segunda-feira, 15 de outubro de 2018

ARTE NA CONTRA CULTURA I


Em 2003 publiquei o artigo abaixo no jornal “O Estado de Minas”, seção “Pensar”.

Uma exposição no Centro Cultural do Banco do Brasil, em Brasília, acenava com um grande cartaz: “Fluxus”. Caminhei despreocupada em sua direção, sem ter programado com antecedência. À porta, comprei uma camisa com uma enorme seta e a legenda “Fluxus”. Afinal, pensei, já vestida com a camisa, o que será “Fluxus”? Lá dentro, meninas vestidas de preto com botas alaranjadas conduziam grupos, explicando o significado das obras. “Então, qualquer um de nós pode ser artista?”, indagou uma senhora, entusiasmada com a ideia.

Acompanhei com curiosidade os debates, sem me apresentar. Aquelas ideias me tocavam de perto, lembravam meu próprio posicionamento sobre a comercialização da arte, os happenings dos anos 60, os domingos de criação que possibilitavam a todos a oportunidade de criar. Aos poucos fui me sintonizando com as ideias do grupo, refletindo sobre o que já havia escrito na década de 70 no meu livro “Os Caminhos da Arte”:

“Quadros não são feitos para combinar com tapetes e cortinas, nem para ser colocados como títulos na bolsa de valores do mercado de arte. A preocupação comercial leva o artista a concessões imperdoáveis, que o fazem esquecer a razão de ser da arte como força vital da civilização, para colocá-la no plano da especulação comercial. O valor de um trabalho artístico, suas qualidades expressivas, não se limita a números e cifrões, mas alcança lugar que lhe assegura realmente a permanência no tempo e sua equiparação com as demais artes.

Assim como a música e a poesia, também o quadro que vemos numa exposição contém toda uma vida de lutas e experiências. Não se podem separar as inquietações da alma humana, seus momentos de sofrimento ou alegria, de violência ou de paz, de revolta ou de submissão, daquela forma que espontânea e diretamente lhe sai das mãos.

A Arte é a mais pura manifestação da liberdade, hoje tão limitada à mecanicidade do mundo moderno. Toda e qualquer forma de imposição, ao atingir o domínio da arte, impede-lhe o progresso e a conduz à mediocridade. O sentido de liberdade é expresso com grande veemência por meio da arte, porque ela se fundamenta e nasce num clima no qual a opressão não tem lugar. Pode-se proibir o homem de falar, mas nunca de sentir. A arte é a expressão do sentimento humano, desse sentimento tantas vezes bloqueado por slogans e rótulos, mas que desperta quando se desenvolve a capacidade de inventar, de renovar, de contatar a essência do próprio ser. O verdadeiro humanismo brota das mãos dos artistas e da alma dos poetas, dos cineastas, dos escritores, dos músicos, que proclamam espontaneamente a compreensão entre os povos. O humanismo autêntico tem suas raízes no sentimento, e não na razão.”

No Brasil, o artista pernambucano Paulo Brusky, integra o movimento “Fluxus” com suas instalações e performances de contracultura.

*Fotos da internet

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