Luciano Luppi, ator, diretor e professor de teatro,
escreveu o texto abaixo como um artigo para o jornal Hoje em Dia. Para o nosso
público interessado em arte, é bom ver o pensamento de um diretor de teatro,
com experiência de muitos anos nos palcos, falar sobre o Teatro da Vida.
“ Em teatro, o ato de representar,
em síntese, significa compreender, assimilar e vivenciar o comportamento de um
personagem. Os atores, portanto, representam os valores e crenças de um
personagem. Entretanto, no palco da vida, re-a-presentamos os nossos próprios
valores e crenças. Representar, portanto, os papéis que a vida nos confiou, significa
reapresentar-se: ou seja, mostrar aos outros aquilo que somos através de um
jogo de símbolos, imagens, metáforas. E precisamos do teatro encenado no palco
para criar identificações com o que vivemos no palco da nossa vida. Podemos compreender
melhor este jogo quando somos expectadores e estamos numa casa de espetáculos, e
aí condoemo-nos com as atitudes de um determinado personagem, choramos com os
descaminhos daquele outro, gargalhamos com as peripécias de outro mais. Enfim:
identificamo-nos. E o ator é aquele que, no palco, faz aquilo que muitas vezes
gostaríamos de fazer na vida, mas não temos condição ou coragem. E aplaudiremos
o bom ator porque representou com muita competência e emoção aquilo que temos
dificuldade de fazer. Aplaudiremos, também, porque precisamos sinalizar que
aquilo é teatro, que o ator é um artista, e que um artista é uma máscara que
tem a função de vestir e exibir muitas máscaras. Normalmente, não conhecemos o
ser humano que assume o papel de artista. E quanto melhor o artista, melhor que
permaneça nessa referência, pois sempre teremos uma máscara a nos servir com
identificações adequadas e eficazes, e assim, evitaremos decepções. Contudo, só
conseguiremos ser felizes com os nossos papéis na vida, quando estivermos
relaxados e conscientes do teatro do qual fazemos parte e conseguirmos impor as
mudanças necessárias para desenvolvê-los melhor. Com a clareza de que somos
obrigados a assumir muitas atribuições sociais, temos que procurar representá-las
da melhor forma possível. Entretanto, em alguns casos, deixamos a atuação
enrijecer e o que era uma atribuição se transforma em algo rígido, ou seja,
fica como que colado no nosso rosto – é a máscara. E precisamos de recursos
para evitar que isso ocorra. A arte do teatro pode nos auxiliar neste projeto. Tendo
consciência do que estamos exibindo ao mundo, com a mente aberta, o corpo
relaxado, as emoções fluindo livremente, deixaremos de lado o medo e o
sentimento de culpa, e poderemos expandir essa brincadeira gostosa, verdadeira
e humana. E descobriremos mais: a vida nos impulsiona a transformar o “jogo de
esconder” no “jogo de encontrar”. Significa encontrar, cada vez mais, a
natureza essencial do ser humano que está por trás das representações, e,
assim, desenvolver o sentido da existência, para transformar o sonho de crescer
num espetáculo de vida.” (Artigo para coluna semanal no caderno Almanaque, do
jornal Hoje em Dia)
*Fotos de Ivana Andrés e da
internet
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