Neste final de janeiro estive hospedada no Centro de Estudos de Krishnamurti –
o único do Brasil – em Tiradentes, MG. Rachel, minha sobrinha e amiga, é quem
disponibiliza o Centro, promovendo encontros de estudo e trabalho cooperativo
em uma atmosfera afetuosa, rica de auto-descobertas e cercada de natureza por
todos os lados.
Lá nos encontramos em meio
a um curso contínuo de auto-conhecimento aplicado à vida diária. É um
“currículo” improvisado com as atividades normais de uma casa com jardim,
horta, cachorros e coelhos, situada numa rua típica do interior de Minas
Gerais. De um ano pra cá as atividades dessa “casa-escola” transbordaram para o
entorno, ocupando o espaço público da rua com uma “horta demonstrativa”:
canteiros feitos de material reciclado onde estão sendo cultivadas hortaliças
não convencionais e plantas medicinais. Junto a este viveiro de mudas
catalogadas há um “Livro da Horta” onde são apresentadas as características e
propriedades da planta, assim como sugestões de uso e algumas dicas culinárias.
Mudas são oferecidas ou trocadas com a população interessada em fazer ou
ampliar sua horta caseira. Recentemente, inspirados nesta iniciativa,
professores e pais da escola local montaram uma horta comunitária, contando com
várias doações de mudas, com a participação da comunidade local.
Neste Centro de Estudos de Krishnamurti,
há vários contextos de aprendizagem viva, onde a pessoa pode testar por si
mesma os insights daquele grande filósofo e educador nascido na Índia e que por
mais de 60 anos percorreu o mundo falando sobre a urgência de uma nova cultura,
onde o ser humano possa “florescer em bondade” em uma atmosfera afetuosa e de
lazer.
Como disse Krishnamurti:
- “Estamos interessados em criar uma
existência social diferente, uma geração futura que percebe a futilidade das
guerras e do assassinato organizado; uma geração que está interessada no
relacionamento global, sem o isolamento nacionalista; uma geração que está
envolvida com a verdade.”
- “Os seres humanos criaram uma
sociedade que exige todo o seu tempo, toda a sua energia, toda a sua vida. Não
existe lazer para aprender e assim a vida se torna mecânica, quase sem sentido.
Assim, devemos ser bem claros em relação ao entendimento da palavra lazer – um
tempo, um período quando a mente não está ocupada com o que quer que seja. É um
tempo de observação. É só uma mente desocupada que pode observar. Uma
observação livre é o movimento de aprender.”
Neste centro em Tiradentes, a
criança aprende fazendo ela mesma, com suas mãos, as tarefas diárias
(jardinagem, cozinha, pequenos projetos no viveiro de mudas e de coelhos,
projetos em marcenaria e construção, etc). Ao mesmo tempo ela está conectada
com o mundo, com pessoas de outras cidades e países, com as notícias mundiais,
e aprende a usar o computador com responsabilidade - e não ser usada pela
“rede”.
Realmente, somos uma só família. Aqui estamos
participando e também criando com as crianças da Terra. É uma criação viva, em
movimento, e anônima. Neste Centro de Estudos todos – moradores, visitantes,
empregados e alunos – estão aprendendo juntos a arte de viver. Eles estão
continuamente aprendendo, através do espelhamento da interação entre eles - e
com a natureza - como eles realmente são. E nas lições práticas, cada hora é a
vez de um aprender com o outro, em rodízio. Como Krishnamurti escreveu no final
de seu livro “Cartas às Escolas”: “Aprender traz igualdade entre os seres
humanos”.
Durante o dia o Centro de Estudos
oferece este período de trabalho e interação educacional. Em outro período a
pessoa fica livre para passear, descansar, fazer estudo individual ou simplesmente
ficar recolhida.
E toda noite nos reuníamos
na sala para assistir a um DVD de Krishnamurti, um “curta” de suas palavras
para plateias do momento. Lembro-me de Krishnamurti na Índia, falando para mais
de 5.000 pessoas. Tomei um táxi para assisti-lo, rompi uma multidão e fiquei
bem na frente escutando-o. Há mais de 40 anos que o acompanho através de vídeos
e livros. Sua mensagem mobiliza nossas energias interiores, para nos
integrarmos ao canto da vida, que está sempre nos chamando.
Fotos de Rachel Fernandes
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VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
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