A exposição de Lêda Gontijo está aberta na Galeria
do Minas Tênis Clube.
Logo na entrada, chama a atenção o título da
exposição: “Força estranha”.
Fui visitá-la na tarde de quinta-feira; Lêda acabara
de dar um curso de cerâmica para iniciantes interessados. Estava eufórica,
sentada numa cadeira de rodas dirigida por ela mesma. Com aquela cadeira já
percorreu sozinha a orla da praia de Copacabana, sem ajuda de ninguém. Acredita
na vida e está sempre de bom humor diante dos outros. Já sofreu três quedas que
lhe valeram a condição de cadeirante, mas não conseguiram abatê-la. De cada
tombo saiu mais fortalecida.
Esta estranha força vem de acreditar com entusiasmo
na sua arte e na sua missão neste mundo como artista e como mãe de família. Em
Lagoa Santa, onde mora, Lêda já liderou movimentos sociais em defesa dos
hospitais da região.
Lembro-me de Lêda quando entrou na escola de Belas
Artes Guignard em 1944, tendo sido minha colega na primeira turma. Ali ficou
por algum tempo, mas logo se afastou da escola, para se dedicar de corpo e alma
à escultura, como autodidata, preferindo seguir o seu chamado interno.
Dali partiu para a cerâmica, a pedra sabão e mais
recentemente a madeira, como veículos para a realização de sua obra figurativa.
Esculpiu figuras e santos, com a mesma energia que conduziu as mãos dos antigos
artesãos de Minas Gerais.
Quando estava esculpindo um São Francisco de Assis,
dirigiu-se ao santo com a espontaneidade que lhe é peculiar: “Quando eu chegar
ao céu (é claro que vou para o céu...), vou encontrar com você que sempre
proclamou a pobreza. Perdoe-me São Francisco, se eu faturei às suas custas...”.
As esculturas de São Francisco fizeram sucesso, foram
todas vendidas...
Agora, aos 101 anos de idade, recebe os visitantes com
a alegria de uma adolescente. A exposição é um sucesso, mostrando a biografia
da artista desde o seu nascimento até os dias de hoje. Logo na entrada, uma
árvore genealógica mostra os antepassados e os descendentes desta artista
considerada um fenômeno de longevidade e energia.
A dedicação à arte e à família durante todo o seu
percurso de vida está ali, entregue aos visitantes. Lêda acredita no que faz.
Lembro-me de Lêda Selmi Dei de short branco
praticando tênis no Minas Tênis Clube. Eu acompanhava aquela campeã que era
também minha companheira na Escola Guignard. Duas campeãs do esporte
dedicavam-se também às artes. Ela no tênis e Célia Laborne na natação.
Hoje vejo cada vez mais a importância de se aliar o
esporte às artes.Segundo os ensinamentos de Sri Aurobindo na Índia, o corpo tem
de ser exercitado no esporte, na dança, no Yoga, afim de prepará-lo para o
despertar de energias superiores. Corpo e alma têm de estar afinados para o
despertar desta força estranha que conduz o ser humano a uma longevidade sadia
e produtiva.
Volto novamente ao passado para reencontrar Lêda,
como anfitriã de uma casa na Serra, em Belo Horizonte, recebendo a turma da
Escola Guignard. Revejo Guignard, trepado numa escada pintando o teto da casa.
Com a chegada de seus alunos, o vozerio, os palpites, Guignard parou o
trabalho, cruzou os pincéis, perdeu a inspiração. A obra ficou paralisada e só
muitos anos depois foi terminada.
Agora, em 2016, reencontro Lêda no Minas Tênis
Clube, sentada numa cadeira de rodas que ela mesma dirige. Seus 101 anos,
sempre ativos e produtivos, estão sendo comemorados pelos seus seguidores e
descendentes. Tiramos fotos juntas e fui ver sua árvore genealógica, onde minha
neta Alice está incluída, como esposa do Paulo, neto de Lêda...
Lêda é filha de uma artista plástica e suas irmãs
também se dedicaram às artes, inclusive Lizete, artista e diretora da Escola
Guignard.
Cercada de filhos, genros, noras, netos e bisnetos,
Lêda soube coordenar sua vida de artista, dona de casa, mãe de família,
professora e líder social.
*Fotos de Maria Helena Andrés e da internet
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