Dando
continuidade à postagem sobre Arte Sacra, transcrevo trecho do meu livro
“Vivência e Arte”, Editora Agir, 1969.
A
arte sacra procura, antes de tudo, através dos artistas, fazer viver nas
igrejas um pouco do Espírito que ali habita.
A Igreja não deveria suportar a
mediocridade. A expressão do eterno, para ser transmitida ao fiéis de modo
convincente só poderá ter suas raízes num artista verdadeiro.
Antigamente, os grandes pintores e
escultores eram chamados a colaborar nas igrejas. Trabalhavam cuidadosamente,
esculpindo na madeira ou na pedra, anos a fio, dia a dia, inspirados nas
verdades da fé cristã.
A Igreja estava à frente de todos os
movimentos culturais, apoiando e estimulando os artistas.
Era como que uma orientadora do bom
gosto público, sempre adornada e enriquecida com o que de melhor havia em sua
época.
No templo do Deus vivo ardia a chama da
verdadeira arte, entoando louvores eternos. Nem sempre este louvor
correspondia, exatamente, à liturgia da Igreja, como no caso da arte barroca,
quando o objetivismo renascentista e suas fórmulas já vazias de tanta repetição
cederam lugar ao subjetivismo, quando o seu espírito científico e formal
transformou-se em dinamismo de formas poéticas.
Desde os primeiros tempos do
cristianismo, quando cessaram as perseguições religiosas e os cristãos puderam
erguer seus templos, as igrejas viram-se enriquecidas com as mais belas jóias
de arte de sua época.
Os bizantinos ofereceram ao mundo e à
arte religiosa a visão feérica de seus templos riquíssimos; os mosaicos
coloridos, com suas figuras imóveis, paralelas, traziam reminiscências das
figuras gregas.
Esta arte se expandiu através da Europa
(Itália, Espanha, França e Rússia cristianizada). A influência bizantina fez-se
notar nas colunas das igrejas, nas portas e nos cofres, nos relicários
esmaltados, nos símbolos e nos baixo-relevos.
Se fizermos uma revisão da arte sacra
desde suas primeiras tentativas, veremos que ela se manifestou de maneiras
diferentes, revelando os períodos de sua história. Assim, vimos a arte da Idade
Média, entregue a artistas religiosos ou orientada por eles, inteiramente
voltada para as verdades eternas, tentando trazer para a arte a noção do
absoluto, do imutável. Esta fase durou quase mil anos e seus grandes artistas
trabalhavam anonimamente formando um conjunto homogêneo. A arte da Idade Média
refletiu um período da história em que os cristãos viviam unidos e participavam
de um grupo visível. Trabalhavam em equipe, orientados pela igreja.
Os cristãos da Idade Média formavam uma
verdadeira e autêntica comunidade. Disto nos dá testemunho a unidade de sua
arte, movida por uma grande e única aspiração: aspiração de beleza e de glória
eterna, de verdade e de absoluto.
Os artistas, arquitetos, escultores,
pintores, trabalhavam em perfeita harmonia, cada um dando o que a inspiração
lhe ditava, mas caminhando em igual sentido, com idêntico passo, idêntico
ritmo, para construir, em completa unidade, as grandes catedrais que haveriam
de resplandecer na história como a mais alta manifestação do idealismo
coletivo.
Todo o conjunto das catedrais de
França: Notre Dame de Paris, Chartres, Amiens, Reims, respiram de um mesmo
impulso harmonioso, nascido do cristianismo vivido em perfeita comunidade.
Todas as forças da época se juntavam
para isto, aspirando, antes de tudo, à vida sobrenatural. (Trecho do meu livro
“Vivência e Arte”, Editora Agir, 1969)
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