“Todos
os nossos guardados, nossas lembranças e recordações. Nosso passado, nosso
presente e futuro. Tudo aflora e se abre diante de nossos olhos. Abrimos
gavetas, reviramos caixas. Encontramos o elo perdido. Não são recordações. São
memórias do presente, atuais.
Cada
momento, cada minuto nos reserva uma surpresa, como a caixa de doces ou o vidro
com licor. Podemos crescer ou diminuir. Como assim achar melhor.” (George Helt)
Com esta introdução penetramos na mostra de Thais
Helt “Quase um museu de objetos esquecidos” exposta na AM Galeria de Arte em
Belo Horizonte.
Frequentei o
atelier de Thais Helt durante algum tempo, quando ela dirigia a reconhecida
Oficina 5. Thais abriu para os artistas a possibilidade de um contato direto
com a litografia. Em sua oficina passaram os artistas mais conhecidos de Minas,
para um encontro com a gravura. Um dos maiores frequentadores era Amilcar de
Castro.
A Oficina 5 foi um marco na arte de Minas e um ponto
de reunião de artistas.
Na mostra da AM está exposto de forma admirável todo
um passado da artista, e colecionadora de memórias. São caixas de vidro feitas
sob medida para guardar um cotidiano que muitas vezes é relegado ao lixo, como
sucata.
O reaproveitamento de coisas que sobram neste
tumultuado século XXI nos propõe momentos de reflexão.
O lixo, o supérfluo é o grande problema da nossa
sociedade de consumo, feita para viver o momento e jogar fora o que sobrou. O reaproveitamento
do que ficou para trás tem sido fonte de inspiração para alguns de nossos
melhores artistas, tais como Farnese Andrade, meu colega da Guignard, Vic
Muniz, Celso Renato e muitos outros. Nas páginas de Lygia Clark, ela falava de
sua peregrinação pelas ruas de Paris à cata de coisas jogadas fora, para depois
reorganizá-las de forma artística.
Há uma linha de conduta que une esses artistas,
todos eles tirando sua fonte inspiradora daquilo que muitas vezes é desprezado.
Com grande criatividade e sabedoria, eles sabem
transformar o lixo em obra de arte.
A exposição de Thais nos ensina a olhar com mais
atenção para as pequenas coisas do cotidiano, muitas vezes relegadas ao
completo esquecimento.
A tônica é transformar, reorganizar o caos e fazer
surgir um objeto novo, com toda a dignidade de um momento de luz.
Thais teve um itinerário silencioso, paciente. Foi
coletando coisas em vários baús, já sabendo que um dia elas se transformariam
em arte. O conjunto de obras nos mostra o paciente e tranquilo olhar da artista
para as coisas do seu cotidiano, objetos que remetem a memórias do passado.
Parabéns à Thais e aos artistas que se dedicam a
transformar as coisas comuns em arte.
*Fotos de Eliana Andrés e de arquivo
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