Em 2003 publiquei o artigo abaixo no jornal “O
Estado de Minas”, seção “Pensar”.
Uma exposição no Centro
Cultural do Banco do Brasil, em Brasília, acenava com um grande cartaz: “Fluxus”. Caminhei despreocupada em sua
direção, sem ter programado com antecedência. À porta, comprei uma camisa com
uma enorme seta e a legenda “Fluxus”.
Afinal, pensei, já vestida com a camisa, o que será “Fluxus”? Lá dentro, meninas vestidas de preto com botas alaranjadas
conduziam grupos, explicando o significado das obras. “Então, qualquer um de
nós pode ser artista?”, indagou uma senhora, entusiasmada com a ideia.
Acompanhei com
curiosidade os debates, sem me apresentar. Aquelas ideias me tocavam de perto,
lembravam meu próprio posicionamento sobre a comercialização da arte, os
happenings dos anos 60, os domingos de criação que possibilitavam a todos a
oportunidade de criar. Aos poucos fui me sintonizando com as ideias do grupo,
refletindo sobre o que já havia escrito na década de 70 no meu livro “Os
Caminhos da Arte”:
“Quadros não são feitos
para combinar com tapetes e cortinas, nem para ser colocados como títulos na
bolsa de valores do mercado de arte. A preocupação comercial leva o artista a
concessões imperdoáveis, que o fazem esquecer a razão de ser da arte como força
vital da civilização, para colocá-la no plano da especulação comercial. O valor
de um trabalho artístico, suas qualidades expressivas, não se limita a números
e cifrões, mas alcança lugar que lhe assegura realmente a permanência no tempo
e sua equiparação com as demais artes.
Assim como a música e a
poesia, também o quadro que vemos numa exposição contém toda uma vida de lutas
e experiências. Não se podem separar as inquietações da alma humana, seus
momentos de sofrimento ou alegria, de violência ou de paz, de revolta ou de
submissão, daquela forma que espontânea e diretamente lhe sai das mãos.
A Arte é a mais pura
manifestação da liberdade, hoje tão limitada à mecanicidade do mundo moderno.
Toda e qualquer forma de imposição, ao atingir o domínio da arte, impede-lhe o
progresso e a conduz à mediocridade. O sentido de liberdade é expresso com
grande veemência por meio da arte, porque ela se fundamenta e nasce num clima
no qual a opressão não tem lugar. Pode-se proibir o homem de falar, mas nunca
de sentir. A arte é a expressão do sentimento humano, desse sentimento tantas
vezes bloqueado por slogans e rótulos, mas que desperta quando se desenvolve a
capacidade de inventar, de renovar, de contatar a essência do próprio ser. O
verdadeiro humanismo brota das mãos dos artistas e da alma dos poetas, dos
cineastas, dos escritores, dos músicos, que proclamam espontaneamente a
compreensão entre os povos. O humanismo autêntico tem suas raízes no
sentimento, e não na razão.”
No Brasil, o artista
pernambucano Paulo Brusky, integra o movimento “Fluxus” com suas instalações e performances de contracultura.
*Fotos da internet
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