Nesta postagem, dou
continuidade às críticas sobre a minha obra, da década de 60.
MADONAS
“Esta
exposição de Maria Helena Andrés deve ser encarada como uma face de sua arte e,
não, como uma fase. Os trabalhos apresentados deixam transparecer a mesma
identidade de impulso criador que originou a temática dos barcos veleiros, da
guerra e das máquinas. Tratamento e tema variam, mas a dinâmica do traço ( e,
por extensão, a dos tons e das cores) alimenta-se da mesma seiva de
inconformismo às fórmulas mágicas, de incessante pesquisa no terreno da
abstração ordenadora.
Seria fácil dizer-se que Maria Helena
Andrés encontra-se na fase das madonas. Há, mesmo, uma tentação nesse sentido,
que seria o de ruptura. Acontece, porém, que os trabalhos imediatamente
anteriores da artista - veleiros, guerra, máquinas - ligam-se aos atuais pelo
mesmo processo de ordenação e simplificação do campo do visível e do
intuitível. Variam, sim, o tratamento, os materiais e os temas. Prossegue,
entretanto, o sentido da linha na procura de uma expressão cada vez mais
enriquecida.
Nesta face, ganha relevo o fato de que
existe em cada quadro um núcleo figurativo audaz. Em torno dele, as linhas se
desenvolvem no sentido de compor uma atmosfera própria, um clima barroco. E não
apenas as linhas, mas também os tons, as cores (e a luz) funcionam nessa
direção, formando tudo uma unidade cerrada causadora de uma só e forte
impressão formal.
Cada quadro desta exposição, por força
até das raízes comuns àquilo que seria a fase mais longa, cumpre com maestria
uma função orgânica no sentido estético. Elementos claramente distintos uns dos
outros, todos necessários, se conjugam para uma conclusão de referências e de
nexos de grande valor plástico.
É de se ressaltar ainda nesta face de
Maria Helena Andrés um de seus detalhes técnicos transbordante de espírito
barroco. É o da repetição dos elementos gráficos, também chamado recorrência. O
alinhamento repetitivo, a partir centro nucleado, conduz a um resultado muito
eficaz, dando significado ao que, de outro modo, não a teria. Os artistas
mineiros do século XVII sentiram, ou intuíram, as possibilidades da conjugação
dos elementos soltos, isolados para o resultado de uma impressão global. Maria
Helena Andrés retoma a experiência em plano atualizado, recriando-a em sua
essencialidade. Funde, assim, sentido de tempo a algo que permaneceria restrito
a sentido de espaço. E alcança a unidade não procurada na variedade que soube
alcançar pelo talento e pelo exercício.”
José
Guimarães Alves
Catálogo da exposição realizada na
Galeria Grupiara, Belo Horizonte, agosto de 1966
Moacyr
Laterza
Trecho da entrevista dada a Carlos Herculano Lopes. Estado de Minas, Belo Horizonte, 21 de
setembro de 1997.
*Fotos
de arquivo
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