Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
segunda-feira, 30 de abril de 2018
TERESINHA SOARES, UMA GUERREIRA DAS ARTES
A exposição de Teresinha Soares no Palácio das Artes, com a curadoria de
Marília Andrés Ribeiro, foi um acontecimento de grande repercussão na cidade.
Sua mensagem transmitida através de telas, serigrafias, poemas,
esculturas, instalações, datam dos anos
60 e 70, quando ela movimentou a pacata metrópole de Belo Horizonte com suas
invenções.
Teresinha sempre foi à frente de seu tempo. Fez parte do movimento de
contracultura que se esboçava naqueles anos repressivos, quando não se podia
dizer nada que fosse contrário à ordem vigente. A presença de Teresinha quebrou os
condicionamentos da época. Ela deu o seu recado, ganhou prêmios, participou de
Salões e Bienais, expôs nos Estados Unidos e Europa. Depois preferiu
recolher-se ao silencio por alguns anos.
A volta de Teresinha ao circuito de arte está sendo coroada de sucesso,
com uma grande exposição no MASP e agora com essa exposição no Palácio das Artes,
que vai estar em cartaz até o final de junho de 2018.
Caminhamos pela Grande Galeria, que tem na entrada um painel com a
fotografia de Teresinha vestida de anjo, durante uma performance em que ela
representava a ressurreição da mulher.
Ao longo do salão, entre luzes e refletores, desfilava a sua trajetória,
que apresentava uma série de trabalhos em técnicas variadas, desvendando o seu
próprio caminho. “Do corpo da mulher ao corpo da terra” como me disse Marília,
a curadora da mostra.
No meio da sala, uma instalação intitulada “Túmulos” servia chopp e
queijo de Minas para os visitantes. No final da exposição o “Altar do
Sacrifício” nos faz refletir sobre o desmatamento vertiginoso de nossas
florestas.
As propostas feministas, sociais e ecológicas de Teresinha, realizadas
há quase 50 anos atrás, são mensagens que se enquadram em nosso momento
histórico.
*Fotos de Marília Andrés e de arquivo
terça-feira, 24 de abril de 2018
PINTURA MODERNA VII
O Dadaísmo, movimento que pretendia
transformar em arte as coisas mais vulgares e negar todos os valores
tradicionais da cultura, expressou a revolta do homem contra a sociedade e suas
leis. A doutrina de Freud, apregoando o automatismo psíquico, muito contribuiu
para isto.
As idéias de Freud, muito difundidas
pela Europa, deram impulso a outra corrente de arte, o surrealismo, onde
prevalecia o automatismo psíquico.
O surrealismo colocava o subconsciente
e as manifestações íntimas do psíquico à frente de todas as idéias estéticas e
formais.
A imaginação via-se livre do espírito
crítico, para dar largas ao maravilhoso, ao sonho, ao imprevisto.
Paul Klee, um dos maiores nomes da
pintura universal, também acreditou que a realidade não se achava na
superfície, mas na profundidade das coisas. A pintura de Klee teve um
significado vastíssimo no nosso tempo. Sua arte, baseando-se no ideal expressionista
de subjetivismo, procurou afastar-se da realidade visível, para ganhar em
conteúdo e riquezas. Suas formas e seus signos são procurados no mundo
fantástico e inocente das crianças e na visão atormentada dos loucos.
Sua pintura, considerada como o museu
completo do sonho, mergulha no desconhecido, para dali extrair uma visão
inteiramente nova do universo.
A obra de Klee abriu caminho para novas
tendências de arte e podemos dela tirar como herdeiros diretos os surrealistas,
os abstracionistas e os concretistas.
A pintura concreta libertou-se da
tradição, procurando um caminho diferente e completamente novo.
Um quadro concreto não poderia ser
julgado dentro do mesmo critério de um outro abstrato ou figurativo. Ele visava
transformar uma idéia (não um tema ou sujeito) em forma concreta. Nesta
realização deveria esgotar todos os seus recursos. Não se admite um quadro ou
uma escultura concreta sem esta clareza de expressão e executado dentro de uma
técnica confusa e complicada. Para isto servia-se, às vezes, de materiais novos
que permitiam maior pureza e simplicidade na realização.
Os concretistas desejavam uma expressão
exata e não apenas sugerida de sua idéia.
A arte abstrata poderia sugerir, a arte
concreta teria de afirmar, para ser verdadeira.
O emprego de formas geométricas
simples, de cores exatas e de composições equilibradas dentro de leis
matemáticas veio alertar o artista e despertar-lhe a consciência da técnica,
tão desprezada pelos primeiros modernistas.
Este foi um dos aspectos mais
fortemente positivos dessa fase, que beneficiou, com essas noções, não só seus
adeptos, mas seus adversários. (Trecho do meu livro “Vivência e Arte”, editora
Agir, 1966)
*Fotos
da internet
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segunda-feira, 16 de abril de 2018
DEZ CAMINHOS PARA EXPANDIR A HIDROCONSCIÊNCIA
Recebi
de Maurício Andrés a palestra abaixo proferida num seminário sobre cidades
sensíveis à água, realizado na Universidade de Brasília no contexto do Fórum Alternativo
Mundial da Água.
Ali
se trataram temas relacionados com o abastecimento de água e o saneamento, a
captação de água de chuva, as crises hídricas que ameaçam grandes cidades com
racionamento e as inundações urbanas que causam mortes e prejuízos, e que
tendem a se intensificar no contexto das mudanças climáticas.
A
hidroética, a mobilização e educação para a água também foram objeto de
atenção.
O
Seminário propunha focar a transição política, pedagógica, tecnológica e
prática para alcançar ambientes saudáveis e mais democráticos.
Focalizei os aspectos conceituais e teóricos
para se fazer essa transição, o que envolve a criação de palavras que expressem
essa nova realidade que se busca. Entre elas estão as palavras hidroconsciencia
e hidroalfabetização.
Hidroconsciência pode ser vista como a compreensão de como a água está
presente no universo, no planeta, na cidade, na casa e no corpo de cada um;
como funciona o ciclo da água, a importância das bacias hidrográficas, os
impactos negativos ou positivos que as atividades humanas provocam sobre ela.
A hidroalfabetização, inspirada pela ecoalfabetização implantada por
Fritjof Capra na Califórnia, é um processo educativo que dissolve a
hidroalienação e que pode induzir mudanças de comportamento coletivo e
individual e atitudes amigáveis no relacionamento com a água.
Mostrei
como a percepção sobre a água passou da abundância à escassez nos últimos anos.
Em
1500 Pero Vaz de Caminha
escreveu em sua famosa carta que “Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!”
escreveu em sua famosa carta que “Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!”
No
século XXI, racionamento, conflitos pela água, disputas e secas mostram outra
realidade.
Há
grande diversidade de estágios de consciência e de conhecimento quanto às
questões da água, dos mais alienados aos mais engajados.
Mudanças
de estágios de consciência, de atitudes e comportamentos podem acontecer
rapidamente. Quanto mais pessoas se transportarem de uma visão hidroalienada
para um estágio mais avançado de consciência e adequarem seus hábitos de vida e
de consumo, menores podem ser os sofrimentos e os impactos negativos associados
às mudanças climáticas.
Relacionei
dez caminhos para expandir a hidroconsciência. São eles:
1. As catástrofes em
escala macro como nos furacões ou em escala micro, nas secas e crises de
escassez urbanas, que despertam a consciência pelo susto e são pedagógicas.
2. A Ciência que por meio da razão pode
conduzir a uma visão mais integral e holística conectando a agua, o solo, as
florestas, os seres vivos, a atmosfera.
3. A tecnologia e a informação, que
permitem conhecer racionalmente e medir
os fatos e compreender melhor as situações.
4.
A Educação em todos os níveis e faixas
etárias podem hidratar cada uma e todas as disciplinas e profissões não só no
campo do conhecimento técnico e científico, mas também no campo da
sensibilidade, da ética e dos valores. A hidroeducação e a hidroalfabetização
chamam a atenção para o valor da água. Métodos educativos coletivos facilitam a
sinergia e troca de conhecimentos e vivencias entre indivíduos e grupos.
5. A Comunicação,
que traduz uma linguagem fragmentada,
ultra especializada, em linguagem de entendimento mais amplo e dissemina
conhecimentos para muitos em outro nível de linguagem, e que abastece as mentes com novas informações
e conhecimentos.
6. A Arte (música,
poesia, teatro, dança,
artes plásticas, fotografia,
cinema etc) que sensibilizam por meio da beleza, ativam emoções e
sentimentos que movem as ações.
7. A Corporeidade,
por meio da inteligência existente no
corpo e nos sentidos do tato, visão, audição, olfato, paladar que percebem o
ambiente e alimentam o cérebro. O próprio corpo é também água. Hidromassagem,
esportes aquáticos e náuticos movimentam o corpo na água e estimulam a
hidroconsciência.
8. Ética
hídrica ativada pela Espiritualidade encontrada em várias
tradições, como o batismo cristão, os banhos nos rios sagrados dos hindus, os
cultos a iemanjá etc.
9. Os Incentivos econômicos tais como os oferecidos
na Califórnia para substituir jardins e trocar equipamentos que desperdiçam agua por outros mais eficientes.
10. A Legislação
que pode induzir a comportamentos menos perdulários e a uma melhor gestão da
água. Captação de água de chuva, impermeabilização de terrenos, hidrometração
individualizada, são alguns dos temas que merecem legislação local
hidroconsciente.
*Fotos de arquivo
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segunda-feira, 9 de abril de 2018
PINTURA MODERNA VI
A arte moderna desprendeu-se da
contingência representativa. A figura passou a ser usada como um elemento
plástico e não com o intuito de representar alguma coisa. Os artistas
utilizaram-se da figura, dando-lhe uma conformação diferente, ou mesmo dispensando-a
por completo.
O fato de existir ou deixar de existir a figura, nas telas
modernas, não aumenta nem diminui o seu valor. Porque os elementos plásticos de
cores e linhas continuam a existir, e é por meio deles que a ideia criadora se
faz representar. As formas do mundo real são reinventadas, submetendo-se apenas
às exigências do quadro. A figura passa a ter um significado pictural e não
narrativo.
"Quando pinto um vaso", dizia
Braque, "não é para fabricar um utensílio suscetível de conter água. Os
objetos são recriados para um novo destino: o de participarem do quadro."
Braque compunha seu universo das coisas
mais simples. Eram vasos, frutas, guitarras coloridas que lhe despertavam a
fantasia; uma simples cadeira de jardim podia transformar-se num arabesco,
obedecendo apenas às exigências do próprio quadro, no sentido de uma composição
equilibrada e segura.
O cubismo, valorizando uma composição
menos impulsiva, mais intelectual, manifestou-se como forma de arte
essencialmente estática.
Contrapondo-se a esta ausência de
movimento, surgiu nova corrente artística, denominada futurismo, onde a
sensação de velocidade predominava à frente de tudo.
O ritmo alucinante da vida moderna que
se iniciava contribuiu para isto, e os futuristas foram de certo modo os
precursores artísticos das conquistas mais recentes do homem, no campo do
espaço.
O desenvolvimento da arte no século XX
tem correspondido ao desenvolvimento intelectual, psíquico, científico e
técnico do homem. Idéias contraditórias, valores novos, surgem a cada instante.
Em busca de novas realidades, as correntes artísticas também nascem, crescem e
morrem, deixando nos museus e galerias, nos colecionadores e amantes da arte, a
autenticidade daqueles que se empenham no caminho da renovação e do progresso.
Algumas correntes chegam até nós
renovadas, outras são de pouca duração. (Trecho do meu livro “Vivência e Arte”,
editora Agir, 1966)
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segunda-feira, 2 de abril de 2018
PINTURA MODERNA V
Voltemos
ao princípio do século e iremos encontrar na França outra corrente artística,
nascida das experiências de Van Gogh e Gauguin.
Tendo como criadores mais expressivos
os artistas Vlamink e Matisse, os fovistas inauguraram suas inovações no Salão
de Outono em 1905.
Escandalizaram o público e os críticos
com suas obras excessivamente coloridas e foram considerados como
"fauves", isto é, "feras". Daí a denominação fovismo.
Segundo Carlos Cavalcanti, "eles queriam
realizar o absoluto no acordo dos tons puros, sem os meio-tons acadêmicos nem a
análise dos impressionistas."
Os fovistas traduziam em suas telas de
colorido intenso, quase selvagem, sensações instintivas e imediatas, e não
sentimentos profundos e dramáticos como os expressionistas. Sofreram grande
influência das artes populares e primitivas, delas herdando o elementarismo da
forma e da cor.
Os cubistas, aproveitando a
simplificação da forma, iniciada por Cezanne, analisaram-na e decompuseram-na
como os impressionistas haviam feito com a cor.
O quadro era construído sobre um plano
arquitetônico, as figuras rebatidas segundo os princípios da geometria
descritiva. Foi o primeiro passo para o abstracionismo.
O cubismo, cuja denominação surgiu de
uma crítica feita por Henri Matisse a um quadro de Braque, teve como grande
apologista intelectual Guillaume Apollinaire, que o definiu como arte de
concepção, isto é, de análise do motivo para se chegar à realização definitiva.
Esta análise intelectual seria a fase
preliminar da criação, submetendo-se a espontaneidade à razão pura. Daí
partia-se para uma forma nova, abstrata, inteiramente afastada da realidade
inicial.
O cubismo sofreu várias transformações
em seu desenvolvimento. Artistas como Picasso, Braque e Juan Gris introduziram
em suas telas letras, jornais e colagens diversas, buscando na fusão de
materiais estranhos um resultado artístico de grande efeito plástico. A
colagem, quando usada com habilidade e gosto, proporcionava um equilíbrio de formas
bastante intelectual e sugestivo à composição inicial do artista. (Trecho do
meu livro “Vivência e Arte”, editora Agir, 1966)
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