Por ocasião do Encontro entre Culturas Brasil-
Índia, na inauguração da Casa do Butão, foi lido o texto abaixo de minha
autoria, que focaliza a música, os sons da natureza e a busca da harmonia do
ser humano por meio da harmonia dos sons.
Se observarmos com atenção, verificaremos que a
música se manifesta em tudo aquilo que tem vida: no sopro do vento, no som do
mar, no estrondo do trovão, no canto dos pássaros, no zumbido dos insetos. Toda
a natureza é música constante. Fazemos parte também dessa grande orquestra
universal. Nos momentos de silêncio, quando escutamos as pulsações do nosso
corpo, começamos a observar que elas fazem coro com as pulsações da natureza.
Nossa respiração é ritmo e harmoniza-se com as batidas do coração, pulso e
cabeça. Diante de nós a natureza está pulsando em som ritmado. Todo o espaço
está cheio de sons.
Podemos ver nas diversas religiões, a busca da
harmonia do ser humano por meio da harmonia dos sons. Na Bíblia, David
conseguiu amenizar com uma harpa a cólera do rei Saul. Ao som de uma lira,
Pitágoras transmutava as vibrações dos seus discípulos. Na mitologia grega, os
primeiros grandes músicos foram os deuses. Apolo, deus da Beleza e da Arte, é
conhecido como o músico que, ao tocar a lira, encantava os deuses do Olimpo. Pã
inventou a flauta de cana e ao som de sua música se irmanava com os pássaros e
com toda a natureza.
Entre os mortais descendentes dos deuses gregos
destacava-se Orfeu, que, sob a magia de sua música, fazia mover os rochedos, os
montes e o curso dos rios.
Na Índia, a mitologia não significa apenas uma
lembrança do passado, mas está viva no cotidiano das pessoas. A figura de Krishna, deus do Amor, tocando
sua flauta, atrai as Gopis (jovens
camponesas). A atração delas por Krishna simboliza a aspiração humana de união
com o Criador.
A tradição hinduísta dá ao mantra, ou som místico,
um significado profundo dentro de sua religião. Trata-se de um recurso para o yogue atingir o som inaudível e não
manifesto. Por meio do som ele busca alcançar a Realidade Última. De acordo com
o Yoga, cada objeto tem um som natural, que pode ser captado, modificado e
sintonizado com a música universal. Para os Sufis,
“aquele que conhece o mistério do som sabe o mistério de todo universo”.
Nós não conseguimos ouvir o som abstrato que nos circunda e envolve, porque
estamos com a consciência centralizada em nós mesmos, em nossos problemas e na
vida material. Mas, segundo eles, aquele que tiver a capacidade de
sintonizar-se com esse som conhecerá o presente, o passado e o futuro.
Também os cristãos referem-se de modo semelhante a
essa música interior. Sertillanges, um dos maiores pensadores católicos,
refere-se à interpenetração entre essa música interna e todo o universo,
mostrando-nos como a harmonia das esferas, da qual falavam os antigos,
corresponde a uma vibração de almas que cada um de nós escutaria se descesse
profundamente dentro de si mesmo. Dela participam bons e maus, grandes e
pequenos, poderosos e humildes. Ninguém estaria excluído desse conjunto, que
visa a unidade na multiplicidade.
*Fotos de Maurício Andrés
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