segunda-feira, 25 de maio de 2020

ARTE SACRA IV


Dando continuidade às postagens sobre Arte Sacra, transcrevo o texto abaixo, extraído do meu livro “Vivência e Arte”, Editora Agir, 1968.

         E vimos também o barroco português em nossa terra, simbolizando a realeza e o poderio material do ouro, trazer-nos, com sua mensagem de beleza e arte, o testemunho de uma completa transformação na ordem espiritual e religiosa da época.

         Vimos os santos dramáticos, as formas convulsas e complicadas, redondas, sensuais, refletir uma época de sentimentalismo e contendas religiosas. Em lugar da unidade e espírito comunitário da arte medieval, a rivalidade e o espírito de competição das congregações religiosas. O barroco foi a mais importante herança de arte que tivemos. Ele nos deu testemunho de suas riquezas nas igrejas da Bahia e Minas, no Convento de Santo Antônio e no Mosteiro de São Bento, no Rio. Em Minas, o Aleijadinho deixou-nos a marca de seu gênio não só em Ouro Preto como também em Congonhas do Campo e São João Del Rei, Tiradentes, Sabará e Mariana. Seus santos revestem os mesmos princípios dramáticos do barroco, têm vida humana, e não divina. Tendo traduzido a seu modo os textos bíblicos, de maneira expressiva e atormentada, ele eternizou também, com sua arte, o espírito do tempo em que viveu. E foi, conjuntamente com Ataíde, um dos maiores artistas brasileiros do passado. 

No Rio, três monges do século XVII fizeram construir o Mosteiro de São Bento, considerado como um dos monumentos mais importantes do Patrimônio Histórico. O esplendor arquitetônico do Mosteiro deve-se à tradição da Ordem de São Bento, que inspirou o espírito de seu fundador e aos três artistas que, em conjunto, expressaram, dentro da linguagem de seu tempo, toda a grandeza de sua fé. Estes artistas foram: Frei Bernardo de São Bento – arquiteto; Frei Domingos da Conceição – escultor; e Frei Ricardo do Pilar – pintor.

         Seguindo as características da época, a arte sacra manifestou-se através de verdadeiros artistas, esclarecidos apenas nos aspectos formais, mas interpretando a verdade a seu modo. Daí temos a verdade de um Rafael e de um Miguel Ângelo (considerado o pai do barroco), de um Leonardo e de um Ticiano e, mais tarde, de um Goya e um Delacroix. Podemos fazer exceção a El Greco e Rembrandt, que procuraram traduzir em suas telas algo mais que a simples inspiração de um tema, trazendo para a Igreja uma contribuição de arte realmente cristã.

*Fotos da internet

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