Na década de 1960, quando foi
lançado o livro VIVÊNCIA E ARTE, eu presenteei um exemplar para o crítico
Clarival do Prado Valadares.
Eu estava expondo na Petit
Galerie, no Rio de Janeiro, uma exposição sobre a minha fase de guerra. Pedi ao
Clarival que escrevesse a introdução do catálogo.
Abaixo está o texto que ele
me escreveu:
“Não se exige de um
artista plástico o talento de redigir com clareza o que ocorre em seu mundo
interior de vivência estética. Às vezes, entretanto, acontece esta maravilhosa
casualidade, este dualismo, do pintor ser também escritor. Então eles nos legam
textos que se tornam preciosos porque iluminam direções e espaços, motivos e
razões, anseios e reflexões que não são os nossos.
Maria
Helena Andrés publicará, dentro de alguns meses, um livro de ensaio e
meditações, a que denominou, com propriedade, de Vivência e Arte, cuja matéria ensejou a Alceu Amoroso Lima um
prefácio em que admite a tese e lhe aplaude o modo claro e simples de
comunicar-se.
Em março do
corrente ano vi, em Belo Horizonte, a série de pintura – colagem que ela
desenvolvia incorporando uma unidade realística (recorte fotográfico) a uma
construção pictórica (composição abstrata) procurando unir forma e ideia.
Mais
recentemente Maria Helena Andrés reassumiu a figura humana, dramaticamente, mas
não por intuito narrativo. A figura volta a ser usada não mais como ilusão, e
sim como centro de ideia.
Esta
exposição que a Galeria Goeldi organizou para o público da Guanabara pretende
mostrar o trabalho de uma artista que ao mesmo tempo analisa e escreve sobre a
expressividade de sua data. Não se trata de ilustrações das ideias, embora ambas estejam implicadas
no mesmo propósito estético.
Tomei a iniciativa de
selecionar fragmentos de texto do livro de Maria Helena Andrés, Vivência e Arte, a fim de oferecer ao
visitante desta exposição uma participação mais direta com o pensamento da
autora.
É próprio da curiosidade
do público indagar o que a arte quer dizer. E é muito difícil ao crítico e ao
artista traduzi-la a contento. No caso de Maria Helena Andrés, as frases soltas
de seu livro permitem a visão do pensamento do artista que se reflete tanto na
imagem escrita de suas meditações como na imagem pictórica de seus quadros.
Que se veja, pois, no
texto selecionado da autora o roteiro natural de sua exposição de pintura.
“A ideia criadora é uma iluminação intuitiva e
repentina.”
“Durante o curso do trabalho ou do simples
esboço, a ideia ainda virgem reveste-se de cores e formas, de linhas e massas,
para formar um objeto novo, autônomo, independente e livre dos modelos tomados
como sugestão.”
“Ao escolher uma cor ou
preferir uma linha, o artista revela parte de sua vida.”
“A mão que traça uma
linha e mistura uma cor não estará praticando um gesto vazio de sentido, mas
realizando o que sua experiência exigiu de um modo particular e sincero.”
“A obsessão, esta vontade
tirânica de se expressar em detrimento de todas as outras formas de vida,
constitui a condição necessária para que o artista siga um caminho verdadeiro e
sincero.”
“E é justamente
realizando as coisas inúteis aos olhos do mundo que o homem se eleva e se
aproxima de Deus.”
“... a verdadeira arte
não envelhece, mas permanece, ao lado de nossa vida efêmera.”
“A forma é a expressão
exterior de uma verdade interior.”
“Poucas coisas permanecem
tão vivas quanto a arte, para identificar cada geração.”
“As frases de um artista
são espontâneas... Sua duração é a própria duração de um clima interior.”
“A colagem, quando usada
com habilidade e gosto, proporciona um equilíbrio de formas bastante
intelectual e sugestivo à composição inicial do artista.”
“No meio da tensão em que vivemos, surgiu uma
arte agressiva, pouco agradável à vista, traduzindo um expressionismo brutal
nascido do impacto de uma revolta.”
“O esforço humano nunca é
um gesto isolado...” “A arte é a síntese, a interpretação das experiências do
artista, de suas descobertas e derrotas, com as descobertas e derrotas de uma
civilização.”
Clarival do Prado Valladares
*Fotos de arquivo
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