segunda-feira, 27 de abril de 2020


ARTE SACRA II


Dando continuidade à postagem sobre Arte Sacra, transcrevo trecho do meu livro “Vivência e Arte”, Editora Agir, 1969.


A arte sacra procura, antes de tudo, através dos artistas, fazer viver nas igrejas um pouco do Espírito que ali habita.
         A Igreja não deveria suportar a mediocridade. A expressão do eterno, para ser transmitida ao fiéis de modo convincente só poderá ter suas raízes num artista verdadeiro.

         Antigamente, os grandes pintores e escultores eram chamados a colaborar nas igrejas. Trabalhavam cuidadosamente, esculpindo na madeira ou na pedra, anos a fio, dia a dia, inspirados nas verdades da fé cristã.
         A Igreja estava à frente de todos os movimentos culturais, apoiando e estimulando os artistas.
         Era como que uma orientadora do bom gosto público, sempre adornada e enriquecida com o que de melhor havia em sua época.
         No templo do Deus vivo ardia a chama da verdadeira arte, entoando louvores eternos. Nem sempre este louvor correspondia, exatamente, à liturgia da Igreja, como no caso da arte barroca, quando o objetivismo renascentista e suas fórmulas já vazias de tanta repetição cederam lugar ao subjetivismo, quando o seu espírito científico e formal transformou-se em dinamismo de formas poéticas.
        
         Desde os primeiros tempos do cristianismo, quando cessaram as perseguições religiosas e os cristãos puderam erguer seus templos, as igrejas viram-se enriquecidas com as mais belas jóias de arte de sua época.
         Os bizantinos ofereceram ao mundo e à arte religiosa a visão feérica de seus templos riquíssimos; os mosaicos coloridos, com suas figuras imóveis, paralelas, traziam reminiscências das figuras gregas.

         Esta arte se expandiu através da Europa (Itália, Espanha, França e Rússia cristianizada). A influência bizantina fez-se notar nas colunas das igrejas, nas portas e nos cofres, nos relicários esmaltados, nos símbolos e nos baixo-relevos.

         Se fizermos uma revisão da arte sacra desde suas primeiras tentativas, veremos que ela se manifestou de maneiras diferentes, revelando os períodos de sua história. Assim, vimos a arte da Idade Média, entregue a artistas religiosos ou orientada por eles, inteiramente voltada para as verdades eternas, tentando trazer para a arte a noção do absoluto, do imutável. Esta fase durou quase mil anos e seus grandes artistas trabalhavam anonimamente formando um conjunto homogêneo. A arte da Idade Média refletiu um período da história em que os cristãos viviam unidos e participavam de um grupo visível. Trabalhavam em equipe, orientados pela igreja.

         Os cristãos da Idade Média formavam uma verdadeira e autêntica comunidade. Disto nos dá testemunho a unidade de sua arte, movida por uma grande e única aspiração: aspiração de beleza e de glória eterna, de verdade e de absoluto.
         Os artistas, arquitetos, escultores, pintores, trabalhavam em perfeita harmonia, cada um dando o que a inspiração lhe ditava, mas caminhando em igual sentido, com idêntico passo, idêntico ritmo, para construir, em completa unidade, as grandes catedrais que haveriam de resplandecer na história como a mais alta manifestação do idealismo coletivo.

         Todo o conjunto das catedrais de França: Notre Dame de Paris, Chartres, Amiens, Reims, respiram de um mesmo impulso harmonioso, nascido do cristianismo vivido em perfeita comunidade.
         Todas as forças da época se juntavam para isto, aspirando, antes de tudo, à vida sobrenatural. (Trecho do meu livro “Vivência e Arte”, Editora Agir, 1969)

FOTOS DA INTERNET

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domingo, 19 de abril de 2020


ARTE SACRA I


A inspiração religiosa suscita o homem, mesmo em estado primitivo de civilização, a exprimir seu sentimento em obras de arte. Podemos tomar como exemplo a arte negra, a arte primitiva e as antigas civilizações que, através da escultura, pintura, música, dança, reverenciavam e adoravam a um ser superior.
         O artista é um místico por natureza e quando este misticismo reúne convicções e vivências cristãs, sua arte será naturalmente cristã, mesmo que não aborde temas religiosos.
         Há uma distinção clássica feita por Jacques Maritain em seu livro Arte e Escolástica entre arte cristã e arte sacra. A primeira é aquela que é realizada por um artista cristão. É o que sentimos nos murais das catacumbas, nas catedrais da Idade Média, nas telas de Fra Angelico e Greco, e em toda a obra de Maurice Denis, Rouault e o grupo de pintores que iniciou, em França, a renovação da arte sacra. Suas obras comunicam uma profunda mensagem de fé cristã.
         A arte sacra é aquela que é posta a serviço da Igreja, e tanto pode originar-se de um artista cristão como de outro qualquer, desde que preencha as finalidades para as quais se destina.
         Às vezes, um artista não-cristão consegue realizar tão bem uma obra de arte sacra como outro que professa a religião.
         O verdadeiro artista está cheio do conteúdo espiritual e esta reserva de espiritualidade eleva-o a um plano extraterreno, quando se empenha em realizar uma obra cuja finalidade é servir ao culto público.
         Projetada por Oscar Niemeyer (artista não-católico), a capela do Palácio da Alvorada, em Brasília, em sua simplicidade mística, conduz à oração e ao silêncio.
         Ao se encomendar um projeto de arte sacra a um arquiteto, não se deve indagar se ele é bom católico ou não, mas se a sua arte é realmente criadora, se o seu instinto poético o levaria a uma identificação perfeita com o ideal cristão.
          
         Le Corbusier, combatido por seu ateísmo, projetou e realizou em Ronchamp, França, a capela de Notre Dame du Haut, local de romaria. A capela de Ronchamp, em sua linguagem espiritual de beleza, fala a todos os tipos de pessoas. Ali encontra o fiel um abrigo de silêncio e paz para a meditação.
         Le Corbusier não se afastou da finalidade principal da Igreja, que é a de elevar o espírito dos fiéis, mas procurou concentrar-se nela.
         Em carta ao bispo de Besançon, escreveu: "Eu queria criar um local de silêncio, de oração, de paz, de alegria interior. Na construção desta capela, o sentimento do Sagrado nos deu ânimo e força. Algumas coisas são sagradas, outras não o são, sejam elas religiosas ou não." 
         As palavras de Le Corbusier vem dar mais um atestado da diferença que existe entre arte cristã e religiosa, feita espontaneamente por um artista religioso, e arte sacra, isto é, a que serve para o culto. (Trecho do meu livro “Vivência e Arte”, Editora Agir, 1969)

Fotos da internet

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terça-feira, 14 de abril de 2020


PRATA DA CASA, 20 ANOS


Recebi de Maurício Andrés o texto abaixo, publicado em 31/03 pela Assessoria de Comunicação da Agência Nacional de Água (ANA).

“Precisamos aumentar a hidroconsciência e reduzir a hidroalienação da sociedade. Quem presta serviço na ANA pode contribuir muito para isso acontecer.”

“Assessor da Secretaria Geral da ANA (SGE) há quase 20 anos, pesquisador, escritor e avô de quatro netinhos. Maurício Andrés Ribeiro, mineiro de nascença, construiu uma longa trajetória na Agência: reconhecido por todos os presidentes da ANA, assessorou todos os secretários-gerais que atuaram na Agência, participou massivamente da construção de processos participativos dentro do órgão, além de ter contribuído significativamente com a proteção da memória histórica e patrimonial da instituição.

Formado em Arquitetura, Maurício fez algumas especializações na área de Planejamento e Gestão ambiental. Foi secretário de Meio Ambiente em Belo Horizonte (MG); presidente da Fundação Estadual de Meio Ambiente de Minas Gerais; diretor do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA); e, em 2003, veio compor a equipe da ANA. Na Agência, manteve-se na SGE ao longo dos anos, mas atuando em diferentes frentes.

Em 2006, a ONU elegeu o tema Água e Cultura para celebrar o Dia Mundial da Água, o que incentivou a ANA durante alguns anos a investir no tema Água e Patrimônio cultural. Maurício lembra com entusiasmo deste período, quando participou da realização de seminários e trabalhos sobre o tema, e da inclusão da categoria Água e Patrimônio Cultural no Prêmio ANA 2012. Também contribui para um dos objetivos estratégicos da ANA, que consiste em promover a gestão do conhecimento e a construção da memória institucional.

Enquanto foi representante da Agência no CONAMA e no Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), Maurício participou das discussões  e articulou as representações da ANA nesses colegiados. Além disso, foi e ainda é parte importante no desenvolvimento dos processos participativos da Agência, nas chamadas consultas públicas. Participou, desde o início em 2007, da construção da Resolução que normatiza essas questões.

Nesses quase 20 anos, o versátil assessor, além de testemunha ocular da história da ANA, se tornou um grande propagador dessa trajetória. Sem quaisquer resistências às novas tecnologias, Maurício é um forte multiplicador do patrimônio histórico e memorial da Agência na rede social interna da ANA, o Yammer. Ele não só tem postado memórias da Agência, como incentivado as pessoas a compartilharem as suas também, agregando assim à memória institucional.

Além dessa carreira vasta profissionalmente, Maurício traz algumas surpresas, como seu lado escritor. Recentemente  publicou  o livro infanto-juvenil  A Água Fala, que teve a participação de sua mãe de 98 anos, Maria Helena, como ilustradora; e de sua esposa, Aparecida Andrés, com a parte poética do livro. A obra traz a importância de se refletir sobre o tema água já na infância e juventude e de tornar o assunto cada vez mais presente na rotina das pessoas. Ele escreveu os livros Tesouros da índia e Ecologizar e, ainda, o  livro Ecologizando a Cidade e o Planeta, com foco na vida das cidades em harmonia com o meio ambiente.

Articulista do seu próprio blog Ecologizar (http://ecologizar.blogspot.com), pesquisador e apaixonado pela Índia, Maurício segue sua caminhada, unindo o conhecimento profissional a suas paixões e produzindo um vasto material que ficará não só para a história da ANA, mas certamente para as próximas gerações.” (Assessoria de Comunicação da ANA)

FOTOS DE ARQUIVO

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segunda-feira, 13 de abril de 2020

quarta-feira, 8 de abril de 2020

segunda-feira, 6 de abril de 2020


AS PEDRAS DO RETIRO


As pedras do Retiro são verdadeiros sinais. Elas nos mostram cenas bíblicas. A via sacra, a paixão de Cristo, os três reis Magos e também a imagem de Nossa Senhora, que eu denominei Nossa Senhora da Pedra, protetora dos indígenas e das montanhas. Isto pelo fato de encontrá-la durante uma cerimônia que fizemos em homenagem aos primeiros habitantes do Brasil, especificamente os nossos indígenas guerreiros.

Fui convidada a comparecer e participei da cerimônia comandada por Magui, uma vizinha que esteve várias vezes numa reserva indígena nos Estados Unidos. Os indígenas, de um modo geral, são os grandes preservadores da natureza. Estão muito mais ligados ao conhecimento dos rios, das florestas, dos animais, dos astros do que nós que vivemos nas grandes cidades.

Segundo o depoimento do Chefe Seattle, de uma reserva indígena americana, “cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e na experiência do meu povo”

E foi durante aquela cerimônia no Retiro que a Nossa Senhora da Pedra apareceu. Trouxe-a para o meu jardim, para que possamos ter acesso a ela.

Os pés do Cristo, simbolizando a Pietá, estão no alto da montanha, bem junto à capela do Retiro, uma capela ecumênica, onde várias religiões podem celebrar seus cultos.
Ao longo da pequena estrada de pedra, outras imagens vão surgindo. Com os recursos limitados da câmera de um celular, vou fazendo o que posso para dar testemunho desses sinais esculpidos pelo tempo.

Vejo os três reis magos, uma multidão acompanhando, um anfiteatro com pessoas escutando uma pregação. Tudo isto a gente pode ver e fotografar numa simples caminhada pelas montanhas de Minas.

As pedras falam, nos dizem muito sobre um passado remoto, muito antes de existirmos. As cenas bíblicas estão esculpidas nas pedras do Retiro,enquanto o sol vai descendo devagar ao longe, no horizonte de montanhas azuis.

*FOTOS DE MARIA HELENA ANDRÉS

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