Ângela Giannetti é minha vizinha no Retiro das Pedras. Desde 2007 começou a pesquisar as plantas dos
campos rupestres da Serra do Espinhaço.
Na entrevista que fizemos com ela conversamos sobre o seu trabalho e
Ângela nos informou:
“Comecei a trabalhar no Centro de Biodiversidade, em Sabará, ilustrando
as plantas das serras mineiras. Entusiasmei-me com o trabalho e dei
continuidade a essa pesquisa percorrendo as montanhas de nosso entorno. Segundo
o parecer de um botânico, que por aqui passou,
os campos desta altitude são tão fascinantes que podem ser comparados
com as crianças em frente às guloseimas. Quanto a mim, considero estes campos
como uma floresta anã, tal a diversidade de plantas existentes. Depois das
chuvas, elas surgem exuberantes, cobrindo a terra de cores variadas”.
(Entrevista realizada com Ângela Giannetti no Instituto Maria Helena Andrés, em
07/abril/2019)
Este depoimento da artista, que é ilustradora botânica de técnica de
aquarela, poderá ser enriquecido com o texto que ela escreveu para a exposição
que realizou na Casa Guignard, em Ouro Preto.
“As plantas que
ilustrei estão situadas na biosfera da serra do Espinhaço acima de 800 metros
de altitude e localizadas principalmente no quadrilátero ferrífero de Minas
Gerais. Muitas delas são endêmicas da região e de importância para o eco
sistema pois dependem dessas plantas vários insetos polinizadores os quais só
sobrevivem neste ambiente, como répteis, libélulas, colibris, calangos e
outros. Todos fazem parte dos chamados “campos rupestres ou de altitude”. Este
bioma está ligado com o cerrado e a mata atlântica mas tem uma vegetação única
e singular de grande importância também”.
Ainda segundo Ângela
Giannetti: “Todos os naturalistas que passaram pelo Brasil no século 19 ficaram
encantados com esta vegetação e suas descrições traduzem essa beleza e
importância. Os naturalistas Spix e Martius chegando na serra de Ouro Branco escreveram:
‘O caminho segue por
essas belas montanhas sempre acima e desenrola aos olhos do viajante a cada
passo, objetos do maior interesse. As variadas vistas dos vales nos quais as
quintas espalhadas aparecem com maior frequência e se alternam quanto mais
perto se vai chegando a Vila Rica. Ficamos porem especialmente maravilhados
quando subimos o íngreme morro do Gravier, continuação da serra de Ouro Branco,
ao avistarmos os lírios arbóreos, cujos caules fortes e nus bifurcados nuns
poucos galhos, muitas vezes terminados com um tufo de folhas compridas com as
queimadas dos campos: carbonizados na superfície, são uma das mais maravilhosas
formas do mundo das plantas’. (Do livro Viagem ao Brasil, Volume 1)
Ângela Giannetti nos deu uma verdadeira aula de
botânica e nos apresentou aquarelas de grande sensibilidade e beleza.
*Fotos de Maria Helena Andrés e do arquivo de Ângela
Giannetti
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