segunda-feira, 16 de abril de 2018

DEZ CAMINHOS PARA EXPANDIR A HIDROCONSCIÊNCIA


Recebi de Maurício Andrés a palestra abaixo proferida num seminário sobre cidades sensíveis à água, realizado na Universidade de Brasília no contexto do Fórum Alternativo Mundial da Água.

Ali se trataram temas relacionados com o abastecimento de água e o saneamento, a captação de água de chuva, as crises hídricas que ameaçam grandes cidades com racionamento e as inundações urbanas que causam mortes e prejuízos, e que tendem a se intensificar no contexto das mudanças climáticas.
A hidroética, a mobilização e educação para a água também foram objeto de atenção.
O Seminário propunha focar a transição política, pedagógica, tecnológica e prática para alcançar ambientes saudáveis e mais democráticos.
 Focalizei os aspectos conceituais e teóricos para se fazer essa transição, o que envolve a criação de palavras que expressem essa nova realidade que se busca. Entre elas estão as palavras hidroconsciencia e hidroalfabetização.
Hidroconsciência pode ser vista como a compreensão de como a água está presente no universo, no planeta, na cidade, na casa e no corpo de cada um; como funciona o ciclo da água, a importância das bacias hidrográficas, os impactos negativos ou positivos que as atividades humanas provocam sobre ela.
A hidroalfabetização, inspirada pela ecoalfabetização implantada por Fritjof Capra na Califórnia, é um processo educativo que dissolve a hidroalienação e que pode induzir mudanças de comportamento coletivo e individual e atitudes amigáveis no relacionamento com a água.
Mostrei como a percepção sobre a água passou da abundância à escassez nos últimos anos.

Em 1500 Pero Vaz de Caminha
escreveu em sua famosa carta que
“Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!”

No século XXI, racionamento, conflitos pela água, disputas e secas mostram outra realidade.

Há grande diversidade de estágios de consciência e de conhecimento quanto às questões da água, dos mais alienados aos mais engajados.
Mudanças de estágios de consciência, de atitudes e comportamentos podem acontecer rapidamente. Quanto mais pessoas se transportarem de uma visão hidroalienada para um estágio mais avançado de consciência e adequarem seus hábitos de vida e de consumo, menores podem ser os sofrimentos e os impactos negativos associados às mudanças climáticas.
Relacionei dez caminhos para expandir a hidroconsciência. São eles:


1. As catástrofes em escala macro como nos furacões ou em escala micro, nas secas e crises de escassez urbanas, que despertam a consciência pelo susto e são pedagógicas.

2. A Ciência que por meio da razão pode conduzir a uma visão mais integral e holística conectando a agua, o solo, as florestas, os seres vivos, a atmosfera.

3. A tecnologia e a informação, que permitem conhecer  racionalmente e medir os fatos e compreender melhor as situações.
4.      A Educação em todos os níveis e faixas etárias podem hidratar cada uma e todas as disciplinas e profissões não só no campo do conhecimento técnico e científico, mas também no campo da sensibilidade, da ética e dos valores. A hidroeducação e a hidroalfabetização chamam a atenção para o valor da água. Métodos educativos coletivos facilitam a sinergia e troca de conhecimentos e vivencias entre indivíduos e grupos.
5.      A Comunicação, que traduz  uma linguagem fragmentada, ultra especializada, em linguagem de entendimento mais amplo e dissemina conhecimentos para muitos em outro nível de linguagem, e  que abastece as mentes com novas informações e conhecimentos.
6.      A Arte (música, poesia,  teatro,  dança,  artes plásticas, fotografia,  cinema etc) que sensibilizam por meio da beleza, ativam emoções e sentimentos que movem as ações.

7.      A Corporeidade, por meio da inteligência  existente no corpo e nos sentidos do tato, visão, audição, olfato, paladar que percebem o ambiente e alimentam o cérebro. O próprio corpo é também água. Hidromassagem, esportes aquáticos e náuticos movimentam o corpo na água e estimulam a hidroconsciência.

8.      Ética hídrica ativada pela Espiritualidade encontrada em várias tradições, como o batismo cristão, os banhos nos rios sagrados dos hindus, os cultos a iemanjá etc.


9.       Os Incentivos econômicos tais como os oferecidos na Califórnia para substituir jardins e trocar equipamentos  que desperdiçam agua  por outros mais eficientes.
10.  A Legislação que pode induzir a comportamentos menos perdulários e a uma melhor gestão da água. Captação de água de chuva, impermeabilização de terrenos, hidrometração individualizada, são alguns dos temas que merecem legislação local hidroconsciente.

*Fotos de arquivo

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