quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

O TEATRO DA VIDA

Luciano Luppi, ator, diretor e professor de teatro, escreveu o texto abaixo como um artigo para o jornal Hoje em Dia. Para o nosso público interessado em arte, é bom ver o pensamento de um diretor de teatro, com experiência de muitos anos nos palcos, falar sobre o Teatro da Vida.

“ Em teatro, o ato de representar, em síntese, significa compreender, assimilar e vivenciar o comportamento de um personagem. Os atores, portanto, representam os valores e crenças de um personagem. Entretanto, no palco da vida, re-a-presentamos os nossos próprios valores e crenças. Representar, portanto, os papéis que a vida nos confiou, significa reapresentar-se: ou seja, mostrar aos outros aquilo que somos através de um jogo de símbolos, imagens, metáforas. E precisamos do teatro encenado no palco para criar identificações com o que vivemos no palco da nossa vida. Podemos compreender melhor este jogo quando somos expectadores e estamos numa casa de espetáculos, e aí condoemo-nos com as atitudes de um determinado personagem, choramos com os descaminhos daquele outro, gargalhamos com as peripécias de outro mais. Enfim: identificamo-nos. E o ator é aquele que, no palco, faz aquilo que muitas vezes gostaríamos de fazer na vida, mas não temos condição ou coragem. E aplaudiremos o bom ator porque representou com muita competência e emoção aquilo que temos dificuldade de fazer. Aplaudiremos, também, porque precisamos sinalizar que aquilo é teatro, que o ator é um artista, e que um artista é uma máscara que tem a função de vestir e exibir muitas máscaras. Normalmente, não conhecemos o ser humano que assume o papel de artista. E quanto melhor o artista, melhor que permaneça nessa referência, pois sempre teremos uma máscara a nos servir com identificações adequadas e eficazes, e assim, evitaremos decepções. Contudo, só conseguiremos ser felizes com os nossos papéis na vida, quando estivermos relaxados e conscientes do teatro do qual fazemos parte e conseguirmos impor as mudanças necessárias para desenvolvê-los melhor. Com a clareza de que somos obrigados a assumir muitas atribuições sociais, temos que procurar representá-las da melhor forma possível. Entretanto, em alguns casos, deixamos a atuação enrijecer e o que era uma atribuição se transforma em algo rígido, ou seja, fica como que colado no nosso rosto – é a máscara. E precisamos de recursos para evitar que isso ocorra. A arte do teatro pode nos auxiliar neste projeto. Tendo consciência do que estamos exibindo ao mundo, com a mente aberta, o corpo relaxado, as emoções fluindo livremente, deixaremos de lado o medo e o sentimento de culpa, e poderemos expandir essa brincadeira gostosa, verdadeira e humana. E descobriremos mais: a vida nos impulsiona a transformar o “jogo de esconder” no “jogo de encontrar”. Significa encontrar, cada vez mais, a natureza essencial do ser humano que está por trás das representações, e, assim, desenvolver o sentido da existência, para transformar o sonho de crescer num espetáculo de vida.” (Artigo para coluna semanal no caderno Almanaque, do jornal Hoje em Dia)

*Fotos de Ivana Andrés e da internet


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