Minha vida de artista
Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
segunda-feira, 1 de dezembro de 2025
domingo, 30 de novembro de 2025
quinta-feira, 30 de maio de 2024
A PRISÃO DE BACH
No espetáculo cênico-
musical, “A Prisão de Bach”, apresentado no Teatro da Biblioteca Pública em
Belo Horizonte, o público se manifestou com aplausos, resposta a uma experiência nova
– juntar música barroca e teatro de forma harmoniosa.
André Salles Coelho,
diretor e regente da Orquestra 415, pesquisou a vida de Bach e encontrou o
episódio da prisão do grande compositor.
Bach compôs mais de 200 cantatas e André selecionou trechos dessas cantatas para criar um roteiro cênico, colocando um diálogo entre Bach e um prisioneiro comum. Na cena, Bach só responde ao prisioneiro com frases retiradas de suas cantatas. O prisioneiro, envolto em mantas, dialoga com Bach, tentam uma fuga, e no final se tornam amigos. No espetáculo, Marco Túlio Zerlotini faz o papel do Bach e Gustavo Marquezini o papel do prisioneiro. A direção cênica é de Luciano Luppi.
A parte cênica é
entremeada com trechos de suas cantatas. Ali vemos um belo coral com cantores
vestindo roupas de monges, circundados pela Orquestra 415.
“A Orquestra 415 de
Música Antiga foi criada em 2012 com o objetivo de oferecer ao público um
espetáculo único: executar as obras dos grandes gênios barrocos da maneira como
eles imaginaram e o público da época ouviu. Iniciativa pioneira em Minas
Gerais, a Orquestra 415 de Música Antiga tem como diferencial a utilização de
instrumentos como o traverso, a viola da gamba, o violino barroco, a flauta
doce, o violoncelo barroco, a guitarra barroca, o alaúde e a espineta, todos
réplicas dos instrumentos utilizados nessa época. Essa particularidade e o
requinte na interpretação das músicas recriam uma sonoridade única, muito
próxima àquelas que as pessoas da época ouviam. Em suas apresentações, a
Orquestra recria uma oportunidade bastante peculiar: ouvir uma obra barroca de
um grande compositor do período, tocada por instrumentos para os quais as
músicas foram compostas. Provocando, assim, uma experiência única e rara, como
uma viagem no tempo através de um espetáculo singular, agradável e
transcendente” (depoimento de André Salles Coelho)
O teatro, aliado à
música, torna-se um espetáculo vivo e extremamente rico. A fusão de duas formas
de arte foi nos desvendando a harmonia que existe na natureza e na arte.
Fotos de Gustavo Txai
VISITE TAMBÉM MEU OUTRO
BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
quinta-feira, 7 de março de 2024
HELIO OITICICA NO CCBB
Ontem fomos visitar a
exposição de Hélio Oiticica-delirium
ambulatorium, no CCBB de Belo
Horizonte, que teve a curadoria de Moacir dos Anjos.
Era o último dia da exposição
e eu não poderia perder a chance de visita-la.
Hélio e Lígia Clark
foram pioneiros da arte contemporânea no Brasil. Uma arte que ultrapassa os limites de todas
as experiências anteriores. Abriram as portas da arte para um espaço mais amplo
e proporcionaram aos artistas novas experiências.
Os artistas atuais
muito devem a esses dois aventureiros. Gosto de ver a arte expandida e suas
aventuras.
A exposição ocupou todo
o espaço do terceiro andar, apresentando as diversas experiências de Hélio Oiticica
com os Metaesquemas, realizados na
década de 1950; os Bilaterais, Relevos espaciais,
Núcleos, Penetráveis e Bólides,
dos anos de 1960 e, ainda, as Capas e Parangolés, bem como os projetos
Cães de Caça e Magic Squares,
concebidos na década de 1970.
Começamos pelos
primeiros quadros pequenos, dentro do concretismo proposto na época. São
figuras geométricas dispostas em forma construtiva.
O concretismo propunha
rigor e pode-se observar a necessidade que Hélio Oiticica tinha de transpor
limites, direcionando-se para as propostas relacionais do neoconcretismo que
incluíam o expectador/participante na obra de arte.
Vieram buscas no campo
da construção e aí pode-se ver um desejo do artista de construir pirâmides
ancestrais. São maquetes de esculturas de palácios e de construções.
As possibilidades se
ampliaram e foi possível à imaginação navegar de forma mais livre.
Daí surgiram castelos e
labirintos, onde o espectador interage com a obra e se sente livre para
descobrir novos caminhos.
Hélio Oiticica promoveu
caminhos novos, como o espírito dos navegantes do passado. Ele descobriu novos
processos e experiências no campo estendido da arte, dialogando com o samba, o
carnaval, as performances, as ruas e a arquitetura urbana.
Sua arte investiga a
cidade do Rio de Janeiro onde morou. Da pobreza das favelas aos coloridos Parangolés, tudo respira o novo, o olhar
atento para o futuro.
Foi um artista
importante durante o seu percurso no nosso planeta e nos projetou para o
futuro.
Aprendi muito com Hélio
Oiticica.
FOTOS DE ARQUIVO
VISITE TAMBÉM MEU OUTRO
BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
domingo, 31 de dezembro de 2023
JORGE DOS ANJOS
Fomos visitar a mostra de desenhos de Jorge dos Anjos, no Centro Cultural UFMG, próximo à Praça da Estação, em Belo Horizonte.
Ali pudemos contemplar e refletir um pouco sobre a obra
deste grande artista mineiro nascido em Ouro Preto, cidade histórica onde
aconteceu a Inconfidência Mineira.
A exposição de Jorge é um relato da sua vida, em dois
aspectos distintos, mas profundamente interligados na esteira do tempo.
Jorge nos mostra o poder da arte como um dos mais profundos
canais de denúncia das injustiças que os negros sofreram e vem sofrendo em
nosso país.
Nesta exposição, dividida em duas partes, os desenhos em
nanquim e acrílico são realizados em rolos de papel canson, em tamanhos monumentais.
São desenhos viscerais, vindos diretamente das profundezas
do inconsciente.
Passado e presente se encontram e se prolongam no tempo.
Na primeira fase, na década de 1980, os desenhos foram
feitos numa clínica de psicoterapia.
O visual do passado é forte, direto, cruel. É a alma dos
antepassados que pede justiça.
Na segunda fase, nos anos 2000, num retorno ao passado, o
presente se apresenta mais calmo, mas conserva a mesma força e coragem de
expressar sentimentos de forma não verbal.
Jorge é um guerreiro visual, que luta pela libertação dos
erros da sociedade.
Os desenhos atuais são uma releitura dos antigos, feitos em
sua juventude. Ali podemos observar os
pequenos triângulos repetidos, as setas, as grades das prisões.
O desenho vai nos mostrando uma seqüência que nos fala
diretamente sem rodeios. Muitas vezes pequenas figuras aparecem como um filme
ou uma história em quadrinhos.
Pertencem ao todo que é o grande desenho que engloba tudo em
seu contexto.
Vivemos num mundo
globalizado e pertencemos a este todo que é o planeta. Dificilmente podemos escapar deste todo e
desconhecer o que se passa pelo mundo.
Mas os artistas aqui estão para expressar, sem o uso da
palavra, e nos fazer compreender diretamente os problemas da humanidade.
Jorge começou a fazer arte através do desenho, como todos os artistas começam.
Mas, desde o início, usou folhas grandes de papel, tinta
preta e pincel largo que permitem uma expressão corajosa e firme da realidade.
Depois partiu para a gravura, pintura e esculturas
monumentais.
Parabéns Jorge, sua arte nos toca diretamente, expressando o
sentimento e a dor que a humanidade está sofrendo.
"Assim falaria a vida se a vida pudesse falar",
já nos dizia Isadora Duncan.
sábado, 30 de dezembro de 2023
SOPHIA HIGH SCHOOL
SOPHIA HIGH SCHOOL em Bangalore, Índia
É uma escola, famosa no mundo Ocidental, e constitui um exemplo de educação para crianças com síndrome de down. Escola católica, logo de entrada, na sala de espera, deparamos com o retrato do Papa, tendo à sua frente uma boa reprodução de Krishna tocando flauta.
O ecumenismo religioso é importante. Foi pensando neste ecumenismo que comecei a minha entrevista. Perguntei à diretora da Escola: qual é o método adotado na educação das crianças com síndrome de Down?
Eis o que a diretora da escola me relatou:
"Este educandário mantém um curso à parte, curso de extensão, que está ficando muito conhecido na Europa: "Nele, as crianças com problemas Down vêm de famílias com religiões diferentes. São cristãos, hindus, muçulmanos e uma série de outras crianças.
As crianças brincam juntas, praticam toda a sorte de esporte, vôlei, futebol, tênis, natação, yoga além de aulas de artes, música, dança, modelagem, etc.
Ali encontram seu esporte preferido e também a sua arte. Brincam juntas, numa convivência amigável. Voltam para casa e ali encontram os primos, tios e todo o conjunto familiar de uma "joint family'".
A diretora continua:
"Veio aqui uma pesquisadora da Suiça que levou as informações para a Europa. Comparou o resultado do mesmo programa que praticam na Índia com o programa adotado na Escola da Suiça e verificou que o resultado foi muito mais devagar lá no seu país".
A explicação é esta: a criança precisa brincar junto.
Na Índia elas encontram o amor da família para ajudá-las no desenvolvimento global.
Criança precisa de estar junto de outras crianças, mas também da família.
Na Europa isto não acontece.
A criança, quando chega em casa é colocada em frente à TV assistindo filmes. Por isto o seu desenvolvimento é mais lento.
Voltei de lá refletindo sobre a necessidade das crianças conviverem com outras crianças e também com a família, sem ficarem isoladas.
Aqui está o meu depoimento sobre essa Escola pioneira de novas experiências pedagógicas.
sexta-feira, 17 de novembro de 2023
O ENIGMA DE FUGA DE THAÏS HELT
Ali, com uma vista linda para a cidade, atrás de vidraças abertas, está
uma exposição muito bem organizada de trabalhos de Thaïs Helt, ex-professora da
Escola Guignard e reconhecida gravadora mineira.
Thaïs Helt colocou à mostra o processo de uma litografia, desde o início
até o momento de ser exposta.
Litografia não é apenas um desenho, arte individual.
É uma arte coletiva, passa por várias mãos antes de ficar pronta.
Litografia é a pedra polida, lixada, onde o artista se debruça para
expressar novas ideias.
Litografia depende de paciência, capricho e sobretudo de muito
trabalho.
Ali na exposição, dentro de pequenas caixas de acrílico, estão guardadas
como amostra, as pedras menores.
Ali estão guardadas as pedras litográficas para serem vistas e
apreciadas.
Ali estão as tintas, as folhas de zinco e todos os elementos necessários
à produção de uma obra de arte.
E, ainda, ali está a recriação da artista a partir de intervenções onde
são usadas folhas de ouro, carvões e
livros, transformados em livros de artista.
O espectador pode estudar e refletir sobre o processo desta arte que
remete à milênios.
Na década de 1990 eu também participei deste processo, num ateliê
compartilhado com outros artistas.
O desenho é fácil e direto, utilizando bastões litográficos.
A fixação do desenho na pedra e a impressão final numa grande prensa,
requer paciência, técnica precisa e muito tempo de trabalho.
Sob a supervisão de Thaïs Helt, participei da Oficina 5, que congregava
vários artistas, entre eles Amílcar de Castro e Sara Ávila, ambos falecidos.
A experiência foi muito positiva e me deu consciência de todo o processo
que existe por detrás de uma simples litografia.
Experiência boa e educativa, onde o artista dispõe, provisoriamente, de
uma pedra, desenha sobre ela e depois o desenho e desmanchado e a pedra polida
é entregue a outro artista.
A gente aprende muito com uma experiência coletiva e nas mesas desta
exposição está registrado todo o processo desta arte.
Ali, ainda estão, nas paredes, os desenhos atuais de Thaïs, realizados
durante a pandemia, revelando, com leveza, a gestação de um gesto.
Parabéns Thaís, sua exposição merece ser vista e refletida.
Aprendi muito e espero que o público também possa apreciar esta
exposição, que nos ensina a valorizar o processo de trabalho de uma gravadora
mineira.
FOTOS DE ARQUIVO
VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA
PÁGINA
quinta-feira, 2 de novembro de 2023
ÓPERA "MATRAGA"
Quando voltamos de uma viagem à
Diamantina, fiz questão de passar por Cordisburgo, para ver a cidade onde
nasceu Guimarães Rosa, o grande escritor mineiro que deixou uma pequena cidade
para se projetar no mundo. Cordisburgo está bem perto da Gruta de Maquiné,
lugar turístico com formações rochosas milenares. Naquele lugar misterioso e
cheio de perigos, Guimarães Rosa criou o conto "A hora e vez de Augusto
Matraga", que integra o seu livro "Sagarana".
Hoje esta história está sendo
relembrada na Ópera "Matraga", adaptada pelo músico e dramaturgo
argentino Rufo Herrera que a revestiu com texto e música. Em 1985 o trabalho de
Rufo, que este ano completa 90 anos, foi encenado em Belo Horizonte pelo
Palácio das Artes. Encontro mágico de gerações que se prolongam no tempo.
"O espetáculo, reunindo música,
teatro, dança e literatura, montado a partir da partitura e do libreto de Rufo
Herrera, conta a trajetória de um homem violento e arrogante, “duro, doido e
sem detença, como um bicho grande do mato” que perde tudo o que possui e busca
a salvação em um lugar estranho e hostil. Em sua trajetória, ele enfrenta
tentações, provações e conflitos que o levam a questionar sua fé e seu
destino.
Assim como no conto, a montagem
enfatiza duas constantes no sertão rosiano: a violência e a crença. A produção,
portanto, é atravessada por temas como a redenção do crime, o castigo, a
penitência, o perdão e o destino – sempre expiados a partir do ponto de vista
do catolicismo popular: “Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um
dia de capina com sol quente, que às vezes custa mais a passar, mas sempre
passa. E você ainda pode ter muito pedaço bom de alegria… Cada um tem a sua
hora e a sua vez: você há de ter a sua”. (Jornal O Tempo, 25/11/2023)
Luciano Luppi, meu genro integrou o
elenco em 1985 e também agora, interpreta o mesmo personagem: o padre.
Há muito tempo não assistia a uma ópera
e esta será uma oportunidade de ver encenado um assunto muito nosso, de Minas
Gerais, uma inflexão entre o Bem e o Mal.
A pré- estréia foi realizada na Gruta
de Maquiné . Ali o elenco se transportou penetrando corajosamente pelas
entranhas da terra.
Gosto muito de coisas misteriosas e
místicas, elas me fazem relembrar um passado longínquo, perdido no tempo e
guardado como um tesouro nas profundezas de uma gruta
FOTOS DE NELSON ALMEIDA
VISITE TAMBÉM MEU OUTRO BLOG "MEMÓRIAS E VIAGENS", CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA
sexta-feira, 13 de outubro de 2023
Agradecimentos em Diamantina
Trechos da fala de Maria Helena durante a inauguração do
painel em 3-10 2023:
Eu agradeço de coração a todos vocês.
Agradeço a Nossa Senhora Aparecida.
A minha família me ajudou muito.
Agradeço ao pessoal do Paraná, que realizou tão bem esta ampliação do quadro feito no
Retiro das Pedras, em tamanho pequeno.
Agradeço essa iniciativa extraordinária de realizar esse trabalho aqui na Serra dos Cristais.
O nome cristal dá uma ideia de energia da terra e estamos aqui
para esperar a energia dos céus.
O painel é para todos.
Muito obrigado a todos vocês.
Painel sobre Chica da Silva
Um dia, um senhor apareceu lá na minha casa em Belo Horizonte, afim de me convidar para realizar um painel. Seria para o Hotel Del Rey em Belo Horizonte. Teria que citar a cidade de Diamantina, onde viveu a Chica da Silva e onde meu pai tinha estudado por um tempo.
Comecei a desenhar os primeiros croquis do painel, mas sempre acompanhando um pouco a história. Ele me forneceu informação sobre a história da Chica da Silva e eu comecei a imaginar aquela escrava, dominando a cidade de Diamantina, vindo de longe pessoas para conhecê-la. Ela era muito importante, era uma escrava inteligente.
Para ter mais informações, recorri ao Romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles, retirando alguns trechos sobre a Chica da Silva. Alguns textos estão escritos no painel.
"Que andor se atavia naquela
varanda?
É a Chica da Silva
É a Chica que manda "
Comecei a imaginar a vida da Chica da Silva da minha forma, pensando que ela era como uma pessoa muito bonita e muito poderosa também para mandar na cidade. Casada com um homem muito importante. Pensar na cidade de Diamantina, de onde os portugueses levaram muitos brilhantes.
Recentemente eu estive lá e pude ver a
varanda onde Chica da Silva ficava. Muito interessante lembrar disso tudo.
![]() |
| Maria Helena e sua irmã Maria Regina diante da casa de Chica da Silva- 2023 Foto Maurício Andrés. |
Voltemos à época em que eu recebi o
convite.
Mandei fazer três telas, uma central de
tamanho maior, mas todas muito altas. Era difícil colocar as telas no meu ateliê,
tive que colocá-las no chão. Naquela época eu era muito mais jovem, deitava no
chão para pintar, suspendia a tela, e a movimentava para pintar de todos os
lados. Eu tinha que fazer um esforço físico para acompanhar o esforço mental.
Foram feitos os três painéis e depois de prontos foram colocados no Hotel Del
Rey, na praça Afonso Arinos.
Para o pagamento de parte do painel, o dono do
Hotel propôs uma permuta.
"Mas permuta, como? Se eu moro em
Belo Horizonte, por que vou querer uma permuta de hotel na minha própria
cidade?"
"Não tem importância", me
respondeu ele. "Nós temos um ótimo restaurante no hotel. Você pode
convidar pessoas para almoçar ou jantar, que nós teremos o maior prazer de
pagar parte desse painel com jantares."
Eu achei muito interessante. Eu tenho
uma família grande, os filhos eram jovens e muito interessados em pratos
apetitosos. Íamos ao Hotel Del Rey para comer uma fatia do painel. Foi
maravilhoso pensar isso. Eu já fiz muitas permutas, gosto muito disso e trocava
com prazer a permuta de um hotel por alguma coisa que fosse interessante. Neste
caso foram os jantares. Levava a família inteira e eles adoravam.
Dessa forma foi feito o painel.
Deixo
agora a palavra para o Maurício discorrer sobre os lugares onde esteve o painel
da Chica da Silva:
“Esse painel foi encomendado para o Hotel Del Rey e posteriormente esteve no Hotel Dayrell em Belo Horizonte. Em sua antologia biográfica, o livro Guerreira de Bronze, A.L.P. Gouthier, descendente de Chica da Silva, e proprietária do painel, descreve essa trajetória. O painel de Francisca - a escrava que queria ver o mar e para quem foi construído um barco e um lago em Diamantina - foi levado para um apartamento em Ipanema de frente para o mar. O painel atualmente se encontra em Lisboa, Portugal, para onde foi chamado e onde faleceu o contratador de diamantes João Fernandes, que a amava. O belo painel de Maria Helena Andrés sobre Chica da Silva simboliza esse reencontro."
Chica da Silva
Isso foi lá para os
Lados do Tijuco,
Onde os diamantes
Transbordavam do Cascalho
Que ardor se atavia
Naquela varanda.
É a Chica da Silva,
É a Chica que manda.
Cara cor da noite,
Olhos cor de estrela,
Para conhecê-la.
Escravas, mordomos
Seguem como um rio,
A dona do dono
Do Serro do Frio.
E em tanque de assombro
Veleja o navio,
Da dona do dono
Da Serra do Frio.
Aonde o leva, a brisa
Sobre a vela panda?
A Chica da Silva,
A Chica que manda.
Poema © Cecília Meireles.
.
quinta-feira, 12 de outubro de 2023
A inauguração do retábulo a Nossa Senhora Aparecida em Diamantina
No dia seguinte, subimos
o morro mais uma vez, para assistir as festividades do primeiro dia da Novena a
Nossa Senhora Aparecida.
Foi numa tarde chuvosa
que a Santa subiu o altar.
Para a Inauguração do
retábulo a Nossa Senhora Aparecida, Dom Darci idealizou uma performance antes
da cerimônia litúrgica. Trouxe um pescador com sua rede, simbolizando aqueles
que encontraram a imagem no rio Paraíba do Sul, em São Paulo. A rede de pesca,
antes vazia, se encheu de peixes, após a descoberta da Santa. Foi o primeiro
milagre de Nossa Senhora Aparecida.
Dom Darci relatou os 5
milagres, apontando cada um no painel de azulejos.
Um cortejo de crianças
vestidas de anjo antecedeu a imagem da Santa, esculpida em terracota.
Dom Darci explicou aos
fiéis que Nossa Senhora Aparecida é a mesma Nossa Senhora da Conceição,
venerada em Portugal e na Europa.
Nesta performance, o
manto de Nossa Senhora Aparecida foi trazido separado da imagem, bem como a
coroa.
A imagem foi vestida com
o manto e eu fui escolhida para coroar a Santa. Antes, Dom Darci informou ao
público sobre o meu currículo, exposições, premiações e trabalhos realizados na
Índia. Senti que naquele momento ele fazia alusão às minhas reflexões sobre a
integração Oriente-Ocidente através da arte e da cultura.
Em seguida, já com a
túnica e a coroa, Nossa Senhora Aparecida foi colocada no centro da Mandala do
painel de azulejos.
Naquele momento, sentimos
que uma luz brilhante circundava a Mandala.
Ao ver aquela luz, me
lembrei da frase:
“Constrói o teu edifício
bem alto e ele falará por ti.”



















.jpg)








