeiro exército de miniaturas que
revelam o seu amor a esses pequenos símbolos. Sua coleção ficou famosa e as
pessoas da família quando voltam das viagens sempre lhe trazem como lembrança
uma pequena miniatura. Ida é mãe de Luciano Luppi, ator e diretor de teatro.
Luciano escreve, atua, participa de eventos com sua esposa Ivana, artista
plástica e cantora.
Agora o casal elaborou um pequeno palco onde as
miniaturas de Ida Luppi puderam sair das vitrines para também participarem de
eventos. Escolheram 80 miniaturas de diversos países, coladas no mapa de um
globo terrestre para compor o espetáculo “A volta ao mundo em 80 miniaturas”. É
um espetáculo que acontece em uma caixa escura decorada com cartões postais, que
também pertenceram a Ida Luppi.
Apresentado para 1 ou 2 espectadores, integra a proposta das chamadas
“Caixas lambe-lambe” encontradas há anos em festivais de bonecos em diversos
países. O espetáculo revisita o clássico de Júlio Verne “A volta ao mundo em 80
dias”, estimulando não somente os sonhos de viagem para lugares diferentes,
como também para a viagem em direção ao interior de nós mesmos, a “volta para
casa”. São 80 miniaturas provenientes de
diversos países, coladas no mapa de um globo terrestre ou espalhadas no chão da
caixa. O espetáculo tem a duração de 3 minutos e acontece com música e
iluminação adequadas para a grande função de rodar o mundo. No início, mãos
humanas sustentam o globo, num gesto de proteção. Durante a música, o globo
gira, mostrando suas miniaturas, suas terras e seus mares. No final, um pequeno
anjo sobe até sua estrela que brilha ao longe, num apelo comovente. Há um impacto emocional neste teatrinho, que
ressuscita no espectador imagens da infância e sonhos de viagem da juventude. A
iluminação é de Luciano Luppi e a trilha sonora é de Evaldo Nogueira e Ivana
Andrés com poesia final de Luciano
Luppi.
O espetáculo acaba de participar do Festival de
Caixas de Teatro, que integrou o Festival Internacional de Teatro de Bonecos,
no Centro Cultural Banco do Brasil, em Belo Horizonte.
O casal está sempre elaborando algo novo, inclusive
ajudando pessoas deficientes a encontrar um caminho dentro da arte. Trabalham
com Evaldo Nogueira, músico deficiente visual e o trio já percorreu festivais
de música, saraus, empresas e teatros, sempre trazendo alegria para o público.
Arte sem fronteiras é uma das mais importantes
iniciativas do grupo Voz e Poesia. É uma
palestra-show, focando o debate em
estórias de superação.
O espetáculo está ligado à causa da diversidade, em especial à da pessoa com deficiência, que é o caso de três dos cinco artistas do grupo: os reconhecidos músicos Evaldo Nogueira e Márcio Batista e a artista plástica Kátia Santana.
O espetáculo abre com uma palestra e vai sendo entremeado com canções e poesias, sendo aberto ao público para livre expressão de depoimentos. Ao mesmo tempo, Kátia Santana (cadeirante e portadora de paralisia cerebral) pinta um quadro ao vivo que, depois de pronto, é doado para a instituição.
O espetáculo está ligado à causa da diversidade, em especial à da pessoa com deficiência, que é o caso de três dos cinco artistas do grupo: os reconhecidos músicos Evaldo Nogueira e Márcio Batista e a artista plástica Kátia Santana.
O espetáculo abre com uma palestra e vai sendo entremeado com canções e poesias, sendo aberto ao público para livre expressão de depoimentos. Ao mesmo tempo, Kátia Santana (cadeirante e portadora de paralisia cerebral) pinta um quadro ao vivo que, depois de pronto, é doado para a instituição.
*Fotos de arquivo
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terça-feira, 17 de novembro de 2015
II JORNADA DE ESTUDOS INDIANOS
A II Jornada de Estudos Indianos
aconteceu em Belo Horizonte, na UFMG, com o intuito de congregar interessados
nos diálogos científicos e culturais entre Brasil e Índia.
Aconteceu discretamente, sem grandes
alardes da mídia, apresentando uma forma positiva de incentivar a nossa
aproximação com aquele país asiático. A Índia continua sendo uma fonte
inesgotável de conhecimentos e propostas para um mundo melhor.
Fui convidada a participar dessa Jornada
com uma exposição de trabalhos sobre a Índia, realizados desde a década de 1970,
e meu livro Oriente – Ocidente –
integração de culturas foi apresentado numa mesa em forma de livro de
artista. Ao mesmo tempo, um vídeo projetado na parede mostrava minhas andanças
pela Índia. Foram 45 anos de trabalho visando essa aproximação que agora está
acontecendo.
A curadoria da mostra coube à Marília
Andrés Ribeiro e ao Paulo Baeta, a coordenação da Jornada coube ao Roberto Luís
Monte-Mor, diretor do Centro de Estudos Indianos da UFMG. A exposição foi uma
parceria do Instituto Maria Helena Andrés (IMHA) com o Centro de Estudos
Indianos (CEI).
Assisti, no dia 11 de novembro, à
palestra de meu filho Maurício Andrés Ribeiro. Ele apresentou uma visão
panorâmica da evolução e o itinerário do ser humano sobre o planeta, desde a
época dos primeiros habitantes até os dias de hoje. A proposta de aprofundar o
conhecimento sobre a evolução da consciência nos revelou com extrema clareza
uma visão positiva neste mundo conturbado por guerras e tragédias.
Para essa mesa redonda sobre a Evolução da Consciência Humana, vieram Deepti Tewari Puri e Ariamani, duas representantes
da Índia, radicadas em Auroville, no sul da Índia. Ali existe, desde a década de 1960, uma comunidade
que foi considerada pela Unesco como um exemplo para o futuro da humanidade.
Na década de 1970 ali estive conhecendo
os vários departamentos, todos eles dedicados ao desenvolvimento da
consciência, por meio dos recursos mais abrangentes de educação pela arte. Há
uma preocupação constante em fazer a criança se desenvolver através do
exercício de suas potencialidades.
Auroville é um exemplo que continua
dando certo, regido pelas ideias de Sri Aurobindo, grande mestre indiano, que
abriu uma perspectiva para o nosso futuro. Professores vindos da Europa e das
Américas visitam aquela comunidade que se baseia na Yoga Integral, onde a arte
e a espiritualidade estão sempre presentes, junto com a ciência, a ecologia e o
esporte. A presença das duas representantes de Auroville foi muito importante
para se compreender a dimensão do trabalho de internacionalização da UFMG,
incentivando diálogos científicos e culturais dos brasileiros com os países do
Oriente.
Acrescento aqui alguns textos sobre Sri
Aurobindo recolhidos do meu livro Encontro com Mestres no Oriente.
“O Yoga Integral de Sri Aurobindo é a
união de todos os caminhos: Bhakti (devoção), Karma (trabalho), Jnãna
(sabedoria) e Raja (meditação).”
“Sri Aurobindo, em suas meditações,
previu a queda dos mitos e a unidade planetária em níveis espirituais. O
Supramental desceria sobre a humanidade do futuro, colocando os seres humanos
diretamente ligados ao Cosmos. Uma educação baseada no despertar da
criatividade e nas tendências naturais da criança possibilitaria maior
receptividade para a descida dessa luz, que Aurobindo percebeu em seus momentos
de meditação.”
*Fotos de Maurício Andrés e Marília
Andrés
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segunda-feira, 9 de novembro de 2015
INFLUÊNCIAS E TROCAS
Observando os ornamentos florais dos oratórios em
Minas Gerais e a ornamentação da capela do Taquaral, perto de Ouro Preto e
Mariana, sentimos a proximidade com a Índia hindu e islâmica.
Os padrões portugueses, chegando ao Brasil em naus
colonizadoras, trouxeram inspirações de além-mar freqüentemente assimiladas na
Índia ou na China.
A historiadora Maria Luiza Galeffi, numa palestra
dada em congresso do barroco em Ouro Preto, relata o seguinte fato: quando padrões
de Portugal chegaram à Bahia para serem colocados como ornamentação nas colunas
das igrejas barrocas, o mito hindu do pavão foi substituído pelo do pelicano,
símbolo do Cristo, que deu a vida por seus filhos.
No início da colonização, os portugueses se estabeleceram
por algum tempo na costa leste da Índia, no golfo de Bengala e mais tarde em
São Tome de Mylapore, Madras, fundando ali um centro de atividade têxtil. Característica da arte
daquela região são os desenhos de pavões entrelaçados com guirlandas e
arabescos, na mesma disposição dos arabescos que decoram as igrejas barrocas. São
impressos em tecido, em cores brilhantes, da região de Madras estado de Tamil
Nadul, sul da Índia.
Não seriam esses padrões que inspiraram a
ornamentação barroca de Portugal, chegando posteriormente ao Brasil, onde a
substituição dos mitos ocorreu? Essa pergunta eu deixo para os interessados em
estudos de arte, história e pesquisas culturais. Sendo uma síntese, nossa
pesquisa é somente uma pista para um trabalho mais aprofundado, para uma análise
mais detalhada dos dados obtidos.
Outros estudos poderão ser feitos no futuro por
historiadores, sociólogos, antropólogos e artistas, lembrando que o caminho das
Índias não se fechou com os navegantes, mas pode ir muito além no futuro, por
meio de trocas culturais com as ex-colônias portuguesas. (Quinta parte do
estudo comparativo apresentado no Seminário de Goa, 1983)
*Fotos da internet
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terça-feira, 3 de novembro de 2015
ARTESANATO FAMILIAR E MÚSICA INDIANA
Na Índia, como a máquina ainda não tomou a liderança
nas atividades domésticas e a televisão ainda é um privilégio para poucas
famílias, atividades artísticas e manuais são uma forma de unir as famílias.
Eles sentam-se no chão, com tesouras espalhadas, papéis, arames, tecidos, e
trabalham juntos.
A feitura de bonecas é tarefa da dona de casa,
envolvendo avós e avôs. Há um festival de bonecas a cada ano, que muda de
acordo com o calendário Hindu. O Festival Dasara, como é chamado, dura dez dias
e começa na lua de outubro. Em Mysore há uma cerimônia da boneca feita a mão em
frente à deusa de 16 mãos Shakti (em Chamundi hills, sul da Índia). Os hindus a
veneram como exterminadora do orgulho. Artistas e artesãos se ajoelham com suas
bonecas e humildemente imploram pela destruição do ego.
No vale do Jequitinhonha, no interior de Minas
Gerais, o artesanato é um modo de sobrevivência para um grande número de
famílias. As famílias vivem juntas, como na índia. Há uma fileira de casas
formando um pequeno quarteirão e em cada casa um forno de cerâmica. O barro é
moldado por mãos femininas. Ele é batido numa mesa de forma primitiva e levado
ao forno para cozinhar. Lidando com terra, água e fogo, as artesãs chegam
próximas da essência do ser humano, algumas vezes por meio dos mesmos símbolos
e arquétipos que inspiraram artesãos em outras partes do mundo. Há uma
liberdade para criar figuras de quatro ou cinco cabeças nos grandes vasos de cerâmica
utilitária e também há, como na Índia, descrições de cenas de casamentos e
procissões, hábitos dos homens do interior, suas práticas de trabalho, seus
sonhos.
A cultura milenar da Índia data da era dos Vedas, e
os livros sagrados eram cantados durante sacrifícios ao ar livre. Os livros
eram as composições dos rishis, transmitidas oralmente de geração a geração.
Há uma grande afinidade entre a música religiosa
indiana e o canto gregoriano, música de forma circular e repetitiva. Em seu
aspecto mais popular, a música indiana lembra os desafios cantados por
violeiros nordestinos ou as cantigas do folclore brasileiro de origem africana.
Na música indiana, como nos desafios brasileiros, há
sempre uma parte estrutural formando uma moldura para a improvisação criada no
impulso do momento.
Na Índia, esses desafios e improvisações são feitos
com instrumentos de percussão tais como tablas, uma de metal e outra de
madeira. No Brasil, a percussão é feita com tambores, atabaques, cabaças,
agogôs. Há um ritual completo para criar a tabla, do mesmo modo como no Brasil
há um ritual e mesmo um batismo dos instrumentos com água sagrada da igreja
mais próxima, na construção de um tambor sagrado.
Há também uma troca espontânea com outros países por
meio da música brasileira e sentimos que os músicos em geral são, no presente,
os melhores difusores de nossa cultura na Índia, especialmente em Goa,
ex-colônia de Portugal.(Quarta parte do estudo comparativo apresentado no Seminário de Goa, 1983)
*Fotos de Maurício Andrés e da internet
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segunda-feira, 26 de outubro de 2015
MINAS BARROCA E TEMPLOS HINDUS
Na terra brasileira floresceu nos séculos dezessete
e dezoito a arte Barroca, poderosa em sua expressão, na qual, a partir dos elementos decorativos, do
movimento de formas e do simbolismo mágico das figuras, o passado de descobertas
e buscas é retomado.
O Barroco, que o historiador Carmo Azevedo denomina
“a arte do mar e dos grandes aventureiros”, passa por uma transformação no
Brasil, na região de Minas Gerais, em uma arte da terra, da busca de ouro e
pedras preciosas. A mão que esculpiu e moldou a forma manteve o artesão próximo
de sua própria origem. Os modelos vêm de além-mar e encontram eco na região
montanhosa de Minas Gerais, nos entalhes naturais, nos arabescos das montanhas,
na sinuosidade dos rios, nas encostas de pedra, seguindo os padrões desenhados
no coração da terra pelos veios do ouro.
As minas de ouro construíram as cidades de Minas
Gerais. Foram construídas igrejas nas quais as mãos dos artesãos e artistas que
vieram da Europa e da Ásia se misturaram àquelas dos nativos, mulatos e índios.
Elas expressaram a integração de culturas e o sincretismo religioso. Na Igreja de Nossa Senhora do Ó em Sabará, de
inspiração oriental, dragões domesticados voam no espaço sobre pagodes
chineses. Síntese oriente-ocidente alcançada por meio da arte, mãos brasileiras
se juntando a povos e raças distantes, numa mesma energia.
A arte Islâmica do norte da Índia e os templos
protestantes mostram uma feição comum, que é a ausência da figura humana. Em
contraste, os templos do sul da Índia e as igrejas católicas barrocas mostram
um grande número de figuras humanas, animais e plantas. O espaço é quase
congestionado e a madeira entalhada canta e vibra com a riqueza de detalhes.
Sentimos essa riqueza de detalhes nas faces internas
e externas dos templos Hindus, principalmente no sul. Ali, deuses dançam e
tocam música, adornados com braceletes e colares mostrando que dança, música e
artes em geral são caminhos para alcançar a união com o Divino. Também nos
tempos áureos do barroco as artes se fundiam tentando transmitir um conjunto de
riqueza mundana e a religiosidade daquela época. Artistas e manifestações
públicas de teatro, música e dança eram estimulados. As procissões eram na
realidade coreografias seguidas pelos fiéis, tornando toda a cidade um palco,
adornado com flores, toalhas de mesa decoradas penduradas nas janelas,
oferecendo no todo um espetáculo majestoso e espetacular.
Na Índia, também, nos tempos antigos, a integração
das artes foi alcançada dentro dos templos e festivais. A dança, a música, a
poesia e o canto, eram parte de um ambiente criado por arquitetos, artistas
plásticos e artesãos. Havia uma integração dos vários ramos da arte para
promover a união com o Supremo Criador do Universo.
O artista mais famoso do período colonial em Minas,
Antonio Francisco Lisboa, conhecido como o Aleijadinho, transmite em suas
esculturas o movimento da dança e há estudos sobre sua obra, comparando os
profetas de Congonhas do Campo com a coreografia de um balé.
Germain Bazin descreve nos profetas influências das
vestimentas da igreja oriental. Notamos
que essas vestes, principalmente no que concerne a coberturas da cabeça,
parecem com as roupas dos deuses do panteão hindu, os turbantes nas cabeças de
Budas e também as torres elaboradas e refinadas dos templos e stupas. ( Terceira
parte do estudo comparativo apresentado no Seminário de Goa, 1983)
*Fotos de Marília Andrés e da internet
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segunda-feira, 19 de outubro de 2015
EXPANSÃO DO ORIENTE, FUSÃO DE CULTURAS
Goa teve o papel de unificar duas civilizações.
Navios vinham da China, trazendo coisas fantásticas do extremo oriente;
porcelanas chinesas de diferentes tipos, caixas, arcas de madeira, telas
elaboradas. Esse comércio aumentou a síntese e a construção de templos promoveu
a integração no campo artístico.
Aludindo a isso, o historiador português
Carlos de Azevedo comenta: “Quase todos os retábulos nas igrejas indianas são
colocados diante de um fundo decorativo de entalhes ricamente trabalhados, onde
a noção do uso do espaço é puramente oriental, o que aumenta o interesse e a
originalidade de toda essa arte indo-portuguesa.”
Símbolos hindus foram substituídos por símbolos
cristãos, mas as decorações, os arabescos “preenchimento do vazio” mantiveram
características orientais.
As manifestações e símbolos artísticos,
transcendendo as palavras, capturaram em linha direta a integração de
diferentes povos, desvendando sua origem comum, que é a origem do ser humano na
Terra.
As ideologias separam os homens porque são conceitos
mentais. A mente resiste à invasão de suas verdades pessoais. Mas a verdade é
única, indivisível, e brilha sobre tudo como o sol do meio dia, iluminando a
Terra como um todo.
Interessa-me, no presente estudo, a documentação da
influência indiana na arte portuguesa que, por seu turno, veio ecoar no Brasil
alguns anos mais tarde, através do Barroco.
Buscamos nossas origens, nossos pontos de contato
com a Índia, como se pudéssemos retomar por meio dos dados históricos e das
manifestações artísticas, religiosas e culturais, o caminho das Índias, gerador
da energia das grandes descobertas, da intensificação do comércio e do
florescimento das artes. (Segunda parte do estudo comparativo apresentado no
Seminário em Goa, 1983)
*Fotos da internet
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