segunda-feira, 27 de julho de 2020


(RE)FAZENDA



(Re)Fazenda

Desde pequena, eu adorava ir para a fazenda. Meus primos e eu passávamos o tempo brincando, andando a cavalo, nadando na represa, dormindo no sótão da casa da vovó Helena, tomando leite ao pé da vaca, correndo perto do fogão a lenha. Quando voltava para Belo Horizonte, feliz da vida, coberta de terra e às vezes de carrapatos, muitas vezes ia direto para a casa da minha avó Zauhry - onde minhas tias me recepcionavam com uma bucha “para dar uma faxina em regra” e tirar toda aquela terra. Parece que foi ontem.

Hoje, 17 de julho de 2020, completamos dois meses na fazenda. Parece que aqueles fins de semana que eu passava aqui quando era criança nunca estiveram tão longe e tão perto. 

Eu, Paulo, Cora e Cecília viemos para cá dois meses depois do início da pandemia do coronavírus. Apesar de termos plena consciência dos nossos privilégios, para nós estava puxada a rotina “café, reunião, faz almoço enquanto lava a louça do café e faz uma call, desce para o play para tomar banho de sol de uma hora e ao mesmo tempo em que fica de olho nas meninas que brincam, mata alguns e-mails, volta pra casa sem tocar em nada e corre para o banho, almoça, faz reunião lavando a louça, bota as meninas para a soneca, faz reunião com participação especial das crianças, prepara o jantar, brinca um pouquinho, janta, lava a louça, passa uma vassoura na casa,
 começa o turno do trabalho”. Quando as meninas começaram a ficar meio acinzentadas e azumbizadas de tanto ver televisão, estressadas por não poderem correr ou brincar fora de casa por conta do chatonildo do coronavírus, e perguntando se A era de álcool gel, resolvemos fazer as malas e ir para a fazenda. Desde então estamos morando na mesma casa em que eu ficava na minha infância. A casa projetada pelo meu pai para os seus pais. A casa da minha avó Helena, que rapidamente virou a nossa casa. 

Foram só dois meses, mas parece que tem muito mais tempo, pelo quanto estamos aprendendo e vivenciando juntos. As meninas já sabem diferenciar o canto do carcará, do tucano, da seriema, do japú. Já sabem quais são as araucárias plantadas pelo vovô Maurício, os manacás plantados pela vovó Sil, as hortaliças da vovó tia Iara. Querem saber todo dia se foi a Moeda, a Graúna, a Piorra ou alguma das outras dezenas de vacas (cujos nomes elas já conhecem), que mandou o leite. Reclamam se acaba o iogurte ou os queijos divinos do vovô tio Euler. Amam ver a Olívia, a Rosa, o Pedro e a Totó todos os dias. Adoram ir para a Aramitã, a escolinha Waldorf que TT e Albe criaram aqui, com o maior amor do mundo. Amam o carinho sem fim dos vovôs tia Iara e tio Euler. Perguntam o dia inteiro para o tio Manuel, tia Cris, tio Beto e tia Fê se eles gostam delas. E quando falam que sim, perguntam se é muito ou pouco. E morrem de rir. Amam ajudar o pai a fazer o incrível doce de leite uruguaio ou qualquer outra invenção gastronômica sensacional, ou ir dar comida para os porquinhos. Amam ir com a mãe comer mexerica na rede, fazer um mini ballo libero ou ver o céu estrelado mais lindo do mundo. 


Já sabem que se a vaca pisar no cano, a água acaba.
Que se a maritaca comer os fios, ou se ventar muito e eles se enroscarem, a luz acaba.
Que dia de cineminha é quarta e domingo. 
Que sábado é dia de feirinha da grande Barrinha onde era o curral do Tio Beto.
Que se deixar o queijo em cima da mesa e a janela aberta, o gato leva. 
Que se calçar o sapato sem batê-lo antes, pode ter bichinho. 
Que se passar vickvaporub o carrapato se solta.
Que se chamarem a cachorrinha que nos adotou por qualquer nome, ela vem, feliz da vida.

Há 60 dias elas e nós nos apresentamos, felizes da vida, cheios de terra e de carrapatos, para banhos que mais parecem aquelas “faxinas em regra” pelas quais eu passava quando criança. De volta às raízes e à essência eu voltei. E morro de felicidade em poder passar um pouquinho dessas raízes para minha família também.

Fotos de arquivo

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segunda-feira, 13 de julho de 2020


MUTIRÃO CULTURAL DE ENTRE RIOS DE MINAS

O Mutirão Cultural de Entre Rios de Minas, em sua terceira edição, continua sendo uma fonte inesgotável de novos talentos no campo da poesia, da música, do cinema, do desenho, da pintura, do bordado cuidadoso.


Cada um no seu quadrado vai trazer para o conjunto um pouco de sua história, do seu dia a dia.

 Estaremos todos lá, escutando a sinfonia de uma cidade e seus arredores.

 A voz dos antepassados ressurge neste momento em que estaremos atentos, todos juntos.

Criar um grande painel de um povo em quarentena.

Vai mostrar como é possível envolver  uma cidade num coletivo gesto de cidadania.

Tudo faz parte de um todo. Somos um.

Estarei no dia 15 com Maurício e Aparecida lançando o livro “A água fala”, que já está correndo o mundo.

Neste livro mostraremos o grande valor da água. Vou falar sobre as nascentes, as veredas, os “corguinhos” que vão se multiplicando em rios e riachos.

“A água fala”, nos diz Maurício, ela fala e molha também as terras por onde passa.

 Saudemos as fontes criadas por Deus para nos dar o sustento nesta terra abençoada.

Agradecemos a iniciativa do jovem Secretário de Cultura Felipe Resende que busca integrar a cidade num todo criativo.


 Para maiores informações acesse o link abaixo:
http://www.facebook.com/story.php?story_fbid=970505290074750&id=207828246342462&scmts=scwspsdd&extid=Rm56hmYeZrdnGRI1

*FOTOS DA INTERNET

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domingo, 28 de junho de 2020


A GUARDIÃ DAS MONTANHAS


 Ela chegou
de
caminhão
e
desceu
carregada
por
cinco homens
e
um guindaste.
Prepararam
duas covas
para plantar
essa árvore
de
ferro,
com
dois metros
de altura.

 Colocada
de frente para
as montanhas
é, agora,
a nossa
guardiã.

A escultura
é
mais um projeto
nascido de
um desenho
construtivista.
Passou
pelas minhas
mãos,
as mãos de
minha neta Elena
e, mais tarde,
se engrandeceu
 em
Rio Acima,
 pelas mãos
de Paulo Mendes,
que hoje
está executando
 as minhas esculturas.

Ficou tão linda,
no meio
do gramado.
Na rua,
as pessoas param
para
contempla-la.
E eu vou
visita-la,
admirada
com
a grande capacidade
de Paulo Mendes,
engenheiro,
pintor
e
escultor,
realizador de
projetos
fantásticos.

Agora,
ele transforma
um desenho
em linha continua,
num monumento
imponente
e audacioso.

A escultura olha
para as montanhas
em frente
e escuta
os pássaros cantarem
em seu entorno.
Eu vejo
o meu desenho
de linha continua
riscado no espaço
 em tamanho gigante,
entre
o verde das árvores
e
o azul dos céus
de Minas.

*Fotos de João Diniz, Paulo Mendes e Marília Andrés

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terça-feira, 16 de junho de 2020


LORENZATO


Lorenzato reflete em sua trajetória, o seu itinerário pelo mundo, de forma livre e descondicionada.

Ele viajou,correu a Europa de bicicleta, puxando um trailer.Vendia cartões para se sustentar, vivendo o “aqui e agora” sem recursos econômicos.
Seu objetivo era conhecer o Oriente e chegou a conhecer o Egito, Grecia, Turquia e os países do Leste Europeu.

Como descendente de italianos, este artista mineiro de nascimento, não se filiou a nenhuma corrente artística, mas conheceu artistas famosos tais como Picasso, Matisse e Gine Severini, quando esteve em Paris. Vendeu quadros em Montmartre, onde os artistas modernos vendiam seus quadros e teve a rara oportunidade de visitar os melhores museus da Europa e ali aprender diretamente o que os grandes mestres da pintura lhe transmitiam.

Lorenzato foi considerado por um cronista como precursor dos hippies.
Talvez, seu sangue europeu lhe transmitisse a energia dos trovadores que viajam pelo mundo para conhecer a vida das pequenas cidades europeias, suas praças onde cantam e recebem do povo aplausos e donativos.

Tive a oportunidade de conhecer na Itália,um casal de artistas ambulantes que também se apresentava nas praças de Roma para recolher novas experiências.

Acompanhava-os um pintor de quadros que já tinha sido pintor de paredes.
Lorenzato se fazia acompanhar de um holandês que se tornou seu amigo e companheiro de viagens. Viajaram juntos por 2 anos pelos vilarejos europeus recolhendo croquis que mais tarde se transformavam em pequenos quadros ou aquarelas. O jovem Lorenzato, percorrendo as estradas da Europa, como um cigano, estava cursando a grande universidade da vida. Não recebia aulas teóricas, nem passava pelos cansativos modelos de gesso considerados importantes nas escolas acadêmicas.

Ele frequentou em sua juventude a Real Academia de Vicenza, cidade próxima à Veneza, mas não seguiu os métodos acadêmicos da escola. Preferiu continuar ganhando a vida,  aprendendo a escolher cores como pintor de paredes.

Lorenzato se considerava um autodidata,aprendeu a pintar com a sua rica experiência de vida. Seus quadros refletem a sua vida e sua formação se deu através da educação do olhar.

Assim também fez Guignard em suas visitas aos museus, sua aversão ao academismo e sua profunda admiração pelos mestres florentinos. Ambos estiveram em Florença e ali aprenderam com os grandes mestres renascentistas e pré-renascentistas.

Lorenzato admirava Leonardo da Vinci e Guignard tinha uma profunda admiração pelas telas e desenhos de Boticelli. Assim como Lorenzato, Guignard estudou na Real Academia de Munich, mas não seguiu os ensinamentos academicos. Ambos tiveram a oportunidade de conhecer os museus da Europa, eterna fonte de conhecimentos.

Acho que eles nunca se encontraram, mas a história de vida destes 2 artistas tem algo de semelhante.

*Fotos de arquivo

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sexta-feira, 12 de junho de 2020


ARAMITÃ


Recebi de Teresa Rolim Andrés, professora com larga experiência em Pedagogia Waldorf, o relato da Escola Arimatã, aberta na fazenda neste período de quarentena, juntamente com seu marido Alberto Sica.

“Nestes dois meses que já estamos em casa, de quarentena, eu e o Alberto, temos feito uma escolinha para os nossos sobrinhos. No começo para eles, Antônia, Pedro, Rosa Maria e Olivia, mas logo se juntaram Catarina e Francisco, filhos dos nossos vizinhos e amigos.
A ideia nasceu já na viagem vindo para a fazenda, onde estamos passando grande parte da quarentena.

Nós, adultos, tínhamos apenas começando a trabalhar em BH. Cada um na escola do seu encontro. Depois de seis meses de experiências variadas, viagens, estávamos cheios de entusiasmo e energia para um ano letivo que logo foi interrompido. A escolinha com os sobrinhos na fazenda foi uma maneira de construirmos algo durante esta quarentena. Além de ter dado ritmo a nós e às crianças, alimento tão saudável neste período de tantas incertezas.

A escolinha logo foi batizada como Aramitã. Nome indígena de uma lenda que conta desde a criação do mundo até o surgimento de um novo povo, sem distinção de cor. Povo dourado, tradução literal. Povo do futuro. União e não divisão.

A placa foi preparada de surpresa pelas crianças e hoje recebe quem vem nos visitar na sala de aula improvisada em um galpão nos fundos da nossa casa. As paredes são de chita florida, os quadro negros se apoiam em pilastras e onde mais for possível, as vezes pendendo do alto, encostados nas paredes voantes de tecido.

Esta é a sala das crianças maiores.

O "Jardim" acontece dentro da nossa pequena casa onde criei um cantinho com almofadas para descansarmos, cantarmos e contarmos histórias.
Muitas coisas já aconteceram nestes dois meses de escolinha. Tivemos a visita dos primos Gabriel e Vitor, encontros com os pais e avós,  fizemos uma pequena horta, com direito a preparado biodinâmico, e agora fomos presenteados com a chegada de duas novas primas que vieram também fazer a quarentena aqui. Cora e Cecília trouxeram a alegria e o movimento dos primeiros anos de vida aos nossos encontros diários. Os maiores construíram um caderno com os desenhos de forma que fizeram na primeira "época" da escola, agora estão envolvidos no desafio de construir uma casinha de barro. Os preparativos envolveram uma caminhada até o rio para pegar o barro. E outra aventura para achar areia.

Nós no Jardim trabalhamos nossa força de vontade verso a doação ao mundo: preparamos todos os dias a merenda para todos. Educamos nossas mãos brincando de cozinhar. As crianças do jardim são importantes conhecedoras de um segredo que só virá à tona na hora da merenda: qual o prato do dia. Bolos, biscoitos, tortos que nascem de mãos pequeninas e trabalhadeiras. Já as crianças maiores ajudam a servir e na arrumação. Eu adoro a hora da merenda. Neste momento estamos todos juntos, agradecemos, lanchamos e também conversamos muito.

É assim que passamos nossas tardes nesta quarentena. Grandes e pequenos.
Para nós tios é um grande presente vivenciar essa experiência, que fazemos normalmente com tantas crianças no nosso trabalho, com os nossos sobrinhos.

As crianças se divertem com a autonomia que a fazenda proporciona: irem a pé e sozinhos para a escola. Às  vezes com alguma parada para ver os bezerrinhos. Um dia vimos até um nascendo! Experiência única. De um tempo único.

Minha avó diz sempre que devemos aproveitar este tempo e produzir arte. Essa é a nossa.” (Teresa Rolim Andrés)

*Fotos de Tereza Rolim Andrés e Alberto Sica.

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terça-feira, 9 de junho de 2020

segunda-feira, 1 de junho de 2020


UM WEBNAR ECOLÓGICO


Recebi de Maurício Andrés o texto de sua autoria, que transcrevo abaixo:

“ A história é como um estilingue: quanto mais se estica para trás o elástico, mais à frente é arremessada”.   Aloisio Magalhães

“Como parte das atividades que comemoram seus 50 anos, a Fundação João Pinheiro  programou seminários pela internet (webinars) ao vivo (lives)  para conversar sobre sua história.  Participei com Roberto Messias Franco de uma live sobre Meio ambiente no dia 27 de abril.
A história da política ambiental em Minas Gerais foi contada pelo Centro de Estudos Históricos e Culturais da FJP que publicou em 1998 um livro sobre o tema.



Livro publicado em 1998 pela FJP e FEAM sobre a história.

Em 1995, a FJP teve papel destacado na concepção da Lei Robin Hood que alterou os critérios para redistribuição do ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias em Minas Gerais.  Convidou a Fundação Estadual do Meio Ambiente- FEAM para elaborar o critério ambiental. Resultou disso que passaram a ser concedidos incentivos para municípios que investissem em criação de unidades de conservação (agenda verde) e para municípios que tivessem licenciado estações de tratamento de esgoto e aterros sanitários para resíduos (agenda marrom). Este último critério, que tirava dos sujos para dar aos limpos, foi adotado pioneiramente em MG.
Em 1975, José Israel Vargas assumiu a presidência da FJP e criou uma diretoria de Tecnologia e Meio Ambiente na qual se forjou o DNA da atuação ambiental, baseado na ciência e na tecnologia.  Ignacy Sachs, o socioeconomista polonês, trouxe o conceito do Ecodesenvolvimento, inspirador para os trabalhos então realizados.
Em 1975 a FJP publicou um estudo abrangente sobre meio ambiente na RMBH.



O contexto da época era de intensa urbanização e industrialização; as poluições ambientais se avolumavam. Em 1972 acontecera a Conferência de Estocolmo sobre Ambiente Humano, o primeiro grande evento da ONU sobre o tema; o Clube de Roma publicara um livro de impacto sobre Os limites do crescimento. Em 1973 fora criado  o Pnuma- Programa das Nações Unidas sobre o Meio ambiente. No Brasil entre 1968 a 1974 vivia-se o chamado “milagre econômico”, com a construção de Itaipu e de Usina nuclear em Angra dos Reis.
Em Minas Gerais  criou-se em 1973 o  Centro de Conservação da Natureza; em 1975 houve a suspensão das atividades da fábrica Itaú, em Contagem pela prefeitura; em resposta houve a federalização da questão com o  Decreto lei n. 1403  que atribuía ao governo federal a competência exclusiva de suspender  atividade industrial. Em 1975 criou-se no governo Federal a Sema -Secretaria Especial do Meio Ambiente. 
Com José Israel Vargas, várias diretorias da FJP atuaram na questão do meio ambiente: a dimensão ambiental foi incluída em planos regionais para o Rio doce, o sul de Minas, o Noroeste entre outros; em planos urbanísticos municipais, com destaque para aqueles do circuito do Ouro e do circuito do Diamante; a Revista Fundação JP publicou muitos artigos sobre o tema.
A FJP foi uma incubadora de instituições na área ambiental que  floresceram no CETEC, na Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente e no Copam, conselho de política ambiental implantado pioneiramente no Brasil; posteriormente oi criada a FEAM.
No século XII temas emergentes surgiram com força: em 2007 tornou-se mais visível a questão do clima quando foi publicado relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas – IPCC. Nesse contexto o tema da água  emergiu com intensidade, por meio de eventos críticos como secas, inundações e estresse hídrico em muitas partes do mundo e do Brasil.
Avanços na consciência e no conhecimento se impõem: hidratar as  políticas públicas e reduzir a hidroalienação; resgatar o eco de ecodesenvolvimento que se perdeu com a adoção dominante do conceito de desenvolvimento sustentável. Ecologizar tudo, a economia, a cultura, a sociedade, o pensamento, se impõe, na perspectiva da ecologia integral. A escala temporal precisa ser alargada : de anos ou décadas, o horizonte de tempo com que se trabalha com o desenvolvimento,  é necessário  expandir esse horizonte  para centenas ou milhares de anos, articulando a história humana com a história natural ( algo que Yuval Harari faz em seus livros Sapiens e Homo Deus).  É necessário expandir uma visão desenvolvimentista para uma abordagem evolucionista.
Finalmente, a pandemia de 2020 torna evidente como nossa espécie é parte integrante da natureza e mostra como um microscópico vírus pode mudar em pouco tempo a vida humana. Dissolve-se a fantasia da separatividade e o equívoco de considerar que nossa espécie se descolou da natureza. Junto com o sofrimento, doenças e mortes que trouxe, a pandemia teve efeitos colaterais positivos: a despoluição do ambiente, do ar, da água; a volta dos animais a áreas de que tinham sido expulsos, a solidariedade de empresas para com os mais vulneráveis, a solidariedade entre países; a aceleração da aplicação de novas tecnologias da comunicação com escritórios em casa e videoconferências.  Quando a FJP me convidou para participar desse encontro, a ideia era que eu me deslocasse de Brasília para BH para participar de um evento presencial num auditório. Em apenas três meses isso mudou radicalmente e realizou-se uma live webinar, com pouco custo econômico e ecológico.
Transformar os efeitos colaterais positivos que foram adotados involuntariamente devido à pandemia  em práticas duradouras  é uma meta que se coloca diante de todos. Novas pandemias virão, eventos climáticos críticos se tornam mais frequentes e intensos e o  futuro demanda muito conhecimento científico e tecnológico, muita capacidade de gestão, um aprimoramento espiritual e novas atitudes de frugalidade, simplicidade voluntaria, austeridade feliz e valorização do conforto essencial.
Com a pandemia, um seminário que seria presencial tornou-se um evento virtual. A FJP se moderniza para responder ao novo tempo.
                                                                                                                
 Espero que a Fundação João Pinheiro, nos próximos 50 anos, se reinvente, inove com criatividade e inteligência. E que continue a prestar bons serviços a Minas Gerais!” (Maurício Andrés Ribeiro)
*Fotos de arquivo

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segunda-feira, 25 de maio de 2020


ARTE SACRA IV


Dando continuidade às postagens sobre Arte Sacra, transcrevo o texto abaixo, extraído do meu livro “Vivência e Arte”, Editora Agir, 1968.

         E vimos também o barroco português em nossa terra, simbolizando a realeza e o poderio material do ouro, trazer-nos, com sua mensagem de beleza e arte, o testemunho de uma completa transformação na ordem espiritual e religiosa da época.

         Vimos os santos dramáticos, as formas convulsas e complicadas, redondas, sensuais, refletir uma época de sentimentalismo e contendas religiosas. Em lugar da unidade e espírito comunitário da arte medieval, a rivalidade e o espírito de competição das congregações religiosas. O barroco foi a mais importante herança de arte que tivemos. Ele nos deu testemunho de suas riquezas nas igrejas da Bahia e Minas, no Convento de Santo Antônio e no Mosteiro de São Bento, no Rio. Em Minas, o Aleijadinho deixou-nos a marca de seu gênio não só em Ouro Preto como também em Congonhas do Campo e São João Del Rei, Tiradentes, Sabará e Mariana. Seus santos revestem os mesmos princípios dramáticos do barroco, têm vida humana, e não divina. Tendo traduzido a seu modo os textos bíblicos, de maneira expressiva e atormentada, ele eternizou também, com sua arte, o espírito do tempo em que viveu. E foi, conjuntamente com Ataíde, um dos maiores artistas brasileiros do passado. 

No Rio, três monges do século XVII fizeram construir o Mosteiro de São Bento, considerado como um dos monumentos mais importantes do Patrimônio Histórico. O esplendor arquitetônico do Mosteiro deve-se à tradição da Ordem de São Bento, que inspirou o espírito de seu fundador e aos três artistas que, em conjunto, expressaram, dentro da linguagem de seu tempo, toda a grandeza de sua fé. Estes artistas foram: Frei Bernardo de São Bento – arquiteto; Frei Domingos da Conceição – escultor; e Frei Ricardo do Pilar – pintor.

         Seguindo as características da época, a arte sacra manifestou-se através de verdadeiros artistas, esclarecidos apenas nos aspectos formais, mas interpretando a verdade a seu modo. Daí temos a verdade de um Rafael e de um Miguel Ângelo (considerado o pai do barroco), de um Leonardo e de um Ticiano e, mais tarde, de um Goya e um Delacroix. Podemos fazer exceção a El Greco e Rembrandt, que procuraram traduzir em suas telas algo mais que a simples inspiração de um tema, trazendo para a Igreja uma contribuição de arte realmente cristã.

*Fotos da internet

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