segunda-feira, 10 de setembro de 2018

O PODER DA MÚSICA


Por ocasião do Encontro entre Culturas Brasil- Índia, na inauguração da Casa do Butão, foi lido o texto abaixo de minha autoria, que focaliza a música, os sons da natureza e a busca da harmonia do ser humano por meio da harmonia dos sons.

Se observarmos com atenção, verificaremos que a música se manifesta em tudo aquilo que tem vida: no sopro do vento, no som do mar, no estrondo do trovão, no canto dos pássaros, no zumbido dos insetos. Toda a natureza é música constante. Fazemos parte também dessa grande orquestra universal. Nos momentos de silêncio, quando escutamos as pulsações do nosso corpo, começamos a observar que elas fazem coro com as pulsações da natureza. Nossa respiração é ritmo e harmoniza-se com as batidas do coração, pulso e cabeça. Diante de nós a natureza está pulsando em som ritmado. Todo o espaço está cheio de sons.

Podemos ver nas diversas religiões, a busca da harmonia do ser humano por meio da harmonia dos sons. Na Bíblia, David conseguiu amenizar com uma harpa a cólera do rei Saul. Ao som de uma lira, Pitágoras transmutava as vibrações dos seus discípulos. Na mitologia grega, os primeiros grandes músicos foram os deuses. Apolo, deus da Beleza e da Arte, é conhecido como o músico que, ao tocar a lira, encantava os deuses do Olimpo. Pã inventou a flauta de cana e ao som de sua música se irmanava com os pássaros e com toda a natureza.

Entre os mortais descendentes dos deuses gregos destacava-se Orfeu, que, sob a magia de sua música, fazia mover os rochedos, os montes e o curso dos rios.
Na Índia, a mitologia não significa apenas uma lembrança do passado, mas está viva no cotidiano das pessoas.  A figura de Krishna, deus do Amor, tocando sua flauta, atrai as Gopis (jovens camponesas). A atração delas por Krishna simboliza a aspiração humana de união com o Criador.

A tradição hinduísta dá ao mantra, ou som místico, um significado profundo dentro de sua religião. Trata-se de um recurso para o yogue atingir o som inaudível e não manifesto. Por meio do som ele busca alcançar a Realidade Última. De acordo com o Yoga, cada objeto tem um som natural, que pode ser captado, modificado e sintonizado com a música universal. Para os Sufis, “aquele que conhece o mistério do som sabe o mistério de todo universo”.

Nós não conseguimos ouvir o som abstrato que nos circunda e envolve, porque estamos com a consciência centralizada em nós mesmos, em nossos problemas e na vida material. Mas, segundo eles, aquele que tiver a capacidade de sintonizar-se com esse som conhecerá o presente, o passado e o futuro.

Também os cristãos referem-se de modo semelhante a essa música interior. Sertillanges, um dos maiores pensadores católicos, refere-se à interpenetração entre essa música interna e todo o universo, mostrando-nos como a harmonia das esferas, da qual falavam os antigos, corresponde a uma vibração de almas que cada um de nós escutaria se descesse profundamente dentro de si mesmo. Dela participam bons e maus, grandes e pequenos, poderosos e humildes. Ninguém estaria excluído desse conjunto, que visa a unidade na multiplicidade.

*Fotos de Maurício Andrés

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