Artista plástica, ex-aluna de Guignard. Maria Helena Andrés tem um currículo extenso como artista, escritora e educadora, com mais de 60 anos de produção e 7 livros publicados. Neste blog, colocará seus relatos de viagens, suas reflexões e vivências cotidianas.
segunda-feira, 30 de outubro de 2017
PINTURA MODERNA I
A
França desde o século XIX tornou-se o principal centro das artes. Seria justo
portanto lembrar que a maioria dos movimentos artísticos teve início em Paris e
ali se desenvolveu.
Contra a arte decadente e imitativa da
academia, começaram a germinar em França as primeiras idéias revolucionárias.
Daí surgiu o movimento moderno de renovação. A arte passou, novamente, a ser
vivida pelos artistas como fonte de criação pura, e não imitação da natureza.
Como pesquisa, e não submissão. Como experiência pessoal, e não cópia servil.
Não falo aqui, especialmente, da arte abstrata, mas da abstração na obra de
arte, qualidade essencial, indispensável, para haver criação autêntica.
O artista pode partir do modelo, mas
depois transforma linhas, muda cores e cai na abstração. O que a arte moderna
fez foi, justamente, recapitular estas verdades, esquecidas pelo academismo. A
revolução moderna foi um despertar do sono e do espírito de acomodação, dominante
até o princípio do século XIX, para redescobrir valores e concepções eternas da
verdadeira arte.
Como nos diz Flávio de Aquino,
"inventar foi o grande feito do nosso século, em todos os terrenos do
conhecimento humano." Inventar,
também, foi a maior realidade da arte contemporânea, acompanhando o progresso
científico do século XX.
Com a inquietação dos artistas
modernos, ávidos de liberdade, mundos desconhecidos foram revelados e a arte
passou a ser a expressão de sentimentos puros, transfigurados pela
personalidade dos autores.
Segundo Pe. Collet, "a arte é a
impressão digital duma civilização. Transmite, de certo modo, aos séculos
seguintes, o testemunho vivo do melhor e do pior da época, e antecipa também o
futuro, pois o artista, mesmo inconscientemente, recebeu o dom da
profecia."
Não são as telas de Chagall, cheias de
um surrealismo lírico, como que uma visão antecipada dos acontecimentos mais
recentes, que movimentaram o mundo, como sejam a conquista dos espaços
interplanetários? (Trecho do meu livro “Vivência e Arte”, editora Agir, 1966)
Fotos
da internet
VISITE
TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA
segunda-feira, 23 de outubro de 2017
EMOÇÃO E TÉCNICA III
O
desenvolvimento da arte é feito através do trabalho, não de palavras.
Seu destino é dirigido por força
desconhecida e impossível de ser dominada. Obedecendo unicamente à lei dessa
necessidade interior, o artista procurará aprofundar esta verdade nova que
surge. Um trabalho contínuo e ininterrupto há de gerar sempre uma ideia também
logicamente contínua, sem grandes saltos.
Uma fase nasce de outra como uma
cascata, ligando-se à fase inicial por mudanças transitórias que determinam o
início de uma transformação. Às vezes, é a necessidade de um material novo, ou
da ausência de cor. É a necessidade de papel branco e da linha apenas como
veículo de expressão.
Um dia a cor voltará a ser explorada e
sentida, e neste dia o desenho já não será mais necessário. As fases de um
artista são espontâneas, não vêm de encomenda. Independem de leis externas e
nunca poderão ser medidas, calculadas. Sua duração é a própria duração de um
clima interior.
A paisagem do artista é uma paisagem imaginária, sem relação
com a paisagem real vista por todos. A mesma paisagem poderá inspirar tanto uma
cidade, quanto uma esquadra no mar, dependendo da ocasião em que foi vista. Uma
forma, uma linha, servirão apenas de pretexto para se achar aquela forma e
aquela linha que sempre se desejou obter.
Um mesmo grupo de nuvens poderá sugerir
anjos, animais, demônios, ou simplesmente formas abstratas, dependendo da fase
que o artista atravessa no momento. Naturalmente, quando esgotada uma fase,
nascerá outra por uma natural e espontânea necessidade de renovação.
O caminho da arte é longo, tem suas
surpresas, seus imprevistos, revelando a cada passo a alvorada de uma nova ideia.
(Trecho do meu livro “Vivência e Arte”, editora Agir, 1967)
*Fotos
de arquivo
VISITE
TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA
segunda-feira, 16 de outubro de 2017
INFLUÊNCIAS ORIENTAIS NAS IGREJAS FRANCISCANAS DO BRASIL
Marília
chegou da Bahia onde participou de um Congresso de historiadores da arte do Comitê
Brasileiro de História da Arte.
O historiador pesquisa, descobre coisas que
foram vividas pelos homens de antigamente, fatos ainda não mencionados na
história convencional.
Ela
me diz: “Fizemos uma visita ao convento dos franciscanos em Paraguaçu, no
Recôncavo Baiano. Você iria gostar de ver esse mosteiro, que tem uma história
bonita de intercâmbio entre o Brasil e a Índia, e hoje está abandonado”
A
Bahia era a porta de entrada dos antigos navegantes portugueses. Aqui chegavam
as caravelas trazendo especiarias da China e da Índia, em troca de produtos
brasileiros.
A
Bahia foi a primeira região brasileira a inaugurar a síntese Oriente/Ocidente.
Eu já pesquisei esse assunto um dia, quando participei em 1983 de um Congresso
em Goa.
O
Brasil na Carreira da Índia, do historiador Luiz Roberto Lapa, foi o livro que
me permitiu conhecer essa história esquecida de intercâmbio comercial entre o
Brasil e a Índia, fruto das relações inter-continentais entre os países
tropicais.
Agora,
os novos historiadores, movidos pelo interesse em descobrir, documentar e
preservar o presente, estão dentro desse mosteiro abandonado, repensando a
importância de conhecer essa história e preservar esse patrimônio arquitetônico.
Marilia
nos diz: “Nessa visita, tive a oportunidade de sentir o impacto e a beleza de
uma Igreja franciscana, situada em Paraguaçu, na beira de um grande rio,
apresentando uma arquitetura e uma decoração de forte influência oriental. Me
lembrou os templos indianos, construídos em formas piramidais, que se situam
próximo aos rios.
Esse
sentimento inicial foi enriquecido pela leitura do texto de Paulo Ormindo de
Azevedo sobre as relações inter-coloniais e as influências orientais nos
conventos franciscanos do nordeste. Nesse texto o historiador discute as
relações artísticas e arquitetônicas entre o Brasil e a Índia durante o período
colonial. Enfatiza a importância dos ornamentos de pedra construídos nos
cruzeiros situados nos átrios das Igrejas franciscanas e das chinesices e
esculturas que também ornamentam o interior dessas igrejas. Mostra ainda que
essa influência não se dá apenas na decoração dos templos, mas aparece também
nos partidos arquitetônicos de forma piramidal que se encontram nos templos
hinduístas da região de Kerala e nas igrejas indo-portuguesas de Goa.
A
história dessa Igreja como também a história de outras igrejas brasileiras,
abandonadas e esquecidas ao longo do tempo, precisa ser relembrada, reescrita,
restaurada e preservada pelos órgãos públicos ligados ao Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional”.(Depoimento
dado pela historiadora Marília Andrés Ribeiro)
*Fotos
de Marília Andrés Ribeiro e Almerinda da Silva Lopes
VISITE
TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
terça-feira, 10 de outubro de 2017
EMOÇÃO E TÉCNICA II
O
ensino das artes plásticas é individual, seguindo as possibilidades de cada
artista em particular. O aluno, quando realmente tem talento, sempre acha os
seus meios de expressão, e, às vezes, surpreende o mestre com suas descobertas.
Apenas orientado no momento preciso,
ele poderá progredir de um modo mais autêntico do que recebendo, cegamente, as
ordens exteriores.
A vivência artística se enriquece muito
mais com a própria experiência e as próprias descobertas, do que com a preocupação
exagerada de consultar os tratados de técnica e de matemática, à procura da
maneira exata e correta de se fazer pintura.
A pintura é fruto de trabalho, de
sofrimento e de abnegação. Neste clima de pesquisa, a emoção não surge
desordenada e inconsciente, como na criança.
Ela é corrigida e aperfeiçoada pela
técnica, e ordenada pela experiência do artista, no sentido de um progresso
sereno e ininterrupto.
A experiência, naturalmente, controla a
emoção e o artista já amadurecido conseguirá a fusão da disciplina com a
liberdade, que é o clima essencial para a criação ao mesmo tempo espontânea e
consciente.
Ele deve saber ser fiel a si próprio,
respondendo ao seu impulso interior com a máxima sinceridade, sem deixar que
nisto intervenha nenhum interesse externo.
Suas emoções não podem ser antecipadamente programadas num
itinerário. Delineia-se este com o tempo, olhando para trás, depois de trilhado
o caminho. Nunca premeditado intelectualmente. A evolução normal de um artista
não significa uma ruptura com o passado, mas sua continuidade. Às vezes, mais
tarde, uma das fases anteriores é revivida, para se enriquecer de soluções
novas. Fiel ao impulso nascido espontaneamente, dentro de sua alma, o artista
se volta com entusiasmo para o trabalho, renovando técnicas, renovando formas,
porém fazendo viver dentro delas o seu espírito, o seu modo pessoal de sentir
as coisas. (Trecho do meu livro “Vivência e Arte”, editora Agir, 1967)
Atualmente, 50 anos
depois da publicação deste texto, estou fazendo uma releitura da minha fase
construtivista. Meus desenhos de via sacra da década de 50, com a utilização do
computador, se transformaram em esculturas.
*Fotos
de arquivo
VISITE
TAMBÉM MEU OUTRO BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA
terça-feira, 3 de outubro de 2017
EMOÇÃO E TÉCNICA
A técnica deve ser posta no seu devido lugar, como uma
subordinada da emoção criadora. Ela é importante, na medida em que orienta o
artista no sentido de um aperfeiçoamento cada vez maior de seus meios de
expressão. Auxilia-o a ser mais preciso e exato na realização de sua obra,
orientando-o com os conhecimentos recebidos através de experiências alheias. É
como que a gramática da pintura. A gramática corrige e aperfeiçoa a frase que
foi concebida de uma ideia. As teorias também, em se tratando de artes
plásticas, têm o mesmo papel. Vêm corrigir a ideia criadora do artista, às
vezes imprecisa e confusa, dando-lhe uma forma clara e harmoniosa.
Braque dizia: "Eu amo a regra que corrige a
emoção".
Mas não se dispensa a emoção em favor da regra. Não se
ensina alguém a ser artista ditando-lhe processos teóricos, assim como não se
ensina alguém a ser poeta, ditando-lhe regras gramaticais.
É preciso ser visionário e disciplinado ao mesmo tempo,
buscar a fonte da arte no espiritual e
depois trazê-la à realidade, com o auxílio dos conhecimentos recebidos.
Embora as teorias tenham o seu papel no desenvolvimento do
artista, pode-se, no entanto, ser bom pintor sem essa preocupação, pode-se ser
apenas um artista intuitivo e ingênuo, progredindo à custa da própria
experiência. Pode-se criar, como cantam os pássaros, sem regras e preceitos
vindos de fora, apenas levado pela alegria de fazer surgir no mundo novas
formas. Depende da cultura, das tendências e do meio em que o artista vive. Se
ele for realmente artista, sua intuição o levará a um progresso espontâneo,
baseado na experiência própria, sem o conhecimento das experiências alheias.
Existindo a emoção criadora, existe arte. O que se não pode é pré-fabricar um
artista. É ditar leis e teorias, esperando que destas leis nasça uma obra de
arte. (Trecho do meu livro “Vivência e Arte”, editora Agir, 1967)
*Fotos da internet
VISITE TAMBÉM MEU OUTRO
BLOG “MEMÓRIAS E VIAGENS”, CUJO LINK ESTÁ NESTA PÁGINA.
Assinar:
Postagens (Atom)