Fomos visitar a mostra de desenhos de Jorge dos Anjos, no Centro Cultural UFMG, próximo à Praça da Estação, em Belo Horizonte.
Ali pudemos contemplar e refletir um pouco sobre a obra
deste grande artista mineiro nascido em Ouro Preto, cidade histórica onde
aconteceu a Inconfidência Mineira.
A exposição de Jorge é um relato da sua vida, em dois
aspectos distintos, mas profundamente interligados na esteira do tempo.
Jorge nos mostra o poder da arte como um dos mais profundos
canais de denúncia das injustiças que os negros sofreram e vem sofrendo em
nosso país.
Nesta exposição, dividida em duas partes, os desenhos em
nanquim e acrílico são realizados em rolos de papel canson, em tamanhos monumentais.
São desenhos viscerais, vindos diretamente das profundezas
do inconsciente.
Passado e presente se encontram e se prolongam no tempo.
Na primeira fase, na década de 1980, os desenhos foram
feitos numa clínica de psicoterapia.
O visual do passado é forte, direto, cruel. É a alma dos
antepassados que pede justiça.
Na segunda fase, nos anos 2000, num retorno ao passado, o
presente se apresenta mais calmo, mas conserva a mesma força e coragem de
expressar sentimentos de forma não verbal.
Jorge é um guerreiro visual, que luta pela libertação dos
erros da sociedade.
Os desenhos atuais são uma releitura dos antigos, feitos em
sua juventude. Ali podemos observar os
pequenos triângulos repetidos, as setas, as grades das prisões.
O desenho vai nos mostrando uma seqüência que nos fala
diretamente sem rodeios. Muitas vezes pequenas figuras aparecem como um filme
ou uma história em quadrinhos.
Pertencem ao todo que é o grande desenho que engloba tudo em
seu contexto.
Vivemos num mundo
globalizado e pertencemos a este todo que é o planeta. Dificilmente podemos escapar deste todo e
desconhecer o que se passa pelo mundo.
Mas os artistas aqui estão para expressar, sem o uso da
palavra, e nos fazer compreender diretamente os problemas da humanidade.
Jorge começou a fazer arte através do desenho, como todos os artistas começam.
Mas, desde o início, usou folhas grandes de papel, tinta
preta e pincel largo que permitem uma expressão corajosa e firme da realidade.
Depois partiu para a gravura, pintura e esculturas
monumentais.
Parabéns Jorge, sua arte nos toca diretamente, expressando o
sentimento e a dor que a humanidade está sofrendo.
"Assim falaria a vida se a vida pudesse falar",
já nos dizia Isadora Duncan.
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