domingo, 31 de dezembro de 2023

JORGE DOS ANJOS

Fomos visitar a mostra de desenhos de Jorge dos Anjos, no Centro Cultural UFMG,  próximo à Praça da Estação, em Belo Horizonte.

Ali pudemos contemplar e refletir um pouco sobre a obra deste grande artista mineiro nascido em Ouro Preto, cidade histórica onde aconteceu a Inconfidência Mineira.

A exposição de Jorge é um relato da sua vida, em dois aspectos distintos, mas profundamente interligados na esteira do tempo.

Jorge nos mostra o poder da arte como um dos mais profundos canais de denúncia das injustiças que os negros sofreram e vem sofrendo em nosso país.

Nesta exposição, dividida em duas partes, os desenhos em nanquim e acrílico são realizados em rolos de papel canson, em tamanhos monumentais.

São desenhos viscerais, vindos diretamente das profundezas do inconsciente.

Passado e presente se encontram e se prolongam no tempo.

Na primeira fase, na década de 1980, os desenhos foram feitos numa clínica de psicoterapia.

O visual do passado é forte, direto, cruel. É a alma dos antepassados que pede justiça.

Na segunda fase, nos anos 2000, num retorno ao passado, o presente se apresenta mais calmo, mas conserva a mesma força e coragem de expressar sentimentos de forma não verbal.

Jorge é um guerreiro visual, que luta pela libertação dos erros da sociedade.

Os desenhos atuais são uma releitura dos antigos, feitos em sua juventude.  Ali podemos observar os pequenos triângulos repetidos, as setas, as grades das prisões.

O desenho vai nos mostrando uma seqüência que nos fala diretamente sem rodeios. Muitas vezes pequenas figuras aparecem como um filme ou uma história em quadrinhos. 

Pertencem ao todo que é o grande desenho que engloba tudo em seu contexto.

Vivemos  num mundo globalizado e pertencemos a este todo que é o planeta.  Dificilmente podemos escapar deste todo e desconhecer o que se passa pelo mundo.

Mas os artistas aqui estão para expressar, sem o uso da palavra, e nos fazer compreender diretamente os problemas da humanidade.

Jorge começou a fazer arte através do desenho,  como todos os artistas começam.

Mas, desde o início, usou folhas grandes de papel, tinta preta e pincel largo que permitem uma expressão corajosa e firme da realidade.

Depois partiu para a gravura, pintura e esculturas monumentais.

Parabéns Jorge, sua arte nos toca diretamente, expressando o sentimento e a dor que a humanidade está sofrendo.

"Assim falaria a vida se a vida pudesse falar", já nos dizia Isadora Duncan.

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