Recebi
de Maurício Andrés a palestra abaixo proferida num seminário sobre cidades
sensíveis à água, realizado na Universidade de Brasília no contexto do Fórum Alternativo
Mundial da Água.
Ali
se trataram temas relacionados com o abastecimento de água e o saneamento, a
captação de água de chuva, as crises hídricas que ameaçam grandes cidades com
racionamento e as inundações urbanas que causam mortes e prejuízos, e que
tendem a se intensificar no contexto das mudanças climáticas.
A
hidroética, a mobilização e educação para a água também foram objeto de
atenção.
O
Seminário propunha focar a transição política, pedagógica, tecnológica e
prática para alcançar ambientes saudáveis e mais democráticos.
Focalizei os aspectos conceituais e teóricos
para se fazer essa transição, o que envolve a criação de palavras que expressem
essa nova realidade que se busca. Entre elas estão as palavras hidroconsciencia
e hidroalfabetização.
Hidroconsciência pode ser vista como a compreensão de como a água está
presente no universo, no planeta, na cidade, na casa e no corpo de cada um;
como funciona o ciclo da água, a importância das bacias hidrográficas, os
impactos negativos ou positivos que as atividades humanas provocam sobre ela.
A hidroalfabetização, inspirada pela ecoalfabetização implantada por
Fritjof Capra na Califórnia, é um processo educativo que dissolve a
hidroalienação e que pode induzir mudanças de comportamento coletivo e
individual e atitudes amigáveis no relacionamento com a água.
Mostrei
como a percepção sobre a água passou da abundância à escassez nos últimos anos.
Em
1500 Pero Vaz de Caminha
escreveu em sua famosa carta que “Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!”
escreveu em sua famosa carta que “Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!”
No
século XXI, racionamento, conflitos pela água, disputas e secas mostram outra
realidade.
Há
grande diversidade de estágios de consciência e de conhecimento quanto às
questões da água, dos mais alienados aos mais engajados.
Mudanças
de estágios de consciência, de atitudes e comportamentos podem acontecer
rapidamente. Quanto mais pessoas se transportarem de uma visão hidroalienada
para um estágio mais avançado de consciência e adequarem seus hábitos de vida e
de consumo, menores podem ser os sofrimentos e os impactos negativos associados
às mudanças climáticas.
Relacionei
dez caminhos para expandir a hidroconsciência. São eles:
1. As catástrofes em
escala macro como nos furacões ou em escala micro, nas secas e crises de
escassez urbanas, que despertam a consciência pelo susto e são pedagógicas.
2. A Ciência que por meio da razão pode
conduzir a uma visão mais integral e holística conectando a agua, o solo, as
florestas, os seres vivos, a atmosfera.
3. A tecnologia e a informação, que
permitem conhecer racionalmente e medir
os fatos e compreender melhor as situações.
4.
A Educação em todos os níveis e faixas
etárias podem hidratar cada uma e todas as disciplinas e profissões não só no
campo do conhecimento técnico e científico, mas também no campo da
sensibilidade, da ética e dos valores. A hidroeducação e a hidroalfabetização
chamam a atenção para o valor da água. Métodos educativos coletivos facilitam a
sinergia e troca de conhecimentos e vivencias entre indivíduos e grupos.
5. A Comunicação,
que traduz uma linguagem fragmentada,
ultra especializada, em linguagem de entendimento mais amplo e dissemina
conhecimentos para muitos em outro nível de linguagem, e que abastece as mentes com novas informações
e conhecimentos.
6. A Arte (música,
poesia, teatro, dança,
artes plásticas, fotografia,
cinema etc) que sensibilizam por meio da beleza, ativam emoções e
sentimentos que movem as ações.
7. A Corporeidade,
por meio da inteligência existente no
corpo e nos sentidos do tato, visão, audição, olfato, paladar que percebem o
ambiente e alimentam o cérebro. O próprio corpo é também água. Hidromassagem,
esportes aquáticos e náuticos movimentam o corpo na água e estimulam a
hidroconsciência.
8. Ética
hídrica ativada pela Espiritualidade encontrada em várias
tradições, como o batismo cristão, os banhos nos rios sagrados dos hindus, os
cultos a iemanjá etc.
9. Os Incentivos econômicos tais como os oferecidos
na Califórnia para substituir jardins e trocar equipamentos que desperdiçam agua por outros mais eficientes.
10. A Legislação
que pode induzir a comportamentos menos perdulários e a uma melhor gestão da
água. Captação de água de chuva, impermeabilização de terrenos, hidrometração
individualizada, são alguns dos temas que merecem legislação local
hidroconsciente.
*Fotos de arquivo
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