domingo, 19 de abril de 2020

ARTE SACRA I


A inspiração religiosa suscita o homem, mesmo em estado primitivo de civilização, a exprimir seu sentimento em obras de arte. Podemos tomar como exemplo a arte negra, a arte primitiva e as antigas civilizações que, através da escultura, pintura, música, dança, reverenciavam e adoravam a um ser superior.
         O artista é um místico por natureza e quando este misticismo reúne convicções e vivências cristãs, sua arte será naturalmente cristã, mesmo que não aborde temas religiosos.
         Há uma distinção clássica feita por Jacques Maritain em seu livro Arte e Escolástica entre arte cristã e arte sacra. A primeira é aquela que é realizada por um artista cristão. É o que sentimos nos murais das catacumbas, nas catedrais da Idade Média, nas telas de Fra Angelico e Greco, e em toda a obra de Maurice Denis, Rouault e o grupo de pintores que iniciou, em França, a renovação da arte sacra. Suas obras comunicam uma profunda mensagem de fé cristã.
         A arte sacra é aquela que é posta a serviço da Igreja, e tanto pode originar-se de um artista cristão como de outro qualquer, desde que preencha as finalidades para as quais se destina.
         Às vezes, um artista não-cristão consegue realizar tão bem uma obra de arte sacra como outro que professa a religião.
         O verdadeiro artista está cheio do conteúdo espiritual e esta reserva de espiritualidade eleva-o a um plano extraterreno, quando se empenha em realizar uma obra cuja finalidade é servir ao culto público.
         Projetada por Oscar Niemeyer (artista não-católico), a capela do Palácio da Alvorada, em Brasília, em sua simplicidade mística, conduz à oração e ao silêncio.
         Ao se encomendar um projeto de arte sacra a um arquiteto, não se deve indagar se ele é bom católico ou não, mas se a sua arte é realmente criadora, se o seu instinto poético o levaria a uma identificação perfeita com o ideal cristão.
          
         Le Corbusier, combatido por seu ateísmo, projetou e realizou em Ronchamp, França, a capela de Notre Dame du Haut, local de romaria. A capela de Ronchamp, em sua linguagem espiritual de beleza, fala a todos os tipos de pessoas. Ali encontra o fiel um abrigo de silêncio e paz para a meditação.
         Le Corbusier não se afastou da finalidade principal da Igreja, que é a de elevar o espírito dos fiéis, mas procurou concentrar-se nela.
         Em carta ao bispo de Besançon, escreveu: "Eu queria criar um local de silêncio, de oração, de paz, de alegria interior. Na construção desta capela, o sentimento do Sagrado nos deu ânimo e força. Algumas coisas são sagradas, outras não o são, sejam elas religiosas ou não." 
         As palavras de Le Corbusier vem dar mais um atestado da diferença que existe entre arte cristã e religiosa, feita espontaneamente por um artista religioso, e arte sacra, isto é, a que serve para o culto. (Trecho do meu livro “Vivência e Arte”, Editora Agir, 1969)

Fotos da internet

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