segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016


O TEATRO DA VIDA

Luciano Luppi, ator, diretor e professor de teatro, escreveu o texto abaixo como um artigo para o jornal Hoje em Dia. Para o nosso público interessado em arte, é bom ver o pensamento de um diretor de teatro, com experiência de muitos anos nos palcos, falar sobre o Teatro da Vida.

“ Em teatro, o ato de representar, em síntese, significa compreender, assimilar e vivenciar o comportamento de um personagem. Os atores, portanto, representam os valores e crenças de um personagem. Entretanto, no palco da vida, re-a-presentamos os nossos próprios valores e crenças. Representar, portanto, os papéis que a vida nos confiou, significa reapresentar-se: ou seja, mostrar aos outros aquilo que somos através de um jogo de símbolos, imagens, metáforas. E precisamos do teatro encenado no palco para criar identificações com o que vivemos no palco da nossa vida. Podemos compreender melhor este jogo quando somos expectadores e estamos numa casa de espetáculos, e aí condoemo-nos com as atitudes de um determinado personagem, choramos com os descaminhos daquele outro, gargalhamos com as peripécias de outro mais. Enfim: identificamo-nos. E o ator é aquele que, no palco, faz aquilo que muitas vezes gostaríamos de fazer na vida, mas não temos condição ou coragem. E aplaudiremos o bom ator porque representou com muita competência e emoção aquilo que temos dificuldade de fazer. Aplaudiremos, também, porque precisamos sinalizar que aquilo é teatro, que o ator é um artista, e que um artista é uma máscara que tem a função de vestir e exibir muitas máscaras. Normalmente, não conhecemos o ser humano que assume o papel de artista. E quanto melhor o artista, melhor que permaneça nessa referência, pois sempre teremos uma máscara a nos servir com identificações adequadas e eficazes, e assim, evitaremos decepções. Contudo, só conseguiremos ser felizes com os nossos papéis na vida, quando estivermos relaxados e conscientes do teatro do qual fazemos parte e conseguirmos impor as mudanças necessárias para desenvolvê-los melhor. Com a clareza de que somos obrigados a assumir muitas atribuições sociais, temos que procurar representá-las da melhor forma possível. Entretanto, em alguns casos, deixamos a atuação enrijecer e o que era uma atribuição se transforma em algo rígido, ou seja, fica como que colado no nosso rosto – é a máscara. E precisamos de recursos para evitar que isso ocorra. A arte do teatro pode nos auxiliar neste projeto. Tendo consciência do que estamos exibindo ao mundo, com a mente aberta, o corpo relaxado, as emoções fluindo livremente, deixaremos de lado o medo e o sentimento de culpa, e poderemos expandir essa brincadeira gostosa, verdadeira e humana. E descobriremos mais: a vida nos impulsiona a transformar o “jogo de esconder” no “jogo de encontrar”. Significa encontrar, cada vez mais, a natureza essencial do ser humano que está por trás das representações, e, assim, desenvolver o sentido da existência, para transformar o sonho de crescer num espetáculo de vida.” (Artigo para coluna semanal no caderno Almanaque, do jornal Hoje em Dia)

*Fotos de Ivana Andrés e da internet


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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016


REFLEXÕES ARTE E TRANSFORMAÇÃO DO SER HUMANO

Vivemos numa época de inquietação resultado do esgotamento de conquistas materiais. O século XX acelerou de forma violenta o desenvolvimento tecnológico sem um equivalente no plano espiritual. Procura-se agora no século XXI, por todos os meios o equilíbrio do homem e seu ajustamento à vida. A psicologia em seu processo de busca, encontrou na criatividade uma das formas de liberação. Arte e psicologia estão unidas no dinamismo do século, procurando despertar e desenvolver a energia criadora do homem. Descobriu-se que a libertação desta energia promove completa modificação no comportamento humano.
 Através da arte os símbolos do inconsciente afloram, mostrando as raízes das angústias, bloqueios e emoções. Desfazem-se as máscaras, conscientizam-se fugas e a realidade aparece em sua autenticidade, sem reservas. Segundo Jung, “um símbolo não traz explicações, impulsiona para além de si mesmo na direção de um sentido ainda distante, inapreensível, obscuramente pressentido e que nenhuma palavra de língua falada poderia exprimir de maneira satisfatória”.
As pesquisas de Jung no interior do ser humano estendem-se a direções muito vastas e abrangentes, deixando as artes plásticas campo aberto para uma investigação cada vez mais consciente.
É o próprio homem em sua evolução cósmica que se revela em todos os seus movimentos e transformações. Seu comportamento, gestos e palavras são manifestações exteriores de uma realidade mais profunda que Jung buscou conscientizar. A arte foi usada por ele como instrumento desta conscientização, tornando-se porta aberta para a conquista do “self” ou arquétipo da divindade. Cada momento criador é um vislumbre desta luz interna que todo ser humano possui, obscurecida e bloqueada pelos condicionamentos e a multiplicidade de solicitações do mundo exterior.
Através do contato direto com esta fonte interna, o ser humano recupera passo a passo a unidade perdida.
Esta visão direta, intuitiva do universo é responsável também pela transformação que se processa no ser humano, ajudando-o a conscientizar seu relacionamento com o mundo. Compreendendo as relações humanas como um todo, também a vida se torna uma arte. A vivência da unidade, a captação dos símbolos do inconsciente, a busca do equilíbrio estendem-se além do objeto criado, modificando e transformando também o próprio artista.
Compreendendo isto, podemos dizer que a arte é realmente uma via de aperfeiçoamento humano, e a consciência desta integração é necessária para a nossa própria harmonização como seres humanos.

Fotos da internet

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segunda-feira, 25 de janeiro de 2016


PIETÁ CAETÉ

Este texto do Maurício me fez contemplar o céu:

‘No passado, essas pedras foram fundo de mares interiores, conviveram com animais pré-históricos, seus sulcos e ranhuras testemunham eras geológicas e mais de um bilhão e oitocentos milhões de anos. Do alto do lendário Itaberabaçú, a montanha que brilha, via-se a destruição ao longe das matas do rio Doce - Watu para as tribos caeté, botocudo, krenak, aimoré, que ali viveram e que conheceram a impiedade dos brancos. 
Vieram os caçadores de esmeraldas e de índios, as minas de ouro de Cuiabá e Descoberto, madeireiros. Bracarena ergueu a igreja em 1776, os romeiros subiam ao cume da Serra para o jubileu. A névoa encharca as pedras e gotas d’água pingam nos milagres, aos quais se atribuem poderes de cura.

A serra da Piedade é um monumento na paisagem, de onde se contempla o Caraça, Cauê, Itabira, o Espinhaço, a Serra do Curral. Hoje, é lugar de respirar ar.
São 1746 metros de altitude e 360 graus de visão, nesse grande mirante dos céus de Minas, de onde antenas controlam o tráfego aéreo e as telecomunicações. Do observatório astronômico, vê-se a estreita faixa de fogo no horizonte, que separa as luzes da metrópole e o brilho das estrelas e planetas.

Há uma nave branca pousada na rocha mirando Caeté. O santuário no cume da serra abriga a imagem da piedade, mãe e filho, azulejos registram o céu, anjos, mandalas.
Frei Rosário constrói com livros uma biblioteca mística e ecumênica, em sânscrito, latim, grego e em línguas correntes, onde se depositam conhecimentos de antigas tradições.

No futuro, a montanha sagrada da Piedade, Arunachala franciscana, abrigará um centro internacional de cultura cósmica. Ajudará seus visitantes a mergulharem no conhecimento ancestral e a estudarem a ecologia dos céus, ressacralizando a natureza em seu entorno.” (Pietá Caeté,
Maurício Andrés Ribeiro)

*Fotos da internet

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segunda-feira, 18 de janeiro de 2016


PAINEL EM AZULEJO NA ERMIDA DE NOSSA SENHORA DA PIEDADE EM CAETÉ II

Na Capela do Santíssimo Sacramento ou de São José, na Ermida da Serra da Piedade, procurei seguir o estilo barroco da ermida, para dar continuidade ao todo do Santuário de Nossa Senhora da Piedade, a padroeira de Minas Gerais. Lembro-me de Frei Rosário dizendo: “ Você foi escolhida para realizar esses painéis por ser uma artista espiritualista.”
A figura de São José é representada em pé, como guardião do sacrário. Procurei representar São José como aquele que foi designado para cuidar de Jesus e de Maria, segurando com a mão direita um bastão. Na parte de baixo, como num filme, procurei sugerir passagens da Bíblia.
A capela de São José foi escolhida para as orações e quando ali chegamos freiras e fiéis estavam rezando o terço. Há bancos na frente, que imaginei serem reservados ao clero. Diariamente as pessoas rezam ali, diante do Santíssimo.

Quando saímos do templo e nos dirigimos ao carro as freiras nos cercaram: “Você é Maria Helena, que bom conhecê-la, você recebe diariamente nossas orações.” Para mim foi importante ouvir isso. A alegria que elas tiveram ao me encontrar naquela manhã chuvosa valeu como um prêmio. Fiquei pensando no quanto a nossa arte vai se espalhando pelo mundo a fora e nas pessoas que atingimos. A arte cristã, destinada ao culto, é a forma de unir as pessoas, de trazer harmonia e paz para esse mundo tão conturbado.

Saímos de lá com a certeza de que a Nossa Senhora da Piedade, colocada na nave central e criada pelo grande artista mineiro, Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, é o símbolo da nossa Minas Gerais hoje tão devastada.

A Mãe ali está, carregando Jesus em seu colo, protegendo o povo de Minas, os peregrinos que chegam e elevando as vibrações para o alto. Está ali para dar momentos de paz para os mineiros e para todos os brasileiros.

O Santuário de Nossa Senhora da Piedade é um lugar que merece ser visitado não só por sua beleza natural, no alto das montanhas, como também pela vibração de amor e compaixão por esse povo que aqui vive e que através de gerações chega até a ermida e silenciosamente recebe a energia da Protetora.

*Fotos de Maurício Andrés

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sábado, 16 de janeiro de 2016


ESCOLA GUIGNARD, 70 ANOS DE HISTÓRIA

Éramos 40 alunos, jovens cheios de vida, pertencíamos à primeira geração de artistas que estudou com Guignard em Minas: Amílcar de Castro, Mário Silésio, Marilia Giannetti, Mary Vieira, Nelly Frade, Gavino Mudado, Leda Selmi Dei Gontijo, Heitor Coutinho, Arlinda Corrêa Lima, Farnese Andrade, Letitia Renault, Jeferson Lodi, Petrônio Bax, Vicente Abreu, Wilde Lacerda e Célia Laborne Tavares, entre outros. Fomos direcionados por um mestre que viera do Rio para nos conduzir. Guignard viera cheio de ideias novas, trazendo panoramas abertos para o aprendizado de arte em Minas. Deixara o Rio de Janeiro, onde já era considerado um dos maiores professores de arte do Brasil e também um dos maiores artistas brasileiros.
Viera da Europa lecionar no Rio, na Fundação Osório e participou do grupo A Nova Flor de Abacate, onde foi mestre de grandes artistas, tais como Iberê Camargo, Geze Heller, Alcides da Rocha Miranda, Vera Mindlin, Elysa Byington e Werner Amacher. Era amigo de Cândido Portinari, Roberto Burle Marx e também foi considerado por escritores e poetas. Cecília Meireles lhe dedicava versos, o grupo de intelectuais de São Paulo veio a Belo Horizonte para participar com Guignard e os artistas modernos da inauguração da Semana de Arte Moderna em Belo Horizonte, realizada em 1944. Guignard era um revolucionário, lutava contra o academismo vigente na época. Achava que o academismo amarrava os artistas.

Seu método de ensino, baseado no despertar pessoal de cada aluno, assemelhava-se aos ensinamentos de Johannes Itten na Bauhaus de Weimar, na Alemanha.
Despertar em primeiro lugar a sensibilidade, o olhar atento para a natureza, as árvores, os céus, as nuvens, os desenhos que se formam nas paredes velhas, nas pedras, no corte das árvores, nas sombras do chão. Ver os círculos que se formam nas águas quando ali atiramos uma pedra. Observar o olho humano, mandala cheia de vida e de mistérios.

O parque era sempre cheio de motivações para o nosso imaginário de jovens artistas. Passávamos horas debaixo daquelas árvores, sentadas em banquinhos, desenhando com lápis duro, 6H. O desenho nos dava a possibilidade de praticar o exercício da concentração, uma meditação espontânea, sem intenção de ser meditação.
Paralelamente ao desenho de observação, ensinado debaixo das árvores, Guignard nos orientava também, dentro do ateliê. Fazíamos retratos e figuras do natural, como nas academias de Belas Artes.

Muitas vezes acompanhávamos Guignard a Ouro Preto, para desenharmos aquela cidade histórica, e também ao Rio de Janeiro para expormos nossos trabalhos.

Na década de 60 eu era professora da Escola Guignard e ali ocupava a cadeira de desenho de criação. A Escola estava situada no parque municipal de Belo Horizonte, nos porões do Palácio das Artes. Ali Guignard e Franz Weissmann  lecionaram; mais tarde seus alunos os substituíram. A Escola era pobre, sem recursos, mas rica em talentos. Vários artistas saíram dali e seguiram mais tarde seu próprio caminho.

Na década de 60 assumi a direção da Escola num período de crise financeira. Procurei vários ex-alunos e todos se prontificaram a dar aulas voluntariamente, sem nenhuma remuneração, até que a crise passasse.
Tomamos a decisão de procurar apoio no governo de Minas. Acenamos para os poderes públicos em busca de ajuda e convidamos o Dr. José Guimarães Alves para dirigir a Escola e ligá-la à Imprensa Oficial. Lembro-me das reuniões improvisadas debaixo das árvores. Foi uma época tumultuada, cheia de imprevistos, mas também coroada de êxito. A solidariedade e o idealismo prevaleceram sobre a iminente derrota. Era necessário oficializar a Escola. Afim de legalizar o pagamento dos professores o novo diretor organizou um concurso público de Notório Saber. Todos fomos concursados e, de acordo com a lei, passamos a pertencer ao quadro de funcionários da Imprensa Oficial. 

Na década de 70 pedi demissão da Escola Guignard para me dedicar às minhas pesquisas na Índia e preferi me aposentar pelo INSS.
Agora a Escola Guignard enfrenta um novo desafio, com a demissão de professores, muitos deles com mais de 20 anos de experiência, e que procuram seguir a filosofia do Mestre Guignard. Se a forma de seleção de professores proposta hoje por órgãos governamentais fosse implantada no início da criação da Escola, o Mestre Guignard seria o primeiro a ser demitido. O notório saber do Guignard seria ignorado para seguir uma legislação burocrática.

Reescrevo aqui três citações para reflexão:
“Não se ensina ninguém a ser artista ditando-lhe conceitos teóricos, como não se ensina ninguém a ser poeta ditando-lhe regras gramaticais”. (Maria Helena Andrés, citação do livro Vivência e Arte, editora Agir, 1966)
 “Não se exige de uma artista plástico o talento de redigir com clareza o que ocorre em seu mundo interior de vivência estética. Às vezes, entretanto, acontece esta maravilhosa casualidade, este dualismo, do pintor ser também escritor. Então eles nos legam textos que se tornam preciosos porque iluminam direções e espaços, motivos e razões, anseios e reflexões que não são os nossos” (Clarival do Prado Valadares, apresentação do catálogo Maria Helena Andrés, referente à exposição da artista na Galeria Goeldi, Rio de Janeiro, set. 1965 )
“Para ser artista não é necessário ser doutor”, dizia Amílcar de Castro a seus alunos.

A Escola Guignard sempre foi uma Escola pautada pela liberdade de criação, uma experiência bem sucedida durante 70 anos. Se ela quase fechou suas portas por falta de recursos financeiros, hoje corre o risco de se distanciar da verdadeira proposta de Guignard.

Espero que, a partir de agora, possam surgir novos parâmetros para a avaliação de professores do ensino de arte, pautados pelo fazer artístico e pela experiência em ateliês.

*Fotos da internet


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terça-feira, 12 de janeiro de 2016

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015


PAINEL EM AZULEJO NA ERMIDA DE NOSSA SENHORA DA PIEDADE EM CAETÉ I

Quando Frei Rosário me procurou em Belo Horizonte para realizar os painéis das capelas da ermida de Nossa Senhora da Piedade, eu acabava de escrever um capítulo para meu livro Os caminhos da Arte relacionando os hinos védicos com o canto gregoriano. Meu trabalho estava voltado para a integração do Oriente com o Ocidente através da música religiosa.

Em relação aos dois painéis, Frei Rosário me trouxe indicações bíblicas que eu deveria ler para me inspirar nos temas encomendados. Era importante ler textos do Antigo e Novo Testamento, para uma informação histórica.

Na capela do Sagrado Coração de Jesus na Ermida de Nossa Senhora da Piedade em Caeté escolhi a forma circular da mandala, com a figura de Cristo ao centro trazendo luz e sabedoria para o mundo.

Mandala significa círculo em sânscrito. Universalmente a mandala é símbolo da integração e da harmonia. Significa também a concentração de energia, o universo, a procura da paz interior. A cor azul simboliza a sabedoria de Cristo transmitida através dos séculos. Escolhi a mandala pelo seu significado universal de integração e paz, usado no Oriente como forma de meditação.

O símbolo da mandala com o Cristo no centro foi usado no Ocidente numa pequena tela de Hieronymus Bosch, hoje pertencente ao Museu do Prado em Madrid. Ali o Cristo ilumina as pessoas para vencerem e superarem os sete pecados capitais.
O psicólogo Carl Jung usou a mandala como integração final do processo de individuação do ser humano.

A figura do Cristo ao centro nos faz relembrar o Cristo interno de cada um de nós e a centelha divina que a todos pertence. “O Reino dos Céus está dentro de vós” nos disse Jesus.

No Santuário da Serra da Piedade a lembrança do nosso Cristo interno está representada nessa pequena capela, onde os devotos acendem velas e, durante a época do Natal, armam presépios.
Tiramos fotos em frente ao painel, agradecendo nossa presença nesse santuário de paz e desejando a paz para todos os brasileiros e para todas as pessoas.

*Fotos de Maurício Andrés

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segunda-feira, 14 de dezembro de 2015


TAPEÇARIAS E MURAIS

“As luas, os mastros, os mistérios,
As velas que pretendem voar!
E, no entanto, prendê-las à terra.
Amarrá-las ao concreto e limitado da lã.
O desenho não nasceu somente para ser tapete.
Houve que surpreendê-lo, mostrando-lhe possibilidades ocultas.
E nisto, a busca apaixonada da verdade de cada forma, de cada cor, de cada desejo.
Percorremos, meses a fio, a larga estrada
Que nos levou da ambição do que nos propusemos,
Ao que, realmente conseguimos.
Dar ao desenho de Maria Helena Andrés,
Outra fase,
Numa outra matéria.” (Maria Ângela Almeida Magalhães)

Maria Ângela foi minha parceira nas tapeçarias durante vários anos nas décadas de 60 e 70.

Transcrevo abaixo um texto que escrevi em 1969, sobre tapeçarias e murais:
“Quando em agosto deste ano realizei na Galeria do Copacabana Palace uma exposição de pinturas da fase interplanetária, outra série de meus trabalhos já se elaborava no Rio, numa rua de Botafogo, entregue a uma equipe de artesãs. Ao mesmo tempo em que eu pintava e expunha a série de astronautas, outras mãos trabalhavam em meus tapetes.
Os 12 tapetes serão expostos em Belo Horizonte em 6 de outubro, na Galeria Guignard. Há dois anos projetei uma série de pequenos estudos sobre os barqueiros do São Francisco, tendo como finalidade a execução de um mural. No entanto, não tendo podido realizar o trabalho, guardei os estudos em meus arquivos, para algum tempo mais tarde entregá-los ao Artesanato da Providência, dirigido por Maria Ângela Magalhães e Gilda Carneiro. Seria a oportunidade de ver realizado o que eu planejara para o mural, mas que não pudera executar.
Encontrei nesse artesanato a possibilidade de dar sequência ao meu estilo de arte, contribuindo até para maior enriquecimento com os recursos próprios da tapeçaria. Nuances e transparências não precisavam ser suprimidas e poderiam ser sugeridas com lãs de vários matizes e a mistura de materiais novos. Acompanhei o trabalho vindo ao Rio todos os meses, mas deixando à orientadora de meus estudos, Maria Ângela, a iniciativa de criar pontos e inventar recursos novos dentro do metier. A pintura individualista, criada e executada por uma só pessoa, vem sendo substituída nestes últimos tempos pelas equipes de arte com um responsável e vários colaboradores. É necessário, no entanto, que essas equipes sejam bem entrosadas, que haja a adequação perfeita das mãos que executam com aquelas que criam o projeto. Dentro deste esquema a criatividade é distribuída e reforçada para que se possa fazer alguma coisa de maior vulto, com a responsabilidade dividida entre vários.
Meus cartões são desenhados em pastel sobre papel veludo, permitindo desde o início imaginar o efeito a ser conseguido no aveludado das lãs.
Orientadas por Maria Ângela, as artesãs transformam o projeto em tapeçaria.

A tapeçaria e a pintura mural têm raízes comuns. Ambas exigem certa monumentalidade, a captação de um conjunto global, concentrado em determinado espaço. Portanto, quanto maior e mais muralística, mais apta estará a tapeçaria para preencher a finalidade à qual se destina, que não é simplesmente decorativa, mas visa a integração a determinado conjunto arquitetônico. Daí a razão para considerar os projetos de mural mais adequados para tapeçaria do que os estudos para um quadro. O mural exige um pouco de reflexão, o exame detalhado de cada espaço, de cada forma. A espontaneidade tem de ser corrigida e orientada pela inteligência. A monumentalidade exigida pelo mural não é a simples ampliação de figuras ou cenas, mas a visão global de determinada ideia, a síntese de um conjunto. A tapeçaria pode ambicionar também a conquista desta monumentalidade. Isto porque tapeçaria não é somente arte decorativa, mas deve expandir-se a campos mais amplos.
Pretendo conduzir meus tapetes ao mesmo destino do mural. Acho que é um caminho sério, os recursos são grandes, possibilitando maior enriquecimento daquilo que imaginei um dia num simples cartão colorido.

*Fotos de Maurício Andrés e de arquivo

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terça-feira, 8 de dezembro de 2015


ANIVERSÁRIO DE JOAQUIM PEDRO E LUIZA

Esta carta foi escrita para um livro que minha neta Alice organizou sobre seu irmão Joaquim Pedro, por ocasião do aniversário dele e de sua filha Luiza.

“Joaquim Pedro

A sua chegada a este planeta foi um sucesso na família. Você foi o primeiro neto e chegou a conhecer o seu avô Luiz, que o punha no colo com o maior carinho.
Quando a vida levou seu avô para outras dimensões, embarcamos para a Índia, onde seu pai trabalharia por um ano, na cidade de Bangalore, sudoeste indiano.

Tive a oportunidade de viajar junto e conviver de perto com você. Passeávamos juntos pelos parques e praças da cidade e eu pude ver o meu neto, loirinho, fazer amizades com outros meninos, como uma única família.

Aquela viagem trouxe para você um conhecimento do mundo muito importante e deixou lembranças nas pessoas que tiveram a oportunidade de conhecê-lo.
Joaquim, você fez sucesso no Hotel Harsha, em Bangalore. Há alguns anos atrás, encontrei um dos garçons do hotel que já trabalhava noutro lugar. “Onde está aquele menino loirinho que corria pelo restaurante? Temos um retrato dele em casa. Quero mostrar para vocês.” Só sei que, por causa daquele loirinho, fomos convidadas para um jantar em casa do garçon.

Você também foi o personagem de um livro escrito por sua mãe e ilustrado por mim. O livro “Pepedro nos caminhos da Índia” circula por outros espaços, contando para as crianças brasileiras a história de um garoto que saiu do Brasil para viajar pela Índia com a família.

A Índia continua a ser inspiração para todos nós.

Recentemente, quando viajamos juntos para rever os lugares por onde passamos, você me ajudava a cantar mantras dentro da van que nos conduzia por estradas poeirentas, palácios de marajás, passeios em cima de elefantes. Você me acompanhou de perto e me ajudou a entrar no rio Ganges, para colocar meu barquinho com flores.
Quando regressamos ao Brasil, você prolongou a viagem por mais uns dias, para visitar Kachempure, a cidade onde o seu pai fez um trabalho comparativo Brasil-Índia na década de 70. Visitou a escola da cidade e presenteou as crianças com uma biblioteca de livros infantis.

Hoje, sua filha Luiza, continua a ser o sucesso na família, uma criança linda, cercada de carinho.

Assim é a vida: filhos, netos e bisnetos nos contam histórias e nos trazem alegria.

Um grande abraço,
Vó Helena”

*Fotos de Maurício Andrés

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