Hoje, abrindo as páginas do livro azul, onde tem uma
síntese de meus trabalhos, deparei com aquela pintura Menina com papagaio que eu fiz
quando você tinha dois anos. Todo um acervo de memórias me veio como um filme e
este quadro marcou um grande salto na minha vida de artista.
Lembro-me perfeitamente. Nós morávamos na Rua Santa
Rita Durão e eu, como aluna de Guignard, pintava flores, paisagens e quadros de
crianças. Minha vida familiar começava com as crianças chegando e enfeitando a
casa. Hoje, os bisnetos me
dão muita alegria.
Mas, voltando ao quadro, lembro que ele me deu um
prêmio muito importante e valioso. Anunciaram no jornal um grande prêmio para
mineiros residentes em Minas. Pensei comigo: mineiros residentes e resistentes,
porque pintar em Minas não possibilitava grandes
premiações nacionais. Mas o prêmio era para artista mineiro residente. Por que não?
Segurei minha filha Marília, em pé, na minha frente e disse: Vou pintar você. A
menina estava de azul e segurava uma pipa colorida. Incentivada pelo objetivo
do prêmio, realizei o quadro com muita energia e muito amor. E não é que ganhei
o prêmio? Marília me deu sorte e me fez ganhar um prêmio muito importante.
Hoje, muitos anos se passaram. Marília está novamente em
cena, carregando o troféu que me foi dado em São Paulo, já que eu não pude
comparecer ao evento. Uma homenagem oferecida pela Associação Brasileira de
Críticos de Arte (ABCA) pelo conjunto de minha obra.
Hoje, Marília é presidente do Instituto Maria Helena
Andrés (IMHA), ela administra o Instituto, organiza exposições, escreve textos
e faz curadorias. É professora de história da arte, pesquisadora, crítica e
curadora de várias exposições dos artistas de Minas Gerais. Antigamente não
havia curadores, hoje vejo que eles são muito importantes. Se desdobram
estudando o trabalho dos artistas, selecionam as obras, escrevem textos
curatoriais e organizam exposições.
Está aí uma pequena história da minha trajetória que
eu mesma não tinha tido consciência: a sincronicidade de estar Marília
carregando para mim duas premiações do mais alto nível. As coisas acontecem na
vida, mas os fenômenos de sincronicidade nos passam desapercebidos. Eles são
invisíveis, mas atuam no Eterno Agora, criando passado, presente e futuro num
só movimento, que muitas vezes chamamos de coincidência. A menina de azul
continua dentro do meu livro azul e o troféu está na minha sala, fazendo
lembrar o prêmio de São Paulo, oferecido pela ABCA.
Agora, uma nova menção, desta vez vinda de Houston,
onde participo com uma pintura da coleção de Adolpho Leirner. A mensagem, vinda
dos EUA, foi enviada por Corina Rogge, pesquisadora do Museu de Houston e amiga de Marília:
“A pintura Fantasia de Ritmos de sua
mãe foi escolhida para ser estudada por muitos alunos da Universidade de Houston. Os
estudantes escolheram esta obra como tema de seus trabalhos porque eles
sentiram o lirismo da pintura. O trabalho de Maria Helena continua sendo um tesouro
aqui em Houston”.
A
menina de azul da época de Guignard e Fantasia de Ritmos do período
construtivista se encontraram no tempo com um denominador comum: o lirismo.
*Fotos de arquivo
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