terça-feira, 3 de março de 2015

A CALIFÓRNIA E O ORIENTE

 Recebi de Maurício Andrés Ribeiro o texto sobre a Califónia e o Oriente, que transcrevo abaixo:

“Na costa da Califórnia o sol se põe no Oceano Pacífico. Do outro lado do Oceano estão a China, o Japão, o continente asiático e mais adiante a Índia. A Califórnia recebeu muita influência do oriente, com os migrantes chineses, japoneses, indianos. Na Califórnia, a globalização começou há muitos anos e a mistura de povos é sentida em todos os níveis.

Havia centros de triagem para os migrantes que adentravam a baia de San Francisco. Criaram-se Chinatowns e proliferam restaurantes de culinária cambojana, tailandesa, vietnamita e de outros países asiáticos.

Nos Estados Unidos, Los Angeles é o maior porto de intercâmbio comercial com a China e o Japão, e a partir dele se distribuem os produtos importados.
Jovens chineses, japoneses, indianos hoje disputam vagas e frequentam as boas universidades americanas.

Em Los Angeles e na Califórnia, yoga e hábitos alimentares veganos e vegetarianos se disseminam. A lei do karma hindu propõe que há débitos e créditos associados a cada ação humana, que podem somar positivamente ou negativamente, gerando débitos a serem pagos nessa ou em outra encarnação. Palavras sânscritas como karma são apropriadas no contexto dos serviços de crédito em San Francisco.

Na Califórnia há abertura para modos de vida e de consciência pioneiros. Há centro de educação de Jiddhu Krishnamurti em Ojai, perto de Santa Barbara. O Instituto Esalen, voltado para o conhecimento holístico, está no Big Sur.

Em Encinitas, perto de San Diego, um Centro de Auto realização dissemina as propostas espiritualistas de Paramahansa Yogananda. Situado na orla do Pacifico, com uma magnifica vista do oceano e do ar, mantém um jardim aberto ao público, propício à meditação e à contemplação.

 A Sede do Centro de Auto Realização de Yogananda em Encinitas serve de hospedagem para os mestres.”

(*) Maurício Andrés Ribeiro é autor de Ecologizar, Tesouros da Índia. www.ecologizar.com.br/ ecologizar@gmail.com

*Fotos de Maurício Andrés Ribeiro

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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015


CENTRO DE KRISNAMURTI EM TIRADENTES II

 Durante uma semana participei das vivências educacionais que são o “trabalho de campo” do Centro Krishnamurti em Tiradentes. Krishnamurti entende a educação como um processo total de aprender com tudo na vida:
            “Todo movimento da vida é aprender. Nunca há um tempo no qual não exista o aprender. Toda ação é um movimento de aprender e todo relacionamento é aprender.”
  Gabriel participa das atividades cotidianas durante todas as manhãs. Ele tem 11 anos e está interessado em aprender tudo (colocar corretamente a mesa do café, cuidar dos coelhinhos, regar o jardim e fazer vasos novos, ajudar a esticar o alambrado da cerca nova e, naturalmente, em participar das “oficinas” de artes, violão, ritmo, desenho e cores). Incentivei-o a fazer colagens, uma alternativa para evitar o cheiro forte da tinta. O menino começou a criar e recortar em papel uma árvore que eles vêm cuidando – e que é sistematicamente atacada por uma praga. Na véspera, Rachel – a responsável pelo Centro de Estudos - havia convocado todos a irem para o trevo no quarteirão de baixo, afim de retirar mais uma vez a parasita de cima da árvore. Foi uma experiência importante não só para as crianças, mas para todos nós. Há exatamente um ano atrás esta árvore estava tão tomada pela parasita que estava a ponto de morrer sufocada. A turma reunida conseguiu libertá-la e hoje ela está verdinha, respirando o sol da cidade. Assim, foi estendida esta solidariedade para a população de Tiradentes, que agora pode se refrescar com a sombra e beleza da arvorezinha. Gabriel está fazendo duas colagens: uma com a árvore coberta de parasita e outra com a árvore livre.
            O cuidado do professor em qualquer destas “oficinas vivas” de trabalho/lazer é não ensinar, não favorecer uma aprendizagem por imitação. O importante é o despertar da criança, jovem ou adulto para a sua vida interior. É deixar livre o contato consigo mesmo, o conteúdo a ser aprendido é só uma ferramenta para o auto-descobrimento.  O professor permanece atento, presenciando o aluno tirar de si mesmo o aprendizado. Ele está presente, numa atenção impessoal, afetuosa, sem julgar ou comparar (nada que alimente a separatividade). Ele dá “orientações técnicas” que podem ou não serem aproveitadas, olhando tudo o que acontece sem a pressão de um resultado pré-determinado. Há uma alegria neste aprender sobre si mesmo, sobre o outro e sobre o mundo.
Após a sessão de colagens, a brincadeira inverteu – e aí foi a vez do Gabriel me ensinar a fazer os tsurus de dobradura. Tive que “entrar na linha”, senão não dava certo o dobrar no próximo passo.
Assim, as vivências e aprendizados acontecem de forma natural e compartilhada pelos visitantes, moradores, empregados e alunos, que se reúnem de forma prazerosa e criativa. Participei de um grupo improvisado de vocalistas, cantando desde músicas do folclore brasileiro, até o jazz de Louis Armstrong e a música “Imagine” de John Lennon – cada um cantando e acompanhando com instrumentos de corda o violão do Sr. Geraldo. Ao final do sarau, nos reunimos debaixo da jabuticabeira para saborear um picolé de coco queimado famoso na região.
Aliando trabalho à música e às artes plásticas – e a uma viagem de trenzinho até São João Del Rey, senti o processo de toda esta experiência como se fosse uma orquestra de sons e cores que promovia o lúdico para todos – uma alegria que só as crianças manifestam quando se envolvem com seus jogos criativos, livres de comparação e competição. Nessa atmosfera leve e afetuosa cada um podia entrar em contato com seus movimentos interiores, seus medos, ansiedades, projeções e outras coisas reprimidas que fazem parte da nossa história pessoal. Isto pode finalmente vir à tona sem preconceito, sem o perigo de ser recompensado ou punido.
Nas palavras de Krisnamurti: “Educação é aprender o que está acontecendo exatamente, sem teorias, preconceitos e valores. Os livros são importantes, mas o que é muito mais importante é aprender sobre o seu livro, a sua própria história, porque você é toda a humanidade. Ler este livro é a arte de aprender.”
Fotos de Rachel Fernandes
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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015


CENTRO DE KRISHNAMURTI EM TIRADENTES I

  Neste final de janeiro estive hospedada no Centro de Estudos de Krishnamurti – o único do Brasil – em Tiradentes, MG. Rachel, minha sobrinha e amiga, é quem disponibiliza o Centro, promovendo encontros de estudo e trabalho cooperativo em uma atmosfera afetuosa, rica de auto-descobertas e cercada de natureza por todos os lados.
Lá nos encontramos em meio a um curso contínuo de auto-conhecimento aplicado à vida diária. É um “currículo” improvisado com as atividades normais de uma casa com jardim, horta, cachorros e coelhos, situada numa rua típica do interior de Minas Gerais. De um ano pra cá as atividades dessa “casa-escola” transbordaram para o entorno, ocupando o espaço público da rua com uma “horta demonstrativa”: canteiros feitos de material reciclado onde estão sendo cultivadas hortaliças não convencionais e plantas medicinais. Junto a este viveiro de mudas catalogadas há um “Livro da Horta” onde são apresentadas as características e propriedades da planta, assim como sugestões de uso e algumas dicas culinárias. Mudas são oferecidas ou trocadas com a população interessada em fazer ou ampliar sua horta caseira. Recentemente, inspirados nesta iniciativa,  professores e pais da escola local montaram uma horta comunitária, contando com várias doações de mudas, com a participação da comunidade local.
 Neste Centro de Estudos de Krishnamurti, há vários contextos de aprendizagem viva, onde a pessoa pode testar por si mesma os insights daquele grande filósofo e educador nascido na Índia e que por mais de 60 anos percorreu o mundo falando sobre a urgência de uma nova cultura, onde o ser humano possa “florescer em bondade” em uma atmosfera afetuosa e de lazer.
  Como disse Krishnamurti:
- “Estamos interessados em criar uma existência social diferente, uma geração futura que percebe a futilidade das guerras e do assassinato organizado; uma geração que está interessada no relacionamento global, sem o isolamento nacionalista; uma geração que está envolvida com a verdade.”
 - “Os seres humanos criaram uma sociedade que exige todo o seu tempo, toda a sua energia, toda a sua vida. Não existe lazer para aprender e assim a vida se torna mecânica, quase sem sentido. Assim, devemos ser bem claros em relação ao entendimento da palavra lazer – um tempo, um período quando a mente não está ocupada com o que quer que seja. É um tempo de observação. É só uma mente desocupada que pode observar. Uma observação livre é o movimento de aprender.”
  Neste centro em Tiradentes, a criança aprende fazendo ela mesma, com suas mãos, as tarefas diárias (jardinagem, cozinha, pequenos projetos no viveiro de mudas e de coelhos, projetos em marcenaria e construção, etc). Ao mesmo tempo ela está conectada com o mundo, com pessoas de outras cidades e países, com as notícias mundiais, e aprende a usar o computador com responsabilidade - e não ser usada pela “rede”.
 Realmente, somos uma só família. Aqui estamos participando e também criando com as crianças da Terra. É uma criação viva, em movimento, e anônima. Neste Centro de Estudos todos – moradores, visitantes, empregados e alunos – estão aprendendo juntos a arte de viver. Eles estão continuamente aprendendo, através do espelhamento da interação entre eles - e com a natureza - como eles realmente são. E nas lições práticas, cada hora é a vez de um aprender com o outro, em rodízio. Como Krishnamurti escreveu no final de seu livro “Cartas às Escolas”: “Aprender traz igualdade entre os seres humanos”.
  Durante o dia o Centro de Estudos oferece este período de trabalho e interação educacional. Em outro período a pessoa fica livre para passear, descansar, fazer estudo individual ou simplesmente ficar recolhida.
E toda noite nos reuníamos na sala para assistir a um DVD de Krishnamurti, um “curta” de suas palavras para plateias do momento. Lembro-me de Krishnamurti na Índia, falando para mais de 5.000 pessoas. Tomei um táxi para assisti-lo, rompi uma multidão e fiquei bem na frente escutando-o. Há mais de 40 anos que o acompanho através de vídeos e livros. Sua mensagem mobiliza nossas energias interiores, para nos integrarmos ao canto da vida, que está sempre nos chamando. 
Fotos de Rachel Fernandes
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terça-feira, 6 de janeiro de 2015


CÉLIA LABORNE, ARTISTA MÚLTIPLA

Conheci Célia Laborne desde criança, quando da criação do Minas Tênis Clube. Célia morava em frente, era nadadora oficial do Minas, conquistando ali várias medalhas.
Aquela coragem de se jogar nas águas da piscina, percorrer espaços, conquistar prêmios, não era para qualquer adolescente da época. Lembro-me de ficar sentada na arquibancada, torcendo por aquela nadadora mirim que, aos 12 anos de idade, conquistava troféus.
Mais tarde fui encontrar Célia na Escola de belas Artes Guignard, onde ela se inscreveu na primeira turma. Célia era muito sensível, desenhava flores e paisagens do parque e dava preferência às aguadas transparentes. O elemento água preponderava em seus trabalhos muito elogiados pelo mestre Guignard.
Transparência, sensibilidade, observação da natureza, das árvores, dos céus de Minas. As aquarelas e o desenho de linha com lápis duro, estimulados pelo mestre, caminharam juntos com outra forma de expressão da artista, a palavra escrita e falada. Surgiram versos espontâneos, líricos. O lirismo próprio de nossas montanhas, transbordava nos versos e nas cores, conjugando as duas formas de arte numa só inspiração.
Célia guardava os versos, que lhe vieram muito antes da pintura, desde os 13 anos de idade. Eram seus, o seu colóquio com os níveis mais profundos de consciência, uma abertura para o campo imensurável da poesia. Seus poemas surgiram da necessidade de expressão de uma jovem de Minas Gerais que, das montanhas lançava o seu canto.
Ser artista é um caminho neste planeta, um caminho de abertura de consciência, um diálogo com Deus.
Seus textos espiritualistas despertaram a atenção de pessoas ligadas à mesma sensibilidade, muitas vezes residindo em lugares distantes. Foi do Oriente que ela assimilou a profundidade dos pensamentos filosóficos e poéticos.
Célia foi cronista de vários periódicos da cidade de Belo Horizonte e sua coluna ficou conhecida através do jornal “Estado de Minas”, onde ela ocupava o espaço denominado “Vida Integral”. Célia foi a primeira e quase única jornalista que divulgou as filosofias orientais e as técnicas de meditação, relaxamento e a importância da respiração. Seus seguidores são múltiplos, e sua mensagem transpôs as fronteiras de Minas, para alcançar outros espaços mais amplos. Atravessou os mares, foi bem recebida em Portugal, na Europa e nos Estados Unidos. Em Florianópolis eles se transformaram em vídeo, através da iniciativa de um seguidor.
A mensagem de Célia é poética e espiritual, e penetra num espaço pouco explorado pelos poetas modernistas. Situa-se numa linha bem própria, estudando mestres de Yoga tais como Vivekananda, o primeiro a introduzir a Yoga no mundo ocidental. Sua mensagem é ecumênica, abrange religiões, filosofia e as ci~encias mais modernas tais como a física quântica. Ela partiu do estudo mais denso para os mais sutis.
Seu universo está situado em níveis mais altos de consciência, naquele espaço onde a palavra toca a alma das pessoas para ajuda-las a transcender o cotidiano.
O cotidiano é importante, mas existe um espaço além, onde muitas vezes a palavra não consegue penetrar.
Os textos de Célia nos conduzem para este espaço além do noticiário dos jornais. Célia é jornalista e poeta e continua divulgando suas mensagens através de seu blog “Vida em Plenitude”.
Ali a palavra é o toque mágico que nos conduz ao infinito, para uma dimensão transcendente, além da Terra.
Todos nós devemos um pouco a esta mensageira da paz e da harmonia entre os seres vivos.
Abaixo, segue um dos poemas de Célia Laborne:

Quem será Este que apenas antevejo e já me transfigura? E amplia em mim doação e paz – como um aroma a indicar amanhecida flor?

Quem é Ele que ainda não o vi e já o pressinto como o mais caro, amorável e luminoso? Comandando o tempo e o espaço, Ele chega...

Quem é Este que ainda não toquei e já vibra em mim e se comunica e se transmite?

Quem é Este que o silêncio desvenda?

Quem se oculta atrás de tanta força e harmonia e sabe fazer-se pequeno em minhas palavras?

Quem se vai tornando dádiva nas minhas humílimas mãos que transbordam em oferenda?

Ah! O Teu nome que é flor e canto e vento leve e suave cor... Teu nome mutável, maleável que se instalou em mim como seiva e fruto!

Este nome repercute e vibra para encher minhas horas e meus dias e dizer-me tudo sobre Teus caminhos.

Ah! O Teu nome violento, sem fronteiras, campo de amor e de conquista. O Teu nome que só o silêncio conhece...

Esse nome indecifrável que me acorda e se funde no meu próprio nome para fazer-me viva. O Teu nome que me dissolve e recria.

Enquanto o ouço desdobram-me como flor à espera da revelação...

Já não sou a voz, a palavra, a ideia, o gesto, mas e tão só, o instrumento dócil da entrega.

Entretanto, assim sendo, cresço em harmonia e tudo em mim se alarga e se faz ilimitado.

Sou o rio por onde navega o Criador da fonte; por isso posso identificar-me à vida, à luz, ao amor.

Agora, já não canto meu canto, entoo o hino do que está em mim.

*Fotos da internet


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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014


PISEAGRAMA, UMA IDEIA CIRCULANTE

Roberto Andrés, meu neto, nasceu no dia 12 de dezembro, aniversário de Belo Horizonte. Hoje ele é um dos grandes defensores do direito do cidadão de ocupar o espaço público.
Belo Horizonte, cidade cuidadosamente planejada no início do século XX, cresceu de forma desordenada. Seu traçado perdeu-se há muito tempo com a verticalização de vários bairros e o sufoco do asfalto.
Belo Horizonte já foi denominada cidade jardim, me lembro do cheiro de “damas da noite” quando percorríamos as ruas da cidade. Lembro-me também do tempo em que eu atravessava a avenida Afonso Pena, toda arborizada com árvores copadas, refrescantes. Brincávamos no Parque Municipal, fazíamos pic nic ali, à sombra das árvores. Roberto me fez reviver esses tempos, com o aniversário de sua filha Rosamaria. Levaram os “comes e bebes” para as crianças, e ali no gramado do parque, foi comemorado o aniversário da minha bisneta.
A revista Piseagrama, organizada por Roberto Andrés e sua esposa Fernanda Regaldo, nasceu desta necessidade transgressora de ocupar o espaço público, pisar na grama, fazer pic nic, alegrar as crianças com pipocas e balões, longe do sufoco das salas de festa enfeitadas com desenhos de Mickey Mouse.
Ali no parque, elas puderam participar diretamente do encontro com a natureza à sombra de árvores centenárias. Antigamente havia até um zoológico no Parque Municipal e meus filhos  eram levadas para visitar os macacos e oferecer para eles bananas e outras frutas.
No momento, Roberto procura reviver aspectos humanos do passado, esquecidos por completo nos tempos modernos.
Piseagrama ganhou novas direções, ampliou seu campo para um espaço maior: camisetas com mensagens ecológicas e sociais foram criadas para uso das crianças, e bolsas coloridas andam pela cidade, entram em supermercados, levando e trazendo mercadorias, objetos e coisas do consumo. As pessoas levam e trazem mensagens escritas nas bolsas e , mesmo sem que o percebam, vão levando e trazendo o pensamento ecológico e social de Roberto e Fernanda. A ideia de colocar mensagens nas camisetas e bolsas, é uma forma discreta e genial de fazer propaganda, divulgar pensamentos. Silenciosamente, sem grandes manifestações, essas mensagens ambulantes vão abrindo a consciência das pessoas: “Nadar e pescar no Arrudas”
“Ônibus sem catacras”, “Uma praça por bairro”, “Carros fora do centro”, “Parques abertos 24h”, etc.
“Piseagrama”aparentemente transgride, mas sobretudo está construindo e reeducando os governantes e a população de um modo geral.
No momento, os mesmos dizeres, impressos em cartões coloridos, formam um painel que está exposto no Itaú Cultural, em São Paulo.
“Piseagrama” atravessou as fronteiras de Minas, desceu as montanhas e continua a sua divulgação em outros estados do Brasil.

*Fotos da internet

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segunda-feira, 1 de dezembro de 2014


TAGORE EM “TESOUROS DA ÍNDIA”

Rabindranat Tagore foi um dos poetas que inspiraram a minha geração. Recebi de Maurício Andrés o texto abaixo sobre este grande poeta indiano, extraído de seu livro “Tesouros da Índia”.

“Rabindranath Tagore descreve a India como uma anfitriã generosa. “A missão da Índia foi como a da anfitriã que tem que prover acomodações apropriadas para numerosos hóspedes, cujos hábitos e necessidades são diferentes uns dos outros. Isso causa complexidades infinitas, cuja solução depende não meramente de tato, mas de simpatia e de um verdadeiro entendimento da unidade do homem."
Para abrigar esses hóspedes tão diversos em seu território, a civilização indiana desenvolveu o espírito de tolerância e não-violência, que também aplica ao mundo animal e vegetal. Foi esse estilo de vida não predatórioda natureza que permitiu a sobrevivência milenar daquela civilização.
Continuando a refletir sobre a Índia, Tagore conclui: “Temos que reconhecer que a história da Índia não pertence a uma raça em particular, mas a um processo de criação para o qual várias raças do mundo contribuíram – os drávidas e os arianos, os antigos gregos, os persas, os maometanos do oeste e aqueles da Ásia Central. E por fim, foi a vez dos ingleses nessa história, trazendo-lhe o tributo de suas vidas; não temos o poder nem o direito de excluir esse povo da construção do destino da Índia."
Por sua diversidade cultural e política e sua formação histórica, a Índia é uma nação multinacional, que mantém unidade na diversidade e que foi celeiro e campo fértil para idéias e propostas globalistas, mundialistas e voltadas para o federalismo mundial. Nesse sentido, indianizar é mundializar. Rabindranath Tagore expressa essa convicção:
“Ao encontrar a solução para nosso problema, teremos ajudado a resolver também o problema do mundo. O que a Índia já foi, o mundo todo é agora. O mundo todo se está tornando um único país por meio das facilidades científicas. Está chegando o momento em que precisamos também encontrar uma base de unidade que não seja política. Se a Índia puder oferecer ao mundo sua solução, ela será uma contribuição para a humanidade. Há somente uma história - a história do homem. Todas as histórias nacionais são meros capítulos da história maior. E estamos  felizes, na Índia, por sofrer por tão grande causa.”
Controverso e polêmico, o sistema das castas visava a aprimorar as vocações individuais para as atividades intelectuais, comerciais, guerreiras e manuais; foi dessa divisão de aptidões que se originaram respectivamenteas grandes castas (brahmin, vaishya, kshatriyas, shudra).
Comenta Tagore:“O que os observadores ocidentais não conseguem discernir é que, em seu sistema de castas, a Índia seriamente aceitou sua responsabilidade de resolver o problema de raças de maneira a evitar toda fricção, e ainda assim oferecendo a cada raça liberdade dentro de suas fronteiras. Admitamos que a Índia não obteve nisso um sucesso absoluto. Mas também deve ser lembrado que o ocidente, situado mais favoravelmente quanto à homogeneidade de raças, nunca deu atenção a esse problema; sempre que confrontado com ele, tentou torná-lo mais fácil, ignorando-o."
A capacidade da sociedade indiana de suprir suas necessidades em um espaço limitado foi percebida por seu grande poeta RabindranathTagore. Ele afirmou que a civilização indiana daria sua contribuição fundamental para a sobrevivência da espécie, ainda que com o próprio sacrifício. Essa contribuição, característica de uma sociedade de visão mundialista ocorre de maneira pouco ostensiva e é cada vez mais necessária.
Tanto o Brasil quanto a Índia são pródigos em riquezas naturais. A convivência pacífica com os países vizinhos lhes proporcionou uma organização de poder voltada para ajustamentos internos. O poeta Radinbranath Tagore assim descreve a situação indiana:
“Há outros povos no mundo que precisam superar obstáculos em suas redondezas, ou a ameaça de seus vizinhos poderosos. Eles organizaram seu poder até que estivessem razoavelmente livres da tirania da Natureza e dos vizinhos humanos, mantendo em mãos um excedente para empregar contra outros. Na Índia, sendo internas as dificuldades, nossa história foi de ajustamento social contínuo e não a história do poder organizado para defesa e agressão.” (Referências a TAGORE, Rabindranath. Nationalism. Delhi: Macmillan, 1976, no livro Tesouros da India.)

Abaixo, o poema de Tagore:

Cântico da Esperança
Não peça eu nunca
para me ver livre de perigos,
mas coragem para afrontá-los.

Não queira eu
que se apaguem as minhas dores,
mas que saiba dominá-las
no meu coração.

Não procure eu amigos
no campo da batalha da vida,
mas ter forças dentro de mim.

Não deseje eu ansiosamente
ser salvo,
mas ter esperança
para conquistar pacientemente
a minha liberdade.

Não seja eu tão cobarde, Senhor,
que deseje a tua misericórdia
no meu triunfo,
mas apertar a tua mão
no meu fracasso!

Rabindranath Tagore, em "O Coração da Primavera" (Tradução de Manuel Simões)

*Fotos da internet e de arquivo

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terça-feira, 18 de novembro de 2014


DOM EUGÊNIO SALES E AS TAPEÇARIAS DE N.SRA DE COPACABANA

Cerca de 6000 fiéis acompanharam, há alguns anos,  o velório de Dom Eugênio Sales no Rio. Uma pomba branca, símbolo do Espírito Santo, pousou sobre o caixão e ficou durante toda a tarde perto do corpo. Dom Eugênio morreu tranquilamente enquanto dormia, uma morte serena de quem seguiu seu caminho ajudando os fiéis e praticando a justiça.
Durante o regime militar ele, como chefe da Igreja Católica, ajudou perseguidos e refugiados políticos a saírem do país.
“Estima-se que 4000 a 5000 pessoas tenham recebido ajuda do então cardeal arcebispo do Rio para fugirem.” Fui acompanhando pelos jornais, especialmente a Folha de São Paulo, as notícias referentes  a Dom Eugênio e relembro a sua atuação justa e coerente diante de outros fatos, não políticos. Na década de 1970, recebi a encomenda de realizar 3 projetos de tapeçaria para a Igreja N. Sra de Copacabana, no Rio de Janeiro. O projeto era de grande responsabilidade e eu, como artista, me empenhei de corpo e alma na sua realização. As tapeçarias foram executadas no Rio por minha prima Maria Ângela Magalhães que ali dirigia um artesanato da mais alta qualidade. Maria Ângela, com seu talento artístico, interpretava os projetos transformando a técnica do pastel no bordado. Ela mesma tingia as lãs e orientava as bordadeiras. As tapeçarias da Igreja eram enormes, duas para a nave principal e outra, também monumental, para a capela ao lado. Tudo isto foi feito com muito amor e dedicação. Resolvi não cobrar da Igreja: “Meus projetos são de graça!” isto foi declarado na época, mas o cardeal, que liderava as reuniões, não concordou com a minha resolução. “Todos os outros artistas cobraram, esta artista precisa receber também.”
Decidiram me enviar um cheque com o valor dado pela equipe de produção.
Por incrível que pareça, esta atitude do cardeal me possibilitou realizar a minha primeira grande viagem à Índia.
Naquela ocasião eu não tinha recursos para as passagens, foi de grande importância para mim a decisão que foi tomada.
Até hoje relembro com muita gratidão este fato e costumo repetir: “Foi o cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Eugênio Sales que me possibilitou realizar a minha primeira grande viagem à Índia.” Agora posso dizer que o cardeal me deu a oportunidade de iniciar um diálogo inter religioso.

*Fotos de arquivo e da internet


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terça-feira, 4 de novembro de 2014


OUTRAS PESSOAS, SER OU NÃO SER

No dia 25 de outubro de 2014 tivemos uma surpresa. Luciano Luppi, o nosso talentoso ator, interpretou poemas de Fernando Pessoa no espetáculo "Outras Pessoas, ser ou não ser."
Lembrei-me novamente da Índia.
“Este é um lugar sagrado de arte, deixem as preocupações do lado de fora”, dizia um cartaz à porta de uma sala de dança no sul da Índia.
Realmente estávamos preocupados, alias o Brasil estava preocupado e corria por todo o lado o mesmo assunto – política.
A recomendação de silêncio e reverência completa à arte cênica não precisava de palavras. Ali estava o cenário, como uma advertência.
Foi realmente impactante aquela figura imensa, vestida de túnica escura, com uma máscara branca e luvas brancas. Confesso que fiquei assustada, pois não esperava aquele primeiro choque. Não foi preciso dizer que a turma de espectadores foi se assentando devagar, sem fazer barulho. Dali em diante o espetáculo transcorreu com a maior seriedade, a palavra acrescida e transmutada ao sabor da interpretação. Textos de Fernando Pessoa e Shakespeare foram de certo modo o roteiro daquela viagem para um mundo além dos interesses conflitantes do presente.
 O silêncio foi necessário e aconteceu. As palavras de Fernando Pessoa, o grande poeta português, foram nos dirigindo para caminhos desconhecidos que só a arte pode desvendar. Ali as palavras não estavam somente guardadas dentro de livros. Elas estavam vivas na interpretação  de Luciano e tocavam o público como uma música. Ivana acompanhava os textos operando uma trilha sonora condizente com a peça, despertando e conduzindo as emoções da platéia.
Realmente o silêncio era necessário, para que as palavras do poeta português ecoassem por nossas montanhas.
No final, Luciano veio me oferecer o seu trabalho, como um presente para  o IMHA, agora com nova sede no Retiro das Pedras.
Marília, como presidente, agradeceu a generosidade dos artistas.
Este voluntariado, totalmente desapegado de patrocínio, é uma benção que será aplaudida por todos nós.
Este é o nosso agradecimento .
Segue abaixo trecho de um poema de Fernando Pessoa:
“Para ser grande, sê inteiro:
Nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Sob a leve tutela
De deuses descuidosos,
Quero gastar as concedidas horas
Desta fadada vida.

Nada podendo contra
O ser que me fizeram,
Desejo ao menos que me haja o Fado
Dado a paz por destino.

Na verdade não quero
Mais que a vida; que os deuses
Dão vida e não verdade, nem talvez
Saibam qual  a verdade”

*Fotos de Ivana Andrés, Henrique Luppi e Maurício Andrés


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