segunda-feira, 27 de agosto de 2018

TEXTOS CRÍTICOS DA DÉCADA DE 60 I


Na década de 1960, quando foi lançado o livro VIVÊNCIA E ARTE, eu presenteei um exemplar para o crítico Clarival do Prado Valadares.
Eu estava expondo na Petit Galerie, no Rio de Janeiro, uma exposição sobre a minha fase de guerra. Pedi ao Clarival que escrevesse a introdução do catálogo.
Abaixo está o texto que ele me escreveu:

“Não se exige de um artista plástico o talento de redigir com clareza o que ocorre em seu mundo interior de vivência estética. Às vezes, entretanto, acontece esta maravilhosa casualidade, este dualismo, do pintor ser também escritor. Então eles nos legam textos que se tornam preciosos porque iluminam direções e espaços, motivos e razões, anseios e reflexões que não são os nossos.
Maria Helena Andrés publicará, dentro de alguns meses, um livro de ensaio e meditações, a que denominou, com propriedade, de Vivência e Arte, cuja matéria ensejou a Alceu Amoroso Lima um prefácio em que admite a tese e lhe aplaude o modo claro e simples de comunicar-se.
Em março do corrente ano vi, em Belo Horizonte, a série de pintura – colagem que ela desenvolvia incorporando uma unidade realística (recorte fotográfico) a uma construção pictórica (composição abstrata) procurando unir forma e ideia.
Mais recentemente Maria Helena Andrés reassumiu a figura humana, dramaticamente, mas não por intuito narrativo. A figura volta a ser usada não mais como ilusão, e sim como centro de ideia.
Esta exposição que a Galeria Goeldi organizou para o público da Guanabara pretende mostrar o trabalho de uma artista que ao mesmo tempo analisa e escreve sobre a expressividade de sua data. Não se trata de ilustrações das ideias, embora ambas estejam implicadas no mesmo propósito estético.
Tomei a iniciativa de selecionar fragmentos de texto do livro de Maria Helena Andrés, Vivência e Arte, a fim de oferecer ao visitante desta exposição uma participação mais direta com o pensamento da autora.
É próprio da curiosidade do público indagar o que a arte quer dizer. E é muito difícil ao crítico e ao artista traduzi-la a contento. No caso de Maria Helena Andrés, as frases soltas de seu livro permitem a visão do pensamento do artista que se reflete tanto na imagem escrita de suas meditações como na imagem pictórica de seus quadros.
Que se veja, pois, no texto selecionado da autora o roteiro natural de sua exposição de pintura.
 “A ideia criadora é uma iluminação intuitiva e repentina.”
 “Durante o curso do trabalho ou do simples esboço, a ideia ainda virgem reveste-se de cores e formas, de linhas e massas, para formar um objeto novo, autônomo, independente e livre dos modelos tomados como sugestão.”
“Ao escolher uma cor ou preferir uma linha, o artista revela parte de sua vida.”
“A mão que traça uma linha e mistura uma cor não estará praticando um gesto vazio de sentido, mas realizando o que sua experiência exigiu de um modo particular e sincero.”
“A obsessão, esta vontade tirânica de se expressar em detrimento de todas as outras formas de vida, constitui a condição necessária para que o artista siga um caminho verdadeiro e sincero.”
“E é justamente realizando as coisas inúteis aos olhos do mundo que o homem se eleva e se aproxima de Deus.”
“... a verdadeira arte não envelhece, mas permanece, ao lado de nossa vida efêmera.”
“A forma é a expressão exterior de uma verdade interior.”
“Poucas coisas permanecem tão vivas quanto a arte, para identificar cada geração.”
“As frases de um artista são espontâneas... Sua duração é a própria duração de um clima interior.”
“A colagem, quando usada com habilidade e gosto, proporciona um equilíbrio de formas bastante intelectual e sugestivo à composição inicial do artista.”
 “No meio da tensão em que vivemos, surgiu uma arte agressiva, pouco agradável à vista, traduzindo um expressionismo brutal nascido do impacto de uma revolta.”
“O esforço humano nunca é um gesto isolado...” “A arte é a síntese, a interpretação das experiências do artista, de suas descobertas e derrotas, com as descobertas e derrotas de uma civilização.”

Clarival do Prado Valladares


*Fotos de arquivo

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