A
inspiração religiosa suscita o homem, mesmo em estado primitivo de civilização,
a exprimir seu sentimento em obras de arte. Podemos tomar como exemplo a arte
negra, a arte primitiva e as antigas civilizações que, através da escultura,
pintura, música, dança, reverenciavam e adoravam a um ser superior.
O artista é um místico por natureza e
quando este misticismo reúne convicções e vivências cristãs, sua arte será
naturalmente cristã, mesmo que não aborde temas religiosos.
Há uma distinção clássica feita por
Jacques Maritain em seu livro Arte e
Escolástica entre arte cristã e arte sacra. A primeira é aquela que é
realizada por um artista cristão. É o que sentimos nos murais das catacumbas,
nas catedrais da Idade Média, nas telas de Fra Angelico e Greco, e em toda a
obra de Maurice Denis, Rouault e o grupo de pintores que iniciou, em França, a
renovação da arte sacra. Suas obras comunicam uma profunda mensagem de fé
cristã.
A arte sacra é aquela que é posta a
serviço da Igreja, e tanto pode originar-se de um artista cristão como de outro
qualquer, desde que preencha as finalidades para as quais se destina.
Às vezes, um artista não-cristão
consegue realizar tão bem uma obra de arte sacra como outro que professa a
religião.
O verdadeiro artista está cheio do
conteúdo espiritual e esta reserva de espiritualidade eleva-o a um plano
extraterreno, quando se empenha em realizar uma obra cuja finalidade é servir
ao culto público.
Projetada por Oscar Niemeyer (artista
não-católico), a capela do Palácio da Alvorada, em Brasília, em sua
simplicidade mística, conduz à oração e ao silêncio.
Ao se encomendar um projeto de arte
sacra a um arquiteto, não se deve indagar se ele é bom católico ou não, mas se
a sua arte é realmente criadora, se o seu instinto poético o levaria a uma
identificação perfeita com o ideal cristão.
Le Corbusier, combatido por seu
ateísmo, projetou e realizou em Ronchamp, França, a capela de Notre Dame du
Haut, local de romaria. A capela de Ronchamp, em sua linguagem espiritual de
beleza, fala a todos os tipos de pessoas. Ali encontra o fiel um abrigo de
silêncio e paz para a meditação.
Le Corbusier não se afastou da
finalidade principal da Igreja, que é a de elevar o espírito dos fiéis, mas
procurou concentrar-se nela.
Em carta ao bispo de Besançon,
escreveu: "Eu queria criar um local de silêncio, de oração, de paz, de
alegria interior. Na construção desta capela, o sentimento do Sagrado nos deu
ânimo e força. Algumas coisas são sagradas, outras não o são, sejam elas
religiosas ou não."
As palavras de Le Corbusier vem dar
mais um atestado da diferença que existe entre arte cristã e religiosa, feita
espontaneamente por um artista religioso, e arte sacra, isto é, a que serve
para o culto. (Trecho do meu livro “Vivência e Arte”, Editora Agir, 1969)
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